Ficool

Chapter 29 - Capítulo 29 – A Luz do Sol no Templo do Senhor da Montanha

Chen Shi olhava para a imensa serpente negra, tão perfeita e imóvel que parecia uma escultura. Seu coração estava tomado de reverência. A mente daquela criatura havia claramente ultrapassado a dos mortais — seu estado espiritual era tão elevado que nem mesmo os mais poderosos cultivadores poderiam alcançar.

A velha Sha o conduziu mais fundo nas montanhas de Qianyang.

"Vovó Sha, a senhora disse que as montanhas de Qianyang também têm espírito, certo?"

"Se for assim," perguntou Chen Shi, curioso, "então o espírito desta montanha deve ser enorme. Como ele seria?"

A velha Sha pensou por um momento e balançou a cabeça.

"Talvez tenha espírito, sim... mas eu nunca o vi."

Eles atravessaram um riacho nas montanhas, onde uma jovem lavava os cabelos. Ela era o espírito do riacho — bela e graciosa — e acenou para eles com um sorriso.

A velha Sha tirou de sua cesta um pente e o ofereceu à moça, que aceitou feliz e agradeceu. A correnteza do riacho pareceu suavizar, fluindo mais calma e gentil.

Mais adiante, atravessaram uma floresta repleta de ervas espirituais que cresciam ali havia incontáveis anos. Debaixo das árvores, várias criaturinhas nuas — pareciam crianças de menos de um metro — corriam e brincavam. Ao verem os visitantes, esconderam-se atrás dos troncos, espiando com curiosidade.

A velha Sha abriu o pano florido da cesta e pegou um punhado de balas. As criaturinhas logo saíram correndo, balbuciando e rindo, estendendo as mãozinhas gordinhas e alvas para receber os doces.

Aquilo era a verdadeira montanha.

Chen Shi havia visto o lado sombrio de Qianyang — um lugar repleto de espíritos e fantasmas, misterioso e assustador.

Mas agora via outra face: um mundo vivo, repleto de encanto e vitalidade.

As montanhas eram grandiosas, de uma beleza que enchia o coração de força.

Naquele instante, ele sentiu o mundo como um lugar imenso e magnífico — e apenas um peito amplo seria capaz de conter tanta maravilha.

Depois de muito caminhar, chegaram enfim ao destino.

Diante dele surgiu um antigo templo, envelhecido e meio em ruínas. O portão da montanha estava desabado pela metade, e pedaços de tijolos e telhas se espalhavam pelo chão.

Chen Shi se aproximou, afastou pedras e limpou a sujeira.

Entre os fragmentos conseguiu distinguir, com dificuldade, os caracteres gravados: "Senhor da Montanha".

"Então este é... o Templo do Senhor da Montanha!"

O templo possuía um grande salão principal e dois salões laterais — mas os laterais haviam desabado completamente, restando apenas o principal, ainda de pé.

Enormes árvores cresciam no pátio, com galhos e raízes entrelaçados, formando uma copa densa que bloqueava toda a luz do sol. Nenhum raio atravessava aquele teto natural.

Apesar da falta de sol, o ar não era frio. A temperatura ali era surpreendentemente agradável.

Sob a sombra das árvores havia um enorme incensário de bronze, faltando uma das pernas. Tinha quase três metros de comprimento e mais de um metro e meio de altura, parecendo um grande caldeirão. Estava cheio de cinzas — sinal de que, em tempos antigos, o templo fora muito próspero e reverenciado.

O ar ao redor parecia carregado de uma energia estranha. Chen Shi tentou senti-la com atenção, mas ela se dispersou como fumaça.

"Uma força extraordinária..."

Ele se deu conta: era o poder formado pela devoção e pelas preces — a energia espiritual acumulada através de gerações de oferendas. Essa força podia materializar formas divinas e conceder poder aos deuses das vilas, como a madrinha de Chen Shi.

Mas havia algo estranho: aquela energia não estava condensada, e sim dispersa, como se tivesse se libertado de seu dono.

Chen Shi concentrou-se e percebeu que a força emanava do incensário.

"Antigamente, as oferendas aqui deviam ser tão intensas que a própria lamparina absorveu grande parte desse poder. Mesmo após o templo ter caído em ruínas, ainda resta energia dentro do incensário. Mas... por que ela não se dissipou completamente?"

A velha Sha aproximou-se e acendeu três varetas de incenso.

Logo, a energia espiritual formada por aquele gesto também se espalhou e se dispersou no ar.

"Esta força é realmente poderosa demais!" — exclamou ela, olhando em volta com admiração.

Chen Shi entrou no salão principal. Ali dentro, a energia era ainda mais densa.

Nem mesmo a ruína que ele visitara anteriormente, no meio das montanhas, possuía uma aura tão intensa.

Havia outro incensário no salão, igualmente grande, coberto de cinzas antigas.

As colunas eram enfeitadas com dragões de pedra; nas portas, ainda se viam traços desgastados das pinturas dos deuses guardiões.

O teto era coberto com azulejos de porcelana azulada, decorados com cenas de lendas antigas — embora as imagens estivessem muito apagadas.

No alto, uma enorme viga vermelha e dourada atravessava o salão, e o teto central reluzia em ouro, com um desenho em forma de nuvens e um símbolo do Bagua no meio.

Diante do teto dourado havia um imenso altar, com mais de seis metros de altura — mas o nicho estava vazio.

A estátua do deus havia desaparecido.

O templo estava desabitado.

"Com uma energia tão poderosa, o espírito que morava aqui deve ter sido incrivelmente forte... Então por que este lugar foi abandonado?" — murmurou Chen Shi.

A velha Sha respondeu:

"Dizem que este templo — e até mesmo esta montanha — não existiam antes. Apareceram de uma noite para outra, brotando do subsolo. Foi na época em que houve um grande terremoto em Qianyang. As casas ruíram, árvores caíram e muitos morreram. No dia seguinte, notei que havia uma nova montanha aqui. Mas eu estava ocupada ajudando os feridos e só vim investigar depois. Nada encontrei de anormal."

Chen Shi ficou pensativo.

Então o Templo do Senhor da Montanha também havia surgido de repente do subsolo?

Ele saiu para o pátio e olhou para o alto. A grande árvore cobria tudo, impedindo completamente que a luz do sol alcançasse o templo.

Eles não conseguiam ver o sol — e o sol, por sua vez, não podia vê-los.

Que fenômeno misterioso!

Era como se o templo estivesse se escondendo propositalmente dos olhos dos verdadeiros deuses do céu.

"Você consegue cultivar aqui?" perguntou a velha Sha.

Chen Shi fechou os olhos e ativou a técnica dos Três Brilhos.

De imediato, as energias do sol, da lua e das estrelas começaram a fluir para ele — inclusive luzes vindas de outro tempo e espaço.

Sim, ele podia cultivar ali!

A velha Sha sorriu, aliviada.

"Então fico tranquila. Ontem te fiz correr risco, mas se este lugar puder te fortalecer, valeu a pena. Cultive à vontade — eu te ajudo a arrumar tudo."

Chen Shi balançou a cabeça.

"Não precisa, vovó. Eu posso cultivar e arrumar ao mesmo tempo."

Enquanto falava, começou a varrer o salão e a concentrar sua energia.

"Então está bem," disse ela, rindo. "Voltarei ao meio-dia para te trazer comida."

Chen Shi quis dizer que não precisava, mas ela já havia partido.

Ele passou a manhã inteira limpando o templo. Ao meio-dia, a velha Sha realmente voltou com o almoço — três pratos e uma sopa, muito mais saborosos que os do velho Chen.

Chen Shi comeu agradecido, sem deixar sobras.

A velha Sha o observava com ternura, como se olhasse para o próprio filho.

À tarde, ele consertou as partes quebradas do salão principal. Graças à sombra da árvore, o teto permanecera intacto e não precisava de reparos maiores — apenas de uma pintura nova nas paredes.

"Não vou dormir aqui hoje," disse ele. "Amanhã trarei um pouco de cal para rebocar as paredes."

Enquanto observava o templo, pensou:

"Também preciso cobrir as janelas com papel grosso. Se a luz do sol escapar de dentro, talvez o templo não resista. E preciso limpar os salões laterais e o pátio."

Depois, deixou o templo e voltou pelo mesmo caminho.

Encontrou novamente os pequenos espíritos da floresta — os gordinhos de antes — que agora, ao entardecer, estavam sonolentos, se enterrando no chão sob as árvores e deixando apenas as cabecinhas de fora.

No riacho, a moça espiritual o cumprimentou com um olhar tímido.

Ao cruzar uma montanha, viu de novo a serpente negra, imóvel como uma escultura, enrolada no topo.

Ele passou pela velha árvore e saudou a avó Zhuang antes de seguir.

Pouco depois, chegou em casa em segurança. O avô já o esperava com o jantar. O céu escurecia, e a lua começava a subir, iluminando suavemente a terra.

Na manhã seguinte, Chen Shi comprou incenso, velas e alguns petiscos. Guardou tudo na mochila e partiu novamente.

Ao chegar à vila de Gangzi, cumprimentou a velha Sha e entrou nas montanhas.

Ofereceu incenso à avó Zhuang, sob a árvore antiga; acendeu varetas diante da serpente negra que guardava o caminho; presenteou a jovem do riacho com um espelho de bronze; e distribuiu balas e cata-ventos para os pequenos da floresta.

Aos poucos, foi se familiarizando com todos aqueles espíritos e seguiu até o Templo do Senhor da Montanha.

Levou cinco dias para limpar completamente o templo, por dentro e por fora.

Durante esse tempo, os pequenos espíritos vinham ajudá-lo, carregando pedras e telhas. A jovem do riacho trazia água para lavar o chão.

Quando ele trabalhava até tarde, a serpente gigante deslizava silenciosamente até o portão do templo e ficava ali, guardando-o contra os espíritos malignos.

Viviam em perfeita harmonia.

No pátio havia um tanque de libertação de animais, que ele também limpou. Dentro dele encontrou um enorme casco de tartaruga, grande como um barco.

"Essa tartaruga devia ter vivido incontáveis anos... Que pena não ter resistido ao tempo."

Ele lavou o casco e o tocou com os nós dos dedos — o som metálico ecoou. Quando bateu com o punho, uma luz suave se espalhou, dissipando a força de seu golpe.

"Parece uma coisa valiosa."

Chen Shi levou o casco para o salão principal e pensou:

"Talvez dê pra vender por um bom preço. Se eu guardar e vender depois, o vovô não precisará sair para vender talismãs."

Enquanto limpava os salões laterais, encontrou entre os escombros uma caixa de pedra, perfeitamente quadrada, com linhas de junção visíveis — mas impossível de abrir.

Bateu várias vezes nela, sem deixar sequer uma marca.

"O que será que tem dentro? Um tesouro, talvez? Ou só uma pedra esculpida para enganar tolos?"

Colocou a caixa de lado e não pensou mais no assunto.

Com tudo limpo e organizado, pôde enfim se dedicar à cultivação.

Acendeu incenso no grande queimador. O ar se encheu de energia espiritual. Durante aqueles dias, ele manteve o costume de acender oferendas, e a força dentro do templo se tornava cada vez mais intensa.

Parecia até ganhar vida com sua presença.

O mais estranho era que essa energia não se dissipava — pelo contrário, continuava se acumulando, como se o templo tivesse voltado a despertar.

Durante a prática, ele entrou em um estado de profunda concentração, esquecendo o tempo, o dia e a noite.

Ninguém sabe quanto tempo se passou quando, finalmente, Chen Shi abriu os olhos.

Seu corpo havia mudado.

Os cinco órgãos internos estavam tão fortes quanto ferro; seu sangue fluía espesso e pesado, brilhando como mercúrio — uma energia imensa pulsava em cada batimento.

Sangue como mercúrio, corpo como ferro!

Era o sinal da troca de sangue verdadeiro — o primeiro passo para formar o corpo sagrado!

Em apenas alguns dias, alcançara um nível de progresso assustador.

"Hmm?"

Chen Shi abriu os olhos, surpreso. O salão estava banhado por uma luz dourada suave, quente como o sol da primavera.

Era o mesmo brilho que ele havia visto na ruína das montanhas — uma luz vinda de outro tempo e espaço.

Seguindo os raios dourados, viu um outro sol, de outro mundo.

Ele nascia no leste, acabando de emergir do horizonte.

Finalmente, ele compreendeu o verdadeiro significado do nascer do sol.

Emocionado, olhou fixamente para aquela esfera dourada subindo no firmamento.

E um pensamento lhe atravessou a mente:

"Será que... eu conseguiria atravessar essa luz e alcançar o outro mundo?"

More Chapters