Mais uma semana se passou, sem notícias da chegada do Tio. A atmosfera na casa do era de expectativa mista e ansiedade silenciosa. Naquela noite, um silêncio pesado pairava sobre os corredores.
Yue Yang havia adormecido há algumas horas, seu treinamento com o Qi da Espada Invisível e a manipulação mental da Flor Espinhosa o deixando profundamente exausto. Ele dormia um sono pesado, quase inconsciente.
Foi então que a porta de seu quarto se abriu sem um som. Em uma linda silhueta contra a fraca luz do corredor, Si Niang apareceu. Seu rosto estava marcado por uma inquietação que ela não conseguia abafar. A solidão da noite e a atração proibida que vinha cultivando a haviam vencido novamente. As lembranças do abraço anterior, do calor dele, a assombravam.
Hesitante, seus pés descalços a levaram até a beira de sua cama. Ela olhou para Yue Yang adormecido, seus traços relaxados parecendo mais jovens, quase inocentes. A respiração profunda e ritmada dele era o único som no quarto.
Um impulso irresistível, nascido de semanas de tensão não resolvida e desejo reprimido, tomou conta dela. Ela já havia cruzado a linha antes. Que mal havia em... se aconchegar por apenas um momento?
Com o coração batendo forte contra as costelas, ela se deitou cuidadosamente ao lado dele na cama, tentando não acordá-lo. O colchão afundou levemente com seu peso. Ela se virou de lado, ficando de frente para ele, e ousou estender um braço, envolvendo-o levemente em um abraço. Seu rosto se enterrou no espaço entre seu ombro e seu pescoço, respirando fundo o seu cheiro único – suor seco, o aroma limpo das roupas de dormir e algo indefinivelmente dele. Seu corpo se moldou ao contorno do dele, uma perna se enroscando sobre as suas sob os lençóis.
Era errado. Era perigoso. Mas naquela escuridão silenciosa, envolta no calor e na segurança que emanavam dele, Si Niang se sentiu, pela primeira vez em anos, verdadeiramente tranquila. O cansaço e a tensão dos dias anteriores a sobrepujaram completamente, e ela caiu em um sono profundo e reparador, ainda abraçada a ele.
Yue Yang acordou com a primeira luz da manhã filtrando-se pela janela. E foi então que ele percebeu. Ele não estava sozinho.
O peso de um corpo contra ele podia ser sentido, o calor... o cheiro de jasmim. Seus sentidos, aguçados pelo treinamento, explodiram em alerta antes mesmo de sua mente compreender totalmente.
Ele olhou para baixo.
Si Niang estava lá, profundamente adormecida, seu corpo inteiro entrelaçado com o dele. Seu braço estava jogado sobre seu peito, a mão relaxada repousava perto de seu coração. A perna dela estava entre as suas, o calor íntimo de sua coxa pressionando-o de uma forma que fez seu sangue ferver instantaneamente. O robe dela havia se aberto levemente na frente, e a curva de um seio macio pressionava seu braço, a seda fina do material não escondendo quase nada.
Ele ficou paralisado, cada músculo tenso. A respiração calma dela soprava quente em seu pescoço. Era uma imagem de inocência e tentação proibida, tão intensa que doía.
Foi então que uma onda de calor violento percorreu seu corpo, concentrando-se em sua virilha com uma urgência incontrolável. Sua ereção, súbita e firme, pressionou-se contra a suave curva de seu abdômen, separados apenas pelas finas camadas de tecido de suas roupas de dormir. Um impulso primitivo e possessivo surgiu dentro dele, tão forte que quase fez seus dedos se contraírem na cintura dela ali mesmo.
Foi quando ela se moveu em seu sono, um murmúrio suave escapando de seus lábios. Seu quadril se pressionou inconscientemente contra ele. O movimento involuntário dela foi quase suficiente para fazê-lo perder o controle. Seus olhos se cerraram por um instante, uma onda de puro desejo varrendo-o, ele era um adolescente no final das contas, a puberdade estava em sua mente e em seu coração. Ele prendeu a respiração, lutando contra a necessidade instintiva de pressionar-se ainda mais contra o corpo macio e quente que agora parecia se encaixar perfeitamente contra o seu.
O mundo se reduziu àquele espaço minúsculo entre seus rostos. O bafo quente e regular dela, suave e levemente adocicado, batia em seus lábios a cada exalação. Era um convite hipnótico, um aroma íntimo que falava diretamente aos seus instintos mais básicos.
Movido por uma força que parecia vir de um lugar mais profundo que a razão, Yue Yang inclinou a cabeça lentamente, milímetro por milímetro. Seus lábios se aproximaram dos dela, que estavam entreabertos e relaxados pelo sono. Ele não fechou os olhos; pelo contrário, ficou fascinado pela visão tão próxima, cada detalhe ampliado.
E então, ele encostou.
Foi o mais suave dos toques, apenas o contato da pele com a pele. Seu lábio inferior repousou sobre o dela por um fio de segundo, um pseudo-beijo, um "selinho" que carregou toda a carga elétrica de um verdadeiro. Não houve movimento, não houve pressão. Apenas o calor, a maciez incrível e o sabor fantasma do seu hálito misturando-se ao dele.
Foi um contato breve, mas devastadoramente íntimo. Um limiar cruzado sem permissão, um segredo que agora queimava na pele de seus lábios.
Isso foi suficiente para quebrar o último fragmento de sua contenção.
Com um gemido baixo e rouco que foi mais um suspiro abafado, seus braços se fecharam em um movimento decisivo, puxando-a ainda mais para perto de si, contra o calor de seu próprio corpo que agora queimava. Ele não estava mais tentando não acordá-la. Ele queria que ela acordasse.
O movimento brusco fez com que os olhos de Si Niang se abrissem abruptamente. A confusão do sono durou um microssegundo antes do reconhecimento e do puro pânico se instalarem. Seus olhos se arregalaram, encontrando os dele, que a observavam com uma intensidade escura e possessiva que ela nunca tinha visto antes.
"Yue Yang...!" ela sussurrou, seu nome saindo como um suspiro de choque em seus lábios. Ela tentou se afastar, mas seus braços eram como aço apertando sua cintura fina.
"Não." A palavra saiu de sua boca, baixa, rouca, mas inquestionável. Não era um pedido. Era uma ordem suave, carregada de um desejo que ele não mais se dava ao trabalho de esconder. Seu rosto estava tão perto que ele podia sentir o calor de sua pele. "Fique."
Ele a segurou assim, firmemente, seus corpos se encaixando perfeitamente, cada curva dela se moldando a ele. Ele podia sentir cada batida acelerada de seu coração, cada tremor que percorria seu corpo. O embaraço, o medo, a culpa... e algo mais, algo que ela não conseguia controlar, uma centelha de resposta ao desejo cruo que emanava dele.
Eles ficaram assim, trancados em um silêncio eletrizante, por um tempo que não poderia ser medido. O mundo fora daquela cama, fora daquele abraço, deixou de existir.
Foi Si Niang quem quebrou novamente, um soluço contido escapando. "Isto... isto não pode..."
Dessa vez, com um último e profundo suspiro, Yue Yang afrouxou os braços. Ele não a soltou, mas deu a ela a escolha.
Ela escolheu fugir. Escapuliu de sua cama como se as chamas do inferno a perseguissem, seu robe desalinhado, seu rosto uma máscara escarlate de vergonha e confusão. Ela não olhou para trás uma única vez antes de desaparecer pela porta.
"Pode vir quando quiser!" Brincou Yue Yang ficando sozinho na cama, o calor dela e o cheiro de jasmim ainda impregnando os lençóis e sua pele. Seu próprio coração martelava em seu peito, ele olhou para baixo e viu seu membro ainda rígido e pulsante, ele sentiu até dor em seus ovos, como se eles necessitarem descarregar.
O ar no quarto ainda cheirava a jasmim e a pecado, foi uma noite que Yue Yang não iria esquecer tão cedo. Depois de voltar para a realidade, o jovem se encontrou com sua família tomando café, sua tia sem coragem de olhar em seus olhos informou que seu Tio, Yue Ling, ainda não tinha voltado. Mas mandou um recado com um servo.
O Castelo da Família Yue estava em festa. Luzes, convidados, música – o caos total.
A notícia deixou um clima pesado na casa.
A mensagem? O Castelo da Família Yue estava uma festa. Luzes, convidados, música – o caos total. O filho do Segundo Ramo da família, um pirralho de seis anos chamado Yue Feng, tinha conseguido um grimório. Seis anos! As Quatro Grandes Seitas tinham aparecido na porta para oferecer vaga pra ele (todas, menos a que só aceitava mulheres). Até o Imperador e a Imperatriz mandaram parabéns. Todo mundo tava lá, babando ovo do miúdo. O tio teve que ficar pra ajudar a receber a galera.
E a Pílula do Despertar Espiritual que sua tia vendeu até as joias para comprar? O Lorde do Clã Yue ordenou que fosse dada de presente para o pequeno Yue Feng.
"Por que o avô e o segundo tio não nos mandaram chamar para a celebração?" Yue Bing perguntou, seu rosto ficando pálido. Mesmo jovem, ela entendeu a humilhação. Eles tinham sido excluídos, deliberadamente.
"Tudo bem, é só uma festa. Não importa se não formos. O importante é que nosso Yue Yang conseguiu um grimório. É disso que importa." Os olhos da Si Niang estavam vermelhos, mas sua voz era firme. Mesmo com a pílula sendo roubada e a família principal cuspindo neles, ela não estava abalada. A felicidade dela era ver Yue Yang bem no futuro.
Yue Yang ficou impressionado. Contrair um grimório com seis anos era como uma criança de pré-escola passar no vestibular. Não era à toa que estavam fazendo um escarcéu tão grande.
Mas ele não estava com inveja. Tá brincando? Ele tinha a Habilidade Inerente Estelar, o segredo da Rainha de Ouro da Flor Espinhosa, a Sombra Fantasma que podia ficar invocada por dez dias e o Qi da Espada Invisível. Enquanto o moleque ia começar o jardim de infância das invocações, ele já estava fazendo pós-graduação.
Enquanto ele devaneava, o servo velho se ajoelhou e ofereceu uma caixa bordada com mãos trêmulas. "Minha senhora... o Mestre Yue Ling... ele tentou sortear um monstro para seu sobrinho... mas só tirou isso."
Yue Bing pegou a caixa e abriu. Seu rosto perdeu toda a cor. "Quinteto de Ratos Fantoches?! Isso é uma piada de mau gosto! São monstros de nível 1, do tipo especial! Só servem para fazer patrulha! E gastar cinco páginas do grimório de uma vez para isso?! No tesouro do Clã tem Lobos de Bronze nível 3 e Tigres de Prata nível 4! Por que deram isso para ele? Isso é plano dos outrios tios para! Eles têm medo que o meu primo se torne forte!"
"Filha, respeite os mais velhos", Si Niang a repreendeu gentilmente, mas sua expressão estava cansada. Ela se virou para Yue Yang, ela entendeu bem que sua família estava sendo alvo deles, mas mesmo com esse ressentimento não podia fazer nada. "Yue, se este monstro não for bom, não faça o contrato. E também não guarde rancor. Seja grato pelas bênçãos dos anciões. Foque em se aprimorar."
Yue Bing olhou para baixo, ainda furiosa.
Foi quando Yue Yang pegou a caixa. E então... ZAP! Sua [Visão Divina] ativou, e um fluxo de informação explodiu em seu cérebro.
Esse Quinteto de Ratos Fantoches não eram lixo. Eram a obra de um dos Três Heróis do Renascimento do Clã Yue, um cara lendário chamado Yue Gong, o Gênio Fantasma, há 600 anos. O cara era um gênio das bestas de marionete, tão famoso que era venerado como um "Sábio". Ele basicamente escreveu o manual de como usar marionetes, e todo mundo no continente usava o trabalho dele.
E esse conjunto de cinco ratos (Metal, Madeira, Água, Fogo, Terra) era uma das primeiras criações dele. Ninguém nunca entendeu para que serviam direito, e assumiram que era só um projeto inicial sentimental, inútil.
Mas sua [Visão Divina] via a verdade.
Esses ratos... eram um tesouro. Algo que todo mundo procuraria e não encontraria. E estavam sendo entregues a ele de bandeja!
Por fora, ele fez uma carinha humilde e obediente. "Já que é uma bênção de um ancião, eu não ousaria recusar. Aceitou o Quinteto de Ratos Fantoches. Obrigado, Tio, obrigado pelos ensinamentos."
"Os céus definitivamente abriram um caminho para você", Si Niang disse, feliz com sua obediência e humildade.
"Espere NÃO!" Yue Bing agarrou suas mãos, desesperada. "Eles ocupam CINCO páginas! Seu grimório de Cobre só tem dez! Você já usou três! Você só vai ter duas páginas sobrando! É uma armadilha! Eles têm medo de que você fique forte! Eles querem arruinar seu futuro! Não faça o contrato!"
Ela olhou para ele, seus olhos cheios de preocupação genuína, implorando para que ele não cometesse esse erro.
Yue Yang olhou para a caixa, depois para o rosto angustiado dela, e então de volta para a caixa. Um sorriso interno, enorme e malandro, estourou em sua mente.
Se ela soubesse... Se todos soubessem...
Ele tinha acabado de ganhar na loteria. E ninguém além dele sabia.