O tempo dentro da base parecia fluir de forma diferente. Entre treinamentos, planos e vigílias constantes, havia também momentos simples — como ver Naruto aprender a dar os primeiros passos.
Mas naquele dia, um marco maior estava prestes a acontecer.
Naruto brincava no chão com blocos de energia criados pelo Estilo Vida, tentando empilhá-los, mas sempre derrubando tudo com uma gargalhada. Shisui, sentado ao lado, ria junto.
"Ele tem mais destruição que construção, Ulicéu. Vai dar trabalho."
"Vai ser persistente", corrigi, observando cada gesto do bebê.
Naruto, ao perceber nossa atenção, bateu palminhas, os olhos azuis brilhando como os de Minato.
Foi quando aconteceu.
Ele estendeu os bracinhos em minha direção e murmurou algo enrolado, mas claro o suficiente para me congelar por um instante:
"Pa…pa…"
O mundo pareceu silenciar.
Eu, que havia enfrentado a morte, manipulado o Vazio e alterado o destino de um clã inteiro, senti o coração disparar com a simplicidade daquela palavra.
Shisui arregalou os olhos, surpreso, antes de sorrir com ternura.
"Parece que ele escolheu o nome para você."
Aproximando-me, ajoelhei diante de Naruto e o peguei nos braços. Ele repetiu, agora com mais firmeza:
"Papa!"
A palavra ecoou dentro de mim de um jeito inesperado. Eu não era o pai dele. Não tinha o sangue, nem a herança. Mas era eu quem estava ali, alimentando, cuidando, protegendo… e, aos olhos dele, isso bastava.
Minha voz falhou quando respondi, mas consegui sussurrar:
"Se é assim que você me vê, Naruto… então eu honrarei esse título."
Shisui, tentando aliviar a emoção, brincou:
"Espero que ele nunca me chame de tio rabugento."
Naruto, como se entendesse a piada, caiu na gargalhada.
A base nunca havia estado tão cheia de vida.
Naquele instante, compreendi que o vínculo entre nós não era circunstancial — era família. Uma família improvável, nascida nas sombras, mas real o suficiente para dar sentido à luta contra o destino.
O bebê que a vila teria ignorado havia falado sua primeira palavra.
E essa palavra havia mudado tudo.