Assim que entrei no castelo, olhei tudo ao redor com uma expressão de puro tédio. É claro que vocês esperavam que eu fosse descrever o lugar, né? Tipo "Oh, que castelo majestoso, com colunas de ouro e tapeçarias bordadas à mão." Mas não. Isso aqui é impossível de descrever e, pra ser bem sincera, eu tô com preguiça. Preguiça mesmo. Então, fiquem só com a imagem mental de um lugar chique que fede a mofo e poder.
O máximo que posso dizer é que outras meninas — todas bem vestidas, óbvio — estavam seguindo pelo mesmo caminho que eu, cada uma acompanhada pelo seu respectivo guarda. Eu, por minha vez, tinha Oliver ao meu lado, parecendo um verdadeiro cavaleiro de contos de fadas.
Inclusive, algumas meninas lançaram olhares meio apaixonados pra ele, encantadas com aquele rostinho de anjo. Eu não julgo. Até eu pensei o mesmo umas quatro horas atrás. (E vocês já sabem o que rolou, então poupem minha energia e imaginação — não vou repetir aquela cena.)
Ri sozinha no meio do corredor, parecendo uma completa lunática. Oliver me lançou um olhar de canto, mas não disse nada. Provavelmente já se acostumou com minha vibe esquisita.
Enquanto continuávamos andando por aquele corredor sem fim — sério, parecia que dava voltas no próprio eixo —, senti meus pés doerem. Eu estava um caco. Além do cansaço me consumindo, minha aparência estava ainda pior que o normal. Alguns fios rebeldes de cabelo caíam no meu rosto, e eu só queria deitar no chão de mármore frio e fingir que era um tapete.
Depois de um tempo, eu já estava no mundo da lua — como sempre —, já que não fazia ideia de quanto tempo levaria até chegarmos ao maldito salão do trono. Foi então que minha cara foi de encontro com algo duro, e quase caí para trás, se Oliver não estivesse logo atrás de mim. Levei a mão ao nariz dolorido, já imaginando que ficaria vermelho, e ergui o olhar para o ser que parecia mais uma parede de ferro.
Minha boca automaticamente formou um perfeito "O" ao ver outro belo guarda, de cabelos pretos e olhos mais negros que minhas partes íntimas, me encarando com um olhar intenso e ao mesmo tempo neutro. Senti uma pontada no ventre — quase como um sinal de alerta do meu corpo querendo que eu arrancasse a roupa ali mesmo e pulasse em cima daquele guarda gostoso.
Oliver, que antes estava atrás de mim, logo ficou ao meu lado. Fez um leve sinal com a cabeça na direção do outro guarda, num gesto sutil de cumprimento e também como aviso para eu manter a compostura. Me vendo praticamente babar, tratou de fazer as apresentações:
— Senhorita Addans, esse bom homem se chama Castiel LaNobre, o segundo capitão da guarda real.
Ouvi atentamente o nome — pelo menos nisso eu prestava atenção — como se estivesse numa aula obrigatória para decorar o nome de cada guarda gostoso que cruzasse o meu caminho. Afinal, algo me dizia que eu ainda conheceria muitos outros belos homens por aqui. Só de imaginar isso, mordi o lábio — mania antiga.
O guarda fixou o olhar em minha direção, mas não disse nada — apenas saiu do caminho, enquanto eu ainda o encarava com um olhar lascivo. Só não babei de verdade porque as portas se abriram, e, sem qualquer interesse pelo salão, permaneci em silêncio, ainda admirando o guarda gostoso que se mantinha firme do outro lado. Claro que Oliver, percebendo minha distração, me empurrou de forma leviana para dentro do salão. Virei o rosto na mesma hora e olhei feio para ele.
— Precisava disso? — perguntei, claramente irritada, com um semblante emburrado.
Oliver apenas retribuiu com um olhar gentil e fez sinal com o dedo para que eu ficasse em silêncio.
Alguns minutos depois, soltei um suspiro pesado e olhei em volta para o imenso salão. Diversos nobres estavam organizados em fileiras, todos sentados em assentos macios, nos observando de cima, como se fôssemos um espetáculo. Então, de repente, um enorme som de trombeta ecoou, me obrigando a tapar os ouvidos com força para não ficar surda.
Fico atordoada por bons minutos até que uma voz alta e clara ecoa para que todos pudessem ouvir. Às vezes, eu fico imaginando se esse cara tem algum problema, já que parece que tá com o maldito microfone enfiado na garganta — daqui a pouco vai querer chupar o microfone junto. E, sinceramente, não sei por que fazer aquele barulho de trombeta como se fosse o sinal do fim dos tempos. Claramente, vejo o rei sentado em seu trono, sem qualquer expressão no rosto.
O rei tem cerca de 2,30m de altura, cabelos lisos até os ombros, negros como a noite. Seus olhos são dourados, como ouro derretido. O corpo? Cheio de músculos. A pele é mais escura do que o tom comum por aqui, o que só realça ainda mais a beleza dele. E a roupa… meu Deus. Aberta na frente, deixando os peitorais e o tanquinho dele à mostra. Um tanquinho digno de lavar minhas roupas sujas — se ele permitisse, claro.
Mas isso é impossível, já que o lindo é casado com sua companheira de milhares de anos. A rainha, aliás, não pôde comparecer hoje, mas conheceremos ela em outro momento.
Bem, o rei tem uma beleza de outro mundo. Filho legítimo do antigo soberano, ele mantém uma expressão séria enquanto o maluco da trombeta grita mais alto que um papagaio.
— Atenção a todos! — ele começa, num tom tão dramático que quase reviro os olhos.
— Eu lhes apresento o seu rei, Damian Lukaine! — diz, fazendo um gesto exagerado como se estivesse apresentando um deus encarnado.
“Pelo amor de Deus...” penso, envergonhada por aquele espetáculo ridículo. Até vejo o rei soltar um suspiro longo, claramente acostumado com esse tipo de palhaçada há décadas.
Rapaz, acho que tem gente doida pra tudo mesmo. O subordinado mais “confiável” do rei foi quem fez aquele anúncio pomposo do Damian. Até meu pai idiota queria alguém assim para fazer isso por ele. O Eike? Ah, ele faria isso sem pensar duas vezes se o velho mandasse. Só de imaginar já fico com raiva — e um sorriso de puro ódio escapa.
Mas quem diria que, logo de cara, o rei olharia direto pra mim? Claro que senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Droga, às vezes eu preciso ficar quieta, sem chamar atenção... Mas parece que já chamei, e não foi pouco. O rei soltou um meio sorriso, um sorriso sinistro demais para o meu gosto.
Na próxima, é melhor eu mesmo me calar.
Minhas pernas já estavam doendo, nem sei quanto tempo passou, mas aquele maluco ainda tagarelava sobre como o rei era magnífico, como ele era o todo poderoso... Daqui a pouco vou achar que o subordinado dele é gay. Mas, olha, eu estaria bem enganada, porque esse mesmo subordinado é casado com uma mulher conhecida como Eddina — braço direito do rei e comandante de todas as divisões do território "Noite Estrelada". Pensa numa mulher com uma beleza única, que ninguém imaginaria que já foi heroína de guerra do território e também é dama de companhia da rainha.
Mas, voltando, já estou enrolando demais com esses pensamentos inúteis. Finalmente, o rei dá algum decreto, se levanta e mostra aquelas curvas... não só eu, como outras garotas, ficamos babando pelo rei. Quem sabe o filho dele seja ainda mais bonito que o pai — é o que eu espero, afinal, os filhos costumam ser bonitos, né?
Eu acho, mas finalmente o príncipe foi anunciado — pelo menos pelo subordinado, que vamos chamar de Ezequiel, já que esse é o nome dele. De repente, ouço outro estrondo vindo da porta. Parece que hoje todo mundo quer me deixar surda, não é possível.
Viro meu rosto e vejo o príncipe, que é mil vezes mais bonito que o pai. Com cerca de dois metros de altura, pele escura igual à do rei, olhos dourados — como ouro derretido, quase lava prestes a entrar em chamas. (Quem vai entrar em chamas sou eu, claro.)
Só que o cabelo dele é diferente — um intenso ruivo, herdado da mãe. O príncipe Cameron Lukaine entrou pela mesma porta que eu, junto com as outras garotas, com ar todo confiante e uma espada na mão, indicando que deve ter treinado pouco antes de aparecer.
Ele estava vestido só com a parte de baixo da calça, sem camiseta, exibindo músculos definidos — menores que os do rei, mas que nem por isso são desprezíveis. Fácil seria retirar minhas roupas, em vez de lavar algumas roupas sujas no tanquinho dele. Fico até ofegante só de imaginar a cena lasciva diante a todos.
Diferente de Oliver, Castiel e o rei Damian... o príncipe Cameron tinha uma beleza de outro mundo, com traços mais delicados, claramente herdados da mãe.
O príncipe passava por todas as meninas com um belo sorriso no rosto, tão encantador que parecia ter sido desenhado à mão pelos próprios deuses. Bastava esse gesto para ver algumas garotas desabando no chão, literalmente desmaiando diante da beleza surreal dele. E tudo o que ele fazia era um simples aceno de cabeça — um mísero sinal — e as garotas já se sentiam especiais, como se tivessem sido escolhidas pessoalmente pelo príncipe.
Claro que isso ia gerar problema.
Já consigo até prever o escândalo quando sairmos desse salão do trono. Vai ser um festival de ego inflado. Uma verdadeira batalha campal entre egos femininos:
— “Você viu? Ele olhou pra mim!”
— “Olhou nada! Aquilo foi pra mim!”
— “Ah, vá se foder, fulana! Você só sonha mesmo!”
E por aí vai. Vai parecer mais uma guerra do que uma recepção real. Todas querendo ser a próxima princesa, a escolhida, a sortuda... E, sinceramente, eu? Só queria um copo d’água e um banco, porque minhas pernas já estavam implorando por misericórdia.
Até que o príncipe para bem na minha frente.
Confuso.
Completamente perdido por me ver ali — a única garota naquele salão que não estava produzida feito uma boneca de porcelana. Eu, toda acabada dos pés à cabeça, com um vestido azul-turquesa amassado, parecendo mais uma vadia que saiu de um cabaré qualquer às cinco da manhã. (O que, tecnicamente, não estava muito longe da realidade, já que eu saí de casa de madrugada mesmo.)
E, como se fosse um sinal apocalíptico, todas as outras meninas viraram os rostos em minha direção. Irritadas. Perplexas. Quase bufando. Tipo: “Que porra é essa?”
Às vezes eu realmente me pergunto como as coisas chegaram nesse ponto… Se eu só tô parada aqui! Nem fiz nada!
Claro que eu não sou idiota de encarar o príncipe diretamente. Ele está acima de mim — literalmente e socialmente. Então, mantenho meu olhar baixo, focado em nada.
Mas então…
Sinto um arrepio subir pela minha espinha.
Ele toca meu queixo.
Com apenas um dedo.
E ergue meu rosto, forçando-me a encará-lo.
E quando meus olhos finalmente encontram os dele…
Todo o meu corpo reagiu só com aquele pequeno toque. Não consegui esconder: fiquei ofegante. Não sei quantos minutos se passaram até que o rei interrompeu nosso momento. Fiquei toda vermelha, envergonhada, quando o príncipe se afastou. A partir dali... não lembro de mais nada.
Minha mente simplesmente apagou.
Foi como se uma névoa tomasse conta de tudo dentro do salão — uma perda de memória temporária. Só voltei à realidade quando senti alguém me mexer com um toque gentil. Pisquei os olhos e vi Oliver ao meu lado, me sacudindo levemente.
Estava sentada num banco, fora do castelo.
— O que aconteceu? — perguntei, encarando Oliver, ainda meio grogue.
— Nada demais — ele respondeu, com um sorrisinho debochado. — A senhorita só entrou em estado de profundo choque.
Ele cruzou os braços e soltou uma risada leve, claramente se divertindo com meu sofrimento.
— Depois daquilo, você agiu no modo automático. Quando tudo acabou, continuou como se nada tivesse acontecido.
Fiquei ainda mais vermelha do que antes, sentindo o rosto queimar. Me senti uma verdadeira palhaça.
Droga.
Então fecho meus olhos, aceitando — como sempre — aceitando meu cruel destino de ser uma verdadeira palhaça em vários momentos de minha vida.