Ficool

Chapter 12 - O Último Olhar da Noite

O silêncio era enganoso.

Do centro da cratera negra deixada pela explosão de lava, um único olho flutuava. Nenhuma forma, nenhuma carne — só o globo ocular envolto por farrapos em brasa, ainda pulsando. Como se o Olho Negro, mesmo despedaçado, recusasse a morte.

“Kekeke...” — sussurrou o riso, não pelos ouvidos, mas pela alma.

Blade desceu ao lado de Rob, a adaga ainda tremendo em sua mão. “Isso devia ter sido o fim... por que ele ainda está consciente?”

Rob estava ajoelhado, arfando. Partes de sua pele estavam queimadas pelas próprias chamas, mas o brilho nos olhos permanecia firme. “Porque ele... é feito de dor. E a dor nunca morre fácil.”

Hanson surgiu do outro lado, cambaleante. Um de seus chifres havia se partido, e sangue escorria pela lateral do rosto. “Ele não está tentando nos matar agora... está tentando nos arrastar com ele.”

Uma energia sinistra começou a subir da cratera, como vapor de um pântano condenado. O olho se abriu por completo. Não era vermelho, nem negro — era transparente, como se mostrasse tudo e nada ao mesmo tempo. Dentro dele, por um instante, viram memórias que não eram suas. Cidades em ruínas. Crianças chorando. Homens sendo devorados por sombras. A origem do terror.

“Olhem para mim... kekekeke... aceitem o vazio...”

Blade se virou para evitar o olhar, mas sentiu algo puxando sua mente. Memórias esquecidas começaram a surgir — sua infância, o medo do pai, o momento em que sua herança demoníaca despertou e sua mãe fugiu com horror nos olhos, com veias pulsando na sua testa e agora, uma raiva incomum surgindo.

“Ele está tentando nos quebrar por dentro!” — gritou, cerrando os punhos. “NÃO DEIXEM!”

Rob fechou os olhos e agarrou o Orbe. O calor o queimava por dentro, mas ele sabia: era isso ou perder tudo. “Merda... Orbe, me escute.”

Milhares de vozes sussurraram de dentro. Não eram humanas, nem completamente demoníaca. Mas estavam dentro dele.

— Você quer mais poder... você sabe o preço...

“Só mais um pouco. Para acabar com isso. Não apenas matar. mas também... impedir.”

Energia começava a fluir por suas veias, a lava começou a escorrer de suas costas como asas incompletas. Um novo padrão se formou em sua pele: linhas incandescentes como runas primitivas. Ele se levantou, ouvindo um leve toque em sua mente

[Liberação de Lava - Upgrade]

[Liberação de Lava - Upgrade]

[Liberação de Lava - Upgrade]

Hanson cerrou os dentes. “Se vamos encarar o vazio, que seja com a alma em chamas.”

Ele saltou para dentro da cratera.

O chão gritou com a presença dele, cada passo reverberando como um trovão. O olho girou para acompanhá-lo. De seus lados, farrapos renasciam — como serpentes famintas, tentando agarrá-lo.

Mas ele já não era só um meio-demônio. Ele era uma vontade feitade carne.

Com um rugido, Hanson esmagou o globo ocular com o punho.

Um clarão explodiu, lançando os três para longe.

Silêncio.

Desta vez, real.

Quando Rob abriu os olhos, viu o céu — e nele, pela primeira vez em séculos, estrelas.

Não havia riso. Não havia sussurros.

Apenas os estalos das brasas morrendo lentamente.

Blade se arrastou até ele, caindo ao lado, exausto. “Ele se foi?”

Hanson tossiu ao longe. “Se não foi... ele está mais perto do inferno do que do mundo.”

Rob não respondeu. Ele estava olhando para o Orbe.

Ele sabia.

Aquilo podia não ter acabado. Mas agora Olho Negro havia sido selado, talvez dilacerado... junto com uma parte dele, que agora queimava ali, em alguma camada, dentro do orbe. Vivo.

Mas a Noitosfera havia ganhado tempo.

E neles, uma cicatriz que jamais vão esquecer. 

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