Ficool

Chapter 10 - caçados ou caçadores?

— Prometo! — respondeu Kenji, com firmeza.

— Beleza, vou ver o que posso fazer pra te ajudar a treinar — disse Ryota, meio desanimado, mas com uma faísca de esperança.

— Sério? — perguntou Kenji, com um sorriso.

— Sim… mas sem arrumar confusão até eu ter alguma novidade, beleza? — alertou Ryota.

Os dois riram juntos, mesmo que meio nervosos.

No caminho pra casa, Kenji caminhava exausto pelas ruas de terra batida, ladeadas por casas de madeira com telhados de palha escura. A iluminação vinha de postes de pedra com cristais de mana nas pontas, brilhando em azul pálido, tremeluzente — estrelas presas em gaiolas. Essas luzes mágicas mal afastavam as sombras, projetando formas distorcidas nas paredes e nos becos silenciosos.

Tentava esquecer o dia tumultuado, sentindo o corpo pesar a cada passo. De repente, uma explosão ensurdecedora rompeu o silêncio, sacudindo o chão e lançando uma onda de poeira e calor pela rua. Um clarão alaranjado iluminou o céu por breves segundos, vindo do setor abandonado da vila.

— O que foi isso?! — exclamou Kenji, arregalando os olhos.

Sem pensar, disparou em direção ao local da explosão. Correu por vielas estreitas, atravessou um campo de vegetação seca e entrou numa parte esquecida da vila — celeiros antigos, pedra rachada, armazéns sem uso. O ar cheirava a fumaça; a poeira pairava densa, arranhando a visão.

Ao virar a esquina entre dois templos abandonados, próximos a uma colina no lado norte da vila, viu o estrago: telhas estilhaçadas, estacas de madeira queimadas e, no centro, um homem encostado numa parede semidestruída, coberto de poeira e sangue. O corpo dele estava parcialmente soterrado por escombros; os cristais de mana haviam sido partidos, deixando tudo em sombras e no brilho laranja de brasas.

— Ei, moço! Você tá bem? O que aconteceu aqui? — gritou Kenji, ofegante, aproximando-se com cuidado.

O homem moveu a cabeça devagar e murmurou:

— … Fome…

— Hã? Não entendi… pode repetir?

Irritado, o homem ergueu a voz:

— FOMEEEEE! EU JÁ TE DISSE QUE ESTOU COM FOME!

— Ei, calma aí, não precisa gritar na minha cara. — Kenji franzindo o cenho.

— Moleque, já falei três vezes! — rosnou o homem, exasperado.

— O que rolou aqui? De onde veio essa explosão? E por que você tá tão machucado? — insistiu Kenji.

Desconfiado, o homem apertou os olhos:

— Quem é você? Como apareceu aqui do nada?

— Meu nome é Kenji. Ouvi a explosão e vim ajudar.

— Então você é metido a herói, é isso? — o desconhecido disse, com desdém.

— Não é nada di— — Kenji começou, mas foi cortado.

Num movimento tão rápido que Kenji mal acompanhou, o homem esticou o braço ao lado da cabeça dele.

— O que você tá fazendo?! — Kenji recuou, surpreso.

— Garoto, você é burro ou tá fingindo? — retrucou o desconhecido. — Nem vê quando tão tentando te matar?

Kenji olhou pro lado e viu o braço esquerdo do homem empunhando uma espada que pulsava energia demoníaca — do tipo que derruba alguém da categoria B com facilidade.

— De onde essa espada surgiu? — Kenji perguntou, atônito.

— Agora entendeu o que tá rolando, né, garoto? — o desconhecido respondeu, seco.

Kenji virou o olhar para trás e avistou três demônios de categoria A se aproximando entre poeira e destroços, as silhuetas fechando o cerco.

— O que vocês querem? — perguntou, espantado.

— Não tão vendo que esse homem tá ferido?

Uma risada sinistra cortou o ar.

— Hahaha… ei, garoto, quem você acha que tá ferido? — zombou o desconhecido.

Sem hesitar, ele avançou. Num rasgo de velocidade, desferiu um soco que arremessou um dos demônios longe, quebrando uma parede no impacto.

Um dos que restaram tentou se recompor e rosnou:

— Você é forte… mesmo pra um humano. Mas não subestime aqueles que escravizaram sua espécie patética.

Kenji pensou consigo mesmo:

(Como esses demônios falam nossa língua…? E esse aí é categoria A? Poxa… tá em outro nível.)

Os dois demônios restantes se aprontavam pra atacar quando o arremessado voltou, sacudindo as roupas chamuscadas:

— ESPEREM! Não matem esse humano ainda. O que queríamos já fugiu. Se causarmos mais tumulto, podem aparecer outros indesejados. Mas eu não vou esquecer sua cara, humano. A gente se vê de novo… E você, garoto, nosso reencontro vai acontecer antes do que imagina.

— Ei, demônio, o que te faz pensar que vou deixar você sair assim?! — o desconhecido rebateu, olhos em brasa.

Kenji pensou:

(Caramba… esses demônios devem ter feito algo muito ruim pra ele estar tão puto assim…)

— Hahaha, você é mesmo engraçado, humano. Relaxa: nosso reencontro vai rolar bem antes do que você imagina… — disse o demônio, rindo, enquanto sumia nas sombras.

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