A porta se abriu com um rangido seco e metálico. Do outro lado, a escuridão parecia engolir tudo. Jaden cambaleou, puxado bruscamente pelo homem de sobretudo escuro, rosto oculto pela máscara e pela pressa.
— Quem é você?! — Jaden arfou, tentando acompanhar o passo largo do sujeito. — Por que está me tirando de lá? O que é esse lugar?! Onde estamos?!
O homem não respondeu de imediato. Seguiu andando, como se os corredores conhecessem seus passos. O ar era pesado. As paredes, frias como concreto molhado.
Depois de alguns segundos, ele respondeu com a voz grave, sem se virar:
— Sou um Central. Estou te tirando daqui.
— Um o quê? Central? É tipo um título? Uma organização? Você trabalha pra quem?
— Por agora... é tudo o que precisa saber. — Sua mão apertou mais firme o pulso de Jaden, que tropeçou ao ser puxado mais rápido.
— Esperaaa... Ah, que droga...
Corriam. E corriam. Por corredores longos demais para serem normais. As paredes estavam decoradas com máscaras grotescas: animais, criaturas fantásticas, expressões de dor e terror congeladas em madeira entalhada. Cada uma parecia observar. Julgar.
Jaden engoliu seco.
O que é isso tudo...? Onde diabos eu estou?
Após cerca de dezesseis minutos — e um par de joelhos gritando por socorro —, pararam diante de uma porta colossal, recoberta de placas de ferro negro. Ao lado da entrada, estava uma mulher de corpo esguio, usando uma máscara de dragão, feita de metal retorcido.
Aos seus pés, uma pilha de homens inconscientes — ou mortos. Era impossível dizer. As mãos dela estavam limpas. As botas, manchadas.
Jaden, engolindo o pânico, quebrou o silêncio:
— Senhor Central... o que é isso tudo?
O homem virou o rosto levemente para ele, sem mostrar emoção:
— Vai descobrir... quando for mais velho.
Antes que Jaden pudesse reagir, foi empurrado porta adentro. Cambaleou, caiu de joelhos. A porta se fechou com um baque ensurdecedor.
O homem encostou dois dedos em um comunicador de pulso e falou:
— Código R-713 agora está sob custódia do Setor de Aprimoramento. Continuar protocolo. Câmbio.
Uma breve pausa, então murmurou:
— É estranho ver um garotinho que não tem medo de mim. Interessante...
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A sala em que Jaden caiu era escura e fria como um porão abandonado. A luz vinha de pequenos painéis vermelhos embutidos no teto. Nada de janelas. Nada de saída.
Ele se levantou devagar, esfregando o cotovelo ralado.
— Maldito Central... Nunca deveria ter ido contigo! Mas agora... onde estou?
Observou o ambiente. Armas repousavam em suportes: adagas, lanças, bastões. Uma estante com equipamentos táticos: coletes, luvas, cintos. Num canto, caixas de suprimentos e um estoque de comida selada — suficiente para dois, três meses. Bonecos de treino, do tamanho de um humano, estavam alinhados, cada um segurando adagas.
Na mesa central, cinco cadernos pretos, cada um com um número gravado em relevo.
Jaden pegou o que tinha escrito apenas “1”.
Abriu.
Na primeira página, lá estava:
Diário de um Central
Primeiro Passo: Aprimore suas habilidades com a adaga, lança ou bastão.
Segundo Passo: Mate os Manequins de Treinamento.
Terceiro Passo: Não morra.
Jaden riu seco.
— Sério...? Não morrer... isso é um passo? Tá de brincadeira comigo...
Ele folheou mais um pouco, vendo diagramas, esquemas de golpes, anotações de postura, respiração. Havia inclusive desenhos anatômicos indicando pontos fracos do corpo humano.
— Isso... isso é um manual de assassinato...
Sentiu um calafrio. Mas parte dele também se acendeu. Algo ali... fazia sentido. Um lugar fechado. Uma lista de tarefas. Não havia barulho. Não havia outros. Era só ele.
Vestiu o equipamento, esperando um incômodo qualquer. Mas ao sentir o tecido moldar-se perfeitamente ao seu corpo, murmurou:
— Surpreendentemente, isso é bastante confortável.
Escolheu duas adagas. O peso era bom. O equilíbrio, quase intuitivo.
Foi até um dos manequins. Olhou-o nos olhos vazios. Parecia apenas plástico... mas alguma coisa na sala dizia que não eram manequins comuns.
Abriu o caderno novamente. Seguiu o primeiro conjunto de instruções: posicionamento, empunhadura, postura.
Passou horas repetindo os movimentos. Cortes horizontais. Estocadas. Defesas.
— Eles querem que eu vire um assassino... — murmurou, suando. — Mas não vou morrer aqui. Não desse jeito.
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Dias depois
Jaden agora executava sequências completas. Cortes duplos, esquivas laterais, contra-ataques. Um dos manequins havia se movimentado. Ele não entendeu como, mas reagiu por instinto, desviando por pouco e cravando a adaga em seu peito de borracha.
A sala vibrou. Um painel se acendeu.
"1/50 manequins neutralizados."
Ele olhou ao redor.
— Vocês têm sistema? Vocês são controlados? É... um treino. Um jogo de sobrevivência.
Pegou outro caderno. Número 2.
Na capa, uma frase em letras vermelhas:
"Quem é você sem medo?"
Jaden fechou os olhos. A mente cansada, mas focada. A raiva, convertida em energia. Ele iria vencer aquele lugar.
Nem que tivesse que matar todos os manequins da maldita sala.
Continua...
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