A marca dos dois pontos no mapa brilhava diante de mim enquanto eu respirava fundo. Alpha X já monitorava as áreas, mas eu precisava de algo mais: treino. Informação sem habilidade era armadura vazia.
Chamei Alpha X mentalmente, como vinha fazendo, e pedi um espaço de treino. A resposta foi imediata. A parede da sala principal deslizou e revelou uma passagem escura; depois, ao acender as luzes, abriu-se uma câmara ampla onde o chão parecia feito de energia pulsante. A superfície emitia um som baixo, quase harmônico, e uma sensação de potencial vibrava no ar, como se algo ali aguardasse ser comandado.
Alpha X explicou, com sua voz precisa, que aquele era o Campo de Adaptação, um espaço com simulações ambientais e alvos virtuais. Pedi por uma sessão focada: primeiro elementos, depois habilidades secundárias. A projeção respondeu afirmativamente e iniciou a sequência.
Fechei os olhos e me concentrei nos Olhos Celestiais. Sentir as dez tomoe girando era como sintonizar dez instrumentos diferentes dentro do meu peito. Cada cor pulsava com uma timbre próprio, uma nota que parecia pedir para ser tocada. Visualizei fogo, querendo forma e intenção. Quando abri os olhos, uma coluna de chamas irrompeu do chão, virando-se num dragão serpentino que ondulou silenciosamente. O calor atingiu meu rosto; senti o cheiro seco de algo queimando, e o ar trouxe um travo metálico — ozônio e ferro. Sorri, mas era cedo para comemorar.
Na segunda tentativa, invoquei o elemento terra. O chão estremeceu; rochas brotaram em pilares que tamborilaram o casco do espaço. A solidez era quase palpável e meu pé afundou num pó imaginário. Consegui moldar, mas a precisão falhou: uma coluna rachou onde eu não queria, espalhando detritos virtuais que demoraram para se recompor. A frustração subiu. Aprendi ali que controle e intenção exigiam foco absoluto; distrações geravam falhas.
Com o gelo, tive outra surpresa. Tentei criar lâminas cristalinas e, ao formar a primeira, a visão vacilou por um instante. Um zunido alto ecoou nos meus ouvidos e a imagem do holograma tremeu. Pisquei e percebi uma leve tontura; os olhos me queimaram por alguns segundos, e uma onda de náusea passou. Alpha X alertou que a manipulação do gelo exigia regulação de temperatura interna, e que eu havia excedido a tolerância neural. Anotei mentalmente: cada elemento tinha um custo físico real.
Continuei, atento às reações do corpo. Raios criaram um cheiro de ozônio mais forte; o Vento trouxe uma pressão estranha nos tímpanos; o Vazio consumiu a luz por um segundo e deixou-me com um frio que parecia mordiscar a alma. Em cada teste, regulei a intensidade. Em alguns momentos os elementos obedeceram como instrumentos afinados; em outros, rebelaram-se como bestas selvagens quando tentei improvisar.
Passei então para as habilidades secundárias. O Voo veio após algumas tentativas mal coordenadas: a primeira vez levitei apenas alguns centímetros e caí de volta, a sensação de queda raspando o estômago. Na segunda, ajustei a intenção e flutuei com mais segurança, como se nadasse no ar. A percepção lentificada foi quase mágica: o mundo fez-se câmera lenta, cada partícula de pó suspensa no campo iluminado, o movimento dos alvos virtuais revelando micro-hábitos que eu jamais veria em velocidade normal. A vantagem tática era óbvia, mas o preço também: quando retornei ao tempo real, senti a cabeça latejar como se tivesse sido comprimida.
Tentei a imunidade a genjutsu mentalizando barreiras de proteção. Nada visível aconteceu, mas senti uma sensação de seda passando sobre meus pensamentos, um revestimento que tornava mais áspero o contato com ilusões hostis. Eu não podia testar direito ali, claro, mas o sinal era promissor.
O Estilo Yang trouxe calor e cicatrização que percorreu meus dedos, um conforto que reenergizava ferimentos virtuais. O Estilo Yin foi mais delicado: sombras enrolaram-se ao meu redor e me deram controle de pequenas ilusões. Quando tentei combiná-los no Yin-Yang, algo novo pulou para fora: uma pequena área onde luz e sombra se entrelaçavam, realçando e ocultando partes do campo conforme eu queria. Foi bonito e perigoso. Alpha X registrou tudo automaticamente, salvando parâmetros e recomendando margens de segurança.
Em horas condensadas de esforço, melhorei. Não foi um salto súbito — foi repetição, correção, dor e resiliência. Meus músculos e mente doíam de cansaço; meus olhos, depois do exercício prolongado, ardiam com uma luminosidade residual. Cada habilidade vinha com uma conta a pagar: uma dor de cabeça latejante, uma perda momentânea de sensibilidade, uma sensação de drenagem que passava horas para se recuperar. Aprendi a modular intensidade, a não confiar apenas no poder bruto.
Ao fim da sessão, sorri com cansaço. Pedi a Alpha X que registrasse as rotinas mais eficientes e salvasse configurações para replicação. A projeção confirmou: dados arquivados, perfis de habilidade otimizados.
Enquanto me deitava no chão de energia para recuperar o fôlego, senti um leve desconforto. Havia algo nas leituras de Alpha X que antes não notara: uma interferência sutil nas frequências de chakra perto da floresta marcada. Não era só o selo. Era um ruído, como estática numa transmissão que alternava entre tons incompreensíveis. Perguntei à projeção e ela admitiu ter detectado fragmentos de assinatura que não correspondem a nenhuma base de dados conhecida. Alpha X sugeriu monitoramento contínuo e protocolos de contenção caso a anomalia crescesse.
A urgência bateu de novo. Dois meses não mudaram; estavam diminuindo. Eu estava mais forte, mais capaz. Mas também sabia agora que poder vinha acompanhado de exposição e de custos que eu ainda não dominava totalmente. Fechei os olhos por um instante, sentindo o pulso do campo sob mim e o eco distante das leituras. Quando me levantei, a determinação era mais sóbria: eu me prepararia, sim, mas com cautela. Haveria risco, e talvez surpresas que nem Alpha X conseguiria explicar.
O destino continuava a esperar. Eu tinha ferramentas novas. Agora precisava usá-las sem quebrar aquilo que buscava proteger.