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Chapter 9 - Caminho Da Liberdade

O ar dentro da caverna parecia mais pesado naquela dia ou noite. Jaden sentia cada respiração como se estivesse puxando poeira e lembranças ruins para dentro dos pulmões. A luz fraca das lamparinas improvisadas criava sombras estranhas, dançando pelas paredes úmidas, quase como se observassem cada movimento dele.

Respirou fundo, encarando Camilla. A menina, com seus cabelos presos de qualquer jeito e olhar firme, esperava por uma resposta.

— Camilla… quais são as chances reais da gente conseguir escavar esse túnel pros esgotos? — perguntou, com a voz mais séria do que costumava usar.

Ela mordeu o lábio por um segundo, pensativa.

— Estamos entrando na fase final. Faltam… uma, talvez duas semanas para terminarmos. Mas se você se juntar a nós, podemos acelerar — respondeu, tentando passar confiança.

Jaden não se deixou enganar. Ele conhecia aquela pausa.

— Não respondeu à minha pergunta — insistiu.

Camilla suspirou, baixando levemente os ombros.

— Tá, você quer mesmo a verdade? Achamos que nossas chances de sucesso são altas… mas isso não significa que não exista risco. Sempre existe.

Ele hesitou. A palavra “risco” ecoou dentro dele como um alerta, mas também como uma escolha inevitável. Olhou ao redor — a caverna, as crianças, o som distante de alguém tossindo. Não havia outra alternativa que parecesse melhor.

— Então… eu tô dentro.

Eles apertaram as mãos. O gesto era simples, mas para Jaden parecia um pacto silencioso.

Logo, eles se juntaram ao restante do grupo. Para surpresa de Jaden, ele foi bem recebido. No orfanato, só Emily parecia realmente se importar com ele. Aqui, todos mostravam determinação e curiosidade pelo “novato”.

Sentaram-se em roda, o chão frio de pedra servindo como assento. Risadas baixas misturavam-se a histórias e cochichos. Camilla apresentou alguns: Marcus, um garoto magro e ágil, com um sorriso que escondia um olhar sempre atento; Cesária, de fala calma e olhar sério; Kylie, que parecia observar tudo como se estivesse montando um quebra-cabeça invisível.

Jaden se inclinou para frente.

— Sei que tá todo mundo numa boa vibe… mas entrando num assunto sério: por que vocês estão aqui? E como chegaram aqui?

Cesária respondeu, com a voz mais baixa que o normal:

— Aconteceu numa noite. Homens mascarados… levaram todos nós. Pelo que sei, nem todo mundo se lembra direito.

— Acho que isso tem a ver com o gás que vi naquela noite no orfanato… — murmurou Jaden, sem perceber que falava em voz alta.

— Que orfanato? — perguntou Camilla.

Ele desviou o olhar.

— É que… meus pais… enfim, não importa agora. O que importa é que eles raptam crianças. Mas… pra quê?

Marcus encolheu os ombros.

— Talvez pra fazer alguma coisa perigosa no futuro. Pelo menos é assim que sempre é nos filmes.

Camilla se levantou, encerrando o assunto:

— Não sei. Mas sei que já tá na hora de dormir.

Eles se dispersaram.

Mais tarde, na tenda, Jaden dividia o espaço com Marcus e outros dois garotos. O sono veio rápido, mas não durou. Um toque leve em seu braço o acordou.

— Shhh! — disse uma voz sussurrada.

— Quem é você? — Jaden se ergueu, pronto para gritar.

A luz fraca revelou Marcus, com um dedo nos lábios. Do lado de fora, Camilla esperava.

— Tá na hora do nosso turno noturno — disse ela.

— Turno? Que turno? — perguntou Jaden, confuso.

— Você vai ver.

Subiram por uma escada estreita até um corredor úmido. Marcus olhou ao redor.

— Acho que é uma caverna… mas ninguém sabe ao certo. A gente só chama assim.

Andaram em silêncio, desviando de poças e pedras soltas. Ao tentarem passar para outra sala, dois homens mascarados apareceram repentinamente. Foi questão de segundos — eles se esconderam atrás de uma pilha de caixas.

— Por pouco — sussurrou Camilla.

— Já tá na hora de eu saber onde a gente tá indo — exigiu Jaden, o coração acelerado.

— Salas secretas. Vamos pegar alimentos e recursos.

Eles avançaram até um depósito improvisado. Jaden estava ajudando a encher sacos de comida quando passos pesados ecoaram. Um homem mascarado surgiu na porta.

O silêncio foi quebrado pelo grito abafado do intruso:

— Ei!

Marcus derrubou uma caixa no chão e correu, tentando atrair atenção. Camilla puxou Jaden pelo braço, mas o mascarado bloqueou a saída.

O olhar do homem era frio, mesmo por trás da máscara. Jaden sentiu o estômago gelar. Essa não era uma brincadeira. Era a primeira vez que ele percebia que poderia ter que lutar… de verdade.

Ele tentou recuar, mas o mascarado avançou. Camilla arremessou um saco de arroz contra o homem, ganhando alguns segundos.

— Corre! — gritou ela.

Jaden hesitou. Parte dele queria fugir, mas outra parte sabia que, se deixasse o homem consciente, ele alertaria os outros. E aí… todos estariam condenados.

Respirou fundo, tentando ignorar o tremor nas mãos. Pegou uma barra de ferro caída no chão. O mascarado se virou para ele. Era como enfrentar um muro vivo.

O primeiro golpe veio rápido — um soco no ombro que o fez cambalear. Jaden reagiu por instinto, acertando um golpe lateral com a barra, atingindo o braço do homem. Ele grunhiu, recuando.

Mas o mascarado voltou com mais força. Segurou Jaden pelo colarinho e o ergueu do chão. O garoto sentiu a respiração faltar. Pensou nos pais, no orfanato, nos rostos das crianças que dependiam deles.

Com um esforço desesperado, balançou a barra para trás e atingiu a lateral da cabeça do homem. O mascarado soltou-o, cambaleando. Jaden, sem pensar, acertou outro golpe, desta vez no tronco.

O homem caiu de joelhos, depois para o lado, inconsciente.

Jaden ficou parado, respirando rápido. A barra de ferro tremia em sua mão. Não havia sangue visível, mas o peso daquilo tudo o esmagava. Ele nunca tinha machucado alguém assim. Nunca.

Camilla agarrou seu braço.

— Vamos!

Eles correram, pegando o que podiam.

Na manhã seguinte, Camilla anunciou:

— Hoje voltamos pro túnel.

As horas seguintes foram marcadas pelo som metálico de picaretas improvisadas contra a rocha. O trabalho era exaustivo. Os braços doíam, as costas queimavam, mas ninguém parava.

Dias se tornaram semanas. Alguns não resistiram à exaustão — corpos jovens, agora imóveis. Foram enterrados ali mesmo, com cerimônias simples. Todos se reuniram em roda, lágrimas silenciosas caindo, promessas feitas ao vento: “Não vamos desistir”.

Quando restava pouco para concluir o túnel, Camilla subiu em uma cadeira improvisada.

— Depois de três meses infernais… conseguimos. Este túnel é nossa liberdade. O CAMINHO DA LIBERDADE!

Os gritos de motivação ecoaram pela caverna.

Jaden, em silêncio, olhou para a escuridão à frente.

“Finalmente… vou sair daqui. Mas pra onde eu vou depois?”

Naquele momento, não importava. Amanhã, eles teriam a chance de escapar.

[FIM DO CAPÍTULO]

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