O silêncio caiu pesado no escritório do Hokage quando a projeção desapareceu. O brilho residual do holograma ainda parecia assombrar a mesa abarrotada de documentos. Hiruzen Sarutobi ficou parado, apoiado no cajado, sentindo o peso não só da idade, mas de decisões que voltavam a persegui-lo.
Naruto.
A imagem do bebê dormindo, sereno, voltava à sua mente. O mesmo bebê que Minato e Kushina haviam lhe confiado com o último suspiro. Ele ainda podia ouvir as palavras de Minato ecoando naquela noite terrível: "Proteja-o. Faça com que ele veja a vila como sua família." E a súplica silenciosa de Kushina, ensanguentada, mas com olhos cheios de esperança.
Agora, um estranho surgido do nada — Ulicéu — aparecia diante dele, alegando proteger Naruto em seu lugar. A audácia daquilo o incomodava, mas a sinceridade na voz do homem era inegável. As imagens do bebê não pareciam forjadas.
"Um intruso com recursos que nem mesmo nossas defesas perceberam..." murmurou Hiruzen, apertando as têmporas. "Isso é tão perigoso quanto impressionante."
Acionou um selo secreto sob a mesa. Um ANBU mascarado surgiu, ajoelhado.
— Quero informações sobre esse Ulicéu. Tudo. Relatos, rumores, qualquer rastro. Façam-no sem alarmar ninguém. Se a vila souber, Naruto será o alvo, não o protegido.
O ANBU assentiu e sumiu num sopro de vento.
Hiruzen, porém, sabia que não poderia lidar com aquilo sozinho. Convocou discretamente Homura e Koharu. Quando lhes contou, os dois reagiram como esperava: Homura ficou alarmado, exigindo uma resposta imediata, enquanto Koharu pedia mais cautela, mas com reforço militar.
E, inevitavelmente, Danzo apareceu. Sempre que havia brechas de poder, ele surgia.
— Esse Ulicéu não deve ser subestimado — disse Danzo, frio como uma lâmina. — Quem sequestra o jinchūriki e fala em proteção apenas esconde outros objetivos. Sugiro que localizemos e eliminemos essa ameaça antes que crie raízes.
— E se ele de fato proteger Naruto melhor do que nós? — retrucou Hiruzen, a voz calma, mas carregada de aço. — Vocês sabem tão bem quanto eu que a vila não está pronta para abraçar uma criança que carrega a Kyuubi. Se formos impetuosos, podemos condená-lo desde cedo.
— O jinchūriki pertence à vila, Hokage-sama — insistiu Danzo. — Ele é uma arma, não uma criança.
Os olhos de Hiruzen faiscaram.
— Ele é o filho de Minato e Kushina. É uma vida, não uma ferramenta. E enquanto eu ocupar esta cadeira, será tratado como tal.
O silêncio que se seguiu foi pesado. Homura e Koharu trocaram olhares, cautelosos. Danzo se calou, mas o brilho em seus olhos dizia que não desistiria.
Quando a reunião terminou, Hiruzen permaneceu sozinho mais uma vez. Caminhou até a janela, observando Konoha lá embaixo. As luzes da vila brilhavam contra a noite. O povo sorria, alheio ao fardo que ele carregava.
"Ulicéu..." pensou. "Você pode ser um aliado... ou a centelha de um desastre."
Tomou, então, suas decisões:
Redobrar a segurança interna de Konoha, sem alarmar a população.
Reforçar a vigilância dos ANBU, mas em sigilo, para que Ulicéu não fosse provocado a agir contra o bebê.
Observar Naruto em silêncio, esperando o momento de trazê-lo de volta.
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Enquanto isso, Ulicéu, distante em sua base oculta, não fazia ideia de que havia mexido não apenas com o coração de um velho Hokage, mas com todo o tabuleiro político da vila.
E o tempo corria. O massacre Uchiha se aproximava, e Hiruzen sabia que cada escolha errada poderia transformar Konoha em cinzas.