Naquela manhã, Oguri Cap não voltou para casa para comer. Kitayama a levou até a Academia Tracen de Kasamatsu e os dois almoçaram no refeitório self-service.
Neste mundo, a indústria ligada às Uma Musume é gigantesca. Embora seja proibido qualquer tipo de aposta, há muitas outras formas de arrecadar fundos.
Produtos derivados como vídeos de corridas, bonecos e itens colecionáveis movimentam bilhões. As instalações de treinamento, os centros de ensino e os espaços de competição também são altamente valorizados.
Nesse contexto, a Academia Tracen — mesmo em sua versão regional — nunca sofre com falta de recursos. Ao contrário do outro mundo, onde academias e hipódromos operam com risco de falência, aqui há apoio financeiro direto da Central.
Por isso, até mesmo o refeitório da academia oferece refeições fartas e variadas.
Oguri Cap ficou visivelmente surpresa ao descobrir isso.
— Sério… posso comer de graça? E sem limite? — perguntou, com uma voz cheia de incredulidade e felicidade.
Como treinador, Kitayama tinha direito a refeições gratuitas e podia levar convidados.
— Claro que pode. Sou treinador da academia, e o self-service é livre. Pode pegar o quanto quiser… desde que consiga comer tudo.
Mas Oguri Cap já havia saído correndo para o balcão antes mesmo de ele terminar a frase.
— Olá! Quero esse, esse, esse… e esse também! Ah, posso pegar tudo isso? Não vai sobrar, prometo!
Quando Kitayama se deu conta, ela já estava sentada com uma bandeja gigantesca. Atrás dela, os cozinheiros do refeitório estavam paralisados, com expressões de espanto.
Kitayama também ficou boquiaberto.
Oguri Cap, com seus mais de um metro e sessenta, já era alta para uma Uma Musume. Mas a pilha de comida em sua bandeja ultrapassava sua cabeça: bolinhos de batata, yakisoba, arroz em montes que pareciam montanhas.
Ele se recuperou rápido. Já conhecia essa faceta da "devoradora lendária" — e havia testemunhado isso dias atrás.
Ainda bem que seu corpo atual era de um treinador com apoio financeiro da academia. Caso contrário, só alimentar Oguri Cap já o levaria à falência.
Rindo por dentro, Kitayama pegou dois bolinhos de batata e sentou-se ao lado dela.
Ela já havia devorado oito ou nove bolinhos e mais da metade da tigela de arroz.
— Não precisa comer tão rápido. Ninguém vai roubar sua comida — disse ele, sorrindo.
Oguri Cap parou de repente.
Virou-se, limpou os lábios engordurados e falou com seriedade:
— Mamãe me disse para comer bem, correr bem, e me tornar uma grande Uma Musume.
— Tornar-se uma grande Uma Musume, hein… — repetiu Kitayama, agora também sério. — E o que você acha que é ser uma grande Uma Musume?
Kitayama havia pensado em várias formas de se comunicar com ela. No fim, decidiu seguir o fluxo natural, respeitando seu jeito simples e direto.
Mas não esperava que, após aquela fala séria, Oguri Cap voltasse a ficar com a expressão boba.
— Ser uma grande Uma Musume… não sei.
Ela voltou a comer, falando com a boca cheia, mas ainda era possível entender:
— Mamãe me explicou sobre os treinadores… mas desculpe, eu não entendo nada sobre corridas ou sobre Tracen.
Kitayama não se surpreendeu. Já havia percebido isso antes.
Oguri Cap continuou:
— Eu só gosto de correr. Mamãe me inscreveu na escola por causa disso.
— E quando ela disse que, entrando para sua equipe, eu poderia correr… achei que estava tudo bem.
— Então, se for para correr, não tem problema, treinador.
Ela parou por um momento, inflou as bochechas como um esquilo e fez um gesto de punho fechado, demonstrando determinação. Depois, voltou a comer.
— Você gosta de correr… mas por que gosta de correr, Oguri Cap?
Kitayama achou a resposta estranha, mas sentiu que aquela forma de conversar estava funcionando.
Apesar de terem acabado de se conhecer, a conversa fluía com naturalidade.
Oguri Cap parou de comer novamente. Olhou para ele com sinceridade nos olhos.
— Porque… posso correr. Então gosto de correr.
Para a maioria das pessoas, essa lógica pareceria absurda. Correr é algo tão comum quanto respirar ou comer. Ninguém diz que gosta de respirar só porque pode respirar.
Mas Kitayama, que conhecia o passado de Oguri Cap no outro mundo, entendeu imediatamente.
Ele ficou em silêncio.
Oguri Cap, por outro lado, continuou comendo — agora de forma mais lenta, como se estivesse tomada por uma emoção diferente.
Sua voz também ficou mais suave:
— Poder levantar e correr… para mim, só isso já é um milagre.
— Antes, meus joelhos eram tão fracos que eu nem conseguia ficar de pé.
— Se não fosse por mamãe, que nunca desistiu de mim, que me massageava todos os dias, que fazia de tudo para eu não passar fome… talvez eu ainda estivesse presa à cama.
— Eu via os outros andando, correndo… e eu não podia.
— Então, poder levantar e correr… já é um milagre.