Pelo binóculo, Kitayama conseguia ver com nitidez o rosto de Oguri Cap.
Diferente da expressão boba de sempre, agora ela exalava intensidade. Mesmo à distância, seus olhos cinza-azulados brilhavam com uma determinação feroz.
E havia mais: sua cabeça tremia levemente, num ritmo estranho, como se estivesse vibrando.
…"Tremor de guerreira"…
Esse termo surgiu na mente de Kitayama.
Ele se lembrou de algo que lera antes de atravessar mundos — relatos de treinadores sobre o cavalo original de Oguri Cap.
Diziam que ela era dócil, gentil, pouco competitiva. Mas, ao pisar na pista, transformava-se.
Na sua estreia em corridas centrais, Oguri Cap tremia tanto antes da largada que muitos acharam que estava com medo.
Mas ela venceu com três corpos de vantagem. E então todos entenderam: aquele tremor não era medo — era pura vontade de competir.
Desde então, esse fenômeno passou a ser chamado de "Tremor de guerreira" pelos fãs.
— Então é isso… — murmurou Kitayama, também tremendo. — Não é à toa que, no outro mundo, Oguri Cap era chamada de "Rainha das batalhas". Ela não nasceu para treinar. Ela nasceu para competir.
Seu sussurro chamou a atenção dos colegas.
— Hein? O que você disse, Kitayama?
— Está falando da Oguri Cap? Aquela ali na largada, certo?
— Deve ser. Além da Fujimasa Marcha, ela é a única de pelagem clara nesta turma.
Shibasaki, que conhecia bem Fujimasa, confirmou. Mas logo franziu a testa:
— Hm? E a garota que estava ao lado dela?
Todos olharam. Kitayama ajustou o binóculo.
Antes que pudessem ver claramente, o professor gritou:
— Start!
As portas se abriram com um estrondo. As Uma Musume dispararam como flechas.
Mas Kitayama e os outros empalideceram.
— O quê?! Oguri Cap errou a largada!
— Ela parou! Está agachada! O que está fazendo?!
— Kitayama… você ensinou alguma técnica maluca de largada pra ela?
Kitayama ignorou os comentários. Estava tenso, com os olhos fixos nela.
Todas as outras já haviam partido. Oguri Cap estava… agachada. Como se estivesse amarrando o tênis.
Ao lado dela, Brilho Renovado — a única que se aproximava dela — tentava dizer algo, visivelmente preocupada.
Kitayama sentia o mesmo desespero.
— O que está acontecendo, Oguri Cap…
Shibasaki olhou para ele, hesitante:
— Kitayama… essa sua aluna parece que vai te dar trabalho…
Mas antes que pudesse terminar, gritos ecoaram pelo campo.
— Rápido demais!
— Que velocidade é essa?!
— Não é possível!
Kitayama não respondeu. Continuava com o binóculo nos olhos.
E o que viu… o deixou sem fôlego.
A garota que, segundos atrás, estava agachada, agora voava pela pista.
Ela disparou com tanta força que o vento derrubou Brilho Renovado.
Em um piscar de olhos, ultrapassou todas as outras.
Kitayama soltou uma risada nervosa, quase ofegante.
— Isso é… o "monstro cinzento"…
Com joelhos incrivelmente flexíveis, Oguri Cap conseguia largar agachada — algo considerado impossível para uma Uma Musume.
Mantinha uma postura extremamente baixa e inclinada, reduzindo a resistência do ar.
Mesmo com vários segundos de atraso, ultrapassava uma, duas… todas.
— Ela chegou em primeiro…
— Tempo: 51.1 segundos! — anunciou o professor.
Era mais lento que o 50.8 de Fujimasa Marcha.
Mas todos sabiam: Oguri Cap largou atrasada.
Se tivesse começado junto, teria vencido com folga.
Todos pensavam o mesmo.
Kitayama soltou um longo suspiro.
— Entendi. Finalmente entendi.
Para Oguri Cap, correr sozinha era apenas diversão.
Ela se esforçava nos treinos, sim. Mas seu verdadeiro palco… era a competição.
De repente, uma voz cortou seus pensamentos:
— Você… é o treinador da Oguri Cap?
Kitayama abaixou o binóculo e olhou.
— Ah, sim. Sou Kitayama Jō. E você é…
Diante dele estava uma garota de cabelos prateados e expressão séria.
Não era Oguri Cap.
Era Fujimasa Marcha.
— Kitayama Jō, certo? Certo. Vou lembrar desse nome.
E então, sem dizer mais nada, virou-se e foi embora.