East Blue.
Vilarejo Syrup.
— Senhorita, já é hora de descansar.
Ficar acordada até tarde faz mal à saúde.
Mesmo estudando medicina, é preciso avançar aos poucos. —
O mordomo Klahadore (na verdade, o pirata Kuro) estava ereto diante de Kaya, vestido com seu terno preto habitual.
— Está bem, Klahadore. Só mais um pouco e eu irei descansar. — respondeu Kaya com um sorriso suave, sentada no sofá.
— Nesse caso, ficarei aqui ao lado. Se precisar de algo, basta pedir. —
Ele deu um leve aceno de cabeça e foi até a janela, ficando parado imóvel como uma estátua.
Kaya sorriu, sentindo-se tranquila.
Acreditava que Klahadore apenas estava preocupado com sua saúde frágil e ficava de vigia para protegê-la.
Isso a enchia de gratidão — e também de culpa.
Desculpe, Klahadore… não posso contar nada sobre a cópia do diário. Mas se fosse você, certamente entenderia.
Após um olhar demorado ao mordomo, ela voltou-se para o livro de medicina em suas mãos.
Por fora, parecia concentrada na leitura.
Mas, na verdade, seu coração ansiava pela próxima atualização do Diário de Viagem de Victor.
Victor conhece o passado e o futuro… Ele deve conhecer também as ilhas desse mundo, seus povos e costumes.
Talvez um dia registre tudo isso no diário… E assim eu poderia "viajar" sem sair deste lugar.
Frágil demais para sequer passear fora da mansão, Kaya sempre se sentiu presa.
As histórias de Usopp traziam algum alívio, mas continuavam sendo apenas histórias.
Já o diário era diferente: mostrava o mundo real.
Por isso, mesmo quando Victor escrevia coisas embaraçosas e mostrava aqueles quadrinhos estranhos, Kaya não conseguia largar o diário.
Seria melhor se ele não escrevesse esse tipo de coisa…
Como pode desenhar tais cenas sem minha permissão?
Só de lembrar, seu rosto ficou vermelho como uma maçã.
Murmurou um resmungo tímido e abriu novamente o diário.
— Ah! Tem conteúdo novo! — pensou, com o coração acelerado.
Mas seu alívio logo virou apreensão:
uma foto mostrava Carina sendo capturada pelos Piratas do Gato Preto.
O quê?! Carina foi pega?
Mas… Victor não é poderoso? Como isso aconteceu ao lado dele?
O olhar aflito de Carina na imagem fez o coração bondoso de Kaya se apertar.
Ela fixou-se nas linhas que surgiam a seguir:
[No fim, ladrão é ladrão. Quem tenta se juntar a mim só mente.]
[A retribuição chegou: mal saiu ao mar e já foi capturada pelos Piratas do Gato Preto.]
[E pior: eles já a conheciam, pois Carina os enganara antes.]
[Nessa situação, mesmo alguém inteligente como ela não tem como escapar sozinha.]
[Provavelmente será trancada em um barril de madeira e jogada no fundo do mar.]
Ela deixou Victor?! Como assim?!
E agora vai ser afundada no mar?! Não pode ser…
As mãos de Kaya tremiam.
Para ela, apesar dos erros de Carina e dos pecados de Victor, os dois já eram como os protagonistas de uma história que acompanhava dia após dia.
Não queria vê-los morrer.
— Senhorita Kaya, está com frio? Deseja que eu feche a janela? — perguntou Klahadore, notando seus tremores.
— N-não… não é isso. Estou bem. — respondeu Kaya, respirando fundo e voltando os olhos ao diário.
Para Klahadore, ela parecia apenas concentrada em um livro de medicina.
É inútil estudar tanto, menina. — pensou o mordomo em silêncio. — Logo, toda a sua fortuna será minha. E você poderá se reunir com seus pais mortos.
Seus olhos brilharam friamente enquanto voltava à posição rígida diante da janela.