Ficool

Chapter 1 - Capítulo 1 – Quem sou eu

Bem… olá a todos.

Meu nome é Celestia Addans.

Tenho, digamos… quase quinhentos anos de idade.

Estranho eu estar me apresentando, não? Ou talvez não. Nunca vou saber exatamente o que você — pessoa aí do outro lado da tela — está pensando. Tudo o que posso fazer é contar a minha versão. Do meu jeito. Do começo.

Sim, esta é a minha história. E, acredite, ela está longe de ser comum.

Eu sou a filha ilegítima do alfa, líder da matilha Céu Noturno.

Meu suposto pai — porque, convenhamos, ele nunca fez questão de me reconhecer — teve um caso com uma mulher que, dizem, seria a minha mãe. Nunca a conheci.

Tudo o que sei é que ela me abandonou logo após o parto… me deixando jogada aos pés da mesma matilha de onde ele comandava.

Desde então, eu cresci à margem. Como um erro que ninguém teve coragem de apagar… mas também não ousaram aceitar.

Um erro.

Um erro grave, diziam alguns.

Mas mesmo sendo a mancha mais escura na história do meu pai, eu fui criada pela sua esposa legítima, a companheira dele: Elisa Maribel.

Uma mulher forte, respeitada… e estéril.

Talvez por isso tenha me acolhido. Por nunca poder gerar um filho próprio. Ou talvez, quem sabe, por piedade. Mas seja qual for o motivo… ela me amou. Com todas as forças.

Mesmo eu sendo o símbolo vivo da traição do seu companheiro.

Ela cuidou de mim durante toda a minha infância, me protegeu dos olhares tortos, das línguas afiadas da matilha… até o dia em que morreu.

Ou melhor dizendo… até o dia em que foi encontrada.

Destroçada.

Jogada na margem de um penhasco, o corpo completamente desfigurado, e a ponta de uma rocha atravessando seu crânio como uma lança cruel.

Disseram que foi suicídio.

"Depressão", afirmaram. "Não suportou a dor de saber que seu companheiro teve um caso com uma humana."

Uma desculpa conveniente demais.

Afinal, naquela época, uniões com humanos eram proibidas — consideradas crime pela própria coroa dos lobos. Mas como o caso do meu pai foi abafado, e Elisa não tinha provas… não houve denúncia.

Só boatos.

E uma morte cercada de silêncio.

Alguns sussurravam que ela própria espalhou o rumor antes de morrer. Outros… outros acreditavam que foi ele quem a matou.

Para silenciar a verdade.

Você deve estar se perguntando, querido leitor…

"Como assim a Elisa não tinha provas, se você mesma era a prova viva da traição?"

Bem, acho que me esqueci de contar um pequeno detalhe. Um insignificante detalhe de centenas de anos atrás.

Naquela época, não existia teste de DNA, nem exames de linhagem mágica, nem rastreio de sangue puro e impuro.

E eu? Eu era só uma criança deixada na porta da matilha com os olhos do pai… e o silêncio da mãe.

Nada que pudesse ser usado como prova oficial contra um alfa poderoso.

Agora, se isso tivesse acontecido no século XXI, aí sim. Bastaria uma gota de sangue e pronto: escândalo real, julgamento público e talvez até a cabeça do meu pai numa bandeja.

Mas claro, isso é só um pensamento frustrado de quem vive no século XXI agora…

Isso mesmo, querido leitor.

Eu, Celestia Addans, filha ilegítima do grande alfa idiota da matilha Céu Noturno, estou a caminho da sala dele.

Motivo? Nenhuma ideia.

Só sei que ele enviou um de seus subordinados mais "confiáveis" — seu braço direito — para me buscar pessoalmente.

E é claro que esse braço direito tem nome.

Eike.

A peste do Eike tem a mesma idade do meu pai: três mil anos.

Isso mesmo. Três mil. Anos.

Você acredita? Porque eu não. Cada passo dele à minha frente parece carregar um peso ancestral de arrogância e tédio.

— Estamos chegando, princesa — ele diz com aquela voz grossa e arrastada.

Princesa.

Que ódio desse apelido.

Sim, você ouviu certo.

"Princesa."

Ele me chama assim com a cara mais lavada do mundo — puro sarcasmo, claro.

Minha mãe adotiva me chamava de princesa quando estava viva, com carinho, como se eu realmente fosse importante pra ela.

Já o Eike?

Ele sempre usou esse apelido pra zombar de mim, especialmente quando Elisa não estava por perto.

Andava atrás de mim como uma sombra maldita, e em cada oportunidade me soltava um "princesa" com aquele sorrisinho cínico e as sobrancelhas arqueadas.

Até que chegou a adolescência.

E eu, querida leitora ou leitor, meti o cacete nele.

Sem arrependimentos.

Lutamos quase até a morte. Eu sangrei, ele sangrou mais. E como lembrança daquela bela noite ensolarada de caos, eu deixei uma cicatriz perfeita no rosto dele.

E de brinde… arranquei o olho dele.

Desde então, o caolho usa um tapa-olho preto, todo misterioso, como se isso fosse deixá-lo mais intimidador.

Eu?

Sempre que posso, dou uma piscadinha lenta só com o olho esquerdo, como quem diz: “Olha só o que eu tenho e você não.”

Ele odeia.

E eu? Amo.

É meu passatempo favorito, principalmente durante reuniões importantes com outras matilhas ou na frente do próprio rei dos lobos.

Meu pai, claro, detesta.

Diz que é uma atitude infantil. Eu digo que é ter bom gosto na hora de provocar quem merece.

Depois de alguns minutos caminhando por aquele corredor interminável, finalmente chegamos diante da porta da sala do líder — ou melhor dizendo, do meu pai idiota.

E é claro que o palhaço do Eike fez questão de anunciar minha chegada com o maior prazer do mundo.

— Líder, sua filha está aqui — ele disse, com aquele tom irritante e um sorrisinho no canto da boca, quase debochado.

E o olhar dele, ah… aquele olhar de canto, direto pra mim. Como se quisesse me cutucar só pra ver até onde eu aguentava.

Obviamente, eu não perdi tempo.

Virei de leve o rosto e fiz minha famosa piscadela provocativa, bem lenta, bem descarada.

Vi, com imenso prazer, a veia pulsando na testa dele.

Ele revirou o único olho que restava, resmungou algo entre os dentes e mexeu a cabeça de um lado pro outro, como se estivesse tentando se controlar.

Que fofo.

Coloquei a mão na maçaneta.

E antes de entrar completamente, me virei de novo — só por capricho, claro — olhei direto pra ele…

E dei outra piscadinha.

Essa doeu.

Ele travou o maxilar, cerrou os punhos, e aquela veia quase saltou da pele.

— Um dia eu ainda vou te enterrar viva, Addans — ele murmurou baixo, mas o suficiente pra eu ouvir.

Sorri.

— Vai precisar dos dois olhos pra isso, caolho.

E entrei.

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