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Chapter 5 - BOLLOMIXIANA

Eram quatro os anos até a formatura na Árvore Cinzenta.

No último ano não existia nenhum tipo de ensino, só o grande torneio chamado Ultimato. Esse torneio reunia todos os alunos quartanistas, e era eliminatório. 

Os derrotados voltavam para casa imediatamente após a derrota, fosse na primeira estação, serenata, ou nas demais, silêncio, voragem e alegro. 

A última estação do ano, umbrosa, tinha somente uma luta, a final. 

Os eliminados ao longo do quarto ano recebiam o título de cinzento, e a quantia em ouro de acordo com a colocação na Liga das Cinzas. 

Liga das Cinzas era o campeonato que reunia todas as lutas dos eleitos da mesma geração. 

A cada luta ganha eram somados três pontos ao nome do vencedor, e a cada derrota era subtraído um ponto. 

Os cento e oito melhores ranqueados na Liga recebiam um título diferente, tênebra. 

Somente o primeiro colocado ostentava o título de campeão, nomeação de influência semelhante a de rei.

Bollomixiana Volgocrava Hersis Tedesco Gryzaekov Nora, era a primeira arquiduquesa do reino de Círculo Montanhês. 

Com notas excelentes, tendo o número doze na Liga de sua geração. Ela possuía prestigioso acordo nupcial assinado antes do próprio nascimento. 

A arquiduquesa era a noiva de Mordred Arkedievitch Ilk Van Sebeis, o segundo príncipe do reino de Neve Fosca. 

Eram conhecidos e, em seus respectivos reinos, tinham cada movimento seguido por legiões de admiradores. 

Na manhã onde o garoto novato foi renascido e transformado em vampiro, ela se banhava na fonte termal aquecida, nas ruínas da Torre de Esmeralda. 

Heleneva ficou abismada:

— Não é possível, você não assistiu a luta? 

— Tenho mais com o que me preocupar. E o humano, está bem? 

— Graças à nossa ínclita chanceler. O novato foi aberto ao meio. O transformado que lutou com ele devia ser muito forte, nunca vi a transfiguração ser desfeita tão habilmente. 

— Não exagere, Heleneva.

Heleneva era a quinquagésima sétima duquesa do reino de Serhä, no território de Infinito Branco, e a melhor amiga de Bollomixiana desde o primeiro ano. 

Confidentes, eram também rivais por parte de Heleneva, que ansiava superar a invicta arquiduquesa. 

— Assista a gravação mais tarde, foi espetacular! Não estou exagerando. — e não estava, dessa vez. 

As duas saíram das águas candentes. 

Bollomixiana tinha a postura de exímia combatente, era viciada em estudos e práticas com a espada. 

Ao caminhar, a pele, avermelhada pela exposição à quentura, escorria água pelos seios pequenos de pontas rosadas. 

Tinha pelos no tom do cabelo, dourado. 

De olhos frios, como todo vampiro, em mais de uma cor, variando de acordo com a emanação da aura. Nela, tons indo do verde ao azul, em alguns dias em heterocromia. 

Raramente a viam numa expressão diferente de seriedade. 

Na pele, algo incomum entre as nobres com acordos assinados, nenhuma mácula. 

Havia dito conhecido entre as fhaurens, "que sua riqueza seja tão larga quanto o sorriso de uma formada". Tal provérbio não se referia à boca. 

Nessa sociedade a virgindade era tão valiosa quanto o ouro, no entretanto, os jovens casais eram criativos. 

Mesmo excluindo o sexo ortodoxo, existiam infindas outras formas de prazer, o que deixava evidências escondidas por tecidos preciosos. 

Heleneva tinha as marcas das mãos de Bartrô, que a conquistou pela Lei do Poder na final do décimo torneio, ainda quando eram segundanistas, desde então, levavam os corpos ao limite quando sem testemunhas. 

Na pele de Heleneva, vestígios de chupadas nas costas, e pelos seios duros, do tamanho de maçãs. 

Na bunda empinada, vermelhidão e arroxeados, memórias de mais beijos, tapas, chupões e mordidas, o que deixava as aias menores envergonhadas, e curiosas. 

Bollomixiana preferia outra abordagem, sequer se encontrava com o prometido, evitando os festins, isolando-se em treinamentos árduos nesses períodos. 

Vestiam-se com a ajuda das aias. 

Heleneva usava farda e saia curta em verde-esmeralda, com detalhes em ametista e prata. 

A xalemanta era alaranjada quase negra, mesma cor do quepe, das luvas até os cotovelos, e das botas acima dos joelhos. 

Os cabelos em tom púrpura, de ondas densas, desciam à cintura. 

Por sua vez, a arquiduquesa usava a vestimenta militar de Círculo Montanhês, body e camisa branca, com detalhes em azul-escuro e corpete dourado-amarronzado. 

Vestiu por último a calça, por cima da parte baixa do body, e o quepe. 

A arma de Bollomixiana era a espada Leão do Entardecer, de empunhadura diamantina, e lâmina de aço branco. 

Embainhou-a e ajustou a arma na cintura. 

Quando saíram, eram acompanhadas por doze servas.

Abriam-se pelos corredores as portas de outros aposentos, para a ver e felicitar, guardando o silencioso agouro. 

A inveja era o comum às cortes, independentemente do continente. 

Nas casas de apostas o público dividia-se quase igualmente, o que criava ofertas tentadoras. 

Metade acreditava na derrota do príncipe, por honra à amada. 

Metade apostava na habilidade incontestável de Mordred, também invicto, e número três da geração dos atuais quartanistas, tendo vencido trinta e seis torneios acadêmicos até então. 

A audiência, quando ambos os nobres chegaram ao centro da arena, era de noventa e nove milhões de espectadores ao redor do mundo. 

E era só a primeira luta do Ultimato de 816 CU (Conclave da Unificação). 

— Tenho-me honrado em vossa presença, minha amada. Se for de vosso agrado, abro mão desse desafio. Em meus olhos vejo nossa casa como prioridade e, se me permite o pecadilho, é em nossas núpcias que estão os meus pensares. 

Existia o sorteio com todos os nomes da geração do Ultimato. Isso era evento anual antes das férias de umbrosa. 

Ao príncipe, a pior das sortes, ele adoraria vencer desafetos e exibir o nome dos Ilk Van Sebeis ao mundo, contudo, também sabia da importância de não humilhar a futura esposa em público. 

— Não lhe permito. Nem lhe proibido. O homem cultiva e Deus ri. — o lema dos Gryzaekov, que não acreditavam no panteão de Funestas, e sim no Deus do Amanhecer da Sacra Apostólica. 

A falta de humor da arquiduquesa fez Mordred desembainhar a espada, o Varão, inteira em ouro, com intrincados desenhos de folhas de campânulas e espinheiros-de-fogo. 

A arena principal era cercada pela arquibancada em seis níveis de anéis, que chegava a cento e quatorze metros de altura. 

Estava lotado, com alunos do último ano nos camarotes entre os andares, e os demais nos mais de duzentos mil lugares, com muitos dos primeiranistas ainda apavorados devido à luta de exibição. 

Era também a festa de boas-vindas aos novatos. 

Câmeras circulavam a arena. E servos na sala de edição escolhiam as melhores cenas e ângulos, exibindo os grupos se divertindo, em todas as raças e povos. 

Nas cabines com as duplas comentaristas de rádio, línguas de todo o mundo eram escutadas, com o unificado sobressaindo. 

O clima tornou-se denso quando assumiram as posições, de frente, na distância de dez passos contados pelo árbitro, mestre Radamanto.

O juiz abaixou a mão esquerda, indicando o início da peleja, e fez-se silêncio. 

A arquiduquesa moveu o polegar para a lâmina, e o sangue dela correu até a ponta, dando contrastes carmesins para a arma. 

Usavam a mesma transfiguração de aumento corporal, transformando a pele, enrijecendo os músculos. 

As armas se encontraram, uma, depois pela segunda vez, com a lâmina de Bollomixiana sendo defletida facilmente. 

Os impactos moviam os pés pequenos, afastando-a do opositor. 

Tomando a iniciativa, cada levantar de mãos do príncipe era vigoroso impacto que empurrava a noiva para trás. 

Após junções de golpes defendidos, Mordred, que aumentava a força aos poucos, até dar o seu melhor e não alterar as defesas evasivas, irritou-se. 

Em algum ponto, ele esperava mais daquela que só defendia e se distanciava, e segurando o Varão com as duas mãos, ele visou letal ataque entre os seios pequenos da jovem. 

E quando estocou, ela desviou e moveu o Leão do Entardecer, o estádio ficou mudo, e depois vibrou. 

O corte no rosto do príncipe começava no queixo e seguia até a orelha esquerda. 

Sem o sangue vampírico, o crânio dele teria sido transpassado ao meio. 

— Perdoe-me, lhe subestimei. — ele admitiu, com o sorriso sem graça no rosto. E prometeu. — Não acontecerá de novo. 

O progresso agora era aumentando a velocidade, com os corpos se jogando metros à frente num piscar de olhos. 

Bollomixiana saltava de costas, fugindo, cansando aquele que a perseguia, e quando o golpe ocorreu, um corte lateral, estavam no limite da arena, tão próximos que os corpos bateram de frente. 

Aquele que fosse jogado para fora primeiro perderia. 

Ela e ele, ofegantes, com as bocas abertas e os caninos salientes, encaravam-se, com os rostos escorrendo suor, com os corpos colados. 

Ele foi eleito aos quarenta anos, e tinha quarenta e quatro nesse embate.

Fora transformado na Academia Arcana de Neve Fosca, e via-se agora na busca da pós-graduação na Árvore Cinzenta. 

Tinha a face desinteressada, olhos negros, e não via beleza naquela destinada a ser sua esposa. Os cabelos e a barba espessa também escuros, e o corpo de soldado treinado. 

Ela equilibrava os calcanhares no vazio, trinta centímetros distante do gramado abaixo, com jardins de cinerárias. 

A Arquiduquesa permanecia fria diante da decepção em Mordred, movendo as mãos e sendo acompanhado, de modo que as espadas travavam-se juntas, sendo impossível golpear com precisão, até que os dois ficaram com os braços para cima, forçando uma arma na outra. 

Usando o corpo forte dele, ela moveu-se, trocando de posição, deixando-o mais próximo de cair. 

Ele deu uma cabeçada nela, a pegando desprevenida pela falta de honra, a chutando no estômago em seguida. 

Bollomixiana se arrastou pela arena até perto do centro, e as mulheres vibraram gritando o nome do príncipe Mordred.

Ele aproveitou, lançando-se contra ela caída. 

Quando imaginou desferir o golpe de incapacitação, segurou-se, pois atacava a prometida no chão. 

Ela preparou a estocada, e teria perfurado o corpo dele do coração às costas, não fosse a alteração corpórea, ainda assim, nem a dor diferia do golpe intentado, nem o impacto, que quebrou duas das costelas reais. 

Ele soltou o Varão, e mordeu os lábios, sem ar, depois abriu a boca e permaneceu assim, enquanto o sangue gotejava entre os dentes. 

A arquiduquesa mirou Radamanto, que começou a contagem de dez, nove, oito, sete, seis, cinco… 

O príncipe ajoelhado estendeu a mão à arma caída, e não conseguiu mover-se além disso. Assim terminou. 

Ali, diante da multidão, ela apontou o Entardecer para ele, e o maior silêncio que a Sanguinolência, como chamavam o coliseu principal da Árvore Cinzenta, presenciou foi formado. 

— Exijo a Lei da Liberdade.

Embainhou a arma e saiu. 

Quando passou pela área interna, Heleneva não a seguiu. 

A arquiduquesa voltou aos aposentos somente com as próprias servas. 

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