Como esperado, Kitahara já não se surpreendia com a "capacidade de compreensão" de Oguri Cap.
Essa jovem prodígio tinha uma característica bem clara: ela não entendia muito bem explicações teóricas, mas bastava relacionar com a prática que ela captava tudo num instante.
Como agora — não só entendeu imediatamente a análise de Kitahara sobre os prós e contras do espírito competitivo, como também percebeu a mensagem implícita por trás.
Kitahara, de fato, tinha outros motivos.
— Seja em pista de terra ou grama, quando muitas garotas cavalo correm juntas, inevitavelmente há poeira e lama sendo lançadas — explicou com paciência.
— Oguri Cap, você é alta, então isso não te afeta tanto. Mas quem é mais baixa acaba com lama no rosto, o que atrapalha a visão.
— E com a visão prejudicada, você não só perde de vista os movimentos das adversárias, como também pode errar a leitura das marcações da pista, o que leva a decisões ruins e oportunidades perdidas.
— E você, por hábito, corre com o centro de gravidade bem baixo. Então, na prática, é como se fosse mais baixa.
— Por isso, começar correndo atrás também serve para se acostumar com a lama e poeira jogadas pelas outras. É uma forma de adaptação — de superar o ambiente.
— Você precisa superar todas as interferências que o ambiente te impõe.
Essa estratégia de adaptação e controle emocional vinha da experiência de Kitahara em dois mundos.
No outro mundo, jóqueis experientes costumavam controlar a velocidade dos cavalos nas primeiras corridas, mantendo-os atrás.
Porque os cavalos têm um forte instinto competitivo. Eles são sensíveis, entendem o que é vencer e perder, e têm obsessão por liderar.
Se um cavalo se acostuma a liderar desde cedo, quando encontra um adversário mais forte e acaba ficando atrás, pode entrar em pânico ou se frustrar, perdendo o controle.
Por isso, nas primeiras corridas, mantê-los atrás é uma forma de treinar a mente.
A adaptação à poeira e lama segue a mesma lógica.
Na história real, o famoso jóquei Yutaka Take fez isso com o cavalo Special Week, mantendo-o atrás na estreia para acostumá-lo à sujeira da pista.
No anime "Uma Musume", a mãe da protagonista Special Week jogava lama nela durante os treinos — uma referência direta a esse fato histórico.
As garotas cavalo são a personificação dos cavalos deste mundo. Kitahara confirmou isso com base em suas memórias, e por isso deu esse conselho.
— Entendi — disse Oguri Cap.
— Hã?! Como você entendeu tão rápido de novo?! — exclamou Oguri, surpresa.
Era evidente a diferença de talento entre elas.
Oguri Cap podia cochilar nas aulas teóricas, mas quando o assunto era corrida prática, sua compreensão era de nível genial.
Oguri, por outro lado, era dedicada, mas precisava de tempo para assimilar.
E Oguri Cap continuava surpreendendo:
— Então tenho uma dúvida. Se o objetivo é se acostumar a correr atrás, por que não usar a tática de "retaguarda total"?
Kitahara já tinha pensado nisso.
— É pelo mesmo motivo: para treinar o psicológico — respondeu com um sorriso.
— Vocês ainda não correram oficialmente, então talvez não saibam. Mas ter alguém te perseguindo com tudo o que tem... é assustador.
— Oguri Cap, talvez você não entenda isso com sua velocidade... — pensou Kitahara, e então se virou para Oguri:
— Oguri, imagine que você está correndo e Oguri Cap está te perseguindo com tudo. Como se sentiria?
Oguri empalideceu:
— Por favor, não diga isso! Se a Oguri Cap vier correndo atrás de mim... aquela velocidade, aquele som... é como se um monstro estivesse me caçando!
— Ah! Desculpa, Oguri Cap! Não quis dizer que você é assustadora... é que...
— Monstro? Parece impressionante — disse Oguri Cap, satisfeita com o apelido. — Mas ser perseguida é mesmo tão assustador? Não entendo muito bem.
Kitahara pensou um pouco mais:
— Imagine que você está correndo para o refeitório, e atrás de você vem a Fujimasa Marcha. Se ela te ultrapassar... ela vai comer toda a comida.
— Kitahara! Não diga algo tão horrível! Ficar sem comida... isso é assustador!
Sem hesitar, Oguri Cap respondeu com seriedade. E então, pensativa:
— Entendi. Agora entendo o que você quis dizer.
Kitahara sorriu:
— Era só uma metáfora. Mas no dia da corrida, vocês vão sentir isso de verdade. É bom estarem preparadas.
— Entendi — disse Oguri Cap. — Então, a tática será "liderança".
Ao ver que ela aceitou sua sugestão, Kitahara assentiu, satisfeito.
Historicamente, o cavalo que inspirou Oguri Cap usava as táticas de "liderança" e "intermediária". No jogo, essas táticas têm classificação A para ela.
Isso se deve à estrutura física do cavalo original: patas traseiras fortes e dianteiras mais fracas. Correr atrás economiza energia e permite um sprint final explosivo.
Para Oguri Cap, além disso, há sua postura única de corrida.
Ela tem grande flexibilidade, o que permite manter o centro de gravidade baixo, reduzindo resistência ao vento sem comprometer a amplitude dos passos. Isso economiza energia no início e meio da corrida.
Se corresse na frente, precisaria de técnicas complexas para aproveitar essa energia — ou usar a tática de "super fuga", que consome tudo de uma vez.
Mas para alguém como Oguri Cap, com talento natural e jeito distraído, técnicas artificiais não funcionam tão bem quanto seu instinto. O custo-benefício é baixo.
E "super fuga" é arriscado e não garante vitória. Kitahara não queria que ela se arriscasse assim.
— Então, se tudo correr bem, a tática da Oguri Cap será "liderança".
Kitahara pensou: "Nesse caso, o foco do treino deve ser o sprint final e a disputa por posição. Não só no futuro, mas já a partir de agora."
Com os treinos anteriores e os ajustes recentes, Oguri Cap estava praticamente pronta para a estreia. Só faltava correr na pista depois que Fujimasa saísse, para fazer os últimos ajustes.
A espera por Fujimasa e Shibasaki não foi longa — cerca de meia hora.
As duas duplas se encontraram na entrada. As garotas cavalo apenas se olharam, sem dizer nada. Os treinadores trocaram cumprimentos breves.
Durante a inspeção da pista, Kitahara comentou:
— Achei que Oguri Cap fosse dizer algo ao ver a Fujimasa... mas não disse nada. Está confiante?
Oguri Cap respondeu com simplicidade:
— As coisas da corrida ficam na pista. É assim que eu penso. Acho que ela também.
— Vocês têm muito em comum, mesmo sem dizer uma palavra — brincou Kitahara, e voltou a se concentrar no treino.
Os dias seguintes foram assim: foco total. Kitahara, Oguri Cap e Oguri estavam tão dedicados que o tempo passou voando.
E num piscar de olhos... chegou o dia 19 de maio.
O dia da estreia de Oguri Cap e Fujimasa Marcha.
Como em outros hipódromos, o de Kasamatsu também tinha salas de descanso para as garotas cavalo — onde elas se preparavam, conversavam com os treinadores e ajustavam estratégias.
Naquele dia, muitas estavam reunidas com seus treinadores.
Mas Kitahara não disse mais nada a Oguri Cap. Já estava na arquibancada.
Para ele, tudo que precisava ser dito já havia sido dito. Se algo faltasse, seria por falta de experiência dela — ou falha dele como treinador.
Oguri, que estava ao lado dele, estava inquieta.
— Kitahara-sensei, tem certeza que não precisa dizer mais nada à Oguri Cap? Os outros treinadores estão todos lá dentro...
Kitahara olhou ao redor e sorriu:
— Essa já é a décima vez que você pergunta. E o que mais eu poderia dizer?
— Treino na pista de terra, estratégia de corrida, detalhes da prova, até a entrada no "desfile pré-corrida" e o "palco da vitória"... já falamos de tudo. Não há mais nada a acrescentar.