– Hum...? O quê…?
Eu devo ter pegado no sono... Que horas serão agora? Não sei, mas provavelmente já deve estar na hora do intervalo.
Eu, Kai Ashford, sempre achei que todos nesta escola são... como posso dizer? Ah, já sei! Homo sapiens. Porque todos se comportam de maneira tão imprudente. Já eu sempre penso antes de agir.
Desde que me mudei para Tóquio, fiquei focado apenas nos estudos. Mas acho que está na hora de tentar fazer alguns "amigos". Ou pelo menos tentar... Porque, da última vez que tive amigos, foi... complicado.
Eu tinha apenas treze anos quando meus amigos me traíram. Foi numa tarde no colegial. Eu estava sentado na minha mesa quando eles se aproximaram e se sentaram ao meu lado. Perguntei o que havia acontecido, pois seus olhares eram estranhos, como se algo estivesse errado.
– O que aconteceu, gente? – perguntei.
– Venha com a gente! – todos disseram ao mesmo tempo.
Enquanto os seguia, percebi que todos da escola me encaravam e riam, tentando disfarçar. Quando paramos, estávamos em frente à fonte da escola. Vai por mim: ela era bem alta.
– Tire suas roupas, Kai. Fique apenas de cueca e suba na fonte! – disse um deles.
– O quê?! Não! Por quê? – respondi.
– Agora! – gritou outro.
Naquele momento, senti uma humilhação extrema. Eu ainda não sabia, mas aquele seria o dia que moldaria quem eu sou hoje.
– Tá... deve estar na hora do intervalo. Melhor eu ir comer agora.
Enquanto comia, sozinho e tranquilo, um garoto se aproximou e perguntou se podia se sentar. Eu disse que sim. Observei-o por um instante... algo nele me transmitia confiança.
– Com licença, qual é o seu nome? – perguntei.
– Hã? Meu nome? Felix. – respondeu ele.
– Acho que está na hora de tentar fazer amigos... – sussurrei.
– Você disse algo? – perguntou Felix.
– É... não. Mas você gostaria de ser meu amigo? – perguntei.
– Ah... claro, eu gostaria sim. – respondeu ele.
Naquele momento, senti uma nostalgia enorme. Finalmente, depois de tanto tempo, eu tinha conseguido um amigo.
– É... o sinal já bateu. Acho melhor irmos para a aula agora... – disse Felix.
– Verdade. Até mais tarde. – respondi.
– Até… – disse ele.
Acabamos conversando bastante sobre várias coisas. Esse tal de Felix fala muito. Muito mesmo! Mas agora eu precisava ir para a aula de matemática; se chegasse atrasado, o professor ia me matar.
É... hoje foi um dia muito doido. Mas agora eu só queria chegar em casa e assistir um pouco de televisão.
– Ué... noticiário a essa hora?
– Hoje, às oito horas da noite de uma segunda-feira, foi avistado um fenômeno no céu de Tóquio. Cientistas estão tentando entender do que se trata, mas até o momento supõem que seja algum tipo de fenda temporal. As autoridades pedem que todos permaneçam dentro de suas casas até confirmarem se é seguro! – disse a repórter.
– Fenda temporal? Isso parece aqueles filmes de ficção científica! – pensei.
– Ei, Kai! Vai lá no mercado comprar umas cenouras para eu fazer uma sopa! – gritou minha mãe.
– Claro, já vou. – respondi.
Quando saí à rua, olhei para o céu apenas para me certificar dessa tal fenda temporal. E fiquei surpreso... Ela realmente estava lá. Eu conseguia senti-la, como se estivesse... me chamando.