(Voltando à visão de Celestia)
Fico lado a lado de Jade depois que ambas saímos do jardim, sem dizer sequer uma palavra uma para a outra, já que ela parecia estar em seu próprio mundo, interessada naquele livro. Mesmo conhecendo Jade há apenas um dia, eu sentia que ela poderia não ser apenas alguém doce, meiga ou infantil, mas alguém que sabe manipular a situação ao seu favor — uma verdadeira duas caras.
Mas às vezes posso estar errada. Não sou o tipo de pessoa que julga logo de cara; prefiro conhecer as pessoas ao longo do tempo.
Por um breve momento, vejo Jade fazer uma expressão diferente do normal — um sorriso sócio-maníaco. Porém, assim que percebe que eu a encarava, ela vira o rosto e muda completamente sua expressão, voltando a ser a garota meiga e gentil de sempre.
— Algo errado? — ela pergunta, toda gentil, segurando o livro nas mãos com mais força do que o normal.
— Nenhum — respondo, abrindo um sorriso falso, fingindo que não percebi nada.
Então ambas paramos diante de dois caminhos diferentes. O da direita levava até os quartos; o da esquerda, até a biblioteca do castelo, onde todas as meninas tinham permissão para entrar.
— Irei para esta direção, Celestia — diz ela, apontando para o caminho da esquerda, indicando que iria para a biblioteca.
— Bem, eu vou para esse lado — aponto para a direita, já que estava incomodada com Jade desde a situação no jardim.
Parece que ela percebe meu incômodo, pois me lança um olhar intenso e apenas acena com a cabeça, sem dizer mais nada. Em seguida, se afasta com passos calmos, sem fazer qualquer barulho.
Então sigo meu caminho pelo corredor silencioso, ouvindo apenas o som dos meus passos pesados ecoando pelas paredes. Encontro alguns empregados no caminho, e todos me cumprimentam com um leve aceno de cabeça enquanto passam por mim, sem dizer uma palavra. Faço o mesmo, mantendo minha expressão séria.
Mas, de repente, ao longe, vejo o príncipe Cameron Lukaine — como sempre, extremamente bonito — caminhando com seu guarda, aquele de peitoral duro com quem eu dei de cara ontem mesmo: Castiel LaNobre, sempre a um passo atrás do príncipe.
Começo a entrar em pânico sem saber o que fazer depois da situação constrangedora que rolou no salão. Até que tenho uma ideia: fazer o que sempre soube fazer de melhor...
Me esconder.
Pulo para trás de uma cortina, fingindo que sou só... uma cortina. Por sorte, a cor da cortina era idêntica à do meu vestido: um tom de cerejeira depois que as pétalas caem.
Fico ali em silêncio, esperando, até ouvir os passos do príncipe pararem bem à minha frente. Ele solta um longo suspiro:
— Às vezes eu me pergunto o que fiz de errado para meu próprio pai convidar todas as matilhas de cada região... só para eu mesmo escolher a futura princesa deste reino — comenta, com a voz cansada.
Seu fiel guarda responde, com o tom neutro de sempre:
— Não posso dizer nada, vossa alteza, já que nunca sabemos o que se passa na cabeça do rei... a não ser sua própria esposa.
O príncipe suspira pela segunda vez.
— Eu sei. Por isso, entre todas as pessoas, você é quem mais confio aqui dentro, Castiel. Você é meio que... parecido com meu pai — diz o príncipe, com um leve sorriso.
— Mas ontem no salão, teve três mulheres que chamaram minha atenção...
A senhorita Jade Willians, vinda do Sul.
Ruby Baltazar, vinda do Oeste.
E, por fim, Celestia Addans, vinda do Noroeste.
Ele leva a mão ao queixo, pensativo.
— Qual delas devo escolher? Todas me interessaram de alguma forma...
Ele olha para Castiel, esperando uma resposta. Mas o guarda permanece em silêncio, firme e neutro. O príncipe parece entender o recado e, sem dizer mais nada, dá meia-volta, indo embora calmamente com seu guarda logo atrás.
Fico bons minutos atrás da cortina, ouvindo apenas minha própria respiração, até que os passos do príncipe e do guarda ficam distantes o suficiente para eu não ouvir mais nada. Só então saio de trás da cortina, caindo de joelhos no chão e respirando profundamente de alívio.
Coloco uma mão no peito, sentindo meu coração disparado, como se fosse sair pela boca. Pensei que seria pega... Mas, às vezes, parece que a sorte realmente está do meu lado.
Ou foi o que pensei.
Porque, de repente, vejo belos saltos ponte-agudos pretos parados bem à minha frente. Começo a subir o olhar lentamente... e fico ainda mais tensa ao ver Eddina me encarando sem qualquer expressão no rosto, apenas com uma das sobrancelhas levemente arqueadas, como se perguntasse silenciosamente:
"O que, exatamente, a futura princesa deste reino está fazendo ajoelhada no chão?"
O silêncio entre nós se torna insuportavelmente constrangedor.
Me levanto apressadamente, evitando seu olhar, enquanto minhas bochechas queimam de vergonha. Abaixo o rosto, corando violentamente.
— Bem, devo dizer que isso foi... inesperado, senhorita Addans — diz Eddina, inclinando a cabeça na minha direção, claramente esperando uma explicação.
— Não foi minha intenção, senhora Eddina... — sussurro, ainda envergonhada. — É que... o príncipe herdeiro passou por aqui nesse exato momento, e eu estava morrendo de vergonha por causa do que aconteceu no salão... — resmungo, mantendo meu olhar abaixado, sem coragem de encará-la.
Mas, de repente, sinto um calafrio percorrer minha espinha quando Eddina passa por mim e sussurra com a voz baixa e fria:
— Então não se precipite... Você não é a única que possivelmente pode se tornar a futura princesa.
Ela continua caminhando com passos elegantes, deixando para trás um ar gélido e intimidador. Viro o pescoço para olhar, surpresa com a atitude dela.
Bem... ela tem razão em uma única coisa: eu não sou a única candidata a princesa.
Há outras concorrentes neste castelo. E tirando o fato de que o próprio príncipe disse que estava interessado em outras duas garotas — minha colega de quarto e... uma possível inimiga vindo da outra?
Sigo meu caminho em silêncio, ainda tentando entender como Ruby descobriu que sou filha ilegítima do meu pai.
Até mesmo os empregados têm ordens para manter isso em segredo absoluto.
Então paro por um momento e penso...
Existe apenas uma possível pessoa...
Uma única criatura que sempre desejou minha destruição total.
Viva... ou morta.
Se ela mesma foi capaz de matar minha mãe adotiva naquela época — mesmo ninguém sabendo ao certo se foi suicídio ou assassinato —, então tudo é possível.
Desde que Raquel entrou para a matilha Céu Nortuno, ela fez de tudo para me matar. E foi a única pessoa até hoje que conseguiu entrar em outra matilha, mesmo sendo algo quase impossível naquela época.
Até hoje, mudar de matilha é extremamente proibido. Mesmo com todas as matilhas mantendo uma aliança em conjunto com o Rei, nem todas aceitam de bom grado a ideia de se aproximar de outras.
Há gerações, as matilhas vivem em guerra, tentando conquistar novos territórios. Mesmo que essa prática tenha sido abolida pelo próprio rei, ainda existem aquelas que gostam de agir por baixo dos panos, provocando conflitos e iniciando guerras silenciosas, atacando diretamente outras matilhas sem que o rei saiba.
Lembro-me de quando o território da Escuridão Profunda, ao oeste de Céu Noturno, declarou guerra ao nosso território com um único motivo:
Meu pai, o alfa, teria sequestrado um membro da matilha rival.
Ambos os territórios ficam a cerca de cinco horas de distância um do outro. E me lembro claramente da forma como o Alfa Nêmesis, líder da Escuridão Profunda, teve a "gentileza" de enviar uma carta declarando, na cara dura, a possibilidade de uma possível guerra.
Mas essa guerra nunca foi adiante. Não houve sangue. Nem batalhas.
Tudo porque Raquel, membro da matilha Escuridão Profunda, impediu que isso prosseguisse.
Até hoje eu não sei como Raquel impediu que essa guerra continuasse.
Às vezes, fico pensando...
Será que Raquel é irmã do Alfa Nêmesis?
Mesmo tendo visto ele apenas uma única vez na vida, me lembro claramente que ele tinha a mesma cor de olhos de Raquel — um esmeralda profundo, hipnotizante.
Aquela sensação de que ambos são irmãos nunca saiu da minha cabeça.
Não sei como Raquel fez o Alfa Nêmesis mudar de ideia...
Medo de perder meu pai?
Orgulho?
Ou medo de que o Rei descobrisse e tentasse impedir a guerra?
De qualquer forma, no final, tudo terminaria em um banho de sangue.
Ruby, sendo a única filha de Nêmesis, não herdou os olhos esmeralda do pai, mas sim os cabelos pretos. Já os olhos vermelhos como sangue vieram de sua falecida mãe, que naquela mesma época morreu vítima de uma doença grave — uma doença que surgiu de forma misteriosa.
Isso me leva a pensar...
Talvez Ruby Baltazar seja, na verdade, seja uma possível sobrinha de Raquel?
Mas... nunca parei para pensar sobre isso de verdade: O que me leva acre, que Raquel nunca revelou seu verdadeiro sobrenome e qual seria de fato o verdadeiro sobrenome dela?
Ela simplesmente abandonou o próprio nome, o deixando para atrás.
Como se não quisesse mais carregar aquela identidade.
Dou um longo suspiro, já sentindo uma imensa dor de cabeça.
Tudo isso está começando a parecer um verdadeiro absurdo.
Eu nunca fui o tipo de pessoa que pensa demais…
Sempre agi por impulso na maior parte do tempo.
E vocês devem estar se perguntando:
“Como essa garota tem uma imaginação tão fértil?”
Simples.
Eu leio livros de investigação.
Esse é o meu passatempo favorito — meu hobby secreto — quando não estou fazendo absolutamente nada.
Por enquanto, vou deixar essa ideia de lado e seguir meu caminho.
Tem coisas que a gente precisa digerir com o tempo...
Então é isso. Sigo minha vida.
Com aquela sensação estranha no peito de que mais coisas vão ser reveladas em breve.
E talvez...
Eu não esteja pronta para nenhuma delas.