O Xeeksot ancorou em uma pequena ilha portuária chamada Ravennor, conhecida por seu mercado movimentado e por ser ponto de passagem de piratas e mercadores. O navio precisava de mantimentos: água, carne seca, pólvora, cordas e remendos para as velas.
Kaien foi o primeiro a descer, o Solar Axe apoiado no ombro. Kid vinha logo atrás, já de olho nas barracas de ferro e sucata. Killer caminhava em silêncio, atento a cada movimento ao redor. Lyra, por sua vez, desceu por último, o rifle nas costas e os olhos sempre em movimento, como se cada detalhe fosse uma ameaça em potencial.
"Não gosto de lugares assim", murmurou Killer. "Cheiram a emboscada."
Kid riu. "Tudo cheira a emboscada pra você."
Kaien sorriu. "E se for? Melhor ainda. Mas primeiro, vamos encher o porão."
O mercado era um caos organizado. Barracas de frutas exóticas, peixes recém-pescados, armas enferrujadas e até mapas falsificados disputavam espaço. Os gritos dos vendedores se misturavam ao som de moedas e ao cheiro de especiarias.
Kaien negociava com um comerciante de carne seca quando percebeu que Lyra havia se afastado. Ela caminhava lentamente entre as barracas, os olhos semicerrados, como se estivesse ouvindo algo que ninguém mais podia.
Kid a seguiu com o olhar. "Ela sempre faz isso? Parece que tá em transe."
Kaien respondeu sem desviar a atenção da negociação: "Ela vê mais do que nós. O futuro sussurra pra ela."
De repente, Lyra parou diante de uma barraca de pólvora. O vendedor, um homem gordo e suado, sorria de forma suspeita. Ela não disse nada, apenas ergueu o rifle e apontou para o chão, a alguns centímetros dos pés dele.
O disparo ecoou pelo mercado, e todos se viraram. O homem congelou, pálido. Quando a fumaça se dissipou, revelou-se uma pequena caixa escondida sob a tábua da barraca. Dentro, havia facas envenenadas e correntes — claramente preparadas para uma emboscada.
"Vocês iam nos atacar quando estivéssemos distraídos", disse Lyra, a voz fria. "Eu vi."
O homem tentou negar, mas Kid puxou as correntes com seu magnetismo, arrancando-as do esconderijo. "Ela não erra", disse, rindo.
Kaien se aproximou, o Solar Axe brilhando sob a luz do sol. "Você escolheu o alvo errado."
O comerciante caiu de joelhos, implorando por perdão. Kaien apenas o ignorou e pegou a pólvora. "Considero isso um desconto."
Mais tarde, já de volta ao navio, Kid não conseguia parar de rir. "Você viu a cara dele? Parecia que tinha visto um fantasma!"
Lyra limpava o rifle com calma. "Não era difícil. Eu já tinha visto o que ele faria. Só precisei agir antes."
Killer, sentado no convés, finalmente falou: "Você não só atira. Você antecipa. Isso é mais perigoso do que qualquer bala."
Kaien olhou para ela, sério. "É por isso que você está aqui. Não é só a mira. É a visão. Você vê o que os outros não veem. E isso nos mantém vivos."
Lyra ergueu os olhos, encarando Kaien. "E você? O que vê?"
Kaien sorriu. "Eu vejo o mundo se curvando. E vocês, cada um de vocês, são as lâminas que vão cortar esse futuro comigo."
Naquela noite, o Xeeksot partiu de Ravennor com os porões cheios de mantimentos. Mas mais importante do que a comida ou a pólvora era a certeza que todos tinham agora: Lyra não era apenas uma atiradora. Ela era os olhos da tripulação, a guardiã que enxergava o que ainda não havia acontecido.
E, pela primeira vez, Kid, Killer e até Kaien sentiram que a tripulação estava começando a se tornar algo maior do que simples sobreviventes. Estavam se tornando inevitáveis.
