Aerin acordou cedo no apartamento luxuoso de Kang Jihan. A cama era tão macia que ele quase se afogou nela na primeira noite. Ainda se sentia deslocado, como se estivesse dormindo num hotel cinco estrelas por engano. Ele se levantou devagar, calçou os chinelos e foi direto ver os meninos.
Mas os gêmeos já estavam acordados.
— Papi! — gritou um, pendurado na grade do berço adaptado.
— Desenho pinguim! — exigiu o outro, ainda com o pijaminha de dinossauro.
Aerin riu, coçando os cabelos bagunçados. — Bom dia, meus pequenos furacõezinhos.
Enquanto preparava o café da manhã — uma tarefa que envolvia suco orgânico, panquecas sem glúten e muita tentativa de evitar desastre — Aerin refletia. O contrato estava assinado, e ele agora era oficialmente… o "marido" do Kang Jihan. Quer dizer, só no papel. Mas ainda assim, o peso daquilo começava a bater.
Ele não entendia como tinha ido de um quase desempregado com ensino médio completo a "marido contratado" de um CEO bilionário em menos de 72 horas.
Só que tudo mudava na presença dos gêmeos. Eles o adoravam. Era como se o reconhecessem de outro universo, como se soubessem que o coração de Aerin era feito da mesma matéria que o deles: sincero, cheio de amor e, às vezes, meio perdido.
Depois de limpar a bagunça do café e garantir que os dois assistissem o desenho do pinguim sem brigar pelo controle remoto, Aerin recebeu uma mensagem no celular.
[Jihan]:
> Estarei em casa às 20h. Prepare os meninos para o jantar formal com meu pai. Ele quer "conhecer minha nova família". Não atrase.
Aerin quase deixou o celular cair.
— Jantar com o sogro?! — ele gritou para si mesmo, entrando em pânico. — Isso não estava no contrato!
Os meninos o olharam com carinhas inocentes.
— Papi gritou? — perguntou um. — Papi brabo? — completou o outro, com a voz fina e olhos brilhando.
Aerin imediatamente abaixou e abraçou os dois.
— Não, meus amores. O papi só… esqueceu como respira por um momento.
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À noite – Reunião com o Sogro
Kang Jihan chegou como uma tempestade silenciosa. Usava um terno preto impecável e carregava nos olhos aquele olhar firme de quem nunca perdeu um argumento. Aerin estava parado no meio da sala com os meninos vestidos de social — gravatinha borboleta torta e sapato no pé errado — enquanto ele usava uma camisa simples e um blazer emprestado de um dos seguranças (porque Jihan disse que ele não tinha roupa adequada).
O pai de Jihan chegou logo depois, acompanhado de um segurança particular e de uma expressão julgadora que daria medo em qualquer um.
— Este é…? — o pai perguntou com uma sobrancelha arqueada, olhando para Aerin de cima a baixo.
— Este é meu… marido — respondeu Jihan, sem hesitar.
Aerin sentiu o chão sumir. Um "quê?" quase escapou da sua boca, mas ele segurou.
— E esses são meus netos? — o homem se abaixou para encarar os gêmeos.
Os meninos se esconderam atrás de Aerin.
— Vovô assustador — murmurou um. — Cara feia… — sussurrou o outro.
Aerin arregalou os olhos, mas o sogro... riu.
— Finalmente, alguém nessa casa que fala a verdade.
Jihan observava tudo de longe. Ele não sorria, mas seus olhos suavizaram por um instante.
Durante o jantar, Aerin tentou não engasgar na comida cara com nome francês, os gêmeos jogaram purê de batata um no outro, e o pai de Jihan lançou perguntas afiadas como flechas.
— Você pretende estudar? — ele perguntou. — Você ama meu filho?
Aerin congelou. A segunda pergunta foi um tiro no peito.
Jihan o encarou, também esperando a resposta.
Mas Aerin apenas abaixou os olhos e respondeu baixinho:
— Isso não está no contrato…
O silêncio ficou pesado. O pai de Jihan apenas assentiu, como se tivesse ouvido o que esperava.
— Pelo menos é honesto.
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Mais tarde – No quarto
Depois de colocar os meninos pra dormir com uma história do pinguim bebê e dois beijinhos na testa, Aerin voltou pro quarto que agora era "seu" no apartamento.
Mas ao abrir a porta, deu de cara com Kang Jihan encostado na parede, braços cruzados, olhando pra ele como se tivesse lido todos os seus pensamentos.
— Você fez bem hoje — disse o CEO. — Meu pai não gosta de ninguém. Mas ele respeita quem tem coragem de falar a verdade.
Aerin sorriu, cansado.
— Achei que ele ia me esfaquear com um garfo.
Jihan deu uma risadinha baixa. Quase imperceptível.
— Você… não é o que eu esperava. Mas os meninos te amam. E isso é mais do que qualquer currículo pode provar.
Antes de sair, Jihan parou na porta.
— Boa noite… Aerin.
E Aerin sentiu, pela primeira vez, que talvez aquele contrato não fosse só papel.
Talvez… fosse o começo de algo real.