A primeira coisa que Kitayama percebeu foi que Oguri Cap havia mudado a forma como o chamava.
Antes, ela o chamava simplesmente de "treinador". O tom não era exatamente distante, mas sempre carregava uma leve informalidade.
Desta vez, porém, ela o chamou de "Kitayama". E com uma expressão séria — tão séria quanto quando decidia se comeria dez tigelas de arroz coberto ou vinte bolinhos de batata.
Além disso, Kitayama ficou surpreso com a sensibilidade dela.
"…Será que ela percebeu minha preocupação, mesmo eu tentando esconder?" pensou, um pouco desconcertado.
Oguri Cap não o pressionou. Apenas inclinou a cabeça e continuou:
— Talvez eu esteja enganada, mas sinto que Kitayama está preocupado com alguma coisa.
— Kitayama não tem feito outras coisas esses dias. Então, se está preocupado, deve ser por minha causa.
— Eu também não fiz nada além de correr sob sua orientação. Então, se está preocupado, deve ser com minha corrida.
— Eu… estou correndo mal?
Ao fazer essa pergunta, Kitayama viu em seu rosto uma seriedade que nunca havia visto antes.
Se sua concentração na hora de comer era nota 10, agora era 100.
"…Não importa o tipo de Uma Musume, quando o assunto é corrida, elas sempre se envolvem de corpo e alma."
Com esse pensamento, Kitayama respirou fundo. Decidiu contar tudo o que vinha pensando nos últimos dias.
Desde que chegou àquele mundo, percebeu que não tinha nenhum "poder especial" — apenas conhecimento prévio, experiência e algumas ideias avançadas de treinamento.
Se quisesse realizar seus sonhos e se tornar um treinador de verdade, teria que unir tudo isso à dedicação e ao talento das Uma Musume.
Ou seja, precisava se comunicar com elas de forma profissional e emocional, para que ambos crescessem juntos.
Nos últimos dias, havia se perdido em preocupações. Mas agora, vendo a sensibilidade de Oguri Cap e sua paixão pela corrida, entendeu que o melhor caminho era o diálogo sincero.
— Não posso dizer que você corre mal. Afinal, tudo o que vimos até agora foram treinos…
Ele começou a explicar suas reflexões.
— Entendi. Então meus tempos são piores que os da Fujimasa Marcha? Faz sentido. Ela é muito rápida.
Oguri Cap apoiou o cotovelo no braço e fez uma expressão de "entendi tudo".
— Ei, o nome dela é Fujimasa Marcha, não "Fujimasa Macarrão". Isso é falta de respeito.
— Ah, Fujimasa Marcha. Certo, vou lembrar.
Ela claramente não lembraria. Mas seguiu com outra pergunta:
— Kitayama disse que tempo de treino não representa tudo. O que isso quer dizer?
— Claro que não representa. O ambiente de treino é muito diferente de uma corrida real. Pequenas diferenças podem mudar tudo.
— Que tipo de diferença?
— Por exemplo, nos treinos você corre sozinha. Mas nas corridas, há outras competidoras.
— Isso muda tudo: o momento certo de acelerar, a disputa por posição, o ritmo… tudo precisa ser decidido em tempo real, enquanto você corre com tudo.
— Qualquer erro pode custar a vitória.
— Além disso, há fatores como clima, vento, estado da pista… Por isso, o tempo de treino é apenas uma referência.
Kitayama então tentou tranquilizá-la:
— Então não se preocupe com seus tempos. Eu acredito no seu talento. E acredito na minha capacidade. Você vai se tornar uma Uma Musume incrível!
Ele falou com entusiasmo. Mas Oguri Cap não se deixou contagiar. Sua expressão ficou calma e gentil.
— Se o tempo de treino é só uma referência… por que você está tão preocupado?
Kitayama ficou em silêncio.
Oguri Cap continuou, com gratidão e firmeza:
— Fico feliz por ser sua Uma Musume.
— Aprendi muito com você: técnicas de corrida, respiração, aceleração… coisas que nunca tinha ouvido antes.
— Sei que fiquei mais rápida por causa disso.
— Kitayama é um treinador excelente. Então, se está preocupado, só pode ser porque eu ainda não sou boa o suficiente.
— Mas não quero que você se preocupe por minha causa.
— Você acredita em mim. Acredita em si mesmo. Acredita que posso ser uma Uma Musume incrível. Então… por que se preocupar?
Kitayama ficou em silêncio novamente.
Percebeu que lidar com Uma Musume na vida real era muito diferente do que imaginava.
Antes, só pensava em resultados, talento, desempenho. Nunca considerava os sentimentos delas.
Mas elas eram reais.
Sentiam alegria ao correr, orgulho ao vencer, tristeza ao falhar.
E se preocupavam com os outros — como Oguri Cap, que percebeu sua angústia sem que ele dissesse uma palavra.
— Você tem razão. Eu não deveria me preocupar… ou melhor, não deveria me preocupar sozinho.
Kitayama sorriu.
— Eu queria ser sincero com você. E agora vejo que foi a melhor decisão.
— Se não tivesse te contado tudo, teria esquecido que corridas não são só minhas. São nossas.
— Mesmo que ainda haja preocupações, se enfrentarmos juntos, será muito melhor.
— Isso mesmo. Juntos, vamos fazer de você uma Uma Musume incrível!
— E Kitayama será um treinador incrível… já é incrível! Sabe tantas coisas sobre corrida! — disse Oguri Cap, com convicção.
Kitayama riu:
— Então, para sermos incríveis no futuro… vamos dar o nosso melhor nessa simulação!
— Sim! — respondeu Oguri Cap, com um aceno firme.