Uma onda de choque percorreu cada fibra do meu ser. Não era dor. Era algo estranho, impossível de nomear — como se minha própria essência tivesse sido arrancada e moldada de novo.
Meus olhos se abriram lentamente. Acima de mim, um teto de madeira rústica se erguia, sustentado por vigas escuras. O ar carregava o cheiro de terra úmida, folhas secas e fumaça distante. Nada familiar. Nada que lembrasse minha vida anterior.
Por um instante, o pânico me consumiu.
Onde estou?
As lembranças vinham em fragmentos desconexos: um brilho intenso, a sensação de ser puxado à força por algo invisível, e depois… escuridão. Agora, ali estava eu, desperto em um futon macio, coberto apenas por um lençol fino.
Me ergui devagar. O corpo respondeu de forma estranhamente natural, mas diferente. Mais leve. Mais ágil. A ausência de peso era quase perturbadora. Instintivamente, olhei para o meu joelho esquerdo. A cicatriz que carregava desde criança havia simplesmente desaparecido.
Meu coração acelerou.
Esse é… o meu corpo?
Sentei-me na beira do futon, sentindo o tatame fresco sob os pés. Levei as mãos à frente, estudando cada detalhe. Os dedos eram meus. As unhas também. Mas havia uma vibração diferente ali, como se energia pura corresse sob a pele.
Foi quando percebi minhas roupas. Um short preto, uma camisa de cores contrastantes, sandálias turquesa. Tudo destoava completamente do ambiente simples ao redor. Hesitei antes de tocar meu pescoço. Lá estava — o terceiro braço, uma réplica translúcida que parecia flutuar suavemente ao meu lado. Ao senti-lo, um arrepio percorreu minha espinha.
Aquilo não era um sonho.
Olhei ao redor outra vez. O quarto era pequeno, quase espartano. Uma mesa baixa de madeira repousava contra a parede. Sobre ela, um par de óculos de armação dourada refletia a luz suave que entrava pela janela gradeada. Peguei-os com mãos trêmulas e os coloquei. A visão se ajustou de imediato, nítida, cristalina.
Foi nesse momento que notei o reflexo prateado dos meus cabelos na superfície polida da janela. Prata intenso, salpicado de mechas azuis, vermelhas e roxas que pareciam se mover sutilmente, como chamas vivas. Toquei os fios com incredulidade. Meus olhos, agora de um ônix profundo, escondiam algo além do humano — algo que pulsava como uma força celestial.
Um turbilhão de pensamentos me atingiu.
Morrer… renascer… será isso? Reencarnação?
Respirei fundo, tentando organizar a confusão dentro de mim. O medo lutava contra uma excitação incontrolável. E então, como uma peça final de um quebra-cabeça, a verdade se revelou diante de mim.
Eu era Ulicéu.
E, de alguma forma impossível de compreender, estava no universo de Naruto. Dois meses antes do ataque da Kyuubi.
Senti minhas mãos tremerem. As cartas, as habilidades, tudo aquilo que eu só conhecia da ficção agora era real. O coração batia em um ritmo frenético entre a euforia e o terror.
O que eu faria agora?
O primeiro passo era óbvio: não ser descoberto. Passar despercebido até entender melhor minha situação. Planejar. Sobreviver.
Levantei-me, decidido. A cada respiração, a sensação de estar em um mundo vivo, pulsante e perigoso se tornava mais forte.
E foi assim que compreendi, com uma clareza quase dolorosa:
A aventura havia começado.