Ao nascer da Lua, João chega ao apartamento simples que Eliote tinha fornecido à sua família e foi até à porta do quarto de Carlota, bateu suavemente, olhando para baixo à espera de ouvir os passos da amiga até à abertura da porta.
Mal a Carlota abriu a porta, João ergueu a face e olhou sorridente:"Olá, posso entrar?"
Carlota aceitou a entrada do amigo e começaram uma conversa mais pensativa. Cada quarto era uma casa, um pequeno refúgio para cada membro de Lusitânia.
"Como tens estado?", questiona João.
"O mesmo de sempre, preocupada com todos.", Carlota esboça uma face melancólica.
"Entendo-te…", João baixa novamente a cabeça e volta a olhar para ela.
"E tu?", replica.
"O mesmo de sempre, também…"
Imediatamente depois desta frase olharam-se nos olhos e começaram a lacrimejar até as lágrimas poderem encher o quarto de tão verdadeiras que eram. Sabiam que nada estava bem, que tentavam seguir em frente, mas nem eles queriam acreditar que as saudades seriam demasiado reais para ser verdade.
"Precisamos de estar unidos, todos nós, sem o Lucas não sei se consigo ter força para ser melhor todos os dias.", diz João, a chorar.
"Eu sei, eu sinto o mesmo… Para onde é que foi o nosso melhor amigo...", Carlota, a soluçar, responde.
"Não sei, mas temos de o recuperar.", João começa a secar os olhos com os dedos gretados de tanto combater.
Depois do momento mais pessoal dos dois, abraçaram-se, sorriram e despediram-se por aquele dia.
No dia seguinte, "grandes anúncios" iriam ser feitos, disse o Ógu de Libreland. Eliote estava na Arena Alianza pronto para anunciar um evento importante de Libreland, um evento único e que todos esperavam ansiosos, os combates mais aguardados:
"Bom dia a todos, camaradas, este ano voltam os nossos queridos Jogos de Libreland e com eles novas regras e jogadores."
Teve de interromper o seu discurso para aplaudir com a plateia, que estava efusiva com o anúncio.
"Primeiramente, estrangeiros poderão entrar, pela primeira vez, nestes jogos. Convidaremos alguns jogadores de fora e que aceitem, obviamente, o convite.
Segundo, Ignis, o guardião, vai ser o adversário do último jogo, o Show Down–"
A multidão foi ao rubro com as palavras de Eliote e, mais uma vez, teve de interromper o discurso.
"Por fim, temos a terceira novidade, a maior: haverá um quarto e novo jogo, o Combate Astral, que exigirá dos jogadores habilidades astrais para conquistar pontos, sendo óbvio o Território Astral de cada jogador."
Os adeptos do torneio ficaram maravilhados e saltavam de alegria, como se aquele fosse o maior evento do ano.
Enquanto este anúncio era feito, Lucas preparava-se para o primeiro treino com Isak na academia. Vestiu a roupa de treino que era composta por tecnologias avançadas e elásticas, que eram, surpreendentemente, muito confortáveis.
Estou pronto, antes que ele chegue fortaleço o corpo com Zen.
Lucas continua a pensar sozinho e lembra-se de algo:Agora que penso, Ouroboros é um nome que me diz algo… Continuo sem me lembrar bem, mas é definitivamente familiar.
Isak abre a porta do balneário e anuncia o começo do treino:"Podes vir, já tenho tudo pronto."
Lucas levanta-se e dirige-se a um room mais espaçoso do que o que ele recebeu para lutar contra Zak.
"Este room é muito melhor para combate e treino."
"É o melhor da academia, aproveita enquanto não chegam os teus amigos para treinar.", diz num tom preconceituoso, Isak.
Eu sei que é um mestre Zen, mas vou dar o máximo.
"Ainda bem que treinam aqui, Libreland é mesmo uma boa nação.", diz num tom sério, mas claramente mentiroso, enquanto vislumbra a sala, Lucas.
"Pois é, temos os melhores do mundo a lutar aqui."
"Lusitânia também tinha."
Isak não responde.
"Chega de conversa, vamos lá começar o treino. Aviso já que o que te ensino aqui são técnicas especiais de Zenitsu corpo a corpo, não são fáceis. Apesar de já teres técnica, não vai ser imediato, podes até nem conseguir.", Isak volta a frisar a dificuldade, exagerando.
"Muito bem."
"A primeira técnica precisa de muitos reflexos, é usada em contra-ataques. Se utilizasses Zen bastava acumulares energia com cada dano que levavas e transformares essa energia em poder no contra-ataque.
Mas como só lutas, precisas de simular esse movimento. Para isso, aguentas todos os ataques do teu oponente e simulas levemente um contra-ataque que o distrai e assim carregas com tudo.
No entanto, precisas de muita rapidez, o que nem sempre é possível."
"Estás a falar do parry?", Isak tentou fazê-lo passar por ignorante.
"Isso é uma técnica básica de contra-ataque.", diz Lucas.
"Bem, se já sabes a técnica porque não a praticamos já?", Isak provoca.
"Pode ser."
Lucas posiciona-se à maneira de Lusitânia.
Isak fica curioso com a posição do aprendiz temporário e coloca-se pronto para se impulsionar com ataques preparados.
"Qual será o Zen dele?"
Isak impulsiona-se e levanta as pernas em pleno ar, colocando-as numa posição de ataque com os pés.
Num piscar de olhos Lucas leva de raspão na cara com o seu ataque. Por pouco não ficava sem a bochecha, mas, graças ao fortalecimento por Zen, consegue desviar-se dentro dos possíveis.
"Ele foi rápido a desviar-se, vamos a mais um ataque.", Isak pensa.
"Tens de ser mais rápido, quase te sacava a cara!", diz a Lucas.
Lucas mantém-se parado, respira fundo, simula a mudança de posição (roda o tronco para trás, mas devolve o movimento para a frente) logo de seguida e espera que Isak seja rápido o suficiente para passar para as suas costas.
Assim, volta-se, desvia-se rápido, tenta atacar com tudo, mas é atingido por mais uma investida, desta vez no braço.
Devo ser capaz de fortalecer ainda mais os braços.
Lucas fortalece os braços enquanto é projetado, mas abaixa a cara para não se ver a aura nos olhos.
Isak dá mais um salto e surpreende-se com a resistência do rapaz.
O mestre consegue mais uma investida, desta vez tirava partido da força do seu pontapé para chutar o rapaz.
No entanto, Lucas desvia-se rapidamente, agacha-se e agarra as pernas do adversário, lançando-o para o solo.
Isak rapidamente se levanta, tenta novamente atacar o aprendiz, mas cai na sua armadilha.
Lucas simula um ataque e logo de seguida, graças ao seu fortalecimento Zen, ataca que nem uma flecha a zona dos rins de Isak.
O mestre cospe saliva e tenta voltar ao treino, mas perde a consciência.
O mestre Zen acorda meio atordoado e observa Lucas e Isabel a olharem para ele.
Isabel fica aliviada pelo colega acordar, enquanto Lucas fica a olhá-lo nos olhos com desprezo.
Isak levanta-se.
"Tu quase me matavas! Isto é apenas um treino, não é uma luta!", diz, furioso, Isak.
"Parecia no princípio, subestimaste-me e provocaste-me. Eu tentei dar o melhor para ir contra a tua opinião e surpreender-te. Afinal, estavas a atacar com demasiada determinação para um treino."
"Os meus ataques foram inofensivos!"
"'Quase que te sacava a cara fora', foram estas as tuas palavras."
Lucas volta-se e regressa ao balneário.
Enquanto isso, Isabel conversa com Isak:"Como é que ficaste assim?"
"Ele surpreendeu-me. Quando percebi a sua armadilha já era tarde, mas não esperava que me atacasse na zona em que atacou, nem como me atacou. Como é que me deixei atingir? Ele não pode ser tão rápido!"
"Não podemos subestimar quem não conhecemos com a palma da nossa mão. Ignora e continua a treiná-lo, és o melhor mestre jovem da academia, não perdes para um estrangeiro. Mas já agora, fiquei confusa, como assim 'a maneira como me atacou'?", Isabel mostra um lado mais frio e arrogante.
"Ele só me acertou porque alterou a forma do punho, abriu a mão, como se estivesse a estendê-la e foi como uma espinha a penetrar a pele. Senti uma dor muito aguda nos rins… Vou treiná-lo a sério desta vez.", Isak fica furioso.
O dia passou-se assim. O treino fora interrompido e nunca mais recomeçou.
Na mesma noite, Lucas aproveitou para visitar o centro de New Berlin. Caminhou ao longo de umas horas a vislumbrar o local, mas sempre com motivos em mente.
Sinto-os à minha volta, estão a olhar para mim. As pessoas nem reparam, mas eles têm aves de Zen a observar as ruas. Será porque têm pouco Zen e não pressentem, ou apenas estão habituados? É realmente fantástico, a forma como reinventaram o uso da energia… Mas agora tenho de me focar, bater terreno e decorar os caminhos da cidade.
No dia seguinte, Lucas acorda dorido na face e nos braços. Não combatia há mais de um ano e nunca lutou como tem feito.
Mesmo assim sentia prazer, pois até agora conseguira fugir dos combates sem perder. Mas o prazer não estava nesse facto, estava na expressão que cada adversário demonstrava: a surpresa que ele causava em cada um, a confusão e a dúvida acerca da sua pessoa.
Eles não sabiam do seu potencial e isso deixava-o motivado para mais.
Nessa manhã foi dar uma corrida pelos caminhos que passou na noite passada e já decorava as ruas, as esquinas e todo o percurso principal por onde passava.
Agora que paro para pensar um pouco, continuo sem saber o Zen do Isak… Só sei que é o mais poderoso dos mestres jovens.
Parava na fonte da Eleutéria (onde lutou contra Ignis) e repousava.
Lembrou-se, entretanto, de treinar abdominais e flexões.
Após esses pequenos exercícios, retomou a corrida, desta vez por um novo caminho que acabara de reparar.
As pessoas olhavam com estranheza para o único que corria naquelas ruas em meses. A energia Zen parecia ter contaminado de preguiça até os mais fortes.
Depois de Lucas terminar a corrida, sentou-se num banco mais afastado do centro da cidade. Não passavam muitas pessoas e era o lugar ideal para relaxar.
Ouve, de soslaio, um estrondo lá nas florestas longínquas da capital e fica curioso.
Ao contrário das pessoas ao seu redor, que emanavam um ar tranquilo como se fosse habitual, Lucas decide então investigar.
Lançou-se com o seu Zen até ao local. O rapaz aprendera a planar (não a voar) com o Mestre e com essa técnica chegou num instante às florestas de Old Muniche.
Ele observa, escondido, o silêncio e ausência total naquela zona. Nada estava caído nem destroçado.
Ficou confuso, mas não deixou de reparar nos templos antigos que se formavam à sua vista, todos eles cobertos de vegetação, quase camuflados.
Isto é uma cidade antiga! O que é que se passou aqui?
"Surpresa das surpresas, amigo!", Ignis aparece como um relâmpago de fogo e obriga Lucas a usar a sua energia para não morrer naquele instante.
"Apanhei-te!"
Lucas emana uma aura azul clara, muito luminosa, pelos seus olhos, revelando sem intenção a sua força a Ignis.
"Tu outra vez?! O que é que querem de mim?", Lucas desliga a sua energia.
"Não vale a pena esconderes! Eu vi! Está provado! Qual é o teu Zen?"
Ignis parece obcecado e começa a atacar Lucas de modo a puxar pela sua força.
"Pára!", Lucas usa o parry com a sua energia. Com o braço firme acerta-lhe no ombro, o que causa um estrondo no solo com Ignis estendido, a rir que nem um perdido.
"Se fores só tu a saber não me importo, para quem trabalhas? Para o Eliote?"
"Como é que ele sabe? Interessante!", Ignis surpreende-se por mais uma menção em Eliote por parte do adversário.
"Eliote? O Ógu? Não, eu tenho motivos de força maior para te atacar. Não quero saber de Libreland, quem me comanda está interessado em ti!"
Lucas fica convencido com a resposta e larga-o.
"Não devias ter feito isso!"
Ignis coloca Lucas K.O. e desaparece.