Capítulo 8 — A Nossa Salvação
O silêncio era tão denso que parecia ter peso.
O ar estava impregnado com cheiro de madeira velha, mofo e poeira acumulada por décadas. A câmera — se fosse um filme — desceria lentamente, revelando degraus estreitos de madeira, gastos e rangendo sob o mínimo contato. A cada estalo, era como se o lugar inteiro sussurrasse: "Não devias estar aqui."
E então, a luz fraca da lanterna corta a escuridão, revelando a expressão de Jaden.
Ele estava sentado no chão, encostado à parede, respirando fundo enquanto mantinha a mão direita enfaixada com um lenço sujo e improvisado.
O sangue manchava o tecido.
Jaden (murmurando para si mesmo, com um sorriso amargo):
— Não acredito... existe mesmo algum lugar secreto. Mas... será que eu vou conseguir sair daqui?
Ele fecha os olhos por um segundo, sentindo a dor latejar pela mão. Quando os abre, pega o lenço com mais firmeza e o aperta.
O pano absorve mais sangue.
Jaden:
— Talvez assim pare um pouco... ou talvez não. Tanto faz.
Ele coloca a lanterna entre os dentes, se levanta lentamente e encara as escadas. Ao colocar o pé no primeiro degrau, sente a madeira ceder um pouco.
Jaden (pensando):
— Droga... isso tá podre. Se eu continuar descendo assim, vou acabar indo parar lá embaixo quebrando as duas pernas.
(olha para baixo e calcula) — Por sorte... não é tão alto.
Ele respira fundo, dá um passo para trás e salta, caindo com um som seco. O impacto reverbera nas paredes, mas ele se mantém de pé.
O lugar onde aterrissou é um corredor largo, repleto de poeira suspensa no ar. O teto é baixo e irregular, como se tivesse sido escavado à mão muito tempo atrás. O cheiro é velho... quase histórico.
Jaden (olhando ao redor):
— Isso deve ter... setenta, cem anos... talvez mais.
Ele começa a explorar. Cada passo levanta uma nuvem de poeira que dança na luz fraca da lanterna. Há ratos correndo entre os cantos, poças de água escura refletindo de forma turva e alguns baús antigos, encostados nas paredes.
Ele abre o primeiro... nada. O segundo... vazio. O terceiro... só teias de aranha.
Jaden (suspiros, frustrado):
— Será que alguém já passou por aqui e levou tudo?
Ele continua andando, a luz da lanterna varrendo as sombras. Então, algo chama sua atenção: atrás de uma pilha de caixas podres, há uma pequena porta de madeira, baixa demais para uma pessoa adulta passar de pé.
O coração dele aperta.
Memórias queimam na mente como ferro em brasa.
Aquela portinha...
Não exatamente a mesma, mas o suficiente para trazer de volta o trauma. O quarto escuro. Os dias trancado, sem luz. O som metálico de uma bandeja sendo empurrada. O cheiro da comida azeda.
Ele fecha os olhos e balança a cabeça, tentando afastar a lembrança.
Jaden (sussurrando, como se precisasse convencer a si mesmo):
— Não agora... não aqui.
A respiração dele se acelera, mas ele ajoelha no chão e gira a maçaneta. Está emperrada, mas não trancada. Ele força, os músculos tensionados, e a porta finalmente cede com um estalo abafado.
Ele se arrasta, sentindo a roupa encharcar de poeira e terra. Quando sai do outro lado, solta um suspiro cansado.
Jaden:
— Ah, que droga... agora tô todo sujo. Espero que valha a pena.
Ao se levantar e olhar ao redor, fica imóvel por alguns segundos.
Jaden (olhos arregalados):
— Impossível... estou aqui de novo.
Era um dos corredores que ele já havia estado, onde conhecera o misterioso Central. As paredes de pedra, o eco dos passos... tudo igual.
Ele pensa rápido: se estou aqui, talvez haja um caminho que eu perdi da última vez.
Sem perder tempo, começa a correr pelo corredor. O som das botas ecoa forte.
Após alguns minutos, chega a uma porta isolada. Para, respira fundo, as mãos suadas.
Jaden (ofegante, irônico):
— Corri tanto... pra isso? Uma porta? Melhor que nada.
Ele gira a maçaneta e abre um pouco... e o corpo congela.
Do lado de fora, dois homens estão em pé, de costas para ele, conversando baixo. Roupas escuras, postura militar, armas na cintura. Guardas.
Jaden (pensando rápido):
— Ótimo... e agora? Se eu falar com eles, tô morto. Se eu correr, eles me caçam.
(silêncio) — Então... só sobra uma opção.
Ele abre a mochila e tira suas adagas, o metal refletindo a fraca luz da lanterna. A mão treme levemente, mas o olhar é frio.
Jaden (nos próprios pensamentos):
— Não quero matar ninguém... mas, se for pra sair vivo...
Ele abre a porta de novo, desta vez bem devagar, pronto para atacar —
Mas, antes que possa dar o primeiro golpe, uma mão firme agarra o seu pulso e outra tapa a sua boca.
O choque é instantâneo. Ele é puxado para trás, com força, enquanto tenta se soltar.
Jaden (grunhindo sob a mão):
— Mmmf! Mmmff!!
A pessoa que o segura o arrasta para um corredor lateral. Depois de alguns metros, o solta, empurrando-o levemente contra a parede.
Jaden respira fundo, furioso, e explode:
Jaden:
— QUAL FOI?! PORQUE RAIOS VOCÊ FEZ ISSO?!
A figura na frente dele — magra, ágil — tira o capuz. É uma garota, talvez um pouco mais velha que ele, com expressão afiada.
Ela responde com frieza:
— Eu acabei de salvar a sua vida. É assim que você agradece?
Jaden:
— Salvar minha vida? Você acabou de estragar meu plano!
A garota revira os olhos.
— Seu "plano" ia acabar com você morto antes de encostar neles.
Jaden estreita os olhos.
— Para de falar bobagem.
Ela dá um pequeno tapa no rosto dele — nada forte, mas o suficiente para cortar a discussão.
— Idiota. Fala mais baixo. Se aqueles homens ouvirem a gente, não vai ter plano nenhum pra discutir.
Jaden fica em silêncio por um segundo, respirando pesado.
A garota aproveita.
— Já que você tá vivo graças a mim... me escuta.
Ela cruza os braços.
— Meu nome é Camilla.
Jaden (desdenhoso):
— Idiota és tu... que se mete nos assuntos dos outros.
Camilla (olhar firme):
— Cala a boca e anda.
Ele hesita. Poderia simplesmente ignorar, mas... alguma coisa na postura dela indica que ela sabe para onde está indo.
Sem dizer nada, ele segue.
— Acho que ainda não disse — murmura Jaden, depois de alguns metros — mas meu nome é Jaden.
— Legal. — responde ela, com zero interesse.
Ele bufa, mas engole a irritação.
Eles seguem por um corredor estreito e úmido, com cheiro de ferrugem e água parada. Após alguns minutos, chegam a um canto onde pilhas de sucata e tralhas velhas escondem algo. Camilla afasta um pedaço de madeira, revelando uma tampa no chão.
Jaden se agacha, curioso.
— O que tem aí embaixo?
Camilla o encara.
— Já vai ver.
Eles descem por uma escada íngreme. O som de vozes começa a surgir, misturado com o eco de ferramentas. A cada degrau, o ambiente se ilumina mais.
Quando chegam ao final, Jaden para, boquiaberto.
Um enorme salão subterrâneo se abre diante deles. Crianças e adolescentes, todos com roupas gastas, trabalham sem descanso. Alguns escavam a parede de pedra com picaretas improvisadas. Outros treinam em silêncio, suando sob lanternas presas no teto. Há conversas rápidas, mas ninguém parece relaxar.
Jaden:
— Que... que lugar é esse?
Camilla caminha até uma mesa improvisada, onde há mapas rabiscados e anotações.
— Este... é o nosso caminho pra liberdade.
Ele franze a testa.
— Liberdade?
Ela aponta para a parede mais distante, onde um grupo cava com determinação.
— Do outro lado, Jaden... está o exterior. A luz do sol.
Ele se aproxima, olhando o esforço do grupo.
— E vocês acham mesmo que... vão conseguir sair assim?
Camilla o encara de novo, mas agora há um brilho de desafio nos olhos.
— Não achamos. Sabemos. Cada centímetro que tiramos daqui é um passo mais perto de nunca mais ver aquelas portas trancadas. Aqui é a nossa salvação.
Ela dá um meio sorriso.
— Então? Quer fazer parte?
Jaden olha ao redor. O som das picaretas ecoa. O suor escorre dos rostos, mas há algo diferente ali... algo que ele não sentia há muito tempo: esperança.
Ele respira fundo.
Mas antes de responder...
O eco de passos pesados começa a se aproximar.
[FIM DO CAPÍTULO]