A vitória de Oguri Cap em sua estreia trouxe impactos diferentes para cada pessoa — e para Kitahara, foi algo muito além do que os outros podiam imaginar.
Para os moradores comuns de Kasamatsu, ver surgir uma garota cavalo talentosa na região era motivo de grande alegria.
Afinal, esse lugar é pequeno. O distrito de Hashima, onde ficam a academia e o hipódromo, tem cerca de 50 mil habitantes. A maioria vive da agricultura, com renda modesta e poucas opções de lazer.
Com uma competidora de destaque, as vitórias chamam atenção da URA e da Central, trazendo mais recursos e oportunidades. As pessoas passam a acompanhar suas corridas, visitá-la, torcer por ela.
Mais importante: em meio a uma vida simples, uma garota cavalo brilhante representa esperança, esforço e orgulho coletivo.
Essas mudanças são ainda mais sentidas dentro da Academia Tracen de Kasamatsu.
Kitahara percebeu claramente que seus colegas estavam mais calorosos. Até o diretor, o reitor e os coordenadores vieram parabenizá-lo. Não era só inveja — era reconhecimento.
Antes, Kitahara era conhecido por sua apatia. Os colegas e superiores o tratavam com cortesia por obrigação. Mas agora, ninguém mais o via assim.
A performance de Oguri Cap e o esforço de Kitahara desde o início do semestre estavam à vista de todos.
A academia se orgulhava de ter revelado uma competidora como Oguri Cap — e isso explicava o entusiasmo dos colegas.
Mas Kitahara não se deixava levar pelos elogios.
Ele sabia que Kasamatsu era apenas o começo. O próximo palco seria a Central — e depois, o mundo inteiro. Não podia se acomodar.
Mais do que em si mesmo, ele pensava em Oguri Cap e Oguri.
Naquele dia, no refeitório, Kitahara aproveitou o almoço para perguntar sobre a vida escolar das duas.
Como as garotas cavalo moram no dormitório, e Kitahara — sendo homem — não podia acompanhá-las o tempo todo, era importante perguntar e se manter atento.
— Ouvi dizer que os colegas de classe estão tratando vocês melhor ultimamente?
Sentado à mesa, lendo o jornal esportivo local, Kitahara perguntou casualmente às duas garotas cavalo à sua frente.
Na verdade, só Oguri Cap comia com entusiasmo. Oguri já havia terminado e ajudava a amiga a organizar os pratos.
Oguri Cap estava com mais apetite que o normal.
Segundo ela, isso acontecia por dois motivos: primeiro, porque havia competido no dia anterior e sempre ficava com muita fome depois. Segundo, porque entre uma refeição e outra ela "jejuava" — então precisava comer mais.
Chamar o intervalo entre refeições de "jejum" era algo típico de Oguri Cap. Kitahara e Oguri já estavam acostumados.
Ao ouvir a pergunta, Oguri Cap estava ocupada demais comendo para responder. Oguri, então, sorriu e respondeu:
— Sim! A Oguri Cap virou uma estrela na sala! Muitos colegas a admiram!
Mas logo mudou de tom:
— Ah, é verdade! Eu nunca contei pra vocês… Tinha umas garotas bem desagradáveis na sala que implicavam com a Oguri. Mas ela é tão inocente que nem percebeu. E eu não queria que ela ficasse triste, nem que você se preocupasse, Kitahara-sensei… então nunca falei.
— Mas depois que ela venceu a estreia e a corrida de ontem, parece que elas ficaram assustadas… ou talvez tenham começado a respeitá-la!
Duas semanas após a estreia, Oguri Cap participou de outra corrida — 1400 metros em pista de areia.
Fujimasa Marcha não competiu, e as adversárias eram medianas. Oguri Cap venceu com facilidade.
Oguri continuou:
— Ontem à noite, elas vieram falar com a Oguri!
— Olha só, Kitahara-sensei! Elas até deram ingressos para a sala de dança, dizendo que, se a Oguri quiser treinar dança, pode usar de graça!
Ela tirou uma pilha de ingressos do bolso e colocou sobre a mesa, sorrindo.
— É mesmo?
Kitahara respondeu com um tom neutro, folheando o jornal e lançando um olhar discreto para os ingressos.
Ele nunca contou para Oguri Cap e Oguri que sabia da exclusão desde o início.
Mas decidiu que deixaria que Oguri Cap provasse seu valor com talento. Se não funcionasse, ele usaria medidas mais duras — como denunciar as responsáveis e exigir expulsão.
Sabendo do enredo original, Kitahara tinha certeza de que, após mostrar sua força, ninguém mais ousaria menosprezá-la. Por isso, permaneceu em silêncio.
Agora que tudo estava se desenrolando como previsto, ele mantinha uma postura tranquila.
Talvez até demais — o que deixou Oguri curiosa:
— Hm? Kitahara-sensei parece saber de tudo desde o começo…
Kitahara não confirmou nem negou. Apenas levantou o jornal e desviou o assunto:
— Sala de dança, hein? Eu não sou muito bom com treino de dança. Mas Oguri Cap já devia começar a praticar. Vou organizar um horário pra ela ir lá.
Ele não queria falar de coisas negativas diante de garotas tão puras.
— Afinal, no palco da vitória, ela sempre dança o "Kasamatsu Ondo". É bem tradicional, mas se ela for pra Central, só saber essa música não vai bastar.
Kitahara sorriu, balançando o jornal.
Oguri riu baixinho, cobrindo a boca e olhando para Oguri Cap, que ainda comia com dedicação:
— Hehe, é verdade. Nas duas vitórias, ela dançou o "Kasamatsu Ondo", que é tipo uma dança de festival. Pra ser sincera, fiquei surpresa!
O "Kasamatsu Ondo" é uma música típica de festivais locais — como os "Yangge" ou "Er Ren Zhuan" da China. É alegre e popular.
Não é ruim, especialmente com a beleza e voz suave de Oguri Cap. Mas vê-la dançar isso com uma saia moderna no palco da vitória… era um pouco estranho.
A capa do jornal que Kitahara lia mostrava justamente uma foto de Oguri Cap dançando o "Kasamatsu Ondo".
Nesse momento, sem entender por que Kitahara e Oguri riam, Oguri Cap parou de comer e olhou confusa:
— O "Kasamatsu Ondo" não é bom? Eu gosto… até perguntei pra minha mãe como dançar.
Ao ouvir isso, Kitahara e Oguri pararam de rir. Ambos sabiam o quanto Oguri Cap amava sua mãe.
Mas então, ela mesma mudou de ideia:
— Mas acho que o Kitahara está certo. Se eu for pra Central, preciso aprender outras danças.
Oguri arregalou os olhos:
— Hein?! Kitahara-sensei quer levar a Oguri pra Central?!
Kitahara ficou sério.
Porque, após a estreia e a vitória recente, o que mais ocupava sua mente… era o futuro de Oguri Cap.