Ficool

Chapter 1 - Arco 1: A Caçada

Edição #1: O Furo

 

No coração do Rio de Janeiro, a cidade pulsa sob um sol escaldante, mas é em um laboratório de alta tecnologia que o tempo parece congelar. Talvez seja o frio do ar-condicionado, talvez seja o silêncio, mais gelado que o aço cirúrgico que brilha ali dentro. O ambiente é estéril, dominado por tons de azul e metal, onde máquinas sofisticadas exibem sequências intermináveis de DNA em brilhantes monitores.

Ali, tudo reflete controle e precisão, especialmente na figura de um homem magro, cabelos curtos salpicados de fios brancos e olhos azuis penetrantes, sempre vestido em um jaleco elegante. Dr. Marcos Cruz — com a postura de quem mede e reescreve o próprio destino entre anotações e dilemas morais — observa o ambiente como um maestro da genética.

 

Em destaque, uma grande jaula de vidro. Dentro dela, uma preguiça-real repousa, conectada a tubos e sensores, quase tão imóvel quanto o próprio silêncio do laboratório. O cientista, por instantes, parece absorver não só dados, mas também o peso ético de tudo que faz, mantendo no rosto um traço constante — aquela calma tensa de quem está sempre diante do desconhecido.

 

Enquanto isso, a centenas de quilômetros dali, em Brasília, decisões igualmente frias são tomadas. Em uma sala de reuniões luxuosa, o símbolo máximo do poder nacional reluz ao fundo, enquanto um homem elegante ajeita o nó de sua gravata caríssima. Mauro Magnus, branco, de porte executivo, cabelos perfeitamente arrumados e olhos castanhos que brilham com uma maldade doce, exibe o tipo de sorriso frio característico de quem está acostumado a impor sua vontade sem precisar levantar a voz.

Na expressão polida e postura impecável, Magnus é o retrato do poder corporativo, ambicioso e calculista — e todo o ambiente, do mármore reluzente ao silêncio cortante, parece conspirar para expandir seu império.

 

Saindo da reunião, Magnus percorre o corredor amplo e silencioso, já com o celular encostado ao ouvido. A máscara de bilionário educado começa a rachar, deixando entrever a verdadeira impaciência sob o discurso elegante.

 

Ao telefone, a voz de Magnus é precisa, pausada, exigente:

"Como anda o projeto? O contrato depende disso. Preciso de resultados. Para ontem."

 

Pouco depois, já está na limusine preta, subsolo do prédio, a luz fraca realçando a preocupação discreta por trás da compostura. Ali, o empresário polido se revela um homem sob pressão, pronto para embarcar — não só de volta ao Rio de Janeiro, mas para o centro do próprio jogo corporativo.

 

Ele se dirige ao motorista, o tom baixo e ameaçador:

"Aeroporto. Rápido. Tenho que voltar para o Rio."

Na zona portuária do Rio de Janeiro, a cidade revela suas cicatrizes em meio ao cheiro de maresia e tinta fresca. Ali, um galpão abandonado pulsa com energia jovem e revolucionária — tão diferente do silêncio frio do laboratório de Marcos. Faixas de protesto, latas de spray e cartazes espalhados pelo chão, como sementes de rebeldia em meio à ferrugem e ao concreto.

 

No centro do burburinho, Herika Rodrigues ergue-se sobre um caixote de madeira. Jovem negra de postura firme, firma o olhar com seus olhos verdes intensos, que parecem refletir tanto a esperança quanto a dureza da cidade. Seu cabelo rastafári imponente, volumoso, paira como coroa sobre a cabeça, e as roupas urbanas moldam-se ao corpo com conforto e propósito. Quando gesticula, a força dos braços é visível — bióloga de raiz, com músculos talhados por caminhadas, trilhas e noites maldormidas em defesa da causa.

"É isso, galera! Separem os cartazes, preparem as tintas! Amanhã a gente vai pra cima deles com tudo! Chega de usar vidas como cobaia!"

Mesmo em meio ao fervor, uma sombra de cansaço contorna seus traços — a expressão séria suavizada apenas quando, em pensamento, se permite um instante de pausa:

(Preciso relaxar um pouco... só por hoje).

 

Em outro canto do Rio, em um loft moderno da Zona Sul, o contraste é absoluto. JC Andrade, 1,85m de altura e físico de quem alterna pranchas de surf e treinos de academia, contempla dois monitores gigantes, onde gráficos financeiros se agitam feito ondas.

A pele dourada pelo sol, o cabelo castanho-claro de surfista sempre desalinhado, e a camiseta larguinha combinam perfeitamente com o visual descontraído — nerd assumido, com um charme bagunçado de quem conquista sorrisos e desafia os próprios limites. No olhar, vive uma mistura de autoconfiança e leve insegurança, pronta para emergir ao menor desafio.

"ISSO! Porra, mais uma pra conta! Fechando a semana no verde!"

Após o grito de vitória, se espreguiça, exibe braços marcados por músculos definidos, e ao se levantar, olha o mar pela janela — pura liberdade na postura e no sorriso. Rindo sozinho, brinca com o reflexo no vidro:

"E agora... O que o pai merece? Um mergulho pra limpar a alma ou um treino pra amassar o ego?"

E sem pensar duas vezes, já atravessa o apartamento descalço, largando a bermuda pelo caminho. Do corredor, a voz ecoa, leve, típica de quem leva a vida com humor até nos piores dias:

"Partiu treino! A endorfina tá chamando!"

De volta ao laboratório do Dr. Marcos Cruz, o tempo parecia estagnar sob a luz azulada de um monitor holográfico gigante, flutuando silenciosamente no ar. A hélice de DNA em três dimensões girava intensamente, exibindo a beleza e a complexidade da vida reduzida a códigos eletrônicos.

O rosto de Marcos, iluminado pelo brilho digital, exibia frustração profunda — a testa franzida, os pensamentos apertados como punhos diante de uma criação teimosa. Ali, onde a vida é apenas sequência e algoritmo, Marcos se via como um deus menor diante de um mistério que insistia em desobedecê-lo.

De repente, a tranquilidade é quebrada por um alerta insistente:

blip... blip... blip...

Na projeção, um setor da hélice de DNA brilha em vermelho:

[FALHA DE SEQUENCIAMENTO: REJEIÇÃO DE DNA]

Ele fecha os olhos, aperta a ponte do nariz para tentar conter o cansaço.

"Não... de novo não. Isso não está nada bom."

É então que, por trás de Marcos, surge Vanessa disfarçada com uma peruca morena comprida sob seu cabelo ruivo curto contrasta com o branco do jaleco, revelando a juventude e praticidade de quem aprendeu a se movimentar por ambientes hostis. Os olhos — negros, atentos — brilham, captando cada detalhe do laboratório e do pesquisador.

Sob a identidade de "Daiane" assistente do doutor, escondendo a sua verdadeira natureza de repórter investigativa, mas sua máscara de preocupação é perfeita.

Mas ainda mantem o olhar é de quem já viu muito e guarda fome de verdade.

Ela se aproxima, prancheta digital em mãos, fala em tom servil:

"Algum problema com a telemetria da amostra, Doutor? A simulação divergiu do esperado?"

 

Pouco antes, um painel de luz revela o segredo de sua missão:

No bolso do jaleco, sob a lapela, uma pequena câmera de smartphone está ligada, gravando tudo. Nem mesmo Marcos percebe o pontinho vermelho escondido entre os instrumentos de trabalho.

 

Vanessa pensa, silenciosa:

(Isso, fala pra mim. Me dá a manchete...)

 

Naquele laboratório, Dr. Marcos se vira parcialmente para a assistente disfarçada, sem olhá-la nos olhos. Ao fundo, desfocada, a preguiça-real permanece letárgica, seu olhar resignado — uma prisioneira silenciosa do progresso científico.

 

Marcos respira fundo e, quase murmurando, responde:

"Não é a simulação, Daiane. É a matéria-prima. Teimosa. Imperfeita."

 

Com Vanessa agora caracterizada pela juventude, cabelo ruivo curto, olhos negros e presença de repórter investigativa determinada e discreta, o leitor a visualiza e sente sua pegada "true crime" até o suspense do diálogo. 

No corredor mal iluminado do laboratório, a rotina parecia se arrastar junto com o carrinho de limpeza empurrado por uma mulher — a antiga assistente, agora vestida como faxineira. Ela para e lança um olhar amargo em direção à porta principal, seu rosto marcado pelo ressentimento de quem perdeu espaço para alguém mais influente.

 

O narrador observa:

Para uma boa repórter, não existem portas fechadas. Existem apenas chaves que ainda não foram encontradas… ou forjadas.

Com as conexões certas e a influência necessária, Vanessa não apenas conseguiu uma entrevista: ela tomou o lugar da antiga assistente, relegando-a à faxina.

 

Dentro do laboratório, Vanessa — ainda sob o disfarce de "Daiane" — se aproxima do Dr. Marcos, que continua imerso na luz azul do monitor holográfico, frustrado com a sequência genética rebelde. Ela mantém o papel de assistente prestativa e pergunta:

 

"Professor... com licença. Se não for incômodo, poderia me explicar o porquê do estudo com as preguiças?"

 

Marcos se volta lentamente, um leve sorriso de arrogância surgindo nos lábios. Ele claramente gosta da oportunidade de exibir seu intelecto:

 

"Uma pergunta pertinente, Daiane. É porque não estamos estudando a preguiça. Estamos estudando a raiva, através do seu oposto absoluto."

 

Ele começa a andar pelo laboratório, as mãos para trás, como um palestrante dominando seu palco. Pela janela, o trânsito caótico da cidade revela o contraste entre o mundo lá fora e o silêncio científico ali dentro.

 

"Vivemos na era da aceleração. A tecnologia nos prometeu tempo, mas só nos deu pressa. E o corpo... o corpo paga a conta. Estresse, picos de pressão, enxaquecas... são apenas os sintomas de um sistema sobrecarregado."

 

Marcos para em frente à jaula, observando a preguiça-real com distanciamento clínico.

 

"Elas são o mapa. O animal mais sereno do planeta. Em algum lugar no códice genético delas está o segredo para desligar a fúria. Nós vamos encontrá-la, decodificá-la e... engarrafá-la."

 

Com um ar de grandiosidade, Marcos se volta para Vanessa e conclui:

 

"E nada disso, minha cara, seria possível sem a visão do Grupo Magnus. A Magnus Farmacêutica está financiando essa revolução."

 

Vanessa, por trás de sua máscara, pensa, triunfante:

(É isso! A ponte... Magnus e o monstro. Te peguei.)

Vanessa, ainda sob o disfarce de "Daiane", exibe um sorriso perfeito que para qualquer um poderia significar admiração genuína. Mas para quem olha com atenção — e para o ouvinte que acompanha sua mente — há um brilho de cinismo nos olhos verdes. Ela está representando o papel de sua vida.

 

"Doutor, isso é fantástico! Pense nos benefícios que uma pesquisa como essa pode trazer ao mundo!"

 

O foco muda para o rosto do Dr. Marcos, e a máscara de cientista afável se despedaça. Seus olhos tornam-se frios, e um sorriso maquiavélico, quase perturbador, surge em seus lábios. A iluminação parece escurecer, revelando sombras duras em seu semblante.

 

"Com certeza." — a voz é baixa, gélida.

 

Marcos se vira e simplesmente ignora Vanessa. Caminha em direção ao painel de controle, estendendo a mão lentamente para um grande botão vermelho.

Por um instante, Vanessa perde o sorriso e fica visivelmente confusa:

 

"Dr.? O que o senhor está fazendo?"

 

O som de um botão sendo pressionado, seco e definitivo, ecoa pelo laboratório:

CLICK

 

Dentro da jaula de vidro, o injetor automático desce, perfura a pele da preguiça-real e começa a bombear um líquido vermelho, viscoso, diretamente na corrente sanguínea do animal. A criatura se encolhe, seu corpo reagindo à substância misteriosa.

 

Da perspectiva de Vanessa, vemos seus ombros tensos; ao fundo, o Dr. Marcos observa tudo com total frieza e desprezo, sem sequer se virar para ela. Sua voz é cortante, distante:

 

"Minha querida, o trabalho de verdade começa agora. Vamos estudar o comportamento do espécime ao receber uma boa quantidade deste 'soro especial'."

Vanessa, sentindo o suor brotar na testa, não consegue mais manter o disfarce. A máscara de "Daiane" se desfaz — resta apenas o pânico de uma mulher encurralada, os olhos vidrados na jaula, a boca entreaberta em choque.

 

Ela balbucia, quase sem voz:

"Soro... especial?"

 

Dentro da jaula, tudo muda em segundos. O close no olho da preguiça revela uma pupila que se dilata violentamente. Uma veia vermelha estoura, tingindo a esclera de dor e terror. O olho sonolento se abre num grito silencioso de agonia.

 

O corpo do animal começa a convulsionar, debatendo-se contra o chão. Os monitores cardíacos disparam, enchendo o ar com um som agudo, ensurdecedor.

 

BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIP!

THUD! THUD! THUD! — o corpo bate desesperado contra o metal.

 

Vanessa recua, esbarra numa bancada e derruba instrumentos, que caem com barulho estridente.

 

CLATTER! CRASH!

Ela mal consegue conter um grito, as mãos trêmulas cobrindo a boca, horrorizada, incapaz de desviar o olhar.

 

A transformação chega ao auge: as garras da preguiça se alongam, tornam-se navalhas negras que arranham o vidro, deixando marcas profundas. O pelo, antes pacífico, escurece e ganha tons avermelhados. A boca se abre em um rosnado mudo, revelando dentes afiados, olhos de fogo vermelho. O que está na jaula já não é mais uma preguiça — é um monstro nascendo em agonia.

 

SKREEEEEEEEEE! — as garras rasgam o vidro.

 

A criatura, agora predadora feroz, se lança contra o vidro da jaula. O impacto faz tudo tremer. Do lado de fora, Dr. Marcos observa, braços cruzados, um sorriso cheio de satisfação toma conta de seu rosto. Ele admira sua obra, indiferente ao terror e sofrimento.

 

Com voz calma, quase um sussurro, Marcos solta sua sentença:

 

"Isso... perfeito... magnífico. Lindo."

 

A criatura-preguiça, já tomada por pura fúria, não cessa seus ataques contra as paredes da jaula. O vidro range sob a pressão intensa, quase cedendo. Em primeiro plano, o Dr. Marcos observa tudo, extasiado, como se admirasse uma obra-prima recém-nascida.

 

Ele sussurra, maravilhado:

"Isso... perfeito... magnífico. Lindo."

 

De repente, um som agudo e alto ecoa pelo laboratório.

 

BEEEEEEEEEP!

 

No monitor central, uma mensagem irrompe em letras garrafais e verdes:

[COMPOSTO GÊNESIS PRONTO PARA EXTRAÇÃO]

 

As mãos de Marcos voam pelo painel de controle, os dedos digitando frenéticos um código complexo. Sua expressão é de concentração absoluta, a testa franzida em uma euforia febril. Ele está, enfim, no auge de sua criação.

 

Dentro da jaula, um novo conjunto de tubos e agulhas desce do teto, conectando-se rapidamente à criatura enfurecida. Imediatamente, um líquido amarelo brilhante, quase dourado, começa a ser coletado, fluindo pelos tubos enquanto a criatura, mesmo lutando, não consegue escapar do destino.

 

Com delicadeza religiosa, Dr. Marcos segura um cilindro de vidro que se enche com o soro dourado. Por um instante, a luz do líquido ilumina seu rosto, conferindo-lhe uma aura quase sagrada. Em seus olhos, a mesma cor do composto reflete o triunfo do experimento. Ele parece um sacerdote, assolado por êxtase científico, enquanto profere:

 

"Sim... SIM! A primeira amostra... do soro GÊNESIS!"

 

Na borda do laboratório, o foco retorna ao olhar aterrorizado de Vanessa. Em sua pupila dilatada, o reflexo do soro dourado reluz como uma profecia sombria. Ela mal ousa sussurrar a palavra, como se proferisse uma maldição:

 

(Soro... Gênesis?)

O processo chega ao fim. Os tubos de extração se retraem lentamente, quase solenes. Na jaula, a criatura — agora esgotada e quase sem vida — desaba sobre o piso metálico. A transformação monstruosa se desfaz, restando apenas o corpo frágil de uma preguiça: exausta, moribunda, como um segredo falsamente domado pelo progresso.

 

Para Vanessa, aquilo é a gota d'água. Um grito abafado escapa de sua garganta; ela se vira e corre desesperada para fora da sala, uma mancha de pânico fugindo do cenário de horror científico.

 

"Mmph!" — o som do terror contido.

 

No corredor estéril, Vanessa se choca contra a parede oposta, escorregando até o chão. O corpo tremendo incontrolavelmente, ela abraça os próprios joelhos, tenta respirar, mas só consegue hiperventilar — a mente e os sentimentos à beira do colapso.

 

O foco então se aproxima de suas mãos trêmulas, uma agarrando a outra na tentativa de se firmar. Com esforço sobre-humano, uma das mãos hesita, mas finalmente se dirige ao bolso do jaleco onde repousa o smartphone: seu único elo com o mundo para enfrentar o pesadelo.

 

Na tela, o aplicativo de gravador de voz ainda está rodando. Em primeiro plano, um bloco de notas se abre, e Vanessa começa a digitar, com dedos trêmulos:

 

(voz ofegante, gravada no áudio)

"...É horrível... ele é um monstro... mas eu preciso... preciso ir mais a fundo..."

 

As anotações frenéticas, como fragmentos de um diário de pesadelo, aparecem na tela:

 

Líquido VERMELHO viscoso? O que era?

 

SORO GÊNESIS?????

 

LIGAÇÃO DIRETA: MAGNUS <> MARCOS <> MONSTROS

 

PRECISO DE PROVAS CONCRETAS!

No fim de um corredor escuro, Vanessa continua encolhida contra a parede, tentando recuperar o fôlego depois do horror que presenciou. No primeiro plano, a silhueta nítida de uma mulher observa, semioculta nas sombras. Seu corpo esguio e postura tensa lembram um felino prestes a atacar — não há dúvida, naquele universo de ciência fria, o maior predador nem sempre está preso na jaula.

 

Enquanto isso, dentro do laboratório, o Dr. Marcos pega seu smartphone que começa a vibrar sobre a bancada de metal. A tela acende: o nome "MAURO MAGNUS" aparece ao lado do logo ameaçador da corporação.

 

BZZZT... BZZZT...

 

A narrativa corta abruptamente para uma academia moderna e vibrante na Zona Sul do Rio. JC Andrade finaliza sua última série, o suor escorrendo pelo corpo atlético, a atmosfera tomada por energia e superação.

 

Ali, a poucas quadras dali o único sofrimento é o da última repetição.

 

No vestiário, sob o chuveiro relaxante, JC sorri satisfeito, a água correndo pelo rosto. Não poderia parecer mais despreocupado.

Ele pensa consigo mesmo, celebrando o próprio sucesso:

(Boa, moleque... O dia foi produtivo. Acho que o pai merece uma gelada pra comemorar.)

 

Voltando ao galpão na zona portuária, Herika está de pé diante de seu grupo de ativistas. A reunião estratégica terminou, mas o ar permanece carregado de energia combativa e esperança renovada pelo desafio. O sol já se pôs, iluminando precariamente com focos quentes de resistência.

 

"Tá tudo acertado, pessoal. Amanhã, sem recuar. Vamos pra cima deles com tudo!"

 

"SIM! VAMOS!" — o coro responde, vibrante.

 

Do lado de fora, Herika se encosta em seu carro elétrico, os ombros visivelmente cansados, mas a determinação intacta. Ela respira fundo, encara o céu noturno do Rio e diz para si, buscando alívio:

 

"Nossa... que dia exaustivo. Preciso de uma bebida e uma música boa... dar uma esticada por aí."

 

Pelo para-brisa do carro, ela avista na esquina uma pequena placa iluminada: o Pub Alquimia Urbana brilha com uma luz quente, promissora e convidativa.

 

Herika sorri levemente, retomando o controle do próprio destino:

 

(Hum... Acho que ali é um bom lugar.)

No Pub Alquimia Urbana, JC está sentado sozinho ao balcão, relaxando após o dia intenso. Perto da porta, banhada pela luz quente da rua, Herika entra e para por um instante. Seus olhos se arregalam ao reconhecer uma presença inesperada.

 

Pub Alquimia Urbana — onde o acaso mistura memórias e destinos em um copo de bebida.

 

Ela sussurra, quase sem acreditar:

"Não acredito..."

 

Herika se aproxima do balcão com um sorriso largo, genuíno. Ao ouvir a voz dela, JC se vira, e seu rosto imediatamente se ilumina de surpresa e alegria. Ele se levanta da banqueta num pulo.

 

"JC! Cara, é você mesmo?"

 

"Herika? Mentira!"

 

No centro daquele bar, os dois se encontram em um abraço apertado, afetuoso, repleto de saudade. Eles riem juntos; o mundo ao redor some, restando apenas a força do reencontro de almas antigas.

 

Ainda rindo, eles se afastam um pouco, mas continuam segurando um ao outro pelos braços. Herika lança um olhar divertido, avaliando o amigo de cima a baixo:

 

"Caraca, olha pra você! Deu uma encorpada, tá metido a galã de novela? O que andou fazendo da vida?"

 

JC, sempre descontraído, a olha com brilho galanteador, mas sincero:

 

"E você... meu Deus. Continua a mesma gata. E esse cabelo rastafári... realçou ainda mais esses seus olhos verdes."

 

Herika ri, genuinamente feliz — e um pouco sem graça pelo elogio. Dá um tapinha no braço dele:

 

"Ah, para com isso, JC! Você não muda, sempre conquistador..."

JC e Herika agora compartilham uma mesa no pub, rindo e bebendo, os sons da amizade ecoando pelo tempo. Ao redor deles, como memórias flutuantes, imagens etéreas dos dois mais jovens aparecem:

 

— Correndo na praia junto a outros amigos, livres e felizes sob o sol carioca.

— Dividindo um balde de pipoca em uma sala de cinema, gargalhadas abafadas no escuro.

— E, mais nítida do que todas, a lembrança dos dois abraçados atrás do muro da escola, rostos tão próximos que o silêncio falava mais que qualquer palavra, numa intimidade que ia além da amizade, guardando perguntas antigas e sentimentos não ditos.

 

Para velhos amigos, alguns drinks são o suficiente para transformar anos de silêncio em minutos de nostalgia...

 

De volta ao presente, a risada cessa. O silêncio paira, apenas os olhares continuam cruzados por cima dos copos. A atmosfera, antes eufórica, agora é carregada de sentimento. A lembrança do momento atrás do muro da escola permanece entre eles, trazendo à tona o peso de tudo que ficou em aberto.

 

...e para trazer de volta perguntas que nunca foram respondidas.

 

JC quebra o silêncio tentando recuperar a leveza, mas erra no tom da brincadeira:

 

"Mas e aí..." — ele sorri, mas é hesitante. "Continua na mesma batida? Tentando salvar o mundo?"

 

Herika reage na mesma hora. O brilho suave de seus olhos se apaga, o sorriso desaparece. A conexão que existia se quebra, como se um véu repentino caísse sobre a mesa — decepção pura estampada em seu rosto.

 

Ela desvia o olhar, toma um gole na bebida antes de responder. A voz, antes quente, agora sai fria e distante. O clima perfeito se desfaz.

 

"Pelo menos eu estou tentando fazer a diferença. E você?".

Sentado à mesa, JC levanta as mãos em gesto de rendição, tentando apaziguar o clima com um sorriso sem graça. Mas a expressão de Herika endurece ainda mais. Ela já não está apenas decepcionada — está começando a se irritar profundamente.

 

"Opa, calma, linda. Foi só uma pergunta boba, relaxa."

 

Um close nos olhos verdes de Herika, agora afiados como lâminas.

 

"Boba? Não, João Carlos. Foi a mesma pergunta de sempre. Você não mudou absolutamente nada."

 

JC recua na cadeira, claramente constrangido. No pensamento, quase se ouve sua voz interna:

 

(Putz... me chamou de João Carlos. Agora o sermão vem com juros e correção monetária...)

 

De fora do quadro, a voz de Herika continua, dura:

 

"Continua a mesma pessoa vazia..."

 

Agora ela se inclina sobre a mesa, gesticulando com raiva. JC se encolhe, defensivo.

 

"...que não se importa com nada além do próprio umbigo!"

 

JC tenta defender seu lado, mas sem força:

 

"Ah, qual é, Herika... Não vamos começar com isso de novo."

 

Herika se levanta, voz cada vez mais alta, atraindo olhares no pub:

 

"Aposto que continua com essa sua vidinha patética! Escondido atrás de um computador, fingindo que o mundo real não existe!"

 

JC finalmente perde a paciência, rebatendo no mesmo tom:

 

"E qual o problema?! Eu luto pelas minhas coisas, pelos meus ideais! Desculpa se a minha 'vibe' não é ser mártir e tentar salvar o mundo 24 horas por dia!"

 

O rosto de Herika se contrai, transbordando mágoa e fúria. Ela pega a bolsa:

 

"É por isso que a gente nunca deu certo."

 

Silêncio no bar. Herika vira as costas, decidida, e se afasta, uma figura firme na noite carioca. JC, parado, observa-a partir. A raiva dá lugar à tristeza e ao arrependimento profundo. Ele despenca de volta na cadeira.

 

Sozinho à mesa, encara o copo meio vazio — a imagem de derrota:

 

"Garçom... a conta, por favor." — ele quase não levanta a cabeça.

 

Mais tarde, no estacionamento escuro ao lado do pub, JC anda cabisbaixo em direção ao carro. De repente, o celular vibra no bolso, iluminando seu rosto triste. Na tela, uma única palavra pulsa: PAI.

 

BZZZT... BZZZT...

De volta a brasilia.

No aeroporto de Brasília, sob as luzes frias da noite, a pista de um hangar particular revela o verdadeiro palco do poder. Um jato executivo preto, elegante e imponente, aguarda silencioso, enquanto uma limusine de luxo estaciona ao lado da escada da aeronave.

Aqui, o poder não espera na fila de embarque.

 

Ao pé da escada, Fernando — gigante paulista de terno e óculos escuros, musculoso como uma muralha, imóvel como uma estátua — vigia o ambiente. Sua presença é pura lealdade e força bruta, prestes a agir se necessário.

 

Do banco traseiro da limusine, Mauro Magnus desce com passos rápidos e comandos rápidos.

 

— Tudo pronto?

Fernando, voz grave e firme, não se move:

— Sim, chefe.

 

Já a bordo do jato luxuoso, que agora se desloca suavemente pela pista, Magnus se acomoda em uma poltrona de couro branco. Sem cerimônia, Fernando entrega um tablet ultrafino nas mãos do patrão.

 

— As notícias, senhor.

 

Magnus consulta o aparelho. Sobrepostas ao seu rosto, quatro janelas de notícias exibem a imagem pública cultivada com esmero:

 

Magnus sorrindo com a população numa farmácia popular.

"Filantropo Mauro Magnus inaugura mais uma Farmácia Popular: 'precinho que todos podem pagar.'"

 

Foto corporativa, Magnus exibindo placa de sustentabilidade.

"Grupo Magnus recebe título de empresa ecologicamente biossustentável."

 

Magnus de capacete entre crianças numa comunidade.

"Magnus dá o pontapé inicial nas obras do instituto de tecnologia educacional para jovens na Fazendinha Em São Paulo."

 

Cena de "diversidade" perfeitamente fabricada.

"Grupo Magnus apoia a diversidade empresarial e se torna exemplo para o país."

Magnus ao lado de uma Trans, uma mulher gorda, um cadeirante e uma homossexual e uma jovem negro todos sorrindo e felizes

 

Terminado o desfile de manchetes e imagens, o rosto de Magnus é iluminado apenas pela luz fria do tablet. Lentamente, um sorriso vitorioso, frio, absolutamente maléfico se forma.

De volta ao laboratório no corredor, Vanessa se recompõe. Ainda pálida, o rosto marcado pelo horror recente, ela se levanta do chão, enxugando uma última lágrima com as mangas do jaleco. O pânico, porém, dá lugar a uma expressão de raiva e determinação fria.

 

(Pensamento)

Chorar não vai adiantar, Vanessa. Chora depois. Agora... agora é hora de trabalhar.

 

A jornalista caminha furtivamente por um corredor adjacente, mantendo-se próxima das paredes, invisível aos olhos distraídos. Seu smartphone está firme na mão, e ela grava um áudio em sussurro urgente — uma verdadeira espiã em território inimigo.

 

"…esse papo de vacina não cola. A pesquisa é muito mais sinistra. Preciso descobrir o real motivo das preguiças... e que líquido vermelho e esquisito era aquele."

 

Em um cruzamento de corredores, Vanessa para abruptamente, alerta. Ao longe, avista uma assistente de laboratório carregando uma bandeja com tubos de ensaio e seringas, apressada, entrando em uma sala ao final do corredor.

 

Close no rosto de Vanessa — os olhos se estreitam, o instinto jornalístico desperto.

 

(Opa… Aonde a madame vai com tanta pressa e tanto aparato?)

 

Sem hesitar, Vanessa segue a assistente, movendo-se ágil e silenciosa, escondendo-se nas sombras e atrás dos equipamentos. Logo, chega à porta da sala e espia, discreta, pela pequena janela de vidro.

 

Mas a visão que tem é inesperada: a sala está completamente vazia. É um laboratório comum, mas não há sinal da assistente. Incrédula, Vanessa sussurra para si mesma:

 

"Ué… Cadê ela? Evaporou?"

Vanessa entra na sala, olhar atento e desconfiado, vasculhando cada canto com urgência. Do lado de fora, no corredor escuro, a silhueta misteriosa feminina observa seus movimentos — os olhos de um predador atento à presa.

 

Na caça pela verdade, às vezes o caçador... também é a presa.

 

Lá dentro, Vanessa percorre o ambiente, passa as mãos pelas frias paredes de metal, procurando qualquer fresta, botão ou sinal de passagem secreta. A frustração transparece no tom irritado:

 

"Não é possível... Pra onde essa infeliz foi? Tem que ter uma passagem secreta aqui... Caralho!"

 

De repente, um zumbido baixo e mecânico começa a ecoar pela sala.

 

VVVMMMMMMMM...

 

Vanessa paralisa, congelada, tentando identificar de onde vem o som eletrônico.

 

No chão, frestas de luz azul gradualmente delineiam um grande quadrado, crescendo contornando o centro do piso.

 

Com um som sibilante, quase futurista, o quadrado desliza para o lado:

 

KSSSHHHHHH... CLICK.

 

Uma escada de metal aparece, descendo para dentro da mais completa escuridão. Vanessa, parada na beira da passagem recém-revelada, encara o abismo — uma mistura de medo, choque e a pura excitação de uma repórter diante do furo de sua vida.

 

(Pensamento)

Bingo.

A assistente de laboratório que Vanessa havia seguido — em subindo as escadas, emergindo da passagem secreta. Em primeiro plano, Vanessa reage rápido: mergulha, ágil e silenciosa, para debaixo de uma mesa de metal, ocultando-se nas sombras do canto mais escuro da sala.

 

(Pensamento)

Eita, um alçapão... Mais suspeito que isso, impossível!

 

A assistente sai tranquilamente pela porta convencional, sem imaginar que Vanessa está escondida ali. Assim que a porta começa a se fechar, emitindo um zumbido mecânico que ronda o ar.

 

VVVMMMMMM...

 

Percebendo a oportunidade, Vanessa rola para fora de debaixo da mesa com movimento fluido e determinado. Ela corre — puro instinto e coragem — em direção ao alçapão e se joga antes que a passagem se fecha, imagem perfeita de uma repórter movida por adrenalina.

 

De dentro da passagem, por um ângulo cinematográfico, vemos a silhueta de Vanessa mergulhando através da fresta de luz — um instante antes de a porta se fechar e mergulhar a cena na escuridão.

 

THOOMP!

 

No topo da escada, dentro do subsolo desconhecido, Vanessa agacha-se, usando seu smartphone para iluminar o local, usada como lanterna. A tensão pulsa em seu rosto suado, mas nos olhos brilha o orgulho de quem sabe que está perto de algo valioso:

 

(Sussurrando para si mesma, com um sorriso)

Meu faro de repórter... nunca falha. Aqui tem coisa grande.

 

Do lado de fora, através de um vidro espelhado, vemos o laboratório vazio, com o alçapão perfeitamente selado. No reflexo do vidro — ou desenhada pela luz do corredor — aparece a figura feminina misteriosa. O rosto ainda está oculto nas sombras, mas um sorriso diabólico e satisfeito denuncia que ela viu absolutamente tudo.

 

 

De volta ao laboratório principal. Agora escuro — a noite já se instalou lá fora. O Dr. Marcos desliga o celular, a expressão de pura irritação marcando seu rosto.

 

(Pensamento)

Só problemas... que variáveis mais complexas...

 

Ele observa as próprias mãos, que seguram a cápsula com o soro Gênesis dourado. A luz do líquido raro ilumina seus dedos, e aos poucos, a dureza de sua expressão cede espaço a um olhar de admiração — quase orgulho paterno. A criação é seu único consolo.

 

Agora em um hangar particular no aeroporto do Rio de Janeiro, a noite é cortada pelas portas que se abrem do jato executivo de Magnus. À espera, um sedan preto executivo repousa ao lado da escada da aeronave.

 

Rio de Janeiro — a cidade maravilhosa espera, indiferente aos monstros que chegam em suas asas de metal.

 

Magnus e Fernando descem juntos do jato, os movimentos rápidos e sincronizados. Não trocam palavras. Em passos decididos, entram no sedan e, com um som surdo e pesado, a porta se fecha atrás deles.

 

Dentro do carro, Magnus olha pela janela, observando a orla noturna passar como um rio de luzes, sombra e mistério. Seu rosto está imerso em sombras, a expressão sombria e calculista.

Fernando, no banco do passageiro, rompe o silêncio:

 

— Para a mansão.

 

O veículo para diante de uma verdadeira fortaleza de vidro e concreto — uma mansão modernista, iluminada de forma fria e arrogante, cravada sobre a pedra à beira do mar. Magnus sai do carro, não com a exaustão de um viajante, mas com o tédio de um rei obrigado a lidar com a incompetência dos outros. Seus olhos, afiados, brilham com antecipação sádica do que está por vir.

 

Maguns olha para seu fiel guarda-costas e com uma puro ar e imponência lhe ordena

— Quero que você cuide disso pessoalmente, Fernando. E não quero erros dessa vez.

 

Fernando faz um leve aceno de cabeça:

— Sim, chefe. Não falharei com o senhor.

 

Magnus caminha em direção à entrada iluminada de sua mansão. Em primeiro plano, vemos Fernando, de costas, já levando o celular à orelha. Seu porte é uma promessa silenciosa de violência iminente.

 

(ao celular)

— Convoque os demais. Temos trabalho a fazer.

O hall de entrada da mansão de Magnus é grandioso, frio e impessoal. Mármore, vidro e peças de arte moderna caríssima compõem um ambiente luxuoso, ainda assim impiedoso e vazio. Ao entrar, Magnus mal tem tempo para respirar: Bibi, sua jovem e escultural esposa, se joga em seus braços com a energia de quem está sempre desejando mais.

 

Uma jaula dourada, à beira-mar.

 

Ela, loira radiante, veste um robe de seda curto, tão provocante quanto seu sorriso.

 

"Chefinho... demorou..." — diz ela em tom manhoso, misturando carinho e sedução.

 

Do lado de fora em uma outra vibe Fernando, discreto, já se afasta da entrada principal, falando ao celular, cuidando dos negócios paralelos daquela noite tensa.

 

De volta a quente e ardente Bibi que beija Magnus com paixão faminta. Ele corresponde, mas seu olhar por cima do ombro dela permanece distante e frio — seus pensamentos continuam presos aos negócios e à estratégia, nunca ao presente.

 

Após o beijo, Magnus se afasta, pega o celular para mais uma ligação de peso. Bibi, com um bico irresistível, começa a subir pela escadaria monumental, lançando olhares provocantes por cima do ombro:

 

"Vem, Chefinhooooooo... Sua coelhinha tá com o quarto todo preparado pra você."

 

"Só um minuto, minha querida. O papai precisa fazer uma ligação importante."

 

"Rápido, Tigrão... tô louca de saudade!" — ecoa sua voz doce pelo mármore.

 

A cena corta bruscamente para a escuridão total — o contraste com o brilho da mansão é absoluto. Um feixe de luz fraco, vindo da lanterna de um smartphone, ilumina os degraus metálicos de uma escada que desce para o breu subterrâneo.

 

Enquanto isso, nas entranhas do laboratório...

 

Vanessa desce cautelosamente, o ambiente úmido e claustrofóbico. A luz de seu celular desenha sombras dançantes e ameaçadoras nas paredes de concreto. Seu rosto é puro foco: medo e adrenalina misturados, a respiração curta, cada passo uma decisão.

 

Chegando ao final da escada, ela varre a parede com o feixe de luz até encontrar um grande interruptor de energia, do tipo industrial. Sua mão trêmula se aproxima e, reunindo coragem, ela aciona o botão.

 

As luzes fluorescentes piscam, depois acendem com um zumbido agudo. O laboratório secreto enfim aparece — vasto, silencioso, e assustador. No centro, oito macas enfileiradas. Seis delas estão ocupadas por formas humanas, todas cobertas por lençóis brancos.

 

Vanessa permanece parada, pequena e chocada diante da dimensão macabra daquela descoberta.

A câmera observa do alto, registrando Vanessa como uma figura pequena e solitária em meio ao vasto laboratório subterrâneo.O silêncio nesse espaço é pesado, macabro, como um segredo prestes a explodir.

 

Vanessa se aproxima cautelosamente de uma das macas cobertas. Sua mão, trêmula, hesita, prestes a tocar o lençol. O rosto reflete pavor — e a compulsão irresistível de uma jornalista diante da verdade.

 

Mas antes do contato, um brilho pulsante vindo de uma sala adjacente chama sua atenção. Ela se vira, olhos arregalados diante do inesperado.

 

Ali, a visão é puro horror científico: uma galeria sinistra exibe os predadores mais perigosos da fauna brasileira, cada um prisioneiro em sua jaula de vidro hipertecnológica. Uma onça-pintada rosnando, um jacaré-açu imóvel como estátua da morte, os anéis de uma sucuri se movendo lentamente e muitos outros perigoso predadores. Tubos e sensores conectam-se aos corpos dos animais, extraindo DNA em fluxo constante, alimentando máquinas sofisticadas. Um zoológico profano, criado para servir à ciência obscura.

 

Sobrepondo-se a esse quadro angustiante, um close no rosto chocado de Vanessa. Por maior que seja o horror, ela ergue o smartphone, documenta tudo — a lente da câmera brilha enquanto começa a registrar o pesadelo.

 

(pensamento)

Meu Deus... É um zoológico de terror genético...

 

Na tela do smartphone, Vanessa observa a foto recém tirada da onça aprisionada. Abaixo, no bloco de notas, digita apressadamente:

 

Então é daqui... É daqui que ele extrai o soro vermelho para injetar nas preguiças? Mas a pergunta que não quer calar... Por quê?

Quebrando a tensão do laboratório frio vamos as ruas do Rio.

Dentro do carro, JC dirige sem rumo pelas ruas vazias da madrugada carioca. O rádio está desligado, e a única luz no interior vem do painel e dos postes que passam lá fora. Seu rosto é uma máscara de frustração e tristeza. No banco ao lado, a tela do celular acende mais uma vez com uma chamada ignorada: "PAI".

 

Madrugada no Rio. Onde a cidade adormece, mas os fantasmas pessoais continuam bem acordados.

 

(pensamento)

Cara, o meu dia estava perfeito… até eu esbarrar nela. E estragar tudo.

 

Através do para-brisa, a avenida litorânea se abre à frente. De repente, o mar imenso surge à direita, iluminado por um caminho de luar prateado que brilha sobre as ondas. É como se o oceano lhe oferecesse uma rota de fuga. Com decisão silenciosa, JC gira o volante e avança em direção ao mar a praia.

 

Na praia deserta, apenas a solidão responde. O carro para próximo as poeiras de areia do calçadão, os faróis cortando a escuridão só por um instante; então, tudo se apaga e resta apenas a luz da lua cheia, que toma conta da cena silenciosa.

 

JC caminha pela areia fria, tirando camisa e sapatos e mesmo de calça se lança solitário contra o oceano infinito, ouve apenas o som constante das ondas. Não é um mergulho de comemoração — mas um batismo de desespero, um pedido de redenção.

 

Com força, JC se atira contra uma onda, a água explodindo ao seu redor:

 

KSSSHHHHHHAAAA!

 

Após o impacto, flutua de olhos fechados na imensidão escura, submerso num ambiente que a lua transforma em sonho etéreo. Um breve refúgio do próprio turbilhão de sentimentos.

 

Ao emergir, ofegante, encara o céu estrelado, a lua cheia devolvendo um olhar indiferente, distante, perfeita para quem quer respostas.

 

Em um close, a água salgada mistura-se às lágrimas de raiva e mágoa. JC grita para a lua, a voz partida:

 

"POR QUÊ?! POR QUE TINHA QUE SER HOJE?!"

 

Por fim, sai da água, em um caminhar exausto simplesmente se joga de costas na areia, os braços abertos, entregue, como um náufrago na própria decepção. Permanece ali, encarando o céu infinito, esperando que a dor seja levada pelas ondas e pelo vento.

Enquanto isso em outra vibe, no quarto principal da mansão de Magnus, tudo parece desenhado para ostentar a luxuria e o pecado. Um ambiente enorme, gelado, com uma parede inteira de vidro revelando o mar noturno, indomável e distante. Em uma cama gigantesca, Bibi está deitada com lingerie provocante, a única presença calorosa na fortaleza do rei.

 

Magnus está de pé, de costas para ela, finalizando uma ligação no celular, enquanto na parede a TV exibe notícias. A tela mostra o logotipo da Rede News e o rosto sério de um âncora. Uma barra de "URGENTE" pulsa na parte inferior.

 

A fortaleza de um rei. Fria, exceto pela cama.

 

No som ambiente —

"...e a notícia que acaba de chegar à nossa redação: fontes do Planalto confirmam que a Farmacêutica Magnus está prestes a assinar um contrato milionário de exclusividade com o Governo Federal."

 

Magnus ouve com atenção. O sorriso lento, vitorioso, ganha espaço em seus lábios. Nos olhos, o brilho do poder absoluto e da satisfação — o som da vitória ecoa na sala silenciosa.

 

Desligando o celular, ele se volta para a cama, postura mudando, tornando-se predatória e confiante. Encara Bibi com um olhar faminto.

 

"Coelhinha... prepara-se. Seu chefinho está com tudo."

 

A câmera foca em Bibi, que morde levemente o lábio inferior, olhos brilhando de excitação ao ver a demonstração de poder do marido. O clima, agora, é puro desejo pelo poder conquistado.

 

(Com um ar submisso de voz)

"É assim que eu gosto."

O clima agora e dentro do laboratório subterrâneo, Vanessa está de costas para nós, tentando desesperadamente fazer uma ligação no smartphone. Um close na tela revela: "SEM SINAL". A sala é blindada, e sua frustração transparece na postura tensa.

 

(Sussurrando, irritada)

Droga... não estou conseguindo ligar para o Ivan. A sala é blindada... Vou ter que voltar lá pra cima.

 

Ela se volta para a escada, mas congela. Das sombras, atrás de uma das macas, surge Adriele. Morena, atlética, olhar felino, já comunica tranquilamente pelo pulso:

 

(No comunicador)

Achei a nossa ratinha fujona. Ela está na sub-seção C3. Venham para cá. Agora.

 

Vanessa tenta disfarçar o pânico, força um sorriso de confusão, enquanto encaram-se no silêncio do laboratório. Adriele, imóvel, sem expressão, observa cada movimento como uma predadora diante da presa.

 

(Opa! Que susto... Eu só estou aqui fazendo o meu trabalho.)

(pensamento)

Como?! Como eu não percebi a presença dela?!

 

Um close nos olhos azuis, felinos, de Adriele — a voz calma, certeira:

 

Eu sei quem você é, Vanessa.

 

Vanessa recua um passo, chocada. O disfarce foi rompido, mas ela tenta uma última cartada, respirando fundo:

 

Do que você está falando? Eu sou Daiane. Assistente pessoal do Dr. Marcos.

 

Adriele solta um som baixo, quase um ronronar de satisfação. Um sorriso perigoso brinca nos lábios, deixando claro que o jogo acabou — e ela venceu.

 

(ela emite Ronronar sádico e frio)

O laboratório subterrâneo vira palco para um borrão de movimento. Adriele avança com velocidade felina, e num gesto rápido e humilhante, arranca a peruca da cabeça de Vanessa. Os cabelos ruivos e vibrantes da repórter se soltam, esvoaçando à luz fria do ambiente.

 

VSSH!

 

Com desprezo, Adriele joga a peruca de lado, encara Vanessa, agora exposta, e sorri com cruel superioridade:

 

"Sério isso? Ruiva..."

(ronronar baixo e ameaçador)

"...Eu odeio ruivas."

 

Vanessa sabe que a farsa acabou e que o tempo está se esgotando. Com um grito raivoso, parte para cima de Adriele, apostando tudo na força bruta:

 

"Não tem outro jeito, né? Então vou com tudo pra cima de você!"

 

O impacto é fulminante. Adriele não se move um centímetro — gira o corpo e acerta um chute devastador na boca do estômago de Vanessa.

 

THWACK!

 

A repórter cai de joelhos, tossindo, lutando para recuperar o fôlego, o rosto distorcido pela dor:

 

(Ofegante)

"Filha da... você é baixinha, mas bate forte... cof!"

 

(Adriele, à distância)

"Você ainda não viu nada..."

 

A câmera se coloca no chão, Adriele aproximando-se lentamente, predadora cercando sua presa:

 

"...minha ratinha."

 

(pensamento de Vanessa)

Preciso me livrar dela... Rápido... antes que o reforço chegue...

 

De repente, Adriele explode novamente em movimento — corre e salta em direção a Vanessa, pronta para executar uma voadora precisa. No último segundo, Vanessa se joga para o lado, rolando pelo chão. A voadora passa zunindo por onde sua cabeça estava, em direção à parede de concreto.

 

(pensamento)

Isso! Ela vai se arrebentar na parede! É a minha chance!

 

Mas Adriele surpreende. Seu pé bate na parede e, em vez de se chocar, ela usa o impacto como trampolim, girando no ar com agilidade impossível. Salta de volta, como um projétil, aterrando sobre a atônita Vanessa. Em questão de instantes, imobiliza a repórter no chão com uma chave de corpo complexa, ficando por cima, vitoriosa.

 

(Sussurrando, com ronronar satisfeito)

"Aonde pensa que vai, ratinha? Essa gata aqui... sempre pega a sua presa."

 

Vanessa, presa no chão, encara Adriele com dor, perplexidade e terror:

 

"Como... Como você fez isso?!"

 

Nesse momento, as botas pesadas de dois seguranças entram em cena, parando ao lado das duas. Não há mais fuga. A luta acabou.

No laboratório principal, um assistente remove o corpo mole e exausto da preguiça, levando-o para longe em silêncio. Ao fundo, Dr. Marcos observa cada canto, a testa franzida em uma confusão incômoda.

 

(pensamento)

Estranho... Onde está Daiane? Eu a vi sair, mas não voltou...

 

Nesse exato momento, Adriele entra no laboratório, absolutamente intacta — nenhum arranhão, nenhum fio de cabelo fora do lugar. Caminha em direção ao Dr. Marcos, a eficiência de uma predadora que acaba de abater sua presa fresca no olhar.

 

— Doutor.

 

Ela para à frente de Marcos, olhar fixo, postura fria, mas com um brilho sutil de satisfação felina nos olhos azuis.

 

— Sua "assistente"... é uma bela ratinha suja. Uma espiã. Surpreendi ela na sub-seção C3.

 

Dr. Marcos incrédulo abaixa a cabeça, balança-a em puro desapontamento. O cansaço agora parece pesar mais do que a irritação.

 

(murmurando)

Descubram quem ela é... o que ela faz aqui... e o que ela sabe.

 

Então, ele ergue o rosto. A decepção some, substituída pela expressão de pura crueldade. O cientista desaparece, revelando apenas o monstro racional e impiedoso por baixo. Sua voz vem fria, definitiva:

 

Depois... livrem-se dela. Sem deixar vestígios.

 

Do lado de fora, no corredor, Vanessa — já capturada — é arrastada por dois seguranças. Ao ouvir a ordem de Dr. Marcos, entra em pânico total, debatendo-se com a força do desespero:

 

(gritando)

NÃO! DOUTOR, POR FAVOR, NÃO! DR. MARCOS!

 

De volta ao laboratório, Adriele sorri. Um sorriso sádico e satisfeito se espalha pelo rosto enquanto os gritos desesperados ecoam no corredor.

 

(com ronronar de prazer)

Deixe comigo.

Adriele se volta para os seguranças que prendem Vanessa, ainda se debatendo em desespero. A ordem da felina é curta e brutal:

 

"Façam uma revista geral nela e prendam essa ratinha suja na contenção. Tirem TUDO dela. Celular, gravador, anotações... e as roupas."

 

Num painel de pura humilhação, Vanessa, reduzida a trajes íntimos, é jogada sem cerimônia para dentro de uma cela cilíndrica de vidro, no centro de uma sala branca e estéril. A porta pneumática se fecha com um sibilo cortante e definitivo.

 

KSSSHHH-CHUNK!

 

Dentro da prisão de alta tecnologia, Vanessa, tomada por raiva e impotência, esmurra o vidro com toda força. Sua imagem refletida a encara de volta, prisioneira desesperada diante da completa exposição e vulnerabilidade.

 

(gritando)

"PRA QUE ISSO?! PELO MENOS DEVOLVAM MINHAS ROUPAS, SEUS DOENTES!"

 

No silêncio absoluto da sala de contenção, Vanessa permanece encolhida no chão da cela — pequena, vulnerável, a luta interrompida. Por enquanto.

 

A CONTENÇÃO é uma prisão cilíndrica de vidro laminado, cercada por sistemas de segurança revolucionários, quase impenetrável. Mas ali, mais avançada do que qualquer travamento físico, é a tecnologia psicológica: transparência total, humilhação permanente, silêncio opressivo, sensores atentos não à vida, mas ao processo de degradação da vontade. É uma ferramenta cirúrgica, feita para desmontar uma pessoa pedaço por pedaço.

 

Do lado de fora, o imponente prédio dos Laboratórios Magnus ergue-se silhuetado contra o céu, que começa lentamente a clarear com os primeiros raios de sol. Ali dentro, horrores secretos se desenrolam — mas, para o mundo lá fora, é apenas mais um amanhecer sobre a cidade.

 

Alvorecer.

 

O novo dia se aproxima, imparcial, indiferente à dor e ao sofrimento ocultos atrás das paredes de vidro e concreto. Enquanto tudo desperta, as tragédias seguem acontecendo nas sombras.

O sol da manhã invade o galpão abandonado na Zona Portuária, cortando a penumbra com fachos de luz que revelam o caos organizado de um grupo determinado. Ativistas se movem com propósito: preparam cartazes, carregam faixas, organizam suprimentos e armamentos em vans velhas. A atmosfera vibra de eletricidade nervosa, cada respiração carregada pela urgência da hora.

 

Galpão na Zona Portuária. A manhã nasce, e com ela, a hora da batalha.

 

Em meio à atividade, Herika está parada, imóvel. Ela segura um cartaz, mas seu olhar está perdido no vazio — a luz da manhã realça uma expressão de melancolia distante. Naquele instante, ela não está ali.

 

Um flashback, em tom sépia e bordas suaves: Herika adolescente, ao lado de JC igualmente jovem, abraçados atrás de um muro pichado. Apenas se olham com carinho e ternura — a intensidade e carinho do primeiro amor congelados em uma lembrança perfeita.

 

O retorno abrupto ao presente — um jovem ativista, piercing na sobrancelha, toca delicadamente o ombro de Herika, trazendo-a de volta à realidade.

 

"Kika? Ei, Kika... tudo bem? Você tá em outro mundo aí."

 

Herika pisca, desorientada. O rosto do amigo preocupado e a agitação ao redor a chamam de volta. De uma das vans, outra ativista grita:

 

"Vamos, Herika! A van já tá saindo!"

 

Um close dramático: ali, vemos a transformação acontecer em tempo real. A vulnerabilidade se dissipa dos olhos de Herika, trocada por fogo determinado e dureza de aço. A líder desperta.

 

Num painel poderoso, Herika sobe em um caixote, ergue o punho no alto. Todos os ativistas param e se viram para ela, seus rostos repletos de expectativa. A postura é de uma general antes da batalha.

 

(gritando, voz forte e clara)

"VAMOS PARA O LABORATÓRIO DO GRUPO MAGNUS!"

 

O grupo explode em um grito de guerra, uníssono, vibrando esperança e desafio.

 

ATIVISTAS (em coro):

"SIMMM!"

 

A última imagem: as portas do galpão se abrem, revelando a pequena caravana de vans e carros que parte rumo ao confronto decisivo — uma marcha iluminada pelo sol e guiada pela força coletiva.

 

 

No laboratório principal do Dr. Marcos, Adriele mostra um tablet ao Doutor. Na tela, a ficha: "Vanessa Santos, Repórter Investigativa, REDE NEWS" — o rosto profissional da jornalista estampado, agora revelado. O semblante de Marcos se contorce em fúria gelada.

 

(gritando)

"REDE NEWS?! Tragam essa anomalia aqui! IMIATAMENTE!"

 

A porta da contenção se abre com um silvo. Vanessa, exposta em roupas íntimas, encolhe-se, piscando sob a luz súbita e esmagadora. Dois seguranças enormes bloqueiam o caminho; um joga no chão, aos seus pés, um jaleco branco e amarrotado.

 

(com voz de brutamontes)

"Vambora, palhaça. Chega de showzinho. O Doutor tá te esperando."

 

Um close no rosto de Vanessa: puro desprezo no olhar. Ela pega o jaleco com movimento decidido, veste-se e endurece a expressão, como pedra. Recusa-se a dar a eles o prazer de vê-la quebrada.

 

Enquanto isso no mundo dos magnatas.

Na suíte master da mansão Magnus, o sol da manhã invade pelas janelas gigantes. Magnus está deitado, desperto, olhando para o teto, enquanto Bibi dorme profundamente em lençóis de seda. No semblante dele, a expressão é pensativa, revivendo preocupações mesmo após a noite de prazer.

 

Após uma noite de poder e prazer, as preocupações do império voltam a assombrar...

 

Em flashback, Magnus está em seu escritório em Brasília, tenso ao telefone.

 

— Dr. Marcos, o soro está pronto? O Ministério da Saúde está impaciente!

 

Do outro lado da linha, Dr. Marcos, estressado, tenta justificar:

 

— Senhor Mauro, estou realizando os últimos testes... Tenho tudo sob controle, só preciso de mais recursos e mais tempo...

 

Um close extremo na boca de Magnus, rosnando com impaciência:

 

— Preciso dos resultados PARA ONTEM!

 

De volta ao presente, no corredor do laboratório, Vanessa — agora vestindo o jaleco que mal cobre seu corpo — é escoltada pelos seguranças. Ela caminha de cabeça erguida, desafiadora, rumo ao interrogatório.

 

No mundo de Magnus, a pressão é sempre repassada para o próximo elo da corrente.

No centro do laboratório principal prisioneira e levada novamente a frente do doutor, Vanessa permanece de pé mostrando a firmeza da forte jornalista que é. O jaleco improvisado mal cobre suas roupas íntimas, mas sua postura é de puro desafio. À sua frente, Dr. Marcos a encara, os nós dos dedos brancos de raiva enquanto se apoia em uma bancada de metal. Sentada em cima de uma mesa, Adriele assiste à cena com interesse divertido e predador.

 

Laboratório Principal. Onde a verdade não liberta; ela condena.

 

Um close tenso no rosto de Dr. Marcos, vermelho de raiva. As palavras saem como veneno, misturando fúria e insulto:

 

"Quer dizer que a 'Daiane' é uma repórter investigativa da REDE NEWS? Fascinante. E o que uma criatura com um intelecto tão... limitado... como o seu, está fazendo em um ambiente de ciência de verdade?"

 

Vanessa não se encolhe. Pelo contrário, abre um sorriso arrogante e desafiador. Os olhos brilham:

 

"O meu trabalho, Doutor. Descobrir tudo que eu posso sobre vocês, essa sua indústria de merda, seu chefe canalha... e essa sua pesquisa suja."

 

Adriele solta uma risada baixa, um ronronar de apreciação, deslizando da mesa com graça felina, genuinamente entretida com a ousadia de Vanessa.

 

(ronronando)

"Uhn... essa ratinha tem atitude. Eu gosto disso."

 

Dr. Marcos lança um olhar de advertência para Adriele, a voz carregada de ameaça velada:

 

"Contenha-se, Adriele. Logo, logo você vai poder 'brincar' com ela."

 

Um close nos olhos azuis de Adriele, que brilham com alegria sádica e infantil. Ela olha para o Dr. Marcos com lealdade absoluta.

 

(sorrindo)

"Sim, Doutor."

Momento crise se aproxima,

Em frente ao imponente prédio dos Laboratórios Magnus, o caos reina. Uma multidão de ativistas chega se surpresa, liderada por Herika, protesta com energia avassaladora. Cartazes feitos à mão tremem ao vento: "LIBERTEM OS ANIMAIS!", "TODA VIDA IMPORTA", "MAGNUS ASSASSINO", "DR. MARCOS MONSTRO DA CIENCIA".

O grito coletivo ecoa em ondas:

 

Em frente ao Laboratório Magnus. Onde a batalha pela alma da ciência começa com gritos e papelão.

 

ATIVISTAS (em coro, ruído de fundo):

NÃO, NÃO, EXPERIÊNCIA NÃO!

 

No meio do tumulto, Herika não apenas protesta — ela incita uma rebelião. Os olhos verdes brilham de convicção, a voz se sobrepõe ao coro:

 

(gritando)

Chega de conversa! VAMOS INVADIR! VAMOS INVADIR!

 

Um ônibus fretado, estampado com o logo da Segurança Magnus, canta os pneus e freia bruscamente, bloqueando o portão principal.

 

SKREEEEEEE!

PSSSHHHHHH!

 

As portas se abrem com estrondo. Fernando desce — muralha humana sem expressão. Atrás dele, uma fileira de seguranças corpulentos e bem equipados desembarca, formando uma parede de defesa sólida. A voz grave de Fernando corta o barulho:

 

"Estamos aqui para impedir a entrada de vocês."

 

Herika encara a linha de seguranças, sem medo — pelo contrário, parece energizada pelo desafio.

 

(com sorriso de escárnio)

Mandaram reforços, é?

 

(do lado dela, um companheiro ativista sorri e exclama)

Nós também, Kika!

 

De trás da multidão, dois caminhões chegam, despejando dezenas de novos manifestantesarmados de paus, canos, pedras e bombas caseiras . Gritos de guerra se misturam ao rugido coletivo. A força dos ativistas dobra de tamanho, o campo de batalha social se expande.

 

No auge da euforia, Herika sobe no capô de um carro, punho erguido, liderança incontestável:

 

(gritando, voz vibrante, dominante)

NOSSA HORA CHEGOU! VAMOS COM TUDO PRA CIMA DELES!

 

 

 

 

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