"Não! Eu vou…", Lucas acorda sobressaltado e a transpirar imenso, "salvar-vos", diz em voz alta enquanto recupera o fôlego.
Levanta-se da cama, vai à casa de banho tratar da sua higiene e colocar-se aceitável: tomou banho, lavou os dentes e penteou-se. Após isso, sem lançar um olhar sobre a sua cara no espelho, dirigiu-se até à porta para sair e ir ter com conhecidos à cozinha comunitária de New Berlin.
Quando abre a porta vem um cheiro da vasta flora que nascia com a primavera, desceu as escadas do prédio e andou a pé até chegar ao ponto de encontro para tomar o pequeno-almoço.
"Lucas, aqui!", já no local, chama por ele a sua amiga de longa data, Carlota. Lucas acena levemente com a cabeça e esboça um sorriso forçado que se evaporou imediatamente.
A sala estava cheia de pessoas a tomar o seu pequeno-almoço, algumas mais pobres que outras, mas todas com as suas vestimentas clássicas de Libreland, os homens vestidos de fato e gravata castanhos, alguns pretos, com calças da mesma cor, e sapatos de vela.
Já as mulheres eram mais simples, mas charmosas, um vestido de qualquer cor com um casaco de malha fino como adereço final e simplista.
Ninguém que habita a zona comunitária de New Berlin tem energia Zen, por isso são pobres. Os homens trabalham como operários em empresas de construção civil ancestrais que ainda existem para pequenos bairros e as mulheres como empregadas domésticas da elite da sociedade.
Lucas chega perto dos amigos, Carlota e João.
"Bom dia.", cumprimenta todos.
"Bom dia, Lucas.", devolvem os outros dois.
"A avó Fernanda está à nossa espera na mesa do costume, queres vir?", diz a rapariga.
"Sim, vamos.", diz sem entusiasmo o rapaz.
Vão os três escolher o respetivo pequeno-almoço para seguirem, com os seus tabuleiros, até à mesa indicada por Carlota.
"Bom dia a todos!", exclama, Carlota.
A avó Fernanda estava com dois pequenotes e algumas pessoas mais velhas não tão conhecidas de coração, mas de vista.
"Bom dia, minha filha, estão os três bem?", questiona com uma voz doce e levemente sábia.
"Sim avó, os quartos são confortáveis, pelo menos temos mais condições agora, há males que vêm por bem, não é verdade?"
Lucas muda a sua expressão, ficou frustrado com o que ouviu, mas não disse uma palavra, limitou-se a sentar e a comer sem vontade nenhuma.
"Lucas, ainda tens aqueles pesadelos?", perguntou a senhora.
"Não, nem queria muito falar sobre isso", parece ter voltado à neutralidade e mentiu.
"Vejo que sim, falamos sobre isso mais tarde… João, tens conseguido treinar nas academias deles?", tenta mudar de assunto questionando João.
"Sim avó, mas deram-me o pior quarto de treino, nem há máquinas automáticas como nós tínhamos no Templo, é demasiado antigo, mas vou tentando mostrar que consigo melhorar, espero que me ofereçam um lugar com mais condições para treinar.", explica, olhando seriamente para Fernanda, enquanto vai degustando o pão torrado com manteiga.
"Espero que sim, tu tens muitas capacidades, és um Luso como nós!", olha para o lado positivo da situação.
Lucas termina a sua refeição, levanta-se e leva o tabuleiro para o carrinho respetivo.
Quando volta à mesa diz: "Bem, eu já comi, tenho assuntos a tratar na biblioteca e vou indo para lá. Carlota, sabes onde me encontrar, não é preciso perseguir-me.", mostra-se com muita pressa de sair do local.
"Muito bem…", diz tristemente, alterando o seu estado de espírito que restava. Isto move João a levantar-se.
"A Carlota só quer o teu bem, aliás, nós queremos, para não falar que temos 21 anos, eu sei que todos estamos a passar por um momento complicado, estamos aqui para ti também, nunca te esqueças disso."
João vai em defesa de Carlota e de todos, Lucas não diz nada e sai.
"Ele ficou muito mais afetado que nós, isso nota-se, mas já foi há mais de 1 ano, não pode ficar nisto a vida inteira, todos estamos a trabalhar por uma vida melhor.
A Carlota já ganha dinheiro com o seu emprego na área de história da biblioteca. Eu estou a treinar para continuar a minha formação e ser útil para a nossa comunidade. O senhor Jaques tem conseguido angariar serviços de construção para pagar a nossa estadia que vai começar a pesar.
E a avó tem lidado com todos, proporcionado um suporte de mãe. Eu acredito que ele vai melhorar em breve, mas precisa de acordar por si.", João fala para todos num tom sério e verdadeiro.
"Tens razão, filho.", diz, tristemente, Fernanda com esperança.
Odeio isto.
"Lucas, estás aqui! Queria falar contigo acerca da proposta que te fiz para treinares nas nossas academias."
Enquanto Lucas se dirigia para a biblioteca passou pela entrada de um palácio, assim entra em cena um homem alto, bem vestido e com classe no seu estilo pessoal, todos olham para ele.
"Desculpe, mas se for para ser como o João prefiro fazer umas flexões no meu quarto.", diz num tom irónico e com certo rancor.
"Acompanha-me até ao meu escritório, por favor."
Lucas, ao contrário do expectável, acompanhou-o sem resistência.
"Seja rápido, por favor, tenho assuntos a tratar."
"Eu já entendi que não és fácil de lidar, mas já estás cá há um ano e meio, nós acolhemos toda a tua família, asseguramos várias casas individuais para todos vocês, não me digas que não há condições para estarem cá!", diz num tom paternalista e procurando esclarecer algum mal-entendido.
"Nós agradecemos a sua ajuda e o resgate daquele incidente, apesar de que podia ter sido mais rápido a disponibilizar os quartos que temos agora, não devia ter sido necessário meses. Eu aguento viver sem nada disto, mas eles precisam de recomeçar de outra forma."
"Não entendes que és tu quem falta para a tua família, finalmente, descansar e deixar o passado para trás?", diz, num tom firme.
"Eu sei Eliote, é por isso que quanto menos eu aparecer à frente deles, mais me dedico a mim próprio, sem distrações e assim eles não precisam de pensar em mim.
Sabe… não é fácil ver família a desaparecer à nossa frente, sem podermos fazer nada. Não há nada pior que isso. Com isto, eu não tenho poderes, apenas habilidade física, não serei útil nas vossas academias."
"Mas a habilidade física também tem o seu valor, nós temos quartos de treino um contra um e dois contra dois dedicados à luta física… pensa nisso."
Eliote despede-se assim e Lucas sai do seu escritório, mas alguém abre a porta primeiro.
"Pai, posso entrar?"
À saída, Lucas cruzava-se, mais uma vez, com Isabel Greatfree, 23 anos, filha do Eliote Greatfree, Ógu de Libreland.
"Oh, onde vais com tanta pressa Lucas, tudo bem?", apercebe-se da presença de Lucas à última da hora.
"Sim.", o rapaz sai apressado, como de manhã, do Palácio da Liberdade, o local onde a política era exercida.
Quando chegou à biblioteca, subiu até ao segundo piso e procurou desesperadamente por um livro qualquer, perdeu uns vinte minutos à procura e mesmo assim não conseguiu.
Decidiu questionar a simpática bibliotecária sentada na sua humilde secretária. A senhora indicou o piso 4, mas que precisa de acesso privilegiado do diretor da mesma biblioteca para conseguir o que queria.
Lucas decidiu então procurar por outro para se entreter nas horas que passarão, agarrou logo no que mais chamou a sua atenção, "Crónicas do Mundo Velho".
No mesmo instante em que o requisitou para levar para casa, aparece João, que havia terminado o seu treino, para conversar com o amigo.
"Então, mais um para leres?"
"Sim, este parece ser mais interessante do que os outros e fala sobre o passado da Terra", parece que com o João, Lucas solta-se.
"Fazes bem… Estamos os dois juntos nisto, tens de acordar Lucas, lembra-te do que o mestre disse em frente de toda Lusitânia."
João invoca um tema sensível para cortar o discurso redundante e lamechas.
"Eu sei. Achas que não o sei? Lembro-me todos os dias das suas palavras…", Lucas fica sensível.
"Junta-te a mim na academia de Zenitsu, para de esconder o teu poder."
"Não posso, João, eu sinto que estão de olho em mim desde que cá chegamos. Querem algo de mim."
"Mas sabes quem é?"
"Disse 'alguém'. O que mais me frustra é não conseguir governar a nossa comunidade e trazer a glória a Lusitânia. Para já, eu não posso libertar os meus poderes, mas eu tenho de fazer algo…
Ninguém pode saber disto, mas preciso da tua ajuda.", Lucas demonstra um lado mais otimista que nunca revelara desde o incidente.
"Não faças nada perigoso. Eu ajudo-te, mas não nos envolvas em nada grave."
"Quero que vás ter com a Isabel e lhe peças a autorização do diretor da biblioteca para requisitar um livro.", Lucas diz isto enquanto olha para João, com uma cara de estranheza por não entender onde queria o amigo chegar com tal ação.
"Porque é que tenho de pedir à Isabel isso? Não o podes simplesmente requisitar?"
"Confias em mim ou não?"
"Muito bem então, eu vou fazer isso.", João confia no amigo e cede às exigências.
"Eu vou estar na fonte da Eleutéria, ao anoitecer, preciso que vás lá ter e me digas o que conseguiste."
"Combinado.", João demonstrou prontidão em cumprir o combinado.
Já no escritório de Eliote:
"John, como estamos em relação ao exército?", Eliote questiona.
"Não vai bem, um deles fugiu e estamos a tentar interceptá-lo.", um homem nos seus trintas fala, com um ar mais fechado e militarizado, sustentado pela sua cicatriz.
"Como é que isso aconteceu?", descontente, Eliote pergunta.
"Não sabemos ainda, o doutor Donald relatou-nos a situação, quando chegamos ontem à noite ao centro de testes."
"Muito bem, foi recente, não deve estar longe, mas sejam rápidos! Não te esqueças que ainda temos de terminar o programa 'DA'."
"Sim, eu sei.", diz com um ar fechado e insatisfeito.
"O que se passa, a Souls não está pronta?", questiona com um semblante preocupado.
"Não. Era precisamente isto que ia agora contar, o Zaki que nos escapou causou a destruição dos cabos principais da máquina e ainda esmagou completamente a sua base, ou seja, mais duas semanas para restaurar tudo o que falta.", John fala com neutralidade.
"Limpem os rastos e terminem o projeto. Diz ao doutor para começar a preparação do seu primeiro uso.
Enquanto esperamos, vou anunciar os Jogos e colocar o João na lista de jogadores para vermos se realmente vale a pena introduzi-lo no projeto."
Eliote fica furioso e a sua face torna-se pensativa.
"Sim, senhor.", John sai da sala e deixa Eliote nos seus pensamentos.
Já de noite, depois de ter passado a tarde inteira a ler, Lucas foi até à fonte, local que combinou com o João para se encontrarem.
Algum tempo se passou e ainda nada dele, Lucas estava com um semblante descontraído.
Algo se ouve ao longe, ele via um ponto laranja a aproximar-se na sua direção, ficava cada vez maior, parecia uma chama, não, um meteorito!
Lucas parecia que já estava à espera e impulsiona-se por cima do objeto misterioso.
Vê um homem em cima de uma prancha e sentia uma força esmagadora vinda dele.
"Como é que sabias?", questiona o sujeito parando o seu movimento relâmpago.
"Há muito tempo, foi ele quem te enviou?", Lucas questiona.
"Depende do 'ele'.", atira-se rapidamente a Lucas com uma propulsão rapidíssima.
Lucas salta, novamente, uns metros consideráveis e desta vez lança umas palmas poderosas que afastam o inimigo para trás, mas não foram fortes o suficiente para o conseguir distanciar tanto assim, porque, usando o poder propulsor, voltou.
"Afinal tens poderes!", os seus olhos brilhavam imenso com uma cor forte alaranjada e continuava a lançar ataques de fogo.
"Não.", Lucas desviava-se desses ataques.
"Acabaste de utilizar um ataque suficientemente forte para me parar uns segundos, isso é Zen!", tenta atacar de novo Lucas.
"Não, é força física treinada ao alto nível por anos e anos, passada de geração em geração, isto não é nada que exista nesta terra."
Volta a contra-atacar e consegue ir afastando o adversário com as mesmas palmas.
"Impossível, nada assim se descobriu até hoje, se não tens Zen, mostra-me os teus olhos enquanto atacas!"
"Esse pedido nem faz sentido no meio de uma batalha destas.", é atingido pelos ataques de fogo rápidos, queimando uma parte do braço.
Não me consegui desviar a tempo, tenho de conter a energia para não soltar a minha aura.
"Eu abrando para tu o fazeres, estás à vontade.", num tom sério, o sujeito pede para Lucas fazer o que lhe disse.
"Quem és?", Lucas sem entender as exigências e o porquê de estar a ser interrogado, questiona a identidade.
"Ignis, agora faz o que te disse."
"Não.", Lucas usa as suas palmas mais fortes, sem demonstrar um pingo de energia Zen.
Ignis é empurrado para longe, o suficiente para deixar de ver Lucas.
Agora não posso usar mais a minha força, não tenho mais ataques que me dê ao luxo de não demonstrar qualquer tipo de energia.
"Onde é que ele está?", Lucas perdera o rasto de Ignis.
"Por hoje chega!", Ignis solta um ligeiro riso.