Kitahara ficou surpreso por um instante, mas logo percebeu: aquele devia ser o apelido carinhoso de Oguri Cap.
No jogo, esse diminutivo fofo realmente existia, e ele não pôde deixar de sorrir.
— Problemas…? Não, de forma alguma.
Negando a suposição de White Pearl, Kitahara sorriu: — Não se esqueça, ainda nem começaram as aulas. Como sua filha poderia ter causado algum problema?
O semblante de White Pearl relaxou bastante. Conduzindo-o para dentro da casa, ela voltou a franzir o cenho, intrigada:
— Já que não se trata de Lili… então posso saber qual é o motivo da visita do senhor Kitahara?
— Na verdade, ainda é sobre Oguri Cap.
Ao notar a sombra de preocupação surgir novamente no rosto da mãe, Kitahara se apressou em explicar:
— Mas não se preocupe, não é nada ruim. Pelo contrário. Como treinador, vejo um grande talento em Oguri Cap. Gostaria que ela se juntasse à minha equipe e mostrasse toda a sua verdadeira força nas pistas.
Para uma Uma Musume, correr era quase como respirar — um instinto natural. Independentemente do talento, poucas rejeitavam o chamado da pista. Vencer ou perder importava menos do que sentir o vento no rosto e o gramado sob os pés. Ali, elas brilhavam como se tivessem nascido apenas para correr.
Por isso, ser escolhida por uma academia ou por um treinador costumava ser motivo de alegria.
No entanto, ao ouvir as palavras de Kitahara, White Pearl não demonstrou felicidade. Pelo contrário, sua expressão se tornou melancólica.
Kitahara não entendeu de imediato.
Com as memórias herdadas e a experiência do último mês, ele já percebera como as Uma Musume se orgulhavam de pertencer a uma equipe, de poder disputar corridas. As que ainda não tinham essa chance, sonhavam com ela. E White Pearl, que fora corredora, deveria compreender melhor que ninguém esse desejo.
Então, por que aquela reação?
Será que a má fama do corpo original havia chegado até aqui?
Kitahara suspirou internamente. O dono original desse corpo tinha menos de trinta anos, mas já era considerado um "veterano" com dez anos de experiência como treinador. Ainda assim, sua carreira fora medíocre: nenhuma aluna de destaque, nenhum título relevante, nem mesmo em competições locais.
Com o tempo, ele se tornara negligente, preguiçoso, famoso na Academia Tracen de Kasamatsu por sua vida desleixada e sem ambição.
Kitahara, ao assumir esse corpo, queria mudar essa imagem. E acreditava que recrutar Oguri Cap seria a oportunidade perfeita para provar seu valor.
Se White Pearl soubesse da reputação do antigo Kitahara, convencê-la seria muito mais difícil. Mas ele precisava tentar.
Respirou fundo e se animou novamente.
Ele não era um treinador famoso, nem tinha chances de atrair grandes talentos da academia central. Por isso, não podia desistir de Oguri Cap. Não apenas porque sua carreira dependia disso, mas também porque, antes mesmo de atravessar para esse mundo, já nutria admiração por ela — tanto pelo cavalo real quanto pela Uma Musume.
Afinal, a trajetória de Oguri Cap era lendária.
De origem humilde, com sangue considerado "fraco" e até uma deficiência física, fora desacreditada desde cedo. Muitos afirmavam que jamais se tornaria uma corredora.
E, no entanto, em poucos anos, ela saiu das corridas locais e conquistou o cenário central, tornando-se um ícone que abalou o Japão.
Foram 12 corridas locais com 10 vitórias e 2 segundos lugares, depois 22 corridas centrais com 12 vitórias, 4 segundos e 1 terceiro. Três vezes quebrou recordes nacionais.
Em 1988, foi eleita a melhor potra de 4 anos. Em 1990, tornou-se o cavalo do ano. Entrou para o Hall da Fama e ainda quebrou o recorde de prêmios em dinheiro da história das corridas japonesas.
A JRA (Associação Japonesa de Corridas) chegou a mudar regras que estavam inalteradas havia décadas por causa dela. O povo a chamava de "Deusa" e muitos diziam que a história das corridas no Japão podia ser dividida em "antes" e "depois de Oguri Cap".
Em 2011, até mesmo a JRA lançou um comercial em sua homenagem, com a frase mais impactante de todas:
"Eu acredito… que Deus existe."
Kitahara se sentia inspirado por essa história. Ele também vinha de uma família comum, enfrentara dificuldades, mas alcançara conquistas. E sabia que Oguri Cap era símbolo de superação para todos no meio das corridas.
Por isso, precisava convencer White Pearl primeiro, e depois falar diretamente com Oguri Cap.
Enquanto pensava nisso, já estava sentado na sala de estar. White Pearl lhe serviu uma xícara de chá. Kitahara decidiu esperar alguns goles antes de explicar melhor sua proposta.
Mas, ao entregar-lhe a xícara, White Pearl desviou o olhar para um canto da sala. Havia hesitação em sua voz quando disse:
— Talvez seja exagero falar assim da própria filha, mas… senhor Kitahara, talvez Oguri Cap… talvez ela não seja uma Uma Musume tão especial. Talvez não consiga trazer a glória que o senhor espera.
Kitahara quase cuspiu o chá.
— O quê?! Oguri Cap… não é especial?!
Ele estava prestes a protestar, mas então percebeu para onde White Pearl olhava.
No topo de um armário antigo, repousava uma fotografia amarelada.
Nela, uma jovem White Pearl aparecia de perfil. No centro, sentada no chão, estava uma pequena Uma Musume.
A garotinha tinha o corpo frágil, a perna direita levemente torta, e vestia um suéter de lã rosa que lhe caía frouxo. Segurava duas cenouras, uma em cada mão, e as levava à boca de forma desajeitada, com um olhar vazio e inocente.
Kitahara nunca vira aquela foto, mas soube de imediato: era Oguri Cap em sua infância.
E então compreendeu.
As pessoas daquele mundo não conheciam o futuro.
Como poderiam acreditar que aquela menininha frágil e desajeitada se tornaria, um dia, a maior lenda das corridas?