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Chapter 8 - Encontro com Hanson Abadeer: Ossos e pactos

O covil de Hanson jazia numa montanha imunda, como uma abominação cravada no ventre da Noitosfera. Gotejavam do teto correntes de carne retorcida, iluminadas por fungos luminosos que exalavam vapor venenoso. O chão, um mar de ossos e crânios partidos, rangia sob cada passo, como se cada esqueleto reclamasse sua dor.

Rob respirou fundo o ar pútrido, sentindo o gosto metálico de sangue velho. Ele pisou num crânio estilhaçado, atordoando-se com o eco oco. À sua frente, Hanson – meio-gigante de músculos trançados em runas – afiada seu machado ruidoso contra uma pedra encardida, cuspindo gotículas rubras a cada passada.

— Vocês estão atrasados — rosnou Hanson, sem erguer os olhos. A voz dele fez o chão vibrar.

Blade engatinhou entre ossos gigantes, limpando as adagas contra a bota. Fez uma mesura irônica.

— Tráfego de almas atormentadas, chefe. Foi infernal. Desculpe a falta de pontualidade, oh grandioso merda encarnada.

Hanson parou. Levantou os olhos âmbar – gemas vivas cravejadas em carne marcada por cicatrizes demoníacas. Em silêncio, observou Blade. Depois, voltou-se para Rob.

— E você… Sem desculpas.

Rob engoliu o queixo. Mantinha o manto cobrindo o medalhão de seu mentor. Os dedos tremeram, mas ele segurou.

— Chegamos, Hanson. Estou pronto.

O gigante sorriu – um esgar torto que mostrava dentes de pedra. Lançou o machado na mesa de ossos centrais. O impacto fez vibrarem as correntes vivas que pendiam do teto.

— Então ouçam, seus vermes. O Olho Negro tem regras. Não espera ataque direto. Acha que somos fracos demais para tentar. Isso engana os medíocres.

Blade trocou um olhar com Rob. Ambos conheciam o tom de advertência de Hanson. Quando ele falava assim, era por causa de algo que aprendera à força.

Rob cruzou os braços, estudando as cicatrizes no torso do meio-gigante: marcas de correntes, feridas queimadas de magia negra, pequenos sulcos que pareciam mordidas de tentáculo.

— Você trabalhou pra ele — disse, a voz baixa. — Foi aqui que você se tornou… quem é.

Hanson fez um gesto amplo, virando-se para revelar o próprio passado: as runas esculpidas a ferro no peito, cada cicatriz um capítulo de sofrimento.

— Traba-lhar? — ele conteve a risada. — Fui propriedade. Até o dia em que arranquei três dos olhos dele e fugi pelos esgotos de carne viva.

Blade assobiou, perplexo.

— Por isso ele quer tanto esse Orbe…

— Com ele completo, vira um deus — Rob completou, ergueu o dedo indicador e polegar em forma de gaiola. — E nós, as imperfeições, seríamos queimados primeiro.

Hanson foi até uma laje de pedra onde repousava um mapa gravado em pele demoníaca. Pegou-o com cuidado reverencial, limpando as manchas de sangue que se misturavam às tintas negras.

— Esse cassino dele tem três camadas. Como os três infernos — murmurou, deslizando o dedo por um túnel raso no mapa. — Eu conheço cada conduto de serviço.

Blade estendeu o braço e indicou a borda superior do pergaminho:

— Eu e Noctheron atacamos pelos ares. Queimamos as torres de vigia e distraímos a patrulha.

Rob traçou um caminho sinuoso:

— Enquanto isso, Hanson causa um tremor no nível médio. Atrai a segurança para longe das proteções primárias.

Hanson fungou, esmagou um besouro demoníaco que corria pelo mapa:

— E você, mago — olhou para Rob — entra pelos esgotos que eu vou mostrar. Vai direto ao terceiro pilar. Rouba o fragmento antes que o Olho Negro note o padrão.

Rob sorriu forçado, mas havia gelo na expressão:

— E se ele perceber?

Hanson ergueu o machado, as runas da lâmina refletindo a luz da fornalha central:

— Aí lembramos por que fomos banidos juntos neste inferno. E fazemos ele sangrar como a gente sangrou.

O vento uivou pelas fendas do covil, trazendo cheiro de enxofre, carne queimada… e promessas de traição.

Flashback Integrado

Três anos atrás – Salão das Dívidas Eternas

Hanson caía de joelhos, correntes de obsidiana estrangulando seu pescoço. O Olho Negro pairava acima, um vulto sem rosto, em trapos que sussurravam vozes perdidas.

— KKKRR… seu desempenho é… decepcionante — ecoou a voz demoniaca, enquanto um tentáculo de sombra arrancava a carne das costas de Hanson.

— Matei os doze que você pediu — cuspiu sangue o meio-gigante.

— MATAR É FÁCIL. EU QUERO VER SOFRIMENTO. CRIATIVIDADE. O Olho Negro rodopiou, inspecionando-o. — Você era para ser meu general, não um carniceiro comum.

Hanson olhou ao redor: seus antigos subordinados empalados como trophies. O silêncio era o preço por falhar.

— Eu não sou seu cachorro.

O tentáculo espetou seu ombro, perfurando-o como uma agulha.

— NÃO? ENTÃO SEJA MEU TROFÉU.

Foi aí que Hanson mordeu uma das correntes, estalou o metal com os dentes e, com um urro, quebrou-as.

[Retorno ao Presente]

Blade engoliu em seco. Rob apertou o cabo do cajado.

— Ele nunca vai nos ver chegando — concluiu Hanson. — Porque ninguém com medo faz barulho antes de morrer.

O covil estremeceu, como se esperasse o ataque. Uma gota de sangue pingou da runa central, como um sinal. O golpe final estava por vir.

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