"Sua pele é de fato Pedra," Yue Yang concordou, sua voz um murmúrio contemplativo que ecoava no celeiro abandonado. "Mas seus órgãos internos... seus pulmões, seu coração... duvido que sejam tão resilientes. Quando eu cortei, sua armadura externa não cedeu, mas você instintivamente levou sua mão abaixo de sua axila esquerda. Por quê? Porque sentiu a vibração, não é? A onda de choque atravessou a pedra e reverberou dentro de você. Isso significa que você pode ser atordoado. Que sua invulnerabilidade é superficial."
Yue Yang não demonstrou medo. Em vez disso, um sorriso frio e calculista tocou seus lábios. Ele se moveu como uma sombra, esquivando-se dos punhos pesados e desajeitados de Rocha com uma graça que beirava o sobrenatural. Num movimento fluido, ele recuperou o machado lascado do chão, seu pulso girando a arma pesada como se fosse um brinquedo.
Ele saltou, não muito alto, mas com uma precisão absoluta. Todo o poder de seu corpo [Inato], uma força que Rocha nem podia começar a compreender, foi canalizado para o cabo do machado, convergindo no ponto de impacto.
O machado não se moveu para cortar; moveu-se para martelar.
DONG!
O som foi o de um badalo atingindo um sino de bronze maciço, mas abafado pela carne e osso. A lâmina deformada atingiu o ponto exato no centro da rachadura de sua axila.
O corpo de Rocha balançou violentamente, como um pinheiro atingido por um raio. Suas mãos, grossas e pesadas, voaram instintivamente para o local, agarrando-a enquanto uma dor inimaginável – uma agonia que transcendia o físico e se infiltrava diretamente em sua mente – explodia dentro de seu peito. Um grito ficou preso em sua garganta, sufocado pela náusea e pela desorientação absoluta.
Yue Yang não perdeu tempo. Aproveitando a brecha, arremessou o machado despedaçado para o lado e avançou com um ímpeto feroz. Seu punho se ergueu, canalizando a energia [Inata] em um dos lendários Três Estilos Misteriosos. No instante seguinte, ele desferiu o Primeiro Estilo – Punho do Céu Despedaçado. A força concentrada explodiu como um trovão, atravessando a couraça pétrea de Rocha e penetrando sua pele, não apenas com impacto físico, mas com a sensação de que o próprio firmamento havia se quebrado dentro de seu corpo.
Antes que um único som pudesse escapar, seus olhos reviraram, mostrando a branquitude dos mesmo. Seu corpo, outrora uma fortaleza imponente, desabou no chão de terra batida do celeiro com um baque surdo que fez o prédio tremer.
Para qualquer outro, derrotar um Bravo de Nível 5 com apenas três golpes seria uma lenda, um feito que faria os queixos caírem de espanto.
Para Yue Yang, um Invocador [Inato] que havia canalizado uma fração infinitesimal de seu verdadeiro poder, foi menos significativo que esmagar uma formiga. Ele começou a limpar os sangues das mãos na perna da calça como se tivesse tocado em algo sujo.
"Agora, vamos ver... recompensa do primeiro 'monstro'." Sua atitude era a de um fazendeiro colhendo uma safra, não de um homem que havia acabado de derrubar outro ser humano. A vida de Rocha era, para ele, uma simples comodidade, um tesouro a ser coletado.
Com um gesto casual, Yue Yang ergueu a mão, e o grimório flutuante respondeu ao seu chamado, abrindo-se diante dele em meio a um brilho dourado. Das páginas surgiu uma delicada flor de espinhos, suas pétalas rubras pulsando com uma aura cruel e vibrante. Ele a deixou pairar por um instante, admirando sua beleza letal, antes de aproximá-la lentamente do corpo de Rocha, como quem deposita uma marca de propriedade em seu novo prêmio.
A Flor de Espinho criou cordas de fibra de palmeiras, elas não eram grossas, mas estavam amarradas com uma expertise cruel que ele, em sua arrogância, nunca imaginara. Seus braços e pernas estavam imobilizados, impossibilitando qualquer movimento significativo ou o foco necessário para invocar até mesmo um vestígio de sua besta.
Yue Yang revistava seus pertences com uma eficiência deprimente. "Que decepção," ele murmurou, sacudindo uma bolsa de couro quase vazia. "Um pobre tão desgraçado. Além dessas migalhas, você não tem um esconderijo? Um tesouro enterrado? Algo que valha, digamos, cem peças de ouro? Se tiver, talvez eu reconsidero o valor dessa sua existência miserável." Sua voz era plana, sem emoção. Não era uma ameaça passionada; era uma negociação comercial.
"Vou te matar!" Rocha rosnou, a raiva superando temporariamente o medo e a dor. A humilhação era um veneno em suas veias.
"Entendo a frustração, mas um homem deve enfrentar a realidade com dignidade. Vamos focar na negociação. Nenhuma economia secreta?" Yue Yang insistiu, como um cobrador de dívidas incansável.
"Solte-me! Você sabe com quem está mexendo? Sou o braço direito de Tie Kuang dos Bestas Violentas! Mate-me, e ele vai caçar cada membro da sua família até a extinção!" A ameaça foi cuspida com a força desesperada de um homem que sentia o chão desaparecer sob seus pés.
"Os Bestas Violentas?" Yue Yang fez uma pausa, fingindo uma leve preocupação. "O maior grupo de mercenários da cidade... agora estou um pouco assustado." O sarcasmo pingava de suas palavras como ácido. Ele estava perfeitamente ciente de quem eram os Bestas Violentas e de seu líder tirânico, Tie Kuang. Mas ele também sabia do abismo intransponível que existia entre um mero grupo de mercenários e uma das Quatro Grandes Famílias, como a Yue. A proteção de seu nome de família era um escudo invisível, mas impenetrável.
Tie Kuang poderia uivar de raiva, mas nunca ousaria tocar em um membro do clã Yue por vingança por um simples assassino como Rocha.
"Solte-me, seu filho da puta!" Rocha gritou, sentindo a última migalha de seu orgulho ser pisoteada. Ele não era mais visto como uma ameaça, mas como um inseto insignificante cuja morte era uma mera formalidade.
"Parece que nossa discussão chegou ao fim. Sem dinheiro? Então, me desculpe." A voz de Yue Yang perdeu toda a pretensão de civilidade. Tornou-se fria, final. "É hora de você se tornar fertilizante de alta qualidade para minha Flor Espinhosa. Hora da refeição."
Ele não ordenou a morte de Rocha. Ele ordenou a Flor Espinhosa Cuspidora a se aproximar. A planta grotesca obedeceu, sua "boca" cheia de ditos se abrindo com um rangido úmido e sinistro, exalando um odor podre de carne em decomposição.
O verdadeiro horror da situação atingiu Rocha como um balde de água gelada. A morte era uma coisa. Ser digerido vivo por uma planta monstruosa, consciente enquanto seus sucos gástricos dissolviam sua carne e ossos... era uma perspectiva que fazia sua sanidade se desfazer nas bordas.
"AHHHH!" Seu grito foi um som primal de puro terror.
A coragem artificial forjada pela raiva evaporou. "Pare! Pare! Eu consigo! Eu consigo as cem peças de ouro! Amanhã de manhã, juro por tudo, terei o dinheiro!" Ele gritou, suas palavras saindo em um fluxo frenético.
Yue Yang olhou para ele sem piedade. "Rocha, que nem tinha dez peças de ouro consigo, por favor, não me insulte com mentiras patéticas." Ele acariciou a cabeça de sua Flor Espinhosa, um gesto perturbadoramente carinhoso. "Melhor engoli-lo pela cabeça. É mais limpo. E mais silencioso. Os vizinhos precisam dormir. Falando nisso, estou com um pouco de fome. Aproveite sua refeição. Vou procurar um lanche."
Ele se virou para ir, assobiando uma melodia despreocupada, enquanto os gritos histéricos de Rocha preenchiam o celeiro.
"Poupe-me! Por favor, poupe-me!"
Yue Yang parou na porta, sem se virar. Sua voz chegou a Rocha, suave, quase conversacional, mas carregada de uma frieza absoluta que era mais assustadora que qualquer gritaria.
"Eu acredito," ele disse, "que quando você matou dezenas de pessoas e de famílias, eles também imploraram por misericórdia. Então irei seguir seus ensinamentos…"
Ele finalmente se virou, e o sorriso que estampou seu rosto foi o mais genuíno e mais terrível que Rocha já tinha visto. Era o sorriso de um homem perfeitamente à vontade com o horror que estava prestes a desencadear.
"Boa noite."
A última coisa que Rocha viu foi a escuridão úmida e dentada da boca da Flor Espinhosa descendo sobre seu rosto, abafando seus gritos finais para sempre. A digestão começaria em breve, lenta e agonizante, exatamente como Yue Yang pretendia. Era a colheita final de seu primeiro alvo, e o fertilizante prometia ser excepcionalmente rico.