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Chapter 14 - Capítulo 14 – A Caçada Começa

As palavras do Ancião Ming Xin causaram um terremoto no mundo dos Invocadores. Ele havia usado seus poderosos [Olhos da Divindade] e revelado algo que parecia impossível.

"Este novo Invocador é extremamente jovem", anunciou o ancião. "Não tem mais de trinta anos. Estava envolto em sombras tão espessas que não pude ver seu rosto. Apenas seus olhos eram visíveis, brilhando como duas estrelas no céu noturno. Não consigo ver nada além disso; é como se uma poderosa força divina o estivesse protegendo."

Essa revelação deixou todos em estado de choque. A ideia de alguém atingir o Reino Inato — o nível mais alto de poder — antes dos trinta anos era algo inacreditável. A maioria leva séculos para chegar lá, mesmo com poções raras e bestas espirituais poderosas.

Imediatamente, todos os Invocadores do mundo passaram a ter um único objetivo: encontrar esse jovem prodígio e descobrir seu segredo. Como ele conseguiu tanto poder em tão pouco tempo? Eles precisavam encontra-lo e se preciso for, arrancar pedaço por pedaço até achar a resposta.

Enquanto o império inteiro se voltava para essa caçada, o próprio jovem em questão, Yue Yang, não fazia ideia do alvoroço que causara.

O sol da tarde dourava o jardim, iluminando os canteiros onde Shuang perseguia uma borboleta de asas azuladas. Yue Yang, deitado na grama, observava com um sorriso tranquilo. De repente, ela correu até ele, seus olhos brilhando.

"Irmão, me levanta! Quero tocar nas nuvens!", suplicou, pulando diante dele.

Ele riu, um som suave e despreocupado. "As nuvens estão muito altas hoje, pestinha. Que tal ser uma princesa e comandar seu cavalo real?" Antes que ela respondesse, ele a levantou com facilidade, sentando-a em seus ombros. Seus pezinhos balançaram felizes enquanto ele corria em zigue-zague, fingindo ser um corcel desgovernado. Os gritos de alegria de Shuang ecoavam pelo jardim, e por um momento, a pressão do seu poder recém-descoberto pareceu desaparecer, substituída pela simplicidade pura daquele riso.

Yue Yang já havia consolidado o primeiro estágio de seu poder, o [Qi da Espada Invisível Inato]. Agora, seu foco era dominar o segundo estágio — uma tarefa muito mais complexa e demorada.

Isso exigia que ele conectasse todos os 108 pontos de energia de seu corpo, criando um fluxo contínuo e sem obstruções. O esforço era enorme, mas a recompensa seria imensa: além de um aumento significativo de poder, ele seria capaz de atacar de qualquer parte do corpo, tornando-se imprevisível em batalha.

Ele não estava com pressa. Seu poder atual já o tornava mais forte que a maioria. Ele poderia sair pelo mundo e treinar em batalhas reais, deixando que o segundo estágio se desenvolvesse naturalmente com o tempo, auxiliado pela energia do pingente de jade negro que possuía.

No entanto, uma visão o perseguia: o lembrete de uma técnica final e devastadora que só poderia ser dominada após o segundo estágio. Essa promessa de poder supremo o mantinha focado.

À noite, o quarto de Yue Yang era um santuário de sombras e silêncio, quebrado apenas pelo fraco brilho de uma lua cheia que filtava pela janela semiaberta. Ele estava imóvel em posição de lótus no centro do aposento, como uma estátua esculpida em penumbra. O ar ao seu redor parecia vibrar sutilmente, denso com a energia espiritual que circulava por seus meridianos — um rio sereno, mas formidável, de poder que ecoava em cada partícula do ambiente. Cada respiração era um ciclo perfeito, puxando o qi do mundo para dentro de si e expelindo impurezas como um sopro quase imperceptível.

Um mês se passou desde que chegou neste mundo. Dias tranquilos com sua irmã e sua tia se alternavam com noites de meditação e treino intenso. Então, finalmente, em uma dessas noites, ele conseguiu. Os "Três Estilos Misteriosos", a segunda habilidade do [Qi da Espada Invisível Inato], foram desbloqueados.

Uma onda de satisfação o invadiu. Ele precisava testar essa nova habilidade. Precisava de um oponente real o quanto antes.

A porta deslizou sem fazer um único ruído. No umbral, emoldurada pela luz suave do corredor, estava Si Niang. Seu rosto, iluminado pela penumbra, carregava uma preocupação profunda, mas era suavizado por uma expressão de carinho irresistível. Seus olhos percorreram a figura solitária e concentrada de Yue Yang, e um suspiro silencioso escapou de seus lábios. Ela entrou, fechando a porta atrás de si com um cuidado quase reverente.

Descalça, seus pés não fizeram som algum sobre o tatame enquanto se aproximava. O tecido leve de sua roupa de dormir sussurrava a cada movimento, um som suave que se perdia na imensidão do silêncio do quarto. Ela se ajoelhou atrás dele, sua presença um calor familiar no frescor noturno. Por um longo momento, apenas o observou, a tensão visível em seus ombros, mesmo em estado de meditação profunda.

Então, suas mãos se levantaram. Eram mãos que conheciam o peso do trabalho e a delicadeza do cuidado, e agora traziam uma intenção diferente. Suas palmas pousaram primeiro em seus ombros, e mesmo através do tecido fino de sua roupa, Yue Yang pode sentir o calor e a suavidade de seu toque. Seus dedos, firmes e conhecedores, começaram a trabalhar os músculos tensos, encontrando nós de estresse com uma precisão que falava de intimidade. A pressão era perfeita — firme o suficiente para dissipar a rigidez, suave o suficiente para não quebrar sua concentração.

Como ele queria arrancar suas roupas e fazer dela sua mulher, mas ele não tinha pressa, preferia apimentar essa relação até seu ápice. 

Seus polegares subiram pela sua nuca, descrevendo círculos lentos e hipnóticos na base de seu crânio. Yue Yang não abriu os olhos, mas um suspiro profundo e carregado de alívio escapou de seus lábios, um som que era quase um gemido baixo. Sob suas mãos, a energia dentro dele não apenas fluía — ela dançava, respondendo ao toque dela como se fosse uma extensão de sua própria força vital. A concentração não se quebrou; pelo contrário, fundiu-se com a sensação, criando um estado de alerta relaxado, uma paz carregada de poder.

Ele sentiu as pontas de seus dedos brincarem com os fios de cabelo em sua nuca, um toque casual que provocou um calafrio percorrer sua espinha. O perfume dela — uma mistura suave de jasmim e algo unicamente seu — envolveu-o, tornando-se parte da meditação. Era um silêncio compartilhado, mas agora pesado com algo não dito, uma tensão elétrica que crescia com cada movimento de suas mãos.

Após um tempo que poderia ter sido minutos ou horas, Yue Yang quebrou o silêncio, sua voz um ruído baixo e rouco que cortou o ar tranquilo.

"Si Niang."

Ela parou por um instante, seus dedos ainda repousando levemente em seus ombros, como se esperando por uma repreensão ou um afastamento.

"Preciso sair esta noite", ele continuou, sua voz ainda baixa, mas clara. "Um treino especial. A lua está cheia, e o fluxo de energia está... favorável. Não posso perdê-lo."

Ele fez uma pausa, sentindo os dedos dela se contraírem levemente contra sua pele.

"Por isso," ele acrescentou, sua voz suavizando-se quase em um sussurro, "não poderei dormir com você esta noite."

As palavras pairaram no ar, carregadas de um significado que ia muito além do literal. "Dormir com você" não era apenas sobre compartilhar uma cama por calor ou conforto; era sobre a quietude que encontravam nos braços um do outro, a paz que vinha da presença silenciosa do outro na escuridão.

Si Niang não respondeu imediatamente. Seus dedos retomaram seu movimento, mais suaves agora, quase acariciando.

"Está bem," ela sussurrou finalmente, sua voz tão suave quanto o toque de suas mãos. "Só tenha cuidado, não vá para muito longe… Sentirei sua falta."

A noite envolvia a Cidade da Pedra Branca em um manto fresco e silencioso. Yue Yang deslizou pela sombra do portão de sua casa como um fragmento da própria escuridão, seu corpo movendo-se com uma graça sobrenatural que o recém-adquirido poder [Inato] lhe concedera. Cada músculo respondia com uma precisão absoluta, cada sentido estava amplificado. O mundo ao seu redor parecia mais lento, mais claro.

Em vez de tomar as ruas principais, ele optou pelo caminho mais longo e discreto: o cinturão de árvores anciãs que margeava a periferia da cidade. Ali, banhado pela luz prateada da lua, ele deu vazão a uma fração de seu poder. Impulsionando-se com uma leveza que desafiava a gravidade, seus pés mal tocavam os galhos mais robustos antes de ele se lançar adiante. Era como se as árvores estendessem seus braços para acolhê-lo, oferecendo um caminho aéreo e veloz. 

Correr assim, com o vento frio da noite lhe cortando o rosto e o cheiro de terra e folhas molhadas enchendo suas narinas, era uma sensação de liberdade intoxicante. A floresta, que seria um labirinto intransponível para qualquer outro, era para ele uma estrada aberta.

No entanto, a cautela era o principal. Mesmo com seu poder, a revelação no posto de mercenários era um risco que ele não podia correr. Parando em um carvalho, ele invocou mentalmente seu grimório. Com um brilho suave de luz âmbar, o Quinteto de Ratos Fantoches materializou-se—não como cinco entidades separadas, mas fundindo-se em uma única sombra alongada e multifacetada que pulsava silenciosamente à sua frente.

"Vigia", ordenou Yue Yang, sua voz pouco mais que um sopro.

A sombra dos fantoches dissolveram-se no chão, tornando-se quase imperceptível. Ele não os via, mas sentia sua presença como uma extensão de seus próprios sentidos, um radar vivo que varria o caminho à frente, penetrando nas sombras mais densas. Eles detectavam não apenas movimento, mas intenção. Uma lebre assustada era ignorada. Um bandido entediado em seu posto era catalogado e contornado. Mas qualquer hostilidade, qualquer armadilha ou observação oculta, seria sentida como um choque agudo em sua própria mente, permitindo que ele se desviasse muito antes de ser percebido. Era como ter cinco pares de olhos invisíveis e absolutamente leais limpando seu caminho.

Seguido por essa rede de segurança viva, Yue Yang atingiu os limites do distrito mercante. O ar mudou. O cheiro limpo da floresta deu lugar aos odores terrosos de cavalo, cerveja derramada e carne assada. O silêncio foi substituído pelo murmúrio distante de vozes e risadas que escapavam pelas frestas das portas e janelas fechadas.

E então ele a viu: a Guilda dos Mercenários.

Era uma estrutura de madeira escura e pedra, muito maior e mais sólida que as tavernas ao redor. Duas lanternas vermelhas e sangüíneas balançavam suavemente sobre uma porta de carvalho maciço, marcada com o símbolo de uma adaga cruzada com um punho—o emblema da Guilda. Mesmo de longe, o som era diferente. Não era a algazarra despreocupada de uma taverna comum, mas um rugido abafado e áspero, pontuado por gargalhadas altas e o baque surdo de canecas de madeira batendo nas mesas. A luz que vazava pelas frestas era quente e amarela, prometendo um interior abarrotado, fumacento e barulhento.

Yue Yang se fundiu com a sombra de um beco, observando a entrada por um momento. Dois homens grandes, com braços grossos como troncos e cobertos de cicatrizes, cruzavam os braços do lado de fora, seus olhos percorrendo os poucos transeuntes noturnos com desdém. Eram os olheiros, garantindo que apenas quem era de fato bem-vindo—ou quem parecia capaz de causar problemas—entrasse.

Foi então que seu olhar foi atraído não para a porta, mas para a parede lateral da Guilda. Ali, iluminado por um poste de tocha, estava afixado um pergaminho muito maior e mais elaborado que os anúncios de missões ao seu redor. O selo de cera dourada do Imperador cintilava à luz das chamas, impossível de ignorar. Mesmo à distância, Yue Yang conseguia ver a ilustração estilizada de um pilar de luz atingindo o céu e, abaixo, números que mesmo de longe pareciam absurdos.

Seus ratos fantoches, escondidos nas sombras próximas, não detectaram perigo imediato à sua volta—apenas a violência contida e bêbada dentro do prédio. Mas um novo tipo de tensão, fria e calculista, tomou conta de Yue Yang. A caçada não era mais uma abstração. Era real, e seu preço estava literalmente pregado na parede para que todos vissem.

Ele não era mais apenas um jovem saindo para testar suas habilidades. Ele era a presa, caminhando voluntariamente até a toca do caçador.

Com um último comando mental para seus fantoches permanecerem vigilantes, Yue Yang ajustou a capa, puxou o capuz para melhor esconder seu rosto e, com uma respiração profunda que não era de medo, mas de foco aguçado, saiu da sombra e se dirigiu para a entrada da Guilda.

E ele estava sozinho, no meio da multidão, com um segredo que todos matariam por ele.

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