Na visão da Yue Bing, seu primo que nunca pisou numa escola era mais habilidoso com monstros do que os alunos do segundo ano dela.
Sem ter aprendido porra nenhuma de técnica de controle, o cara simplesmente deduziu sozinho como sincronizar com a planta e transferir o comando pra ela. Coisa que era um parto para a maioria dos calouros.
Ele conseguiu fazer a Flor Espinhosa Cuspidora, recém-contratada, cuspir veneno num alvo em segundos. Com um raciocínio rápido e natural daquele, se ele entrasse numa escola, os professores provavelmente teriam um treco e o declarariam um gênio único no século.
Yue Bing olhou para Yue Yang, que estava se remoendo de vergonha por ter errado o alvo. O maior choque dela não era a habilidade dele, mas o fato desse "fracassado" não ter a mínima ideia de quão assustadoramente talentoso ele era.
"Ah, droga..." Yue Yang estava pronto para se esconder num buraco quando viu a planta dele murchar e cair no chão, morrendo.
Um lampejo de informação do grimório veio à tona e ele deu um tapa na própria testa. É claro, seu idiota! A planta tinha gasto toda a energia no [Cuspe Venenoso]. Era como usar todo o mana num feitiço logo de cara.
"Parece que você percebeu", disse Yue Bing, recuperando a pose de professora séria. "Monstros de planta são diferentes. Eles têm uma habilidade especial: Criar Raízes."
Para demonstrar, ela ordenou que a própria Flor Espinhosa cuspisse. O veneno acertou o centro do alvo de lama com precisão cirúrgica, deixando Yue Yang ainda mais envergonhado.
Ela é boa, ele admitiu internamente.
A planta dela então murchou, mas não desapareceu. Em vez disso, caiu no chão e começou a se regenerar lentamente.
"Ordenei que ela criasse raízes. Enquanto estiver tocando o solo, pode recuperar energia da terra. Em dez minutos, ela estará boa de novo", explicou Yue Bing, com ar superior.
"Ah, saquei! Deixa eu tentar de novo!", Yue Yang disse, todo animado.
"Hã?" Yue Bing travou. Tentar de novo? Ele não tinha acabado de fazer um contrato? Um Aprendiz Nível 1 só podia invocar um monstro por dia! A planta dele tinha morrido. O que ele pensava que ia invocar? Ela já estava se preparando para dar uma aula sobre conservação de mana e cuidado com as invocações...
...Quando Yue Yang, concentrado, invocou outra Flor Espinhosa Cuspidora perfeitamente saudável do nada.
"É isso aí! Consegui!" ele comemorou, felizão, ordenando que a nova planta criasse raízes.
Yue Bing quase caiu para trás. COMO?! Questionou a mesma com seu rosto em choque, seu primo não era só um invocador raro, ele tinha um talento quase lendário.
Foi assim que a irmã perplexa e o irmão falso continuaram sua "aula".
"Yue... É realmente verdade que você fez o contrato há poucos dias?", ela perguntou, com sua voz falhando sem conseguir acreditar.
"Sim, ué", ele respondeu, inocentemente.
"E... em que nível você tá? Aprendiz 1, né? Iniciante, Intermediário ou Avançado? Quanto falta pra subir pro 2?", ela insistiu, tentando encontrar uma lógica.
"Aprendiz Iniciante, uai. Subir de nível é difícil pra caramba, pelo que eu entendi." Para provar, ele abriu a página de status do grimório. Nível 1 - Iniciante [Aprendiz].
Yue Bing se sentiu fraca. "Primo... um Aprendiz Nível 1 só pode invocar UM monstro por dia. Como você invocou DOIS?"
"Ah...", ele coçou a cabeça, confuso. "Na verdade, eu não invoquei dois."
"Como assim não?!" ela quase gritou, apontando para a planta perfeitamente viva diante deles. "Tô sonhando?!"
"Essa é a mesma de antes. A que 'morreu'", ele explicou, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
"ELA MORREU! Como você invocou ela de novo hoje?!" Yue Bing estava tão confusa que sentiu como um se cérebro desse um curto circuito. Será que ele era um daqueles gênios anormais de lenda, que podiam burlar as regras básicas de invocação?
"Ah, é que ela não morreu de verdade", Yue Yang tentou explicar. "Na primeira vez, eu meio que... dividi ela. Deixei o 'corpo principal' dela escondido e invoquei só um 'galho'. O galho tem o mesmo poder, mas quando ele 'morre', o corpo principal não é afetado. Claro, fazer isso cansa pra caramba..."
Ele disse isso como se estivesse explicando como consertar uma torradeira.
Yue Bing ficou paralisada, o rosto pálido. O mundo parecia girar.
"O... o... o que você está dizendo?" ela sussurrou, com voz trêmula. "Você... você sabe fazer uma Invocação de Propagação por Divisão?"
Ela mal conseguia respirar. Essa técnica era algo que apenas mestres invocadores de nível Ouro ou superiores supostamente dominavam! Era lendária!
E seu irmão "fracassado", um Aprendiz Nível 1, tinha acabado de fazer isso intuitivamente.
Yue Yang apenas piscou, olhando para a expressão de puro terror e admiração dela.
"É... é isso o nome? Sou tão maneiro agora."
Yue Bing só conseguiu ficar olhando para ele, completamente boquiaberta. Seu primo de fato não era um perdedor.
Ele era um monstro.
Um gênio de um nível que ela só tinha ouvido falar em lendas. Aquele que todos desprezavam, que ela mesma, em seu íntimo, talvez tivesse subestimado, era na verdade um diamante bruto de poder absurdo.
Enquanto olhava para ele, ainda meio confuso com sua própria reação, uma onda de pensamentos invadiu sua mente. Se ele é assim agora, com apenas alguns dias de grimório... como será ele no futuro? O poder que ele liberaria, a posição que alcançaria... ele iria muito, muito longe. Tão longe que alguém como ela, uma viúva considerada "azarada", jamais poderia sonhar em acompanhar.
Seu coração, que já batia rápido pela surpresa, acelerou ainda mais, mas agora por uma razão diferente. Uma pontada de algo quente e proibido surgiu em seu peito. Onde eu estaria nesse futuro brilhante dele? A imagem dela, ao lado dele, não como uma irmã de criação, mas como... não, ela não podia pensar assim. Era errado. Era impossível.
Mas a imagem persistiu: ela, forte o suficiente para ficar ao seu lado, não como um fardo, mas como uma parceira. Alguém que ele olharia não com pena, mas com... desejo?
O rosto dela queimou com a audácia do próprio pensamento. Ela desviou o olhar rapidamente, fingindo se interessar por uma folha no chão, mas o coração parecia querer sair pelo peito, misturada com uma nova camada de admiração e até de uma certa vergonha por tê-lo subestimado.
Ela era uma viúva. Ele era um gênio ascendente. O abismo entre eles era maior do que nunca. Mas, pela primeira vez, em vez de desespero, aquele abismo fez nascer nela uma centelha de determinação. Se ela quisesse ter alguma chance, qualquer chance, de estar naquele futuro ao lado dele, ela teria que se tornar muito, muito mais forte também.
Ela olhou para ele de relance, seu rosto ainda queimando. O coração disparado era de medo, de admiração, e de um desejo que ela não tinha mais como negar.
"Primo..." ela começou, a voz saindo como um sussurro rouco. "Você... você realmente não tem noção do que acabou de fazer, tem?"