A performance de Oguri Cap na simulação deixou Kitayama completamente tranquilo.
Ao perceber que ela se saía melhor em competições reais do que em treinos, ele ajustou sua abordagem.
Mais tarde, chamou Oguri Cap para seu dormitório e explicou sua nova estratégia:
— É mais ou menos assim: como você ainda tem pouca experiência em corridas, durante os treinos não consegue atingir o nível de exigência ideal. Por isso, vou aumentar gradualmente a intensidade dos treinos, de acordo com seu corpo. Mas seu verdadeiro talento vai florescer nas competições.
— Ou seja, eu vou cuidar do plano de treino. Nas corridas, você só precisa correr com tudo o que tem.
A explicação era simples e direta — diferente das aulas teóricas. Oguri Cap entendeu na hora.
— Ah! Agora entendi o que Kitayama estava dizendo! Se é pra correr com tudo, eu vou dar o meu melhor!
Ela ergueu os dois polegares, os olhos brilhando.
— Ótimo. — Kitayama sorriu, satisfeito.
— Quanto a entender seu corpo com precisão… deixa isso comigo. Você não precisa se preocupar.
Ele não evitava o assunto por falta de preparo. Na verdade, já havia elaborado um plano de treino e mostrado a ela.
Mas, conforme estudava para o exame da Academia Central e aprendia mais sobre o mundo das Uma Musume, percebeu uma coisa:
Apesar da existência dessas garotas extraordinárias, a tecnologia relacionada a elas era extremamente atrasada.
Equipamentos comuns para atletas humanos — como monitores de batimentos, glicose, sensores de desempenho — simplesmente não existiam para Uma Musume.
Kitayama suspeitava que esse mundo estava tecnologicamente alinhado com os anos 80 ou 90 do outro mundo — justamente a era em que Oguri Cap original brilhou.
Naquela época, o Japão ainda engatinhava na indústria de corridas. Conhecimentos sobre saúde, desempenho, lesões, recuperação e nutrição eram limitados.
Neste mundo, tudo relacionado às Uma Musume era rudimentar. A maioria dos treinadores se guiava por experiência e talento natural — um nível inferior até ao pequeno haras que Kitayama gerenciava antes de atravessar mundos.
Por isso, "entender o corpo de Oguri Cap" seria um trabalho de longo prazo.
Exigiria tempo, esforço, dinheiro — e recursos que nem o dinheiro podia comprar.
Ele era apenas um treinador desconhecido de uma academia regional. Mal conseguia cobrir os custos da alimentação de Oguri Cap com ajuda da escola.
Para treiná-la de verdade, precisaria de uma estrutura avançada. E isso… só existia na Central.
"Preciso continuar lutando. A Central é o único caminho."
Kitayama decidiu não sobrecarregar Oguri Cap com essas preocupações.
Ela já havia entendido e aceitado o plano de treino. Para ele, isso bastava por ora.
Então, mudou de assunto:
— E essa Uma Musume aqui? — perguntou, apontando para a garota atrás de Oguri Cap.
Ela não viera sozinha. Trouxera Brilho Renovado — a mesma garota que havia sido gentil com ela na pista.
— Ah! Essa é a Brilho Renovado! Ela é uma ótima Uma Musume! Quero que ela entre na nossa equipe também!
Oguri Cap empurrou a amiga para frente com entusiasmo.
— Kitayama, pega a ficha pra ela assinar! Brilho, esse é meu treinador, Kitayama… hmm… "Letra"?
— É Kitayama Jō. Pelo menos tenta lembrar meu nome direito… — suspirou ele.
Ela lembrava perfeitamente o nome da amiga, mas não o dele. Isso o deixou um pouco ressentido.
"Será que ela não gosta de mim?"
Mas logo se consolou: "Talvez esteja só brincando."
Kitayama sorriu para Brilho Renovado e estendeu a mão:
— Prazer, sou Kitayama Jō, treinador da Oguri Cap. É um prazer conhecê-la.
— A-ah… M-muito prazer! Eu sou Brilho Renovado!
Ela estava nervosa. Com os dedos entrelaçados, olhava para os próprios pés.
Ao ser empurrada para frente, ficou ainda mais tensa. Endireitou-se como uma recruta diante de um oficial.
— Não precisa ficar tão nervosa. — disse Kitayama, rindo. — Então, quer entrar para minha equipe? Vou cuidar de você e da Oguri Cap.
Brilho Renovado arregalou os olhos e agarrou a gola da blusa.
— P-posso mesmo? Mas… eu sou lenta. Na simulação, fiquei em último lugar…
Antes que Kitayama pudesse responder, Oguri Cap interveio:
— Não tem problema! Eu também não conseguia correr antes. Agora sou rápida! E Kitayama é um ótimo treinador. Ele vai te ajudar!
— Ei, não sai prometendo coisas por mim assim… — pensou Kitayama, rindo por dentro.
Mas então teve um estalo.
Mesmo que nunca tivesse ouvido falar de Brilho Renovado, mesmo que ela não tivesse grandes feitos no futuro…
Se queria ser um treinador de verdade, precisava acreditar no potencial de todas.
Não devia escolher apenas as promissoras.
"Se você não entende o cavalo, não diga que não há bons cavalos no mundo."
Kitayama lembrou de um antigo texto chamado Discurso sobre Cavalos, que dizia:
"Se não sabe como conduzir, não culpe o cavalo. Se não sabe como alimentar, não culpe a fome. Se não entende o canto, não culpe o silêncio. Se não sabe ouvir, não diga que não há bons cavalos no mundo."
Esse mundo não tinha esse texto, mas Kitayama o adotou como lema.
Não existem Uma Musume ruins. Só treinadores que não sabem ensiná-las.
Com esse pensamento, olhou para Brilho Renovado, que agora parecia mais confiante graças ao apoio de Oguri Cap.
Sorriu, pegou a ficha de inscrição na estante e disse:
— Então… quer entrar para minha equipe, Brilho?