Ficool

Chapter 2 - Planos

No caminho de volta, eu encomendei algumas pizzas. No momento em que cheguei, o entregador também o fez. Abri a porta e minha família estava reunida com Vic no sofá, assistindo TV.

Era perto de meia-noite, e seus olhos se voltaram pra mim quando o cheiro os atingiu.

"Quem quer pizza!?" — chamei, e muitos olhos brilharam. Coloquei as caixas sobre a mesa de centro enquanto meus irmãos mais novos corriam para a cozinha e voltavam com copos.

"O que estamos comemorando?" — Kev perguntou, entrando pela porta da frente, que eu acabara de passar.

"Ainda nada, mas estaremos em breve." — respondi, pegando uma fatia de pizza e observando minha família feliz ao comer.

Eu queria proteger essa visão. Todos nós éramos jovens! Merecemos isso, merecemos mais do que aqueles pais de merda que nos abandonaram proporcionaram.

Perto das onze, Fiona e eu mandamos os pequenos pra cima. Restavam apenas Kev e Vic, Fiona e eu na sala, todos com cervejas na mão, em silêncio.

"Despeja logo, Lip. O que foi tudo isso?" — Fiona perguntou. Ela conhecia melhor os irmãos.

A ignorei, minha mente na pilha de dinheiro em meu inventário. Antes mesmo de sair para consegui-lo, eu já tinha planejado o processo de lavagem. Embora só pudesse ser usado uma vez, era seguro e rápido.

Como desvantagem, não poderia ser mantido em sigilo. Uma vez que eu usasse esse método, meu nome viajaria por certos círculos. Por isso, eu estava fazendo isso fora de Chicago.

"Fiona, preciso que você tenha uma folga amanhã. Consegue?" — perguntei a minha irmã.

"Sem problemas, mas por que você precisa de mim?" — perguntou ela em retorno.

"Apenas um pequeno negócio. Sairemos cedo pela manhã." — respondi, sem dar detalhes, esperando até que Kev e Vic fossem embora.

Olhei para Fiona e lembrei dela na série — alguém que sacrificou a própria felicidade pelos irmãos. Leal, amorosa. Ela merecia muito mais do que tínhamos agora.

"Fi, vamos para o seu quarto. Quero te mostrar algo." — falei e me levantei. Fiona me seguiu escada acima.

Entramos em seu quarto. Caminhei até o lado de sua cama enquanto ela fechava a porta atrás de si.

"Fiona, o que eu vou te mostrar fica entre nós!" — falei com calma. "Durante o verão, adquiri algumas habilidades e mudei. Uma das coisas que posso fazer é armazenar coisas, assim."

Peguei um de seus travesseiros e coloquei em meu inventário, fazendo-o desaparecer. Fiona me encarou com olhos arregalados, caminhando até mim e me virando. Sorri para ela e acenei com a mão, fazendo o travesseiro reaparecer.

"Porra, Lip, você virou um mágico!" — murmurou ela, incrédula. "E agora? Vai se reunir com uma trupe de circo e sair pelo país?" — perguntou ela, usando sarcasmo para esconder sua confusão.

"Eu pensei em comprar a casa ao lado, iniciar um negócio próprio sob sua gerência, com a ajuda de Vic e Kev, algo que nos mantenha limpos pelo menos na superfície." — falei com calma e me sentei. Fiona caminhou até mim e sentou ao meu lado.

"E como você pretende fazer isso, Kev? Você, por acaso, assaltou um banco e não me contou?" — questionou ela, sua voz cansada.

Não respondi. Estendi a mão entre nós e comecei a retirar pilhas de dinheiro do meu inventário. Observei seus olhos arregalarem em descrença, então o medo se espalhar por seu rosto.

"Eu disse que despertei poderes. Eu não apenas posso guardar coisas — meu corpo e sentidos são extremamente diferentes e mais poderosos... Quando saí mais cedo, invadi um dos armazéns do Hernan Diaz, roubei e queimei o lugar, sem testemunhas ou provas. Agora só precisamos contar esse dinheiro e lavar ele amanhã..." — expliquei, mas Fiona estava congelada, seus olhos arregalados, nunca tendo visto tanto dinheiro em sua vida.

"Diaz!? Como o maldito traficante?" — perguntou ela, e seu rosto empalideceu.

"Exatamente ele. Por isso apenas nós dois saberemos a origem real desse dinheiro. Não se preocupe, porque eu garanti que não haveria pontas soltas. Já até preparei a forma perfeita para lavar todo esse dinheiro. Agora me ajude a contar e relaxe." — falei com indiferença.

Minha irmã me encarou por alguns momentos, então começou a contar e separar o dinheiro. Trabalhamos em silêncio, cada um de nós contando e organizando as pilhas, anotando os valores em um bloco de papel. Ao final da contagem, Fiona estava incrédula, com olhos arregalados e a boca aberta.

"Tudo bem, vamos colocar arredondado: $1.955.000 em espécie, um bom capital inicial, mas não podemos lavar esse valor exato."

"Vamos lavar um total de $1,2 milhão amanhã. Após impostos, teremos em torno de $950 mil disponíveis!" — fiz as contas por alto, mas sem me aprofundar muito.

"Novecentos e cinquenta mil!" — murmurava Fiona, incrédula, seus olhos esbugalhados. "Lip, nós realmente podemos fazer isso?" — perguntou ela, sem muita convicção.

"Podemos e faremos. Agora nos consiga uma bolsa de lona — iremos colocar o dinheiro que lavaremos nela. Para o restante, você fica com $10 mil para dar um jeito nas nossas contas por enquanto. Os outros $700 mil manterei em espera, irei usar para gastos que quero manter fora dos livros."

Fiona me olhava em um misto de preocupação e empolgação, enquanto me puxava em um abraço apertado. Ela caminhou até o armário e trouxe uma bolsa de lona preta, surrada e sem identificação. Guardamos o dinheiro, e o coloquei em meu inventário. Nos despedimos, e fui para a cama.

Na manhã seguinte, nos dirigimos ao centro da cidade, alugamos uma caminhonete e dirigimos por pouco mais de 3 horas até Indianápolis. Haveria um leilão de unidades de armazenamento ali, no qual eu havia inscrito Fiona e eu no dia anterior, além de nos registrar na associação de caçadores pelo site oficial.

Chegamos cedo ao local do leilão, nossas aparências jovens e deslocadas traindo o fato de que éramos novatos.

"Deixe que eu faça isso, Fi, apenas relaxe!" — falei com indiferença. Eu não estava ali para procurar tesouros; usaria isso apenas como uma desculpa.

Ainda assim, enviei meu olho fantasma para o primeiro depósito. Estava bagunçado, mas com um Camaro 64 visível logo na frente. Essa era uma que não adiantava competir — o preço seria alto. O segundo depósito era uma pilha de lixo, com poucas coisas úteis e muito trabalho para limpar.

O próximo era promissor: algumas caixas lacradas, dois escaninhos de escritório em bom estado, uma cadeira de escritório com espaldar alto e apoios de braço acolchoados. Fora de vista, estavam três caixas grandes de papelão, contendo um conjunto de servidores de alto desempenho lacrados. Todo o material era novo, fabricado há menos de um ano.

Esse era meu depósito! Eu poderia lavar meu dinheiro e também ganhar um conjunto de servidores para meus projetos de hacking — o equipamento naquelas caixas valia algo em torno de $20 mil!

Apesar de satisfeito, mantive o silêncio enquanto esperávamos o leilão começar. Foi um processo agitado e confuso. Os caçadores de tesouro gritavam lances e xingavam uns aos outros. Quando chegamos ao Camaro, alguns deles pareciam possuídos, apenas para se acalmarem quando chegamos ao lixão.

Por todo esse tempo, dei lances discretos, mas me afastava sempre que os valores estavam altos demais, estabelecendo a falsa impressão de que meu limite era de $200. Isso me rendeu alguma zombaria, mas não lhes dei atenção.

Finalmente chegamos ao depósito que eu queria. Havia olhares de interesse, mas não muito empolgados. Os lances foram rápidos, mas morreram ao chegar em $400, quando o leiloeiro olhou ao redor e estava prestes a anunciar a contagem, lancei $450.

Alguns olhares se voltaram para mim, mas ninguém achou que aquilo valia esse preço. Juntando a cadeira e as escrivaninhas, além de possíveis coisas ocultas, talvez esse lugar rendesse $500 — provavelmente nem isso.

Dessa forma, eles apenas zombaram e seguiram para o próximo. Fiona e eu ficamos ali enquanto o leiloeiro trancava o depósito e nos entregava o recibo. Não nos preocupamos em seguir para os próximos — nosso objetivo estava completo, e queríamos voltar antes da noite.

Fomos à recepção e fizemos o pagamento, então retornamos ao depósito com nossa caminhonete alugada. Usando o olho fantasma para garantir que ninguém observava, tirei a bolsa de lona do inventário e a coloquei em uma das gavetas do escaninho.

Sorrindo, comecei a colocar as coisas no carro. As caixas com os servidores foram para o banco traseiro — o conjunto contava com dois servidores de alto desempenho e seis monitores, além de periféricos profissionais. Em seguida vieram algumas caixas com itens de uso geral, como caixas de papel A4, entre outros. Metade da caçamba foi ocupada com isso.

Estávamos prestes a erguer um dos escaninhos quando meu olho fantasma captou movimento. Olhei para a porta do depósito e o leiloeiro, um homem na casa dos 60 anos com bigode branco, estava ali nos observando interessado.

"Olá para vocês dois, eu sou Reynold!" — falou ele com educação.

"Olá, Reynold, eu sou Lip e essa é minha irmã Fiona!" — nos apresentei com um sorriso.

"Não pude deixar de notar que vocês pagaram $450 por esse lugar. Apenas novatos fariam isso. O que, a julgar por suas aparências, combina com vocês!" — Reynold falava com um tom sincero, não julgando, mas levando tempo para alcançar seu ponto.

"Leilões são uma arte, uma em que se deve estar preparado quando se decide participar. Por isso, mesmo que vocês tenham prejuízo dessa vez, não desistam — se preparem, estudem os preços e tentem de novo. Precisamos de jovens como vocês no ramo!"

"Obrigado, Reynold, iremos manter isso em mente. Embora eu esteja satisfeito com as coisas ali em cima, no mínimo eu tenho um escritório novo." — brincou Fiona com seu sorriso desarmante.

Reynold também sorriu e deu um passo à frente.

"Precisa de ajuda com essas coisas?" — perguntou ele, apontando para o escaninho, e eu assenti.

Pegamos aquele que estava com a bolsa de dinheiro e o levantamos de forma errada. A gaveta se abriu e caiu no chão com um estrondo, fazendo com que Reynolds e eu colocássemos o item no chão.

"Vocês não conferiram as gavetas?" — perguntou ele com um olhar divertido. Fiona e eu abaixamos a cabeça, fingindo vergonha.

"Desculpe, nos empolgamos com o resto das coisas!" — falei em um tom baixo.

"Relaxe, garoto. O show é de vocês. Só aconselho a verificar tudo antes de mover armários e caixas. Às vezes, você pode quebrar algo valioso!" — explicou ele com paciência, e assentimos.

Enquanto Reynolds falava, minha irmã deu um passo à frente e se abaixou, pegando a bolsa de lona e a abrindo. Observei os olhos de Reynolds se arregalarem de susto ao ver o dinheiro ali dentro.

"Meu Deus, garota, feche isso e coloquem no carro de vocês rápido!" — falou ele, olhando ao redor e vendo que não tínhamos companhia.

"Puta merda! Nunca abram essas coisas sem estar em um lugar seguro ou sozinhos. Vocês precisam registrar isso na sede. Mas meu Deus, tiveram uma maldita sorte de principiantes!" — falou o homem com um brilho intenso nos olhos. Não havia ganância, apenas empolgação, mostrando que ele vira muito na vida.

Reynolds nos ajudou a guardar tudo no caminhão, então nos guiou para a sede da associação de caçadores de tesouros local. Após registrarmos os ganhos na associação, partimos de volta a Chicago, parando no banco para criar uma conta conjunta em nosso nome, antes de finalmente voltar para casa.

Descarregamos a caminhonete e desabei no sofá, exausto, mas sorridente. Havia dado trabalho, mas após deduzir os impostos, estaríamos prontos para um novo começo.

"O que fazemos agora, Lip?" — perguntou Fiona, me entregando uma cerveja e desabando ao meu lado.

Passei um braço ao redor de seus ombros e a puxei para mim, bebericando a cerveja.

"Agora, mana, pedimos combos de hambúrguer e fritas pros nossos pequenos monstrinhos e nos empanturramos. Amanhã, irei cuidar da compra da nova casa, para nos mudarmos!" — falei satisfeito.

"Por que não ficar aqui?" — perguntou ela após alguns minutos. Eu podia sentir seu apego a esse lugar.

"Em primeiro lugar, essa casa não nos pertence, nem mesmo ao Frank. Ele diz que a tia Ginger nos deixa viver aqui. Mas faz anos que não a vemos. Debie e Carl sequer a conhecem!" — falei com cuidado, meus olhos fechados.

"Tenho medo que seja outra das falcatruas de Frank, que um dia possamos perder esse lar. Então, em vez de investir em algo que podemos perder, por que não começamos do zero?"

"O velho Mark está se mudando para a Flórida. Sua casa é grande, cinco quartos, com um escritório que podemos converter em um sexto quarto, piscina, um quintal grande! Irei fazer uma proposta para ele amanhã. Imagine a felicidade de Debie quando tivermos uma piscina própria, um quarto próprio para cada um de nós!"

Fiona congelou, seus olhos brilhavam, e eu podia ver seus pensamentos se materializando.

"Será caro, mas eu gostaria disso!" — murmurou ela baixinho, sua voz frágil como eu nunca havia visto.

"Relaxe, Fi, apenas descanse. Largue esse monte de empregos e cuide da casa! Temos dinheiro para recomeçar. Se prepare para começar o império da família Gallagher em breve!" — falei empolgado, e ela se recostou em mim, sua cabeça em meu peito.

"Obrigado, Lip!" — murmurou ela, e senti um aperto no peito.

Ficamos ali em silêncio por um tempo até que a porta se abriu e Ian entrou.

"Oi, pessoal!" — chamou ele, caminhando pela sala. "Como foram as coisas? Conseguiram o que foram resolver?"

Sorri para ele. Ian se esforçava para ajudar, assim como todos nessa família.

"Tudo em ordem. E você, como estão as coisas?" — questionei enquanto ele pendurava o casaco e ia para a cozinha.

Fiona já estava discando para o delivery, pedindo os combos de hambúrguer e fritas.

"Dia normal, tudo certo com a escola e o trabalho!" — falou ele, voltando com um sanduíche em mãos.

"O que está acontecendo, Lip? Por que vocês estão agindo estranho desde ontem?" — perguntou Ian, me encarando, e Fiona encostada em mim.

"Nada demais, Ian, mas Fiona e eu iremos explicar mais tarde. Agora, vá tomar um banho e chame os pequenos. A comida deve chegar em alguns minutos!" — respondi com calma. Ian me encarou, mas não discutiu, comendo o sanduíche e subindo as escadas.

"O que falaremos com eles?" — perguntou Fiona, se levantando e caminhando para a cozinha.

"Para largar os empregos, assim como você, todos eles precisam focar nos estudos, eu incluso. Você precisa voltar para a escola também. Se vamos construir um império, precisamos de membros capazes. Você, por exemplo, poderia fazer algo como administração ou direito!" — falei, e observei Fiona caminhando em minha direção, seus olhos nos meus.

Um sorriso enorme estava estampado em seu rosto.

"Obrigado, Lip!" — murmurou ela, me entregando outra cerveja e se aconchegando a mim.

Nossa família era próxima, mas não tínhamos esses hábitos, talvez por termos sido forçados a crescer cedo demais. Hoje, porém, Fiona estava me mostrando seu lado frágil e dependente.

Envolvi meus braços ao redor de seu ombro, quando passos soaram, e meus quatro irmãos mais novos desceram as escadas.

Cada um deles encontrou um lugar no sofá, e seus olhos estavam voltados para nós.

"Estamos aqui, Lip, o que você queria dizer?" — Ian assumiu a frente como representante do grupo.

Olhei para ele e para cada um dos pequenos, cujos olhares eram focados demais para pertencer a uma criança.

"Tudo bem, Gallaghers, a partir de hoje eu sou o chefe da casa!" — falei em um tom calmo, mas firme. Cada par de olhos se voltou para Fiona, que assentiu.

Eles então me encararam confusos, mas não questionaram.

"De hoje em diante, nenhum de vocês irá trabalhar. Suas únicas obrigações estão com os estudos, e irei cobrar um GPA alto em troca. Claro, boas notas influenciarão suas mesadas futuras, enquanto problemas na escola as reduzirão!"

"Qual mesada, Lip? O que você quer dizer?" — Ian questionou, seus olhos cheios de dúvida.

"Eu ganhei dinheiro para nos manter. Eu cuidarei das contas e darei a cada um de vocês uma mesada de $500 por mês. Vocês estudam e se comportam e poderão gastar como quiserem!"

"Chega de trabalhos temporários, chega de roubar, chega de degradação. Eu quero essa família no caminho correto!" — falei, e a sala estava em silêncio.

"Carl, ontem eu te fiz promessas. Hoje eu começo a cumprir!" — falei e olhei para o garoto, que tinha um brilho diferente no olhar. Não havia mais indiferença fria, mas um brilho de empolgação.

"Uma regra, porém: Frank está fora de nossas vidas! Não podemos seguir em frente com ele sempre nos arrastando para seus problemas!" — falei, e senti Fi estremecer em meus braços.

Ian acenava a cabeça em concordância, e Carl também. Debie, porém, me encarava com um olhar de pânico.

"Mas ele é nosso pai, nossa família, Lip!" — falou ela, sua voz levemente chorosa.

Olhei para Debie. Palavras não resolveriam com ela. Ela amava aquele pedaço de lixo demais.

Felizmente, naquele momento, a comida chegou. Começamos a comer, e logo Vic se juntou a nós.

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