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Chapter 6 - O Exame da Central e o Treino Matinal de Oguri Cap

A próxima vez que Kitayama viu Oguri Cap foi três dias depois, numa manhã fria e clara.

Naquela noite em que jantara em sua casa, White Pearl havia dado seu consentimento para que a filha entrasse em sua equipe. Após a refeição e a troca de contatos, Kitayama não quis abusar da hospitalidade e se despediu.

De volta à própria casa, conteve o impulso de ligar novamente para mãe e filha. Em vez disso, mergulhou em seu plano maior: preparar-se para o exame da Academia Central Tracen.

Ele sabia muito bem: uma Uma Musume como Oguri Cap jamais ficaria restrita ao circuito local. Mais cedo ou mais tarde, ela iria para a Central. E se ele continuasse apenas como um treinador de província, acabaria separado dela. Essa possibilidade era inaceitável.

Além disso, quase todas as grandes campeãs vinham da Central — ou haviam migrado para lá. Se queria ser um treinador de verdade, precisava conquistar sua vaga.

A Academia Central, porém, era famosa por sua rigidez. O processo seletivo tinha duas etapas duríssimas:

Primeira prova: exame escrito, avaliando conhecimentos técnicos.

Segunda prova: teste físico, para medir resistência e saúde.

Embora treinadores não corressem como as Uma Musume, precisavam acompanhar treinos de longa distância, escaladas, corridas em trilhas. Sem preparo físico, não havia como.

A taxa de aprovação era cruel: 70% eliminados já na primeira prova, outros 70% na segunda. No fim, apenas 9% conseguiam entrar.

Era quase como o exame de jóqueis do outro mundo. E Kitayama sabia: o antigo dono de seu corpo nunca tivera ambição, nunca estudara a sério. Para ele, a dificuldade era ainda maior.

Por isso, durante mais de um mês, dedicou-se apenas a estudar, resolver exercícios, decorar teorias e treinar o corpo — como nos tempos de vestibular.

A única coisa capaz de desviá-lo desse foco era Oguri Cap.

White Pearl havia lhe dito por telefone:

"Lili ainda não entende o que é Tracen ou o que faz um treinador. Mas quando soube que poderia correr, aceitou feliz entrar para sua equipe. A partir de agora, confio minha filha ao senhor, Kitayama."

Ela também mencionara que Oguri Cap corria todas as manhãs no parque à beira do rio, perto do hipódromo de Kasamatsu. Bastava estar lá cedo para encontrá-la.

E foi assim que, naquela manhã, Kitayama se postou no parque, livro de estudos em mãos, esperando.

— Estranho… já faz um tempo e ainda não a vi… — murmurou.

De repente, ouviu ao longe um som cortando o ar, seguido de um estrondo ritmado, como tambores batendo no chão.

Ele reconheceu de imediato.

Era o som de uma Uma Musume correndo.

No outro mundo, cavalos em disparada produziam esse mesmo trovão de cascos, capaz de abafar até o rugido de cem mil espectadores. Aqui, as garotas-cavalo, abençoadas pelas Três Deusas, carregavam em seus corpos delicados uma força que humanos jamais poderiam alcançar.

Cada passo delas contra o solo era um golpe poderoso, cada arrancada, um trovão.

Kitayama se virou para a direção do som.

E então a viu.

A princípio, apenas uma linha prateada no horizonte, tão fina quanto um fio de cabelo contra a ponte distante. Mas em questão de segundos, aquela linha se transformou em um raio, avançando como relâmpago até estar diante dele.

O vento levantou poeira, pedras e folhas secas. Kitayama ergueu o braço para proteger os olhos, o coração acelerado.

E então, o vento cessou.

Uma voz fria e sem emoção soou:

— Bom dia, treinador. Já tomou café da manhã?

Kitayama quase riu.

"Mas o que é isso? Essa saudação parece saída da China rural… não do Japão! Só a Oguri Cap mesmo para pensar em comida logo de manhã."

Baixando o braço, ele a observou com atenção.

Instintivamente, calculou a velocidade da corrida que acabara de testemunhar. Aproximadamente 600 metros em 50 segundos. Não era nível de elite, mas para alguém apenas "correndo por correr", era impressionante.

No jargão das corridas, chamava-se de tempo dos 600 finais — o "san-roku". Quanto menor, mais explosivo era o sprint. As melhores do mundo faziam em 33 ou 34 segundos. Oguri Cap ainda estava longe disso, mas o potencial era claro.

Kitayama sentiu o coração se encher de confiança.

Ele estava prestes a falar sobre treinos e futuro quando um som familiar interrompeu seus pensamentos.

"Grrrrruuul…"

O estômago de Oguri Cap roncou alto.

Seu rosto, até então impassível, corou levemente.

— …Com licença, treinador. Mamãe pediu para eu conversar mais com o senhor hoje, mas… se não se importar, eu gostaria de voltar para casa primeiro. Preciso comer.

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