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Chapter 15 - Capítulo 15 – Guilda dos Assassinos

A visão da recompensa de mil moedas de ouro fez Yue Yang considerar, por um breve momento absurdo, entregar-se voluntariamente. Ele quase conseguia sentir o peso do ouro em suas mãos.

Ele conhecia o ditado: "Uma árvore que se ergue sozinha atrai o vento que a derruba". Revelar ao mundo que era o Invocador Inato seria um suicídio político. A família real talvez o recebesse de braços abertos, mas os outros dois grandes reinos certamente enviariam assassinos para eliminá-lo antes que seu poder florescesse completamente. Um jovem que atingiu o Reino Inato sem elixires ou Bestas Míticas? Sua técnica de cultivo seria cobiçada por todos os Invocadores do continente, eles iriam adorar abrir seu corpo e estudar lentamente sem matá-lo.

A discrição era sua maior arma. Riqueza e poder, quando não ostentados, são mais facilmente protegidos.

Um sorriso irônico curvou seus lábios sob a máscara negra que agora cobria seu rosto. Ele ajustou-a melhor antes de adentrar a Guilda dos Mercenários com uma postura deliberadamente desleixada.

O salão era um caldeirão de ruídos e odores – o rancor de cerveja barata, o suor de homens endurecidos pela batalha, o eco metálico de moedas sendo apostadas em jogos de azar. Nenhum dos mercenários presentes sequer imaginou que o jovem mascarado que cruzava a porta era o homem mais procurado do império. Para eles, ele era apenas mais um novato, um aspirante a ladrão vestindo suas primeiras roupas escuras. Alguns olhares se voltaram para ele, mais por hábito do que por desconfiança, avaliando rapidamente e o descartando como uma ameaça irrelevante.

Yue Yang alimentou essa ilusão. Sua voz foi um fio de som educado quando se aproximou do balcão, carregando uma hesitação estudada. "Com licença, senhor. Poderia me instruir sobre os procedimentos para registrar-me como mercenário?"

A educação, neste ambiente, era sinônimo de fraqueza. E fraqueza era algo a ser explorado. Yue Yang queria ser invisível, ou melhor, ser visto como irrelevante. Um alvo fácil que ninguém se daria ao trabalho de mirar.

O homem atrás do balcão não era a bela recepcionista que a imaginação popular prometia. Era um velho careca, com a pele oleosa e um olhar que havia visto demasiadas moedas de cobre passarem por suas mãos.

"Pague e preencha isto", disse o homem, deslizando um formulário de pergaminho gasto através do balcão. "Se tiver grana sobrando, pode comprar um 'Distintivo Celestial'. Registra seus pontos de missão. Custa dez pratas extras."

Yue Yang fez uma expressão de constrangimento. "Eu... não sei escrever. Poderia preencher para mim? Pago uma moeda de prata." A mentira saiu facilmente. Ele sabia escrever, mas sua caligrafia poderia ser uma assinatura, uma prova. Em um mundo com Habilidades Inatas de todos os tipos, até a tinta no papel poderia traí-lo.

O velho avaliou-o com um olhar afiado. Um novato, ingênuo, disposto a pagar uma prata por um serviço trivial? Ou um tolo com mais dinheiro que juízo? Decidiu testar os limites. "Três pratas", declarou, sua voz áspera.

Yue Yang contraiu o rosto em uma máscara de aflição. "Três é demais... Duas? Eu pago duas moedas de prata." Sua performance foi tão convincente que arrancou risadas grosseiras de alguns mercenários nas mesas próximas. A tradição de intimidar novatos era um esporte local.

Foi então que uma figura esguia, também vestida de preto e com o rosto parcialmente oculto por uma máscara, interveio. Um braço ágil, movendo-se com a velocidade de um raio, arrebatou a caneta e o pergaminho das mãos hesitantes de Yue Yang.

"Sua cabeça foi golpeada por um cavalo? Oferecer duas pratas por isso?" A voz que saiu da máscara era claramente feminina, um contraste suave que carregava um misto de irritação e divertimento. "É dever dele ajudar aqueles que não sabem escrever. Um idiota como você quer ser ladrão? Vai morrer de fome antes do amanhecer. Qual é o seu nome?"

"Você vai me ajudar? Obrigado, irmão! Muito obrigado!" Yue Yang exagerou seu alívio, abrindo os braços para um abraço que foi imediatamente evitado por um passo ágil para trás.

"Pare, ou vou enviá-lo voando pela porta! Idiota, diga-me seu nome!" Os olhos da ladra – pois era claramente uma mulher – Encheram de indignação por trás de sua marcada, principalmente pelo termo "irmão".

"Meu nome é Titã", Yue Yang respondeu, avançando um passo, fechando a distância entre eles. Seu olfato, apurado pelo cultivo, captou imediatamente o aroma que emanava dela – uma fragrância limpa e fresca, como orvalho em lírios de sombra, um contraste marcante com o fedor enjoativo da taverna. Era um aroma que despertava os sentidos, e uma parte de Yue Yang, profundamente enterrada, respondeu com um interesse súbito e intenso. Externamente, sua expressão permaneceu a de um homem simplesmente grato.

"Titã? Que nome estranho. Soa familiar...", ela murmurou, suas sobrancelhas finas se franzindo levemente acima da máscara.

"Titãs são uma raça de gigantes", Yue Yang explicou com seriedade falsa. "São incrivelmente altos e notórios por seus fracassos. Dizem que foram derrotados de forma tão humilhante que foram lançados nas profundezas do inferno..."

"Então por que você escolheria um nome tão... lamentável?" ela perguntou, sua curiosidade superando momentaneamente sua irritação.

Yue Yang adotou uma expressão profundamente filosófica. "É exatamente por simbolizar o fracasso que o escolhi. Serve como um lembrete constante de que nunca devo compartilhar de seu destino." Sua lógica era tão tortuosa que por um momento ela ficou sem palavras, apenas olhando para ele.

Ela então começou a preencher o formulário com movimentos rápidos e eficientes. "Idade?"

Yue Yang contou nos dedos com uma seriedade cômica. "Duzentos anos. Mas ainda não me casei; estou em uma jornada para encontrar meu verdadeiro amor." Ele fez uma pausa dramática, deixando a declaração absurda pairando no ar. "Meus requisitos não são muitos. Ela precisa ser bela como uma deusa que desceu dos céus, com curvas generosas, uma cintura fina que eu possa circundar com as mãos... e um traseiro particularmente bem-arredondado e avantajado."

A sala, que já observava a interação com interesse divertido, irrompeu. Homens cuspiram sua cerveja, sufocando de risada. Outros bateram nas mesas, uivando de diversão.

A ladra mascarada simplesmente o fitou, seus olhos expressando uma mistura de incredulidade e profundo desgosto. "Por que não diz que ela também precisa amá-lo por dez mil anos?"

Yue Yang assentiu com gravidade, como se ela tivesse feito uma sugestão excelente. "Dez mil anos é o mínimo. Cem mil seria preferível. Até um milhão de anos de devoção não seria excessivo."

"Você é louco", ela rosnou, a frustração evidente em sua voz.

Yue Yang pareceu considerar isso, seu rosto iluminando-se com admiração falsa. "Isso mesmo, irmão! 'Eu e você, somos loucos por mulheres lindas!'... que declaração poderosa! Cheia de paixão e convicção. É exatamente esse o espírito! Talvez com um pouco mais de ternura na entrega da próxima vez... Está terminado? Maravilha! Deixe-me retribuir sua gentileza. Conheço uma nova pousada a leste da cidade. Dizem que uma nova garçonete trabalha lá, com um par de atributos frontais tão impressionantes que rivalizam com bolas de futebol – um esporte de minha terra natal, incrivelmente dinâmico. Venha, vamos tomar uma bebida. Podemos apreciar a vista."

Ele se inclinou para frente, sua voz baixa e conspiratória.

A ladra ficou paralisada. A audácia do homem era monumental. Mas foi a palavra estranha que a pegou. "Fute... bol? O que é 'futebol'?" Ela não pôde evitar perguntar, sua curiosidade profissional como coletora de informações superando sua repulsa.

Yue Yang sorriu sob sua máscara. A isca foi mordida.

"Ah, 'futebol'... é um termo erudito de minha terra natal para se referir aos seios de uma mulher", Yue Yang explicou, adotando um ar professoral que contrastava absurdamente com o assunto. "Veja, é uma ciência da observação. Se uma jovem possui um peito... bem, singularmente plano..." Seus olhos pousaram brevemente no torso da ladra, e ele ergueu as mãos em uma rendição pacífica quando os dedos dela se apertaram ao redor de uma adaga. "...Digamos, ela seria classificada como uma tábua. Caso sejam minúsculos, quase imperceptíveis, seriam 'Pêssegos Verdes'. Um pouco maiores, talvez do tamanho de... ahem... maçãs, seriam 'Maçãs Maduras'. Por favor, não saque sua adaga, foi um mal-entendido! Supus que você fosse um homem, e precisei de uma referência visual!"

"Então, se forem maiores que maçãs, são 'bolas de futebol'?" A ladra rosnou, a ponta de sua adaga agora firmemente pressionada contra a garganta de Yue Yang, sua voz um sibilo de fúria contida.

Yue Yang se divertia com suas mentiras, era engraçado essa pirralha morrendo de vergonha e curiosidade das loucuras que ele dizia.

"Oh, céus, não! A jornada é longa e cheia de maravilhas antes de se chegar a tal grandeza!" Yue Yang exclamou, seu entusiasmo falso transbordando. "Há toda uma taxonomia intermediária: Pêras Suculentas, Mamões Tropicais, até mesmo Cocos Exóticos. Depois disso, sim, chegamos às esferas atléticas: Bolas de Vôlei e, finalmente, as majestosas Bolas de Futebol! É um campo de estudo vasto. Normalmente, só compartilho esse conhecimento com discípulos dedicados!"

"Faz todo o sentido!" A sala de mercenários, que havia parado suas atividades para ouvir a absurda palestra, irrompeu em aplausos e gargalhadas aprováveis. A "Técnica de Classificação de Seios" de Yue Yang era, para aqueles homens rudes, uma filosofia revolucionária.

Yue Yang inflou o peito com um orgulho falso, como um académico recebendo uma ovação de pé.

A ladra de olhos brilhantes respirava com dificuldade, cada inspiração um esforço visível para não cravar a lâmina em sua traqueia. Com um movimento súbito, ela pisou com força em seu pé, enfiou o formulário preenchido em suas mãos, deu meia-volta e saiu marchando, sua capa negra agitando-se com sua fúria.

Yue Yang atirou o pergaminho para o velho do balcão, jogou as moedas de prata com um tilintar negligente, pegou seu recém-adquirido 'Distintivo Celestial' e saiu correndo atrás dela.

"Irmão! Espere! Deixe-me comprar uma bebida para você! Preciso detalhar as complexidades dos 'Mamões Tropicais'!... Ah, você é rápido. Está claro que é um novato neste campo do conhecimento!" Ao alcançar a rua, a ladra havia desaparecido completamente, dissolvendo-se nas sombras da noite como fumaça.

Assobiando uma melodia despreocupada, Yue Yang seguiu seu caminho, um sorriso genuíno brincando em seus lábios sob a máscara. A troca foi divertida.

Mesmo vendo-a desaparecer como fumaça nas sombras da noite, um sorriso largo e genuíno estampou seu rosto sob a máscara. A fúria dela, o jeito ágil como se movia, até a forma precisa como havia preenchido o formulário – tudo aquilo era deveras intrigante. "Não se preocupe, irmãozinho," sussurrou ele para si mesmo, os olhos brilhando com uma determinação divertida. "Uma gatinha com garras tão afiadas assim não passa despercebida por muito tempo. Vou descobrir quem você é... e sinto que vai valer cada segundo da caçada." A risada que escapou de seus lábios foi suave, carregada de uma curiosidade que beirava a obsessão, enquanto ele se virava e mergulhava nas ruas laterais, seu coração batendo mais rápido não por causa da corrida, mas pela antecipação do desafio que aquele encontro casual havia despertado.

Das profundezas de um beco escuro, os olhos da ladra o observavam partir. Sua mão apertou o cabo de uma adaga, os nós dos dedos brancos de tensão. Ela cuspiu de desgosto na direção que ele havia tomado antes de se fundir novamente com a escuridão, uma sombra entre sombras.

Yue Yang empurrou a pesada porta de madeira, da construção ao lado do bar, que rangiu com um som que parecia rasgar o silêncio mortal. A sala principal estava deserta, salvo por uma única figura.

Um velho, vestido com roupas simples de cânhamo, dormia encolhido sobre uma mesa de carvalho escuro. Seu cabelo era um desalinho grisalho, e seu corpo parecia frágil, quase consumido pelo tempo. Ele emanava uma aura fraca, como se estivesse a um suspiro de desmoronar em pó.

Mas Yue Yang, com os sentidos aguçados de um Inato, sentiu algo muito diferente. Uma calma profunda e perigosa emanava do velho, como as águas paradas e profundas sobre um redemoinho. Este homem não era um leão adormecido; era um dragão ancião repousando, cujo poder estava tão contido que era quase imperceptível, mas absolutamente mortal. Yue Yang sentiu, com uma certeza instintiva, que mesmo com seu Qi da Espada Invisível, um ataque surpresa falharia miseravelmente.

"Saudações. Eu gostaria de me candidatar para ingressar na Guilda dos Assassinos", disse Yue Yang, sua voz respeitosa. Desta vez, a cortesia não era uma fachada; era um reconhecimento genuíno do poder que estava diante dele.

O velho ergueu a cabeça lentamente. Seu rosto era marcado por cicatrizes antigas. Seus olhos, no entanto, eram poços de escuridão e inteligência calculista. Eles examinaram Yue Yang, não com ameaça, mas com uma avaliação clínica e impessoal.

"Jovem, assassino é um ofício de sangue e sombras. Você está preparado para carregar esse peso?" Sua voz era áspera com as pedras se esfregando, mas completamente clara.

Yue Yang manteve-se calmo sob aquele olhar penetrante. Ele sorriu, um movimento pequeno que chegou aos seus próprios olhos. "A juventude não é atraída pelo sangue e pela violência, ancião? É uma força da natureza."

O velho fechou os olhos por um momento, nem concordando nem discordando. Quando os abriu novamente, sua expressão estava vazia. "Para ingressar, não exigimos nomes, histórias ou ouro. Apenas uma prova. Escolha: o Teste da Caneta ou o Teste da Lâmina."

"O Teste da Caneta? O Teste da Lâmina?" Yue Yang arqueou uma sobrancelha. Assassinos faziam provas escritas? Era mais bizarro do que os exames da academia em seu mundo anterior.

"O Teste da Caneta questiona sua mente e métodos. O Teste da Lâmina questiona sua habilidade e coragem. Para a Lâmina, viaje cinquenta quilômetros até a Montanha Negra ao amanhecer. Traga de volta a cabeça de um dos bandidos que lá se escondem." O velho explicou de forma monótona, como se estivesse recitando um menu.

Yue Yang balançou a cabeça imediatamente, fazendo um gesto negativo com a mão. "A Caneta. Definitivamente a Caneta."

Matar não era um problema moral para ele; neste mundo, certas vidas eram como dados em um tabuleiro de jogo para serem removidos. Ele até antecipava testar suas Flor Espinhosa e suas sombras em alvos reais. Mas a ideia de correr 100 quilômetros de ida e volta durante a noite, escalar uma montanha e ainda carregar uma cabeça sangrenta de volta... isso era puro trabalho braçal. Uma tarefa enfadonha e mundana indigna de seu valioso tempo e de seu status de Inato. 

Na verdade tudo o que ele pensou era apenas um desculpa, ele só estava com preguiça mesmo.

"Muito bem", o velho disse, sem surpresa. "A pergunta é esta: você deseja eliminar um alvo. Diante de você estão três ferramentas: uma lâmina lendária tão afiada que pode cortar um fio de cabelo ao meio, um Espírito Guardião poderoso e leal, e uma simples folha de papel em branco. Qual você escolhe como sua arma principal para realizar o assassinato?"

A pergunta ecoou na sala silenciosa, carregada de significado oculto. Não era sobre ferramentas; era sobre filosofia.

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