O julgamento dos Piratas do Gato Preto
— "Zan… Capitão Jango, nós somos velhos conhecidos."
Carina forçou um sorriso embaraçado, a voz trêmula.
— "Não precisa dizer coisas tão assustadoras, não é?"
Naquele instante, ela se arrependeu mais do que nunca de ter fugido do lado de Victor.
— Se eu tivesse ficado, pelo menos não estaria agora diante de um barril prestes a virar meu túmulo no fundo do mar…
Jango ergueu o anel hipnótico diante do rosto dela, os olhos semicerrados.
— Velhos conhecidos? Sim, de fato. Mas não velhos conhecidos de amizade.
— Você nos traiu, Carina. E o destino de quem trai piratas… você já sabe qual é.
Carina sentiu o estômago se revirar. Ela conhecia a fama de Jango, seu hipnotismo era implacável — se caísse sob ele, morreria sem sequer perceber.
— "Espere! Capitão Jango, me dê mais uma chance!" — Carina implorou, desesperada.
Mas Jango apenas balançou o anel, contando friamente:
— Três… dois…
Os homens ao lado dela encostaram as lâminas em seu pescoço, forçando-a a manter os olhos abertos. O suor frio escorria por sua pele.
— Acabou. É o fim…
O desespero já dominava seu olhar, quando uma voz ecoou na noite:
— "Precisa de ajuda, Carina?"
Foi como um trovão partindo os céus. O som que antes temia tornou-se, para Carina, música divina.
No instante seguinte, o pirata que mantinha a lâmina em seu pescoço foi lançado como um projétil contra o casco do navio. O impacto abriu um buraco na madeira, e vários tripulantes caíram gritando no mar.
— "Vi… Victor?!" — Carina arregalou os olhos, lágrimas brotando.
Victor desceu do mastro com calma, a silhueta recortada pela lua. Um leve sorriso se desenhou em seus lábios.
— Isso mesmo. Sou eu. Precisa de ajuda? Esses piratas não parecem muito amigáveis.
Carina desabou, agarrando-se à perna dele com força.
— Sim! Victor, por favor, me salve! Eu… eu nunca mais vou fugir!
Victor suspirou, passando a mão pela cabeça dela.
— Você está toda molhada de lágrimas e saliva, garota. Vamos conversar sobre isso depois. Agora, preciso lidar com eles.
Os olhos de Jango e dos demais brilharam de ódio. Buchi, o grandalhão mascarado de gato, rugiu e saltou contra Victor.
— Você cometeu o maior erro da sua vida!
Victor nem pestanejou. Um clarão frio cortou o ar — sua lâmina saiu da bainha com velocidade impossível.
O corpo de Buchi congelou no ar por um instante… antes de se partir ao meio em pleno salto. O sangue espirrou sobre os piratas próximos, que recuaram horrorizados.
Carina tapou a boca, assustada. Mesmo sabendo da força de Victor, ver Buchi — que momentos antes a arrastara como uma boneca de pano — ser derrotado com apenas um golpe a deixou em choque.
— E eu fugi de um homem desses…? — pensou, o coração apertado. — Quando isso acabar, será que ele vai me castigar… como nos livros que ele desenhou?
O diário brilhou diante dela. Novas linhas surgiam na cópia em suas mãos. Ao ver as palavras e a foto registrada de sua própria situação, Carina sentiu o peito apertar e um sorriso amargo escapar.
— Ele sabia desde o começo… eu nunca consegui escapar de verdade.
Seus lábios tremeram. E então, corando, pensou:
— Talvez, se eu o acalmar como no livro… ele me perdoe.