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Chapter 11 - Capítulo 11 - Mistério

Entrei na biblioteca totalmente admirada, soltando um grande suspiro profundo. Depois dos últimos acontecimentos estranhos e embaraçosos da minha vida, resolvi entrar ali e dei um pequeno aceno de cabeça — mas não recebi nenhum tipo de cumprimento de volta por parte da bibliotecária, que nem sequer me encarou. Provavelmente, não queria ter a leitura dela interrompida.

Segui em passos firmes para dentro da biblioteca, até ficar de frente para algumas prateleiras repletas de livros. Foi então que, logo no topo, vi o mesmo livro que Jade carregava em mãos. Claro que a curiosidade bateu forte. De alguma forma, consegui pegá-lo. Era um imenso tijolo — e, ao mesmo tempo, não era tão pesado. Coloquei sobre uma mesa e, a partir do momento que abri o livro, dei de cara com uma imagem das duas deusas gêmeas me encarando de forma sinistra.

Senti uma forte impressão de que não deveria ler aquele livro. Mas como a gente é curiosa por natureza, comecei a folheá-lo mesmo assim.

Conforme o tempo foi passando, fui ficando cada vez mais horrorizada com o que estava escrito ali. “Lembra que disseram que o território estava comemorando 10 mil anos?” — então aquele livro contava o que aconteceu 100 mil anos antes da chegada do primeiro rei a estas terras.

"Tudo começou 100 mil anos antes, quando a Terra estava repleta de escuridão. Não existia nenhum tipo de vida, nem céu, nem inferno. Então, dois seres vindos de além do universo desceram à Terra — que, um dia, seria conhecida como o território "Noite Estrelada". Eram as deusas gêmeas. Ambas carregavam um bebê em mãos: um pequeno humano totalmente nu, conhecido como o primeiro humano a pisar neste planeta."

Antes dos grandes eventos acontecerem, as duas deusas jogaram esse pequeno ser frágil na terra envolta pela escuridão — onde não existia absolutamente nada.

A deusa das Trevas, Maraju, abençoou o humano e o nomeou de Celestia, por causa de seus grandes olhos azul celeste e seus cabelos negros como a noite.

Já a deusa da Luz, Amare, deu à criança o dom dos pés abençoados, dizendo:

“Leve este planeta a um futuro brilhante, minha pequena criança.”

Enquanto dizia isso, a deusa Amare abraçava a criança como se fosse, de fato, sua filha. Em seguida, sua irmã Maraju também a abraçou, desejando à pequena felicidade eterna.

Mesmo depois de subirem novamente além dos céus, ambas juraram proteger aquela alma a todo custo.

Então, a criança que antes era um bebê, tornou-se uma bela mulher com longos cabelos pretos como a noite e olhos azul celeste. Conforme ela caminhava pela terra, cada região era abençoada com sua presença — terra, céu e mar floresciam por onde ela passava, graças às bênçãos de suas duas mães.

Isso durou cerca de 50 mil anos.

Até que, finalmente, o primeiro ser nasceu nesta terra, através de Celestia.

Seu nome era Trident — um ser que não era humano, e muito menos deus. Ninguém sabia ao certo o que ele era. Sua mãe, Celestia, uma humana vinda de além dos céus, deu a ele uma única missão:

"Continue seguindo meus passos, meu filho." — sussurrou ela, com o pequeno em seus braços.

Os anos passaram. Trident cresceu, e já tendo certa idade para carregar o fardo da missão deixada por sua mãe, se despediu dela sem olhar para trás. Celestia viu seu único filho partir. Sem conseguir continuar, seu corpo desapareceu em pequenos fragmentos de luz, subindo para além dos céus como um despedida silênciosa ao mesmo tempo que sua missão tinha chegando ao fim.

Trident nunca olhou para trás — pois sabia que deveria continuar o legado deixado pelas deusas à sua mãe.

Mais 50 mil anos se passaram até que Trident chegou a estas terras. Diferente de outros lugares, esse era o único território que ainda permanecia amaldiçoado. Mesmo sem ter os requisitos para sustentar vida, o solo, o ar, tudo ali parecia... carregar algo esquecido.

Mesmo assim, aquilo foi prova o suficiente para Trident entender que, em algum momento milênios atrás, aquele território já fora um planeta cheio de vida.

O que levou à sua total destruição? Era um mistério.

Nem ele mesmo sabia.

Foi então que os céus começaram a brilhar com um dourado intenso — e as duas deusas gêmeas desceram novamente. Elas apareceram bem à frente de Trident, que reconheceu as duas imediatamente. Eram suas avós.

A deusa Amare se aproximou primeiro, com um sorriso triste nos lábios, e disse:

"Obrigada por continuar o legado de sua mãe nesses últimos 50 mil anos..."

Então a deusa Amare tocou de forma leve no ombro de Trident, ainda com um sorriso triste em seu olhar

— Meu caro neto, eu lhe abençoo com o dom de liderar. Faça destas terras o seu primeiro território. Crie descendentes.

Logo atrás, a deusa Maraju se aproximou silenciosamente e o abraçou pelo pescoço, envolvendo-o com sua presença escura e densa.

— Eu lhe abençoo com o dom de uma vida feliz... Por favor, não morra — sussurrou ela com um pesar profundo na voz.

As duas deusas entrelaçaram as mãos, formando um círculo de energia que se espalhou pela terra antes amaldiçoada. Pela primeira vez em milênios, o céu se abriu, revelando estrelas brilhantes em meio à escuridão da noite.

Trident, olhando para cima com os olhos marejados, sussurrou consigo mesmo:

— Eu nomeio estas terras de Noite Estrelada.

De repente, uma constelação em forma de lobo apareceu no céu. As duas deusas sorriram com ternura, olhando para cima como se contemplassem uma promessa cumprida.

Uma estrela solitária caiu do céu, indo diretamente na direção de Trident. O impacto foi tão forte que ele caiu de costas no chão, mas não se feriu. No lugar do impacto, uma marca começou a brilhar em seu pescoço — o símbolo da benção do lobo, um dom vindo diretamente do universo.

Logo depois, várias outras estrelas começaram a cair dos céus, cada uma se cravando na terra e se transformando... não em humanos, nem em deuses, mas em algo novo — seres vivos nascidos das próprias estrelas.

Todos aqueles seres caídos do céu tinham aparência humana — mas ao mesmo tempo, carregavam dentro de si o poder de se transformar em lobos. Cada estrela que tocava a terra deixava uma marca em formato de lobo no pescoço do novo ser.

Até que uma estrela diferente das demais desceu dos céus, vindo diretamente na direção de Trident. Ele a segurou nos braços no exato momento em que ela se transformava em sua forma humana.

Era bela de forma surreal. Suas feições delicadas contrastavam com seus olhos dourados, como se fossem ouro derretido. Assim nasceu a primeira rainha de Noite Estrelada. E com isso, Trident se apaixonou por ela à primeira vista, tomando-a como sua esposa.

Antes de partirem, as deusas deram a ela o sobrenome Lukaine, que significava "Estrela". A partir de então, todos os descendentes diretos carregaram esse nome, o símbolo de lobo marcado no pescoço e os olhos dourados como prova do sangue puro — a linhagem nobre do reino.

Parei de ler ao perceber o quanto o tempo tinha passado. Já era tarde.

Fechei o livro por um instante, completamente perdida em pensamentos.

Como podia existir uma personagem com o mesmo nome que eu, com aparência idêntica à minha, exceto pelo fato de ser uma humana? E mais: ela teve um filho que não era humano, nem deus.

Franzi o cenho, confusa, tentando ligar os pontos.

Afinal… toda a matilha atual descendia da linhagem Lukaine. Já eu... era alguém de fora. Uma filha ilegítima. Não carregava a marca no pescoço. Isso fazia de mim um erro?

Meu pai tinha essa marca. Mas eu, não.

Por que fui trazida a esse mundo? Morri na minha primeira vida e despertei aqui — um lugar tão distante, tão estranho, e ainda assim... tão familiar.

Fechei o livro com força, tentando empurrar as perguntas para longe. Mas não resisti.

Abri-o novamente, direto nas últimas páginas.

E lá estava ela.

Celestia.

A mesma mulher do início do livro — agora mais velha, mais madura, mais sábia. E idêntica a mim.

Meu coração acelerou. Um pensamento passou como um raio:

Minha mãe?

Lembrei que, quando eu era pequena, Raquel disse à minha mãe adotiva que eu era igualzinha à minha mãe biológica. Uma simples humana, sim... mas com algo de estranho nela. Algo diferente.

Depois daquele dia, nunca mais tocaram no assunto.

Nem meu pai. Ele sempre reagia mal quando eu perguntava sobre aquela mulher. Mandava que eu calasse a boca. Que sumisse da frente dele.

Então, abri um sorriso.

Mesmo herdando os olhos azuis e o cabelo preto do meu pai... minha aparência era a mesma da mulher da ilustração. Aquilo só podia significar uma coisa:

Eu era um erro. Um erro grave.

E agora eu precisava descobrir por que me trouxeram a este mundo. Será que nasci por acaso? Ou havia algo a mais?

Tem alguma coisa errada nesse castelo.

Não só com a Jade. Não só com Raquel. Mas com tudo.

Me levantei da mesa decidida, esticando a mão para pegar o livro e levá-lo comigo. Mas fui interrompida pela própria bibliotecária, que, com um olhar cortante, me impediu de sair com o livro.

Claro… como se isso fosse me impedir.

O final daquela noite terminou com uma briga feia entre mim e a velha, que quase me arrastou pelos cabelos para fora da biblioteca.

Fui expulsa a pontapés, mas com o livro bem agarrado em meus braços.

E mesmo cambaleando porta afora, dei uma gargalhada dramática digna de novela, como se fosse a vilã principal de algum grande espetáculo.

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