Ficool

Chapter 17 - Chamas de um fruto prometido.

Kenji manteve-se imóvel por um instante. Seus punhos cerrados tremiam, e o peito arfava com dificuldade. Sentia o peso do combate, da frustração e da impotência ao ver que Midori resistira a quase todos os seus ataques. Fechou os olhos e inspirou fundo, buscando silêncio em meio ao caos. Os sons ao redor — o crepitar das chamas, os gritos distantes, o farfalhar de estruturas rachadas — desapareceram em sua mente.

Dentro de si, Kenji visualizou sua aura como um rio calmo. Porém, em segundos, aquilo se transformou numa correnteza descontrolada, caótica. “Matar... matar... matar”, murmurava sua consciência, como um tambor de guerra dentro da alma. Seu ódio, seu medo, sua vontade de sobreviver e proteger todos à sua volta — tudo se condensou em uma aura intensa, azul e flamejante, que começou a pulsar ao seu redor com uma força bruta e indomável.

Midori, observando de longe, estreitou os olhos.

— Hmph… então decidiu desistir de viver?

Kenji não respondeu. Em um surto explosivo de energia, avançou com um soco carregado de toda a sua força e aura. Midori, surpreendido pela súbita aceleração, instintivamente revidou com o próprio punho. Quando os golpes se encontraram, o choque gerou uma explosão avassaladora. Um estrondo ecoou por todo o vilarejo, fazendo as casas de barro estremecerem e as janelas racharem.

A força liberada lançou Kenji contra uma carroça de madeira próxima, quebrando-a em pedaços. Midori foi arremessado em direção a uma parede antiga, afundando parte do reboco. No solo de terra batida, uma cratera se formou no ponto do impacto, cercada por fragmentos de pedra e madeira estilhaçada. O mercado ao redor, feito de estruturas simples e lonas esticadas, foi parcialmente destruído.

O ar se encheu de poeira, brasas e tensão. Algumas árvores no entorno, enraizadas perto de cercas de madeira, haviam se partido ou queimado pelas faíscas das auras. Moradores escondidos em suas casas de adobe espiavam com medo, temendo que o combate chegasse até eles. Era como se o centro daquele pacato vilarejo tivesse se transformado num campo de guerra.

Midori se ergueu entre os escombros, com o rosto ferido e a expressão tomada pela fúria.

— Seu desgraçado…! — rosnou, avançando sobre Kenji, que jazia inconsciente entre pedaços de lona e sacas rasgadas do armazém.

Antes que o golpe fatal fosse desferido, uma figura surgiu com velocidade assombrosa. O desconhecido apareceu entre os dois, bloqueando o ataque com sua espada, cuja lâmina pulsava sob a luz avermelhada da lua.

— Muito bem, garoto — disse o desconhecido, olhando para Kenji no chão.

Depois fitou Midori.

— Agora, basta.

Midori hesitou por um segundo, surpreso.

— Ele me atingiu! Eu exijo retaliação!

— Você foi ferido porque subestimou a força de alguém que luta com propósito — respondeu o homem, com voz firme. — E você perdeu o controle.

Nesse instante, o ambiente esfriou. O tempo pareceu congelar quando uma presença pesada tomou conta do local. Das sombras entre as construções chamuscadas, surgiu Lady Hannya. Usava um manto longo e escuro, e sua aura parecia sufocar até mesmo o ar. A terra batida onde ela pisava parecia se curvar à sua presença.

— Midori… — disse ela com frieza — vejo que perdeu a compostura.

O demônio imediatamente se ajoelhou.

— Mil perdões, milady.

Ela se virou para o desconhecido e observou Kenji desmaiado ao fundo.

— Esse garoto… quem é para você?

— Hoje ele é meu aluno — respondeu ele, sem hesitar.

— Então treine-o bem. Kenji, dentro de três meses, vá para o norte, além das florestas abandonadas. Lá enfrentará três provações: lutará contra seis adversários e poderá levar dois companheiros. Se vencer, um desejo lhe será concedido — dentro da hierarquia demoníaca.

— Que exagero… — comentou o homem, erguendo a sobrancelha.

— Gosto de desafios. Para mim, todos vocês ainda são só ratos indefesos. Não compensa caçar minha presa ainda em um estado tão deplorável. Treine e volte depois desse tempo para aí sim ser uma caça digna — declarou ela, virando-se.

— Vamos, Midori.

Num piscar de olhos, ambos desapareceram, deixando apenas o calor da tensão que haviam trazido.

Yuna, saindo dos escombros do armazém com o pai, perguntou com receio:

— E agora… o que acontece com Kenji?

O desconhecido responde — agora revelado pelo desconhecido — se aproximou e ergueu o rapaz desacordado com cuidado.

— Vamos levá-lo. Ele provou que tem o que é preciso. E eu o farei forte o suficiente para esmagar esses demônios arrogantes.

Kenji, com os olhos semicerrados e o corpo enfraquecido, sussurrou:

— Eu… consegui?

O desconhecido sorriu, e disse — Conseguiu, sim. E, a propósito… meu nome é Toshiro Kimimoto. Seu novo treinador.

Com isso, eles deixaram para trás um vilarejo ferido, mas um futuro forjado nas chamas do desafio.

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