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Chapter 11 - O VISITANTE NOTURNO

Ainda não eram oito horas da manhã quando o Subinspetor Silva entrou no parque do Jardim Zoológico. Ele fez questão de chegar cedo para conversar com o vigia noturno antes do fim do turno, às oito em ponto.

Com passos calculados, ele sabia que precisava de sutileza para que o guarda noturno não percebesse sua real intenção. Na frente do grande portão, esperava com tranquilidade o momento de entrar. Pouco antes das oito, um homem baixo, com bigodes grossos e pretos — o guarda — se aproximou com as chaves na mão.

— Veio cedo, hein? — comentou o homem, notando Silva ali parado.

— Vou viajar ao meio-dia e não podia deixar de conhecer as feras antes de partir — respondeu Silva, disfarçando sua presença ali.

— Tem que ver o filhote de rinoceronte que chegou semana passada...

— Estou aqui por causa dele mesmo — respondeu Silva, fingindo interesse. — Nunca vi um rinoceronte ao vivo, só em fotos e no cinema. Uma pena sobre o galo-da-serra. Ouvi dizer que morreu, é verdade?

— Doença, nada! — disse o guarda, indignado. — Morreu estrangulado, coitado. E pior: ficou todo pelado...

— Pelado, como assim?

— Arrancaram as penas todas! Nem uma sobraram.

— Quem fez isso?

— Sei lá eu...

— Ele andava solto?

— Não, morava ali naquele viveiro verde, logo à direita.

— Que coisa... Vamos dar uma olhada?

— Espere um pouco. Lá vêm meus companheiros. — Ele acenou para dois homens que se aproximavam, um deles indo direto para a guarita.

Com a curiosidade de Silva, o guarda se empolgou e começou a narrar o ocorrido da outra noite.

— Eu estava dormindo naquele pavilhãozinho, como sempre faço, quando acordei com uma barulheira danada vinda do viveiro dos pássaros.

— Que tipo de barulho?

— Barulho de asas batendo, como se alguém quisesse agarrar um dos bichos. Peguei a lanterna e fui ver.

— E que horas eram?

— Uma e quinze da manhã. Apontei a lanterna para o viveiro grande, mas não vi nada. Pensei que uma das araras tivesse arrumado confusão, e voltei para a cama.

— E o galo-da-serra?

— Ele vivia junto das araras, mas nem percebi a falta dele. Só no dia seguinte, o Cristóvão, meu companheiro, encontrou o coitado estrangulado e sem penas. Uma judiação...

— Quem faria algo assim?

— Não sei... Talvez um moleque que ande por aí.

— Mas como ele teria entrado?

O guarda apontou para os muros altos ao redor do zoológico.

— Trepar ali é difícil. Acho que alguém se escondeu atrás de uma moita à tarde e saiu com os visitantes no dia seguinte.

O Subinspetor observou o viveiro e percebeu que a porta podia ser aberta facilmente do lado de fora a, bastando levantar o trinco.

— "Impressões digitais não adiantam", pensou. "Quem fez isso é esperto e provavelmente usou luvas."

O guarda abaixou-se e pegou uma pena do chão.

— Olha só, uma das poucas que sobraram do galo-da-serra.

— Que cor viva, parece um pedaço de fogo! E o que fizeram com o corpo?

— Jogamos no lixo, ué. O que mais iríamos fazer?

As araras, inquietas, começaram a voar de um lado para o outro com a presença dos estranhos, fazendo grande algazarra.

Silva percebeu que não obteria mais nenhuma informação relevante ali, mas saiu com a sensação de que a morte do galo-da-serra podia estar ligada ao mistério dos três jovens mortos.

— Bem, doutor, vou indo — disse o guarda. — Não deixe de ver o rinocerontezinho. É pequeno, mas já tem um baita temperamento!

— Obrigado pela conversa — disse Silva, deixando uma gorjeta para o guarda. — Tome uma cervejinha por minha conta.

Enquanto o guarda sorria agradecido, Silva se dirigiu à alameda das feras, com ou sem ânimo para ver o rinoceronte.

— Alberto? — Rachel Saturnino atendeu o telefone, surpresa. — Que milagre é esse? Há mais de um mês que você não liga!

— Preciso falar com você, Rachel. Urgentemente. Podemos nos ver hoje? — disse ele, sem rodeios.

— O que aconteceu? Você está bem? Parece estranho...

— Não posso explicar por telefone. É sério.

— Ai, que medo! — disse ela, tentando brincar.

— Podemos nos ver às 8 e meia?

— Claro. Passa aqui em casa.

Ele desligou e saiu às pressas. Tinha que correr se quisesse encontrar Verônica na porta do Conservatório. Eles adoravam aquele momento de volta para casa, de mãos dadas, prolongando o caminho. Quanto mais o tempo passava, mais apaixonado ele ficava. E esperava apenas a visita do irmão de Verônica para oficializar sua intenção de se casar com ela após se formar em Medicina.

Várias vezes pensou em falar com Verônica sobre os rumos estranhos da investigação da morte de Clarence, mas sempre resistiu. Sabia que qualquer indiscrição poderia ser um desastre, e ainda mais agora que Pimentel suspeitava de uma conexão com a pensão de Cora O'Shea.

— Você está ainda mais bonita hoje, Verônica — disse ele, admirando sua silhueta harmoniosa, realçada pelo suéter azul-claro e a saia justa. — Tão pequena, tão delicada, e com uma personalidade tão forte!

Mr. Gedeon continuava insistente com Verônica, e ela não sabia mais como despistar o homem. Por sorte, sempre contava com o "anjo da guarda", Mr. Graz, que aparecia nos momentos certos para protegê-la.

Quando estavam quase chegando, uma buzina forte chamou a atenção. Olharam para um carro que passava, dirigido por uma bela mulher de cabelos vermelhos.

— Alberto! — exclamou Rachel Saturnino, parando o carro. — Não é às 8 e meia que marcou comigo?

— Sim... — respondeu ele, constrangido. Rachel lançou um olhar de desprezo para Verônica, que, ofendida, virou-se e saiu rapidamente em direção à sua casa.

— Espere... eu posso explicar! — implorou Alberto, mas Verônica já desaparecia no portão, deixando-o sem reação.

— Que gênio terrível essa garota tem! — pensou Alberto, irritado. — Ela deveria confiar em mim, mesmo com as aparências contra. E se eu contasse a verdade sobre os cabelos vermelhos? Talvez só assim ela entenderia...

Lembrando-se da visão de Hugo morto com a espada espanhola cravada no peito, ele decidiu que não revelaria nada a Verônica — pelo menos até que a situação estivesse mais clara.

4o

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