Ficool

Chapter 25 - Um monstro chamado Gula.(parte 2)

As nuvens corriam lentamente sobre o céu tingido de laranja, lançando sombras sobre os destroços da fazenda. O campo, agora tomado por cicatrizes da batalha, parecia suspenso no tempo.

O minotauro moveu-se num salto, golpeando Kenji com um murro brutal no abdômen. O impacto foi suficiente para arremessá-lo novamente contra os restos da cabana destruída. As tábuas velhas rangeram e se quebraram ao seu redor.

Tossindo, Kenji permaneceu deitado entre os escombros por alguns segundos. Seu corpo doía como se cada osso estivesse fora do lugar. A poeira se misturava ao suor em sua testa. Ele olhou para o céu.

— Por que... sempre eu? — resmungou, com um suspiro fraco. — Toda vez sou eu quem leva o golpe mais forte e vai parar longe...

Ele fechou os olhos por um instante. O nome ainda ecoava em sua mente: "Lady Rannya". Aquilo o incomodava.

— Esse nome... Lady Rannya... Por que me parece familiar? — murmurou, colocando uma das mãos sobre o peito. — Eu... eu já ouvi isso antes...

Enquanto tentava juntar forças para se levantar, o campo vibrava com o poder crescente do inimigo.

Ryota, por outro lado, mantinha-se firme, mesmo com o corpo machucado e a blusa rasgada em vários pontos. A cada troca de golpes, o minotauro parecia mais impaciente.

O monstro rugiu, e uma explosão mágica envolveu seu corpo. Seus olhos brilharam com um tom ainda mais profundo de vermelho carmesim. A aura sombria que o cercava aumentou, afundando a grama sob seus cascos.

— Agora sim... — sussurrou Ryota, cerrando os punhos. — Você está levando isso a sério...

O minotauro avançou como um raio. Ryota ergueu uma muralha de gelo para atrasá-lo, mas a criatura rompeu o obstáculo com os próprios chifres. Um golpe cruzado veio em seguida, acertando o ombro de Ryota com força, lançando-o contra um dos postes de cerca destruídos.

Gemendo, Ryota se levantou com dificuldade. Havia um corte longo em sua lateral, mas ainda conseguia se manter de pé. Ele encarou o monstro, os olhos determinados.

— Eu não vou cair aqui... não enquanto ele estiver me observando...

Kenji, ainda afastado, começou a sentir algo estranho pulsar dentro de si. Uma onda de calor percorreu seu corpo, mas não era normal. Era familiar. Como se uma parte adormecida estivesse tentando acordar.

Ele caiu de joelhos. Os dedos tremiam. A visão turva começava a se ajustar a algo... diferente.

— Eu... não posso deixar isso acabar assim...

Uma voz suave, quase como um sussurro, surgiu dentro de sua mente. Não era de fora. Era dele mesmo. Um outro "eu".

"Confie... em mim."

Sem pensar duas vezes, Kenji se deixou levar.

O minotauro se preparava para desferir o golpe final em Ryota, quando algo mudou no ar. Um pulso de energia se espalhou, e o céu pareceu tremer.

Kenji surgiu entre os dois, olhos vazios, expressão fria, o corpo coberto por uma aura azul intensa misturada a traços escuros como tinta.

Num único movimento, atravessou o minotauro com um golpe que ninguém viu de onde veio. A criatura rugiu em agonia. Um segundo depois, Kenji já estava nas costas dele, e com o braço envolto em energia, partiu o chifre do monstro com um soco.

Ryota tentou se aproximar.

— Kenji...? — murmurou, mas havia algo errado.

Kenji se virou lentamente. Seus olhos, antes gentis e hesitantes, estavam tomados por um vazio profundo. Sem dizer uma palavra, avançou contra Ryota.

O garoto do gelo tentou se defender, criando uma barreira instintiva. Mas a velocidade do ataque era desumana. Kenji o acertou no ombro, lançando-o ao chão. E quando preparava o segundo golpe, Ryota percebeu.

— Esse não é o Kenji...

No instante seguinte, uma presença cortou o ar. Um braço interceptou o ataque no último segundo. Era Toshiro, sério como uma rocha, com os olhos cravados nos de Kenji.

— Já chega!

Com um giro rápido, Toshiro empurrou Kenji para longe, enterrando o garoto no chão com precisão, mas sem machucá-lo gravemente. Kenji perdeu a consciência no mesmo instante, a aura se dissipando ao redor do corpo caído.

O campo ficou em silêncio.

O minotauro estava morto, a energia negra se desfazendo no ar. Ryota, arfando, se sentou no chão, olhando para o amigo desacordado.

Toshiro manteve o olhar firme, mas seu semblante dizia tudo.

— Isso... não era um simples despertar. Era algo além.

O sol se escondia no horizonte, enquanto os sobreviventes da batalha respiravam, enfim, em alívio. Mas o que havia despertado dentro de Kenji... ainda era um mistério que eles precisariam enfrentar.

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