Com o binóculo em mãos, Kitayama voltou sua atenção para o centro da pista de treino.
Finalmente, conseguiu ver claramente o ponto de partida.
Uma estrutura de ferro formava uma linha de "gaiolas" — compartimentos separados por grades, cada um com uma porta dupla na frente.
Essas portas, chamadas de "portões de largada", se abrem para iniciar a corrida.
As Uma Musume ficam posicionadas atrás de cada portão.
Há uma curiosidade sobre esse sistema:
No passado, tentaram fazer com que as Uma Musume largassem como humanos, com postura agachada e sinal de tiro. Mas isso causava desequilíbrio na saída e demorava para ajustarem a postura.
Além disso, o som do disparo assustava a maioria delas, gerando pânico e descontrole emocional — muitas não conseguiam correr e ficavam abaladas por horas.
Esses fatos mostraram que o centro de gravidade e a percepção de sinal das Uma Musume são diferentes dos humanos.
Por isso, adotaram o mesmo sistema usado em corridas de cavalos: os portões de largada.
Kitayama observava as garotas se posicionando quando ouviu os colegas comentarem:
— Hm? Aquela ali é a Fujimasa Marcha? Ela está na primeira bateria?
— Parece que sim. Aposto que ela vai vencer essa.
— Eu confio nela.
Kitayama ajustou o binóculo e focou na corrida.
— Start!
Com o grito do professor responsável, os portões se abriram com um som metálico sincronizado.
Instantaneamente, várias silhuetas dispararam como flechas, acompanhadas pelo som rítmico dos passos — como tambores batendo no chão.
Essa foi a primeira vez que Kitayama viu uma corrida de Uma Musume ao vivo desde que chegou àquele mundo.
E percebeu que sua visão anterior era limitada.
Achava que, por causa dos talentos individuais, haveria uma diferença clara entre elas.
Sabia que Fujimasa Marcha era excepcional — muito acima das demais. Esperava que isso fosse visível.
Mas estava enganado.
Para um humano, todas corriam em velocidades absurdas — acima de 10 metros por segundo.
Sem o binóculo, seria impossível acompanhar.
Kitayama então mudou sua postura: deixou de observar como um curioso e passou a analisar como um treinador profissional.
Seu foco era Fujimasa Marcha.
Ela era fácil de identificar: a única de pelagem clara na bateria.
Seu cabelo prateado, bem cuidado, criava um rastro brilhante enquanto corria — quase como uma luz cintilante.
Mas o que mais impressionava era sua técnica.
Mesmo sendo uma novata, sua postura de largada foi perfeita. Ela se preparou um segundo antes da abertura dos portões, ganhando uma vantagem de cerca de seis metros.
Seus movimentos eram precisos: impulsão, braços, respiração — tudo indicava treinamento profissional.
Agora Kitayama entendia por que seus tempos eram tão bons.
Talvez estivesse sendo duro demais com Oguri Cap. Ela nunca teve treinamento formal. Se começasse agora…
Mas não teve tempo de concluir o pensamento.
A corrida era de 800 metros — uma prova curta. Em menos de um minuto, tudo terminou.
— Tempo: 50.8 segundos!
O professor anunciou o resultado com entusiasmo, e todos ouviram.
— Uau! Fujimasa Marcha é mesmo a melhor de Kasamatsu!
— Parece que ela será a estrela da turma… Droga, Shibasaki, você deu sorte! Vai ter que pagar o jantar!
— Haha, calma. Isso foi só uma simulação. Quando ela vencer uma SP de verdade, aí sim comemoramos.
Shibasaki se referia às SP (Super Playstage) — as competições regionais da Série Estrelas Brilhantes.
Essa série é o palco principal das Uma Musume, dividida em dois grandes circuitos:
Central: com categorias G1, G2, G3, OP (Open Tournament) e Pre-OP.
Regional: com categorias SP1, SP2, SP3, SPOP e Pre-SPOP.
Além dessas, há a Debut Battle — a corrida de estreia, presente em ambos os circuitos.
No total, são 12 tipos de competições.
A participação depende de vários fatores: linhagem, desempenho, popularidade…
Para simplificar, muitos usam o número de fãs como referência.
Por exemplo, para competir em uma G1 central, é preciso ter cerca de 100 mil fãs.
Já nas regionais, uma SP1 exige pouco mais de 10 mil fãs.
Em lugares pequenos como Hashima, com cerca de 50 mil habitantes, isso já é bastante.
Kitayama conhecia bem essas regras.
Mas não se importava com os elogios à Fujimasa Marcha.
Só pensava em uma coisa:
"Se for Oguri Cap… conquistar uma SP será fácil."
Nesse momento, ele viu uma nova bateria se posicionando nos portões.
Entre elas, uma silhueta alta e ágil, com cabelos prateados presos em um rabo de cavalo.
Era Oguri Cap.