A pergunta de Yue Yang fez a bela mulher — Si Niang — estacar. Seu rosto, antes cheio de preocupação, agora mostrava puro choque.
Do ponto de vista dela, abaixo do retrato de Yue Yang no grimório, havia apenas um vazio. Nada. Nenhuma imagem, nenhuma palavra. Mas a expressão dele não era de mentira. Será que ele realmente tinha uma Habilidade Inerente? Uma que ela não podia ver?
"Yue Yang, não minta para mim. Você realmente tem uma Habilidade Inerente? Eu não consigo ver nada! Que tipo de habilidade é essa?" Ela agarrou as mãos dele, sua voz um misto de esperança e descrença, os olhos arregalados.
"Eh... é [Camuflagem]. Minha Habilidade Inerente é [Camuflagem]!" Yue Yang esfregou a nuca, mentindo com uma naturalidade que surpreendeu até ele. Talvez essa história de 'astuto como uma raposa' seja real, pensou, impressionado consigo mesmo.
"É bom que você tenha uma! Nossa, que susto!" Si Niang suspirou aliviada, fechando os olhos por um momento. Suas mãos pálidas pressionaram o peito, como se acalmando o coração acelerado. Todo usuário de grimório despertava uma Habilidade Inerente. Se Yue Yang não tivesse uma, ele seria eternamente marcado como um inútil. Qualquer habilidade era melhor que nenhuma. E uma habilidade invisível como [Camuflagem]... talvez fosse até excelente!
Ela estendeu a mão e afagou seu cabelo, um sorriso genuíno iluminando seu rosto. "Yue Yang, estou tão feliz por você. Com essa [Camuflagem], você certamente irá longe!"
A pequena Shuang, vendo a mãe afagar o irmão, também esticou as mãozinhas para copiá-la. Si Niang, percebendo a travessura, rapidamente a puxou para perto de si.
"Agora, vire a página", Si Niang orientou, acalmando o coração. "Vamos ver sua Besta Guardiã... Shuang, fique quietinha, deixe seu irmão se concentrar. O que é isso? Uma névoa? Tudo branco... Sua Besta Guardiã é do tipo elemental de névoa? Nada mal! Bestas elementais demoram para crescer, mas ficam muito fortes. No início não são tão poderosas quanto as de tipo lutador ou fortalecedor, mas no estágio avançado são formidáveis. Contanto que não seja do tipo especial, está ótimo! Yue Yang, sua Besta Guardiã é muito boa!" Ela bateu palmas, radiante.
Yue Yang ficou perplexo.
O que ele via não era uma névoa branca, mas a sombra escura de uma figura — uma sombra idêntica à sua.
Abaixo dela, a descrição: Sombra Fantasma: Tipo especial, nível 1. Você pode controlar sua própria sombra. Cada sombra terá metade da sua força. Sombras podem ser unidas para aumentar seu tamanho.
Ele tocou a imagem. Uma luz dourada brilhou sob seus dedos e um conhecimento instintivo sobre invocações preencheu sua mente. Ele entendeu, então. Neste mundo, até guerreiros comuns podiam aprender a invocar uma ou duas feras, mas estavam limitados a um ou dois contratos. Um usuário de grimório, porém, não tinha limites. Cada página do livro podia selar um contrato.
A verdadeira vantagem, porém, era a Besta Guardiã. Diferente das feras comuns, ela nunca morreria ou trairia seu mestre. Cresceria com ele, tornando-se mais forte à medida que seu poder ou o nível do grimório aumentasse.
"Eh?" Yue Yang tentou invocar a sombra, mas nada aconteceu. A memória infundida em sua mente explicou: faltava mana. Invocar a [Sombra Fantasma] custava dez vezes mais mana que uma besta normal.
"O que foi?" Si Niang perguntou, preocupada com sua expressão confusa.
"Nada. Só não tenho mana suficiente para invocá-la agora." Yue Yang balançou a cabeça, uma decisão se formando em seus pensamentos. Esta Besta Guardiã precisa ser um trunfo secreto. Não devo mostrá-la a ninguém tão cedo.
"Não se preocupe. Invocar bestas elementais consome muita mana no início. É normal não conseguir de primeira. Ela vai te ajudar quando você evoluir!" Si Niang rapidamente o consolou.
"Claro, vou treinar duro para invocá-la logo!" Yue Yang concordou, mas sua mente estava em outro lugar.
Além do custo exorbitante de mana, ele descobriu outra coisa ao sintonizar sua conexão com a sombra: a duração da invocação.
Um guerreiro normal mantinha uma fera invocada por uma hora. Talentos podiam chegar a três ou até cinco horas. Sua [Sombra Fantasma], porém... podia durar dez dias.
"Yue Yang", ela disse, seu tom mais sério. "Bestas Míticas são poderosas demais para fazerem contrato com um invocador iniciante. Não ponha sua mente nelas agora. Foque em treinar, em aumentar sua mana... Este ano talvez seja tarde, mas no próximo, seu tio e eu te colocaremos numa boa escola. Você precisa se esforçar. Eu sei que você vai conseguir!"
"Sim, sim." Yue Yang enxugou o suor frio da testa. Por pouco.
Depois que Si Niang, de humor leve, e Shuang, relutante, saíram do quarto, Yue Yang finalmente pôde respirar aliviado.
Ele havia conseguido. Mantivera sua fachada. Ela não desconfiou que ele era uma farsa. Mas uma pergunta ecoou em sua mente, trazendo de volta um frio à espinha: E agora? O que vai ser de mim daqui para frente?
A curto prazo, ele tinha se saído bem. Mas e depois? Quando o tal Tio ou outros parentes aparecessem e ele não os reconhecesse, o jogo estaria pronto. Desesperado, Yue Yang revirou o quarto do infeliz que se afogou, procurando por algo — um diário, uma carta, qualquer coisa — que o ajudasse a se passar pelo cara.
Depois de virar o quarto de ponta-cabeça, ele encontrou um diário. Mas foi uma decepção.
O sujeito só tinha escrito sobre meditação para invocação e anotações de treinamento de uma tal Técnica da Lança da Família Yue.
O que ficou claro foi que o falecido não era um preguiçoso. Pelo contrário, era esforçado pra caramba. Ele treinava a técnica de lança em segredo, querendo surpreender todo mundo no dia em que finalmente conseguisse fazer o contrato com o grimório. Foi aí que Yue Yang entendeu porque todo mundo o subestimava.
A tal Técnica da Lança era o braço forte da família, especialmente quando combinada com uma Fera de tipo lutador. O problema? Metade do manual tinha sido perdido séculos atrás, num rolo que envolvia o assassinato de um ancestral poderoso. Mesmo pela metade, ainda era uma técnica respeitável, e o pai do falecido tinha sido um gênio raro que dominou ela.
"Técnica de Lança, huh..." Yue Yang sabia o básico. Todo mundo dizia que lança era a arma mais difícil de masterizar. Levava uma vida inteira. E pelo visto, o dono original do corpo estava longe de ser um mestre.
Yue Yang decidiu pular a aula de lança por enquanto. Ele precisava de poder rápido, não de uma habilidade que levaria décadas para aprender. Além do mais, nesse mundo, invocação era o que mandava. Por que alguém se mataria treinando com uma arma por anos se podia invocar um lobo de fogo ou uma cobra gigante que fazia o trabalho em segundos?
Armas eram tipo artes marciais: legais, mas ultrapassadas. A invocação era um AK47 – muito mais eficiente.
A única coisa útil que ele tirou do diário foram os nomes de dois caras que odiavam o falecido:
Yue Yan: Um primo invejoso que perdeu a chance de noivar com a garota da Família Xue por dias de diferença de nascimento e ficou puto da vida por isso.
Xue Qian Ren: O filho do prefeito, um gênio que mostrou talento aos 6 anos e fez contrato com um grimório aos 10. O cara foi rejeitado pela garota da Família Xue... e depois ela também dispensou o noivo original (o falecido). Ou seja, ódio duplo.
"Que vida complicada", Yue Yang resmungou. O cara não só perdeu a mina como ganhou dois inimigos de quebra.
Ele chegou a uma conclusão simples e moderna: "Mulheres são que nem poder: só é problema se você não tem. Se você é fodão, elas vêm atrás."
A garota da Família Xue tinha dado o fora porque o cara era considerado um fracasso. Se ele fosse um Imperador, um bilionário ou um influencer famoso, ela estaria correndo atrás. A moral da história era clara: foco em ficar rico e poderoso primeiro. O resto vem depois.
Enquanto devaneava com isso, Yue Yang foi pegando no sono.
Naquele limiar entre a vigília e o sonho, ele se viu de volta naquele espaço mental onde tinha feito o contrato com o grimório. Lembrou-se da espada voadora dourada que tinha roubado do sacerdote e, como num passe de mágica, ela se transformou.
Não era mais uma arma. Era uma deusa.
Uma mulher de beleza estonteante, vestida em branco celestial, dançava com uma graça que fazia seu coração acelerar. Fitas brancas flutuavam ao seu redor, e seus movimentos eram tão fluidos que pareciam desafiar a gravidade. Yue Yang ficou hipnotizado, a boca quase babando. "Nossa... que mulherão."
A dança era linda, mas então as coisas ficaram sérias. A deusa parou de dançar. Seus dedos longos e delicados se moveram no ar e — ZAP — uma espada de energia pura, tão brilhante que doía os olhos, surgiu do nada. O poder que emanava dela era assustador, capaz de fatiar montanhas.
De repente, ela virou. Num instante, estava diante dele, tão perto que ele podia sentir uma energia elétrica no ar. Seu dedo, que momentos antes conduzirá uma dança, agora apontava para sua testa como uma arma carregada, concentrando um poder capaz de apagar ele da existência.
"AH!" Yue Yang acordou num pulo, suando frio e com o coração batendo a mil. Ele olhou em volta, desorientado. Era só um pesadelo.
Mas não era só um pesadelo.
Enquanto a adrenalina baixava, um conhecimento novo e estranho se acomodou em sua mente, como se sempre tivesse estado lá. Um nome ecoou em seus pensamentos, tão claro quanto o dia: "Qi Inato da Espada Invisível..."
Era um nome que prometia poder. E, mais importante, era dele.