"A energia Zen, o fluxo natural de energia dos habitantes do planeta Terra, ao longo de gerações em gerações, o Zen foi sendo melhorado e utilizado em muitas áreas em que o Homem consegue e tem ideia.
A mais famosa área é a arte marcial Zenitsu em que os oponentes lutam usando todas as partes do corpo, sendo a cabeça o objetivo final.
O Zen é como um fluído do sistema nervoso que percorre o nosso corpo inteiro, desde o cérebro até aos nossos pés, permitindo a cada um de nós o foco em áreas específicas da energia, de forma a obtermos mais força física e mais velocidade sensitiva.
Podemos invocar objetos e materializar as nossas emoções, que são a base da maioria das pessoas que usam esta energia. Cada emoção exerce um papel fundamental nas lutas e na vida de cada pessoa, influenciando os seus estilos de vida e de combate.", João termina a leitura.
"Ou seja, podemos criar objetos, as ignições Zen, como espadas através das nossas emoções, por exemplo.", diz Carlota a João.
"Não sabia que isso era sequer possível, sempre pensei que a base era mesmo a materialização da emoção através da aura."
"O Zen, quanto mais poderoso for, mais se 'quer libertar' do sistema humano. Muitas vezes a nossa mente não aguenta tanta quantidade de energia, há pessoas que conseguem mesmo aguentar essas quantidades e aguçam as suas habilidades, mas as mudanças de aura requerem uma libertação do poder, nem toda a energia fica lá.", explica, calmamente, Isabel.
"Preciso de estudar essas mudanças de aura… Mas bem…", João perdeu uma hora na conversa à espera de encontrar um momento certo para pedir o que Lucas queria.
"Eu sei que vieste aqui para outro assunto, não foi? Sinto a tua mente irrequieta.", a jovem adulta de cabelos longos e castanhos-claros questiona.
"Acertaste… Vim pedir a requisição de um livro privilegiado da biblioteca.", o jovem adulto de olhos amarelados responde.
"É para o Lucas, certo?", Isabel já sabia.
"Sim… Como é que já sabias?", questiona, surpreso.
"Porque não seria a primeira vez, apenas tive a intuição."
"Ah, não sabia que ele já tinha falado contigo.", João mostra-se surpreendido, contente por um lado.
"Qual é o livro que ele quer?"
João baixa levemente a cabeça, de forma a ver o papel com o título, olha para ela e diz o nome do livro.
"É fascinante o seu patriotismo e apego a Lusitânia. Para querer esse livro, ele deve continuar a estudar imenso."
"Claro, todos nós somos assim, não passamos por cima do trauma ainda, é algo que demorará anos, mas seguimos em frente. Ele sente que ao ler estes livros está mais perto do Mestre e dos que não sobreviveram.", João toma uma postura mais séria perante o tema de Lusitânia.
"Nós estamos aqui no que for preciso, não hesitem em pedir ajuda."
"Sim, mesmo após a guerra, nós temos compaixão e agradecemos.", João toca num tema mais sensível, mas di-lo num tom mais relaxado.
"Ainda bem. Diz ao Lucas que amanhã tem de se encontrar comigo na biblioteca, por volta das oito horas da noite, quando ela fecha."
Ambos se despedem.
João vai então até ao local do combate do capítulo passado e não vê ninguém, mas também não ficou à espera. Seguiu por um caminho que já conhecia até chegar à biblioteca.
Lá, ele observa o amigo sentado e descontraído à sua espera.
"Achei que ias estar na fonte."
"E estive, mas eu sabia que vinhas até aqui se não me visses lá."
"Certo… consegui o que querias. Mas, agora que estamos sozinhos e temos tempo, porque é que queres aquele livro? Tenho o direito de saber.", João fica curioso e esquece-se de dizer o local de encontro com Isabel.
"Quero ler mais sobre o passado da nossa casa."
"Mentira."
"Mentira?! Tu aceitaste o favor que te pedi, sem hesitar e sabendo o título do livro. Só agora questionas isso?", Lucas começa a ficar aborrecido com João.
"Sim, mas eu só me lembrei mais tarde que já te vi com o mesmo livro no Templo, aliás, vi-o numa das tuas prateleiras em casa."
Lucas percebe que não consegue levar a conversa para o seu lado.
"Então confia em mim, de novo.", Lucas evita olhar para João.
"A questão não é essa…", João apercebe-se de algo interessante acerca do pedido. "Espera, tu queres acesso ao banco de livros privilegiado?"
"Sim.", Lucas é direto.
"Lucas, não faças nada que nos prejudique! Por favor.", João fica preocupado com o plano de Lucas.
"Tu mudaste, preferia o João de antes que saltava do cimo das árvores e não queria saber das consequências. Agora não vejo a tua fúria de antes num momento destes, estás muito suave."
"Acho que com o que aconteceu qualquer um de nós ficaria, olha tu, que te tornaste num-", João é interrompido.
"Vocês não sabem o que vai em mim, mas eu compreendo-vos. Preciso de tempo, estou quase lá.", Lucas responde com serenidade.
"Mais tempo?", João questiona mais agressivo.
"Um dia irão agradecer-me.", Lucas olha diretamente nos olhos de João, algo que raramente fazia.
"Espero que agradeças é à avó e ao Ógu que nos têm dado muita ajuda."
"Ógu?! O único líder a quem devo agradecer e que já não o posso fazer é o Mestre, não aceito mais nenhum!"
João desiste de conversar com Lucas e sai da biblioteca irritado.
Será que devia aceitar o convite?
No dia seguinte, Lucas repete as mesmas rotinas de sempre, mas parece mais confiante.
Como não tomou o pequeno-almoço no local do costume, ninguém consegue observar a mudança.
Quando pronto, dirigiu-se até ao Palácio e, pelo caminho, observa atentamente as pessoas ao seu redor. Recusava aceitar que Libreland era muito mais evoluída que Lusitânia. Continuava a achar que algo não estava bem: as pessoas não pareciam tão felizes assim aos olhos de Lucas, pelo menos, para não falar do passado sabido acerca de Eliote.
O Palácio era enorme visto de fora, tinha uma cor branca que quase refletia perfeitamente a luz do sol.
A coroa de ouro que rodeava a entrada do mesmo intimidava Lucas, ele não gostava da extravagância que ela emitia com o seu intenso brilho, e o esplendor era o mesmo dentro do local.
Quando lá chegou dirigiu-se apenas à receção para falar com Eliote.
"Bom dia, queria saber se o Eliote está disponível para uma reunião.", Lucas questiona a rececionista.
"Bom dia. De momento o Ógu não está disponível, mas quer que deixe uma nota?"
"Não, obrigado, eu volto mais tarde. Sabe a que horas ele está, ao menos?"
"Infelizmente, não, ele anda muito atarefado."
"Obrigado na mesma.", Lucas volta-se para ir a outro lugar.
"Lucas! Bom dia.", aparece Isabel.
"Bom dia, Isabel. Tudo bem?", o rapaz esboça um sorriso verdadeiro no seu rosto.
"Sim! Fiquei melhor ainda com esse sorriso!", Isabel sente-se genuinamente feliz por ver que o rapaz parecia estar melhor.
"Está na hora de mudar! Acho que começou, finalmente, a minha jornada aqui.", estava, surpreendentemente, mais confiante do que nunca.
"Nem sei o que dizer, achei que me ias dar um 'olá' daqueles", tenta imitar a voz dele, "E sair pela porta fora."
"Desculpa por esses momentos, mas, não conseguia esconder…", Lucas fica cabisbaixo.
"Ei! Não tem mal nenhum, eu entendi perfeitamente. Sabes que mais, porque não me acompanhas às academias? Quero muito mostrar-te as instalações para te tentar convencer a ficar. O que dizes?"
"Veio mesmo a calhar, era isso que ia fazer agora mesmo! Quero inscrever-me.", demasiado confiante.
"Fantástico! Vamos! Mas antes disso, o João disse-te, certo?", Isabel guia Lucas.
"Que me ias arranjar o livro."
"Ainda bem que perguntei, porque não foi só isso que lhe disse, é para ires ter comigo logo à biblioteca buscar o livro, quando ela fechar."
"Pois, isso ele não me contou, mas fica combinado!", os dois foram ver as instalações.
"As academias de Zenitsu servem para alunos e mestres aprenderem e ensinarem a arte da energia Zen, as suas formas de expressão e técnicas de combate.
Dentro desta arte marcial temos duas vertentes: a física e a materialística, como é mais conhecida.
A primeira é focada na forma física e técnica do lutador, é permitido utilizar todo o corpo e apresenta diversas habilidades que não requerem Zen para se defenderem de ataques 'materialísticos'.
A vertente 'materialística' é caracterizada por auras, focos intensos de Zen que permitem o controlo da mente, aperfeiçoamento do corpo e mudanças de espírito Zen, bem como o uso de ignições Zen, objetos que acumulam poder, por mais pequeno que seja, e amplificam-no para criarem investidas mais potentes.
Normalmente, quem não tem energia o suficiente para expressar qualquer tipo materialístico usa ignições. Por outro lado, quem tem muita energia consegue criar as próprias.", lia João, sozinho nas academias, o livro que começara a ler com Isabel na biblioteca.
"Chegamos. Neste corredor tens dois caminhos possíveis: o da direita, que é o teu, dedicado a quem treina e utiliza apenas o corpo, enquanto o da esquerda é dirigido a quem já manipula a energia e a materializa."
"Qualquer um usa o da direita, mas só quem materializa usa o da esquerda, certo?"
"Sim, é muito complicado alguém sem materialização usar o da esquerda, a não ser que utilize uma ignição."
"Isso são as armas auxiliares?"
"Sim."
"Interessante, em Lusitânia nunca precisamos disso, apenas ouvimos falar. O que mais fizemos foi treinar o aspeto físico da arte."
"Estás pronto para conhecer o teu colega do room?"
"Vamos a isso.", continua confiante o rapaz.
Quando Lucas entra no primeiro room vê um rapaz alto, de olhos castanhos e com um físico impressionante que treinava socos potentes e pontapés bem altos, sem salto.
Parecia uma arte completamente diferente e avançada da que ele aprendera em tempos no Templo: usavam mais as pernas para se defender e os braços eram resguardados de modo a socar com muita mais força.
Eles usam mais as pernas, focam-se mais no próprio aspeto materialístico, não acho ser uma boa ideia deixar as mãos para trás.
"Zak, tens um novo colega!"
"Olá, Isabel!"
Para o treino, todo transpirado, e aperta a mão de Lucas.
"Olá.", saúda calmamente Lucas.
"Prazer, Lucas.", olha diretamente nos olhos de Zak e não decifra o seu olhar.
"Zak.", voltou-se para o seu treino de novo.
A cor é neutra, será que consegue esconder a aura como eu?
"O Zak utiliza uma energia bem única do resto dos alunos. Ele consegue materializar a energia e afiar qualquer parte do seu corpo ou de um objeto, através da materialização da aura, para criar cortes extremamente precisos e afiados. É uma técnica que parece ser básica, mas com os combates entre ambos verás que é valiosa."
"Se o dizes, eu confio em ti, mas 'afiar' em que sentido?", Lucas parece um rapaz diferente, confiante e determinado.
"Cria uma proteção que afia e tem uma precisão extrema, pode tanto ser lançada como um tiro, ou apenas posso usar corpo a corpo.", responde Zak.
"Bem, eu vou deixar-vos a treinar e daqui a uma hora volto para ver uma luta entre ambos. Bom trabalho!", Isabel sai e Lucas fica com Zak.
A sério que se foi embora? Muito bem…