Ficool

Chapter 11 - soco primeiro, jantar depois!

Logo, os demônios desapareceram, apagando seus rastros e a energia sombria que os envolvia.

— Maldita raça demoníaca… só serve pra dar trabalho mesmo — resmungou o desconhecido.

Kenji, tentando descontrair, chamou:

— Dá licença, tio!

— Moleque, você ainda tá aí? Vai pra casa já, o show acabou hoje — respondeu o desconhecido, afastando-se em meio à neblina que começava a baixar, refletindo suavemente os cristais de mana dos postes de pedra num brilho azul opaco.

— Então, tio, por que mesmo você tava atrás deles? — insistiu Kenji.

— Ah, cara… na real eu tava de boa comendo um ramen ali na tenda do velho Juro quando, de repente, rolou uma explosão na rua. Eram aqueles malditos correndo atrás de uma garota de capuz azul — explicou o desconhecido.

Kenji pensou por dentro: (Uma garota de capuz azul? Igual àquela que eu vi mais cedo…)

— Não vi muita coisa, só percebi que, quando me dei conta, eles já tinham derrubado minha comida. Fiquei puto e ia dar uma surra neles, mas aí você apareceu e bagunçou tudo — completou o desconhecido.

— Eu? Por que eu? — perguntou Kenji, confuso.

— Você acha mesmo que eu não acabei com eles só porque eram fortes? — replicou o desconhecido. — Demônios são traiçoeiros e covardes na hora da morte. Quando ataquei o líder, os outros dois se voltaram contra mim. Um deles tava de olho em você — devia querer te usar como escudo ou cobaia — pra eu não ir com tudo contra eles. Mas o líder percebeu que os subordinados iam morrer e, pelo que vi, o foco deles não era a gente. Provavelmente ia ficar só eu e o líder na luta depois que você e os outros caíssem. Só que eu não faço o tipo de matar um fracote como você pra alcançar meus objetivos.

— Mas eu vi o senhor acertando o soco de primeira no demônio! — exclamou Kenji, surpreso.

— Demônios de nível alto usam a aura pra se proteger. Como o nível de aura deles é maior que o dos humanos, não economizam na proteção. E, na hora que eu acertei, ele também me acertou. Mas eu concentrei a aura no ponto de impacto pra evitar dano — explicou o desconhecido, apontando discretamente para o braço enfaixado.

— Ei, senhor, você é incrível!

— Bom, isso já não importa. Eles fugiram e agora tô puto porque tô morrendo de fome. Até mais, garoto, tô indo — disse o desconhecido, sumindo na bruma.

— Senhor, espere! — chamou Kenji.

— Hum… o que foi? — retrucou o desconhecido, virando-se com leve irritação.

— Por favor, me torne seu discípulo — implorou Kenji, curvando-se.

Surpreso, o desconhecido soltou uma gargalhada:

— Hahaha, garoto, você é maluco, não é? O que um magricelo como você conseguiria fazer se desse de cara com esses monstros? E, sinceramente, não tô afim de te ver morrer.

Num piscar de olhos, o desconhecido sumiu, deixando Kenji sozinho. Frustrado por não ter tido a chance de mostrar seu valor, o garoto seguiu em silêncio, os passos ecoando na calçada de pedra molhada.

---

Na manhã seguinte, os primeiros raios de luz alaranjada atravessavam as frestas do teto de madeira da casa de Kenji. Ele saiu cedo e foi até o armazém para adiantar o serviço que o senhor Tomoji faria após sair do hospital. Passou o dia organizando os destroços da luta e a bagunça deixada pelos bandidos.

Ao fim do expediente, decidiu sair em busca de peças de metal. Desta vez, cruzou os limites da vila — uma vila pacata, com pequenas construções de pedra e madeira, e poucos comerciantes reunidos em volta da praça iluminada por postes com cristais de mana — e seguiu por uma estrada de terra batida.

Algumas horas depois, encontrou três carroças de metal quebradas, abandonadas em frente a uma cabana coberta de musgo, escondida parcialmente por árvores. Ao se aproximar, uma voz aguda e determinada o interrompeu:

— Não se aproxime! Mais um passo e eu atiro!

Uma garotinha surgiu na porta da cabana, os braços trêmulos segurando uma espingarda antiga — de origem duvidosa e manutenção precária. Os olhos estavam arregalados, mas o queixo não tremia.

Assustado, Kenji levantou as mãos:

— Não faça isso, por favor! Eu sou só um coletor de ferro-velho. Vi essas carroças e pensei que poderia levá-las.

A menina respondeu com firmeza:

— Não te perguntei nada, magricelo! Não se mexe ou eu atiro!

— Por favor, não — implorou Kenji, dando um pequeno passo à frente.

A garota não hesitou. O disparo ecoou pelo campo vazio. O recuo da arma foi tão forte que ela voou para trás, caindo no chão de terra batida.

Preocupado, Kenji correu até ela.

— Tá tudo bem?

— Ai… minha cabeça! Essa doeu! — respondeu, esfregando a testa com careta de dor.

— Se cuida, hein. Essas brincadeiras são perigosas demais. Meu nome é Kenji Tatsuya, prazer — disse ele, oferecendo a mão.

— Ah, obrigada, moço. Eu sou Yuna Sato. Na real, achei que você fosse um demônio — disse Yuna, agora mais relaxada, com um sorriso tímido.

— Bom, não seria a pior coisa se me comparassem a um demônio, haha!

— Ei, pode entrar. Minha mãe tá lá dentro e ela adora conversar com gente nova — chamou Yuna.

Kenji hesitou, mas o tom caloroso da garota o convenceu. Seguiu até a porta da cabana, onde uma mulher de aparência cansada, porém gentil, os recebeu com um sorriso fraco.

Mesmo já sendo noite e a luz dos cristais de mana começando a enfraquecer lá fora, ele foi convidado a ficar — e, por um instante, sentiu que talvez aquele encontro tivesse algo especial reservado.

More Chapters