Após ouvir o desabafo de Oguri Cap no refeitório, Kitayama levou um bom tempo para se acalmar.
Ele conhecia o passado dela.
O cavalo original não tinha linhagem nobre, era um famoso "Kuroge" — cavalo de pelagem clara — conhecido por não correr bem. Tinha as pernas tortas desde o nascimento, mal conseguia ficar de pé. E, por ter sido criado em um haras pobre, não recebia nutrição suficiente, só atingindo o tamanho normal aos dois anos.
Alguns diziam que sua linhagem não era tão ruim: seu avô, o lendário "Dancing Genius", foi o primeiro cavalo de pelagem clara a conquistar o topo das corridas nos EUA, vencendo provas de elite e até estampando a capa da Time.
Mas seu pai teve desempenho medíocre, e seus descendentes também não se destacaram. No fim, era consenso que sua linhagem não era promissora.
Na versão Uma Musume, Oguri Cap ainda sofria preconceito por causa da linhagem. Suas pernas continuavam problemáticas. Kitayama, até então, só pensava em seu futuro brilhante — nunca havia refletido sobre o peso de sua infância.
Para a maioria das pessoas, o que é comum nunca parece valioso.
Mas, como um cego deseja a luz, ou um surdo deseja o som, Oguri Cap — que mal conseguia se levantar — desejava apenas uma coisa: correr.
Talvez, até então, Kitayama estivesse sendo egoísta. Pensava apenas em recrutar talentos para conquistar vitórias. Mas isso era uma visão estreita, quase preguiçosa.
Se queria ser um treinador de verdade, precisava ir além: dominar a técnica, sim, mas também compreender suas alunas.
E como alguém que atravessou mundos, mesmo sem "poderes especiais", ele podia fazer mais do que apenas guiá-las até a vitória.
Ele podia transformar vidas.
Com esse pensamento, após o café da manhã — sob os olhares atônitos dos cozinheiros — ele deixou o refeitório com Oguri Cap e começou a conversar.
— Me diga, Oguri Cap, o que você costuma fazer no dia a dia?
— Agora que vai entrar na Academia Tracen, seu tempo será dedicado aos treinos e competições. Mas antes disso, como eram seus dias?
Oguri Cap olhava curiosa para os arredores da academia, observando tudo com olhos brilhantes.
Ao ouvir a pergunta, inclinou a cabeça, colocou o dedo no queixo e piscou pensativa:
— Hm… correr, descansar… e correr de novo.
— Só isso? — Kitayama sorriu.
— Sim. Ah, comer também conta como atividade?
— Então é só isso mesmo.
Ignorando a obsessão da "rainha da comida", Kitayama refletiu:
— Já que sua mãe confiou você a mim, e você ama correr, acho que podemos começar a aprender sobre o que vai encontrar na academia.
— Aprender?
— Sim. Treinos, competições…
— As corridas são organizadas por treinadores como eu. Mas como corredora, sua opinião também importa.
— Se você entender o básico, nossa comunicação será muito melhor.
Oguri Cap parecia confusa. Seus olhos giravam como espirais, mas no fim, assentiu:
— Mamãe disse que, se eu não entender algo, devo ouvir o treinador. Então… vou ouvir você.
Kitayama se animou:
— Ótimo! Vamos para minha sala. Lá tenho materiais que vão ajudar.
Diferente da última vez, a sala estava vazia. Apenas os dois.
A sala de treinadores era equipada com diversos materiais didáticos. Kitayama decidiu começar explicando sobre as competições.
Havia alguns quadros móveis. Ele puxou um deles para perto da mesa e desenhou o contorno das quatro ilhas do Japão, marcando cerca de quinze pontos.
— Veja, a Academia Tracen treina garotas como você. E o palco principal é o "Circuito Estelar", organizado pela própria academia.
— A Central tem seu próprio circuito, com treinamento exclusivo. As regionais, como Kasamatsu, têm seus próprios torneios.
— Existem 15 pistas regionais. A estreia das Uma Musume acontece nelas. Você, por exemplo, vai estrear na pista de Kasamatsu. Se se sair bem, poderá ir para Nagoya.
— E se for você, Oguri Cap, com certeza vai para Nagoya…
Kitayama parou de repente.
"Zzzzz…"
Oguri Cap estava dormindo. Sentada na cadeira, com uma bolha de catarro saindo do nariz, dormia profundamente.
Kitayama ficou entre irritado e divertido.
"Ela consegue dormir sentada… igual a um cavalo."
— Ei, Oguri Cap! Tá achando minha explicação chata?
Após várias tentativas, ela acordou, sonolenta:
— Hã? Já é hora do almoço?
Kitayama suspirou, derrotado.
— Você não quer ser uma grande Uma Musume? Então precisa prestar atenção nas regras do Circuito Estelar!
— E não é só para competir. Quando começar as aulas, isso tudo vai cair na prova!
Ele tentava ser paciente, mas Oguri Cap continuava com aquela expressão inocente e envergonhada.
— Circuito Estelar… prova… desculpe, treinador. Acho que não entendi nada do que você disse…
Kitayama ficou ainda mais frustrado. Mas conhecendo o talento dela, sabia que não era falta de inteligência.
— Talvez… para alguém como Oguri Cap, métodos tradicionais não funcionem.
— No jogo e no anime, ela também não era boa com aulas teóricas.
— Então talvez… colocá-la direto na pista, deixar que sinta a emoção da corrida, e só depois explicar as regras… seja o melhor caminho.