Ficool

Chapter 6 - Entre sombras e gelo

Ele avançou. A velocidade do impacto surpreendeu Kenji, que, mesmo cansado, reagiu a tempo. Kaito desferiu um golpe lateral com a lâmina de osso metálico, e Kenji desviou com um movimento rápido de braço. Em seguida, contra-atacou com um soco direto no peito do rival.

O golpe lançou Kaito para trás, atravessando uma coluna de madeira rachada e depositando-o entre pedaços de pedra e poeira. Apesar da dor, ele se ergueu, com o rosto contorcido e cuspindo sangue.

— Como… como você ficou tão forte? Isso é impossível.

Sentia o gosto amargo da derrota, o peso da inferioridade esmagando o orgulho. O corpo tremia, não de dor, mas pela sensação de estar diante de algo muito maior.

Antes que Kenji pudesse concluir a investida, os olhos dele perderam o foco. A energia ao redor se desfez. O calor intenso virou uma fraqueza súbita. Ele cambaleou e caiu de joelhos.

Seu corpo finalmente cedeu.

Ofegante, com suor escorrendo pela testa e os dedos afundando no chão rachado, Kenji tentava se manter consciente, mas a visão escurecia.

Kaito se arrastava pelos escombros, o rosto sujo de sangue e pó. O braço ainda vibrava com o impacto do soco. Os olhos vermelhos de ódio buscavam Kenji, ajoelhado e à beira do desmaio. Sentia-se humilhado, porém vivo, e a fúria explodia em orgulho ferido.

Kaito sussurrou com voz rouca:

— Maldito… acha que pode fazer pouco caso de mim? Eu vou tirar tudo de você… todos que você ama… tudo vai desaparecer.

Kenji ainda tentava se levantar, os braços trêmulos afundando na poeira. Mas a visão oscilava. O corpo não obedecia. A tontura o venceu. O tronco tombou e ele caiu de lado, esgotado. O calor havia sumido — a energia estava drenada.

Ao perceber isso, Kaito esboçou um sorriso torto, carregado de malícia. O sangue escorria da testa até o queixo, mas ele se levantou com esforço. Os músculos tremiam, as pernas mal sustentavam o peso. O ódio, porém, era mais forte. Como um animal ferido guiado pelo instinto, cambaleou em direção ao senhor Tomoji, caído mais à frente entre vigas partidas e ferramentas amassadas.

Kenji, deitado, murmurou quase sem som:

— Pare… não faça isso…

Pensamentos embaralhados inundaram a mente: “Essa não… não tenho mais forças… foi só agora que consegui fazer alguma coisa por alguém… isso não pode acabar assim…”

Ele ergueu a cabeça o suficiente para enxergar. Entre sombras e poeira suspensa, viu Tomoji. Mesmo ferido, mesmo à beira da morte, o velho olhava para ele com um sorriso sereno — um olhar de orgulho e paz.

O grito de Kaito, porém, cortou o momento:

— MORRA, VELHO!

A voz ecoou no armazém devastado. Kaito correu em disparada, os braços tomando forma de lâminas negras que brotavam dos pulsos. Outra vítima cairia nas mãos de quem havia sido contaminado pela mana obscura dos demônios.

Kenji, desesperado, lágrimas escorrendo pelo rosto sujo, reuniu as últimas faíscas de força.

— PAREEE!

O grito foi forte o suficiente para vibrar entre as vigas danificadas, fazendo até o ar parecer congelar por um instante.

Então uma nova voz surgiu do alto:

— Ei você pare aí mesmo.

Kaito parou por reflexo e olhou para cima. Viu alguém surgir à luz da lua, caindo de cabeça para baixo pelo buraco aberto no teto durante a luta. Era Ryota.

Os cabelos brancos tremulavam no ar, os olhos gélidos estavam fixos em Kaito. No instante seguinte, antes que o inimigo pudesse reagir, Ryota já estava diante dele. Encostou a ponta do dedo na testa.

— Congelar… da Rosa de Inverno.

A magia se ativou com leveza quase poética, mas o efeito foi devastador. Um cristal de gelo azul-claro se espalhou em milésimos de segundo, cobrindo todo o corpo de Kaito. Primeiro a testa, depois ombros, braços e pernas; tudo ficou preso em uma prisão de cristal opaco. Finas pétalas de gelo se formaram no centro do peito como uma flor maldita encerrada ali para sempre.

Silêncio.

Kenji observou a cena com os olhos semicerrados, lutando contra o desmaio iminente. Viu Ryota pousar com leveza no chão em meio ao caos. Ele olhou ao redor e se aproximou.

— Caramba… ainda bem que cheguei a tempo hein Kenji.

Ryota olhou para Tomoji, ferido no chão.

— E pelo visto o senhor Tomoji tá vivo também. Mas temos que levá-lo ao hospital agora.

Kenji esboçou um sorriso fraco, quase infantil, sujo de lágrimas e sangue seco. A presença do amigo era tudo de que precisava naquele instante.

— Que bom… que bom que você está aqui… Ryota…

Enfim, o corpo cedeu. Ele caiu de lado, desacordado, mas com um sorriso de alívio nos lábios.

Naquele instante, a noite voltou a silenciar e o caos foi substituído por uma tênue esperança.

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