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Chapter 22 - Capítulo 22: O Resgate nas Sombras

A localização estava correta — uma clareira apagada nos limites da mata, onde a vila recuava à medida que as árvores tomavam conta do chão. Alpha X tinha mapeado rotas, sinais e horários; eu tinha apenas uma janela curta. O ar cheirava a musgo e cascalho molhado, como se a floresta soubesse que ali se urdia algo enterrado no silêncio.

O portal do Vazio abriu-se atrás de mim como um sussurro, um brilho roxo que engoliu a luz das estrelas por um instante. Atravessei com o Cajado dos Elementos em punho e senti a madeira vibrar — a ilusão e a telecinese ajustadas em sincronia. A respiração do mundo parecia retardar; a adrenalina apertou as veias.

À frente, a cena era limpa e crua: Danzo, encapuzado, com gestos pacientes como os de alguém que fazia do expediente uma liturgia. Dois membros da ANBU Ne formavam o perímetro, máscaras negras pegando a luz. E, no centro, Shisui Uchiha — jovem, tenso, os olhos em chamas rubras — era contido por selos e palavras veladas. O Sharingan girava; havia decisão e recuo no seu rosto em medidas iguais. Ele parecia pronto a sacrificar o que fosse preciso por Konoha, mas ali estava cercado por mãos que não deixariam escolha.

Os instrumentos de extração estavam dispostos com calma cirúrgica — bainhas, algemas, frascos pequenos que reluziam. Meu estômago endureceu. Não era apenas violência; era uma operação de tomada: roubariam um pedaço da humanidade de Shisui e o transformariam em ferramenta.

Não tive tempo para hesitar. Lancei o cajado para frente num gesto quase invisível, canalizando a vertente ilusão. Não convinha romper o campo com força — Danzo era cauteloso, sobreaviso. Em vez disso, teci algo sutil: uma dobra de percepção que deslizou sobre os olhos de Danzo e dos ANBU, como névoa colocada na memória. Para eles, Shisui executara um shunshin desesperado, uma fuga dramática por entre corvos, um truque próprio do clã Uchiha. Corvos se ergueram (na percepção deles) e engoliram o vazio.

Mas não era um truque de fuga comum. Para Shisui a experiência foi diferente: num fragmento de realidade que eu lhe ofereci, minha figura surgiu — uma sombra que não ameaçava, mas estendia uma mão firme. A voz era distante e calma.

"Shisui, não lute. Você não precisa perder o que é seu. Confiar em mim é difícil, eu sei, mas precisa haver outra forma."

Antes que pudesse processar, usei a telecinese aérea canalizada via vento para quebrar os laços físicos que o seguravam; peguei Shisui como se o segurasse num salto, e abri um portal do Vazio lateral e discreto. Num piscar, ele desapareceu do círculo de Danzo. Para os olhos de quem ficou ali, não houve luta humana real — apenas um vácuo onde um shinobi estivera. O ar parecia vibrar de surpresa. Danzo praguejou, sentidos em alerta, mas não havia rastro plausível: o campo da ilusão cobrira a janela exata.

Atravessamos para a base. O choque atingiu Shisui como uma maré: suas pálpebras tremiam, os olhos ainda rojos recobravam contato com o espaço físico. Ele examinou o quarto improvisado — paredes, sensores discretos, a segurança que eu montara com pressa e cuidado.

"Onde… o que aconteceu?" Sua voz era curta; a cautela firmava-se em cada sílaba.

"Você foi alvo de um sequestro," expliquei sem rodeios. "Danzo tentou levar seus olhos. Vim tirá-lo dali."

As palavras ardiam no ar. Não havia heroísmo teatral: apenas a verdade dura.

Shisui me olhou de frente. Havia desconfiança, claro — era razoável — mas também algo mais: reconhecimento do perigo que o cercava e uma fúria quase silenciosa contra a ideia de ser tratado como recurso. Ele respirou fundo, olhos analisando o ambiente, procurando saídas e armadilhas.

"Por quê?" Foi a pergunta que veio, cheia de significados além do termo simples. "Quem é você para me tirar de Konoha?"

Falei da minha vinda, da previsão que me trouxera, do que eu vira em futuros possíveis — sem detalhar demais, porque prova demais soava a manipulação. Mostrei evidências pequenas: registros de movimento, códigos interceptados, a disposição dos instrumentos ainda visíveis nas imagens que Alpha X mantinha em cache.

Ele ouviu. Por fim, descendo a guarda em passadas curtas, sentou-se. Não aceitou a explicação com facilidade, mas a lógica do perigo o forçou a pesar as opções. "Se o que diz é verdade," murmurou, "não posso permitir que minhas capacidades sirvam de arma para manipular a vontade de outros." Havia um orgulho quieto e uma decisão feroz sob a superfície.

Propus abrigo temporário e total anonimato. Não queria arrancar Shisui de sua casa; queria ganhar tempo, abrir espaço para outra solução — talvez uma negociação que não mergulhasse numa caça de sombras. Ele concordou, com reservas. Era pouco, mas era tudo que eu podia pedir naquela noite.

Enquanto isso, longe dali, a sombra de Danzo se fez mais densa. Seus homens reagiram rápido ao desaparecimento: patrulhas relâmpago mapearam rotas de fuga, linhas de comando foram ativadas, e uma mensagem críptica — que apenas os mais próximos entenderiam — correu pelos canais de Danzo: "Recuperar à qualquer custo." Raiva gelada permeou seus ordens. Ele não suspeitava do ilusionismo sutil; suspeitava, com precisão, que alguém havia interferido.

Na sede do Hokage, a ANBU detectou atividade anômala: sinais de deslocamento de chakra em um setor periférico e traços de manipulação de percepção em leituras que pareciam falhas eletrônicas. Hiruzen, já ciente do desaparecimento temporário do jovem Uchiha por outros relatórios, apertou o cerco sem alarde, enquanto Danzo se movia em paralelo em sua própria rede de operações. A vila, novamente, começava a mexer suas peças.

De volta à base, Shisui caminhou sozinho pelo corredor do berçário, observando brinquedos que eu criara com uma mistura de tecnologia e Vida. A expressão nele alternava entre cálculo frio e cansaço de quem carregava olhos que podiam decidir o destino de muitos. Conversamos a noite inteira — não como salvador e salvo, mas como dois que haviam sido empurrados para tomar decisões que não pediram. Ele falou, poucas vezes, do peso de ser Uchiha; eu falei da chance que tínhamos de reescrever uma linha do destino.

Fechei a porta com cuidado. A sensação era agridoce: salvara um homem, ganhara um aliado, mas abrira uma frente que Danzo não deixaria sem resposta. Nesse jogo de sombras, um movimento só servia para convidar outro. Ainda assim, ali, naquela noite, a aposta valera.

Ao amanhecer, Alpha X apresentou relatórios: Danzo mobilizara ativos; Hiruzen mandara reforços discretos; a ANBU rastreava sinos de chakra. Eu arquivei rotas alternativas, estabeleci rotinas de fuga, e comecei, com paciência e tato, a trabalhar a confiança de Shisui. O caminho até um futuro sem massacre era longo — e perigoso — mas, pela primeira vez desde que deixara Konoha com um recém-nascido nos braços, senti que não lutava mais sozinho.

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