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Chapter 2 - Capítulo 02 - O jogo Real

O som de seus próprios passos ecoava, arrastado e ritmado, pelos antigos corredores do castelo. As colunas frias e tapeçarias pesadas reverberavam com cada toque de suas botas. Erion caminhava devagar, o corpo ainda ressentido pelos resquícios da doença que quase o levou. Cada passo exigia esforço físico e controle mental. A fadiga era um lembrete cruel de sua condição, apesar da aparência de recuperação.

Participar do conselho o deixou exausto. Mas ele fingia estar bem como ensinava um dos princípios dos generais lendários: “Para enganar o inimigo, engane os aliados primeiro.”

Seus olhos, fundos e analíticos, percorriam cada detalhe. Os brasões ancestrais dos Lysvard. As tapeçarias que narravam as guerras do Fim Dourado. As gárgulas que fitavam os corredores como sentinelas eternas. O castelo parecia murmurar lembranças esquecidas.

O destino o guiava até os Aposentados reais um lugar solene, onde repousavam nobres em fim de carreira, conselheiros em descanso e herdeiros frágeis. No jogo, aquele setor só era acessado em tempos de luto ou quando a morte se aproximava silenciosamente.

Mas agora... Sylphavelle estava lá.

Erion adiou esse encontro o quanto pôde. Mergulhou nos relatórios, se afogou nos mapas e reformulou estratégias. Não apenas por prudência... mas por incerteza. Uma peça havia se movido antes do tempo Sylphavelle e isso o deixava inquieto.

Estava prestes a alcançar a porta dos aposentados reais quando uma lembrança recente o deteve.

Horas antes, na sala de guerra, o clima entre Maedron e Tharion já havia azedado:

— Há quanto tempo Sylphavelle está no castelo? perguntou Erion, com aparente desinteresse, enquanto folheava um mapa dobrado do norte.

Tharion cruzou os braços.

— Dois dias. Chegou escoltada por cavaleiros da Casa Solrienne. Disseram que vinha por ordem da mãe, para repouso.

Maedron franziu a testa, uma linha de tensão marcada entre as sobrancelhas.

— E por que diabos você não notificou isso antes?

Tharion deu de ombros, provocativo:

— Porque essa parte é sua, não minha. Eu sou comandante das defesas, não mensageiro de damas mimadas.

O olhar que Maedron lançou poderia carbonizar pedra.

— Estive administrando o caos que ausência de Vossa Alteza causou, seu tronco com pernas! Maldição, você vive para cavar trincheiras ou cavar sua própria cova?

— Ambas. retrucou Tharion, com um sorriso enviesado. — Mas pelo menos eu não tropeço em papeladas como um velho cansado.

Erion continuava imóvel, os olhos nos mapas, como se não ouvisse. Mas então, sua voz cortou o atrito como uma lâmina afiada:

— Sem carta oficial?

A tensão na sala silenciou a troca de farpas por um instante.

Tharion limpou a garganta.

— Isso aconteceu enquanto Vossa Alteza ainda estava em repouso forçado. Nenhum relatório chegou até nós. Os criados trataram diretamente com os cavaleiros, seguindo o protocolo diplomático.

Erion ergueu o olhar, o cenho profundamente franzido.

— Então... sem aviso prévio, sem enviados formais?

— Nenhum. confirmou Maedron, agora mais sério. — E isso me incomoda. A ausência de formalidade, principalmente da Casa Solrienne, é fora do padrão. Ainda mais se tratando da herdeira da Casa Aurenhart.

Tharion bufou.

— Coincidência demais. Uma dama nobre chega em segredo, bem quando a corte está vulnerável? Cheira a isca. Ou armadilha.

Erion não respondeu. Seu olhar se perdeu em um brasão entalhado na parede, e em sua mente, o enredo do jogo começava a desmoronar ou talvez, reescrever-se diante de seus olhos.

E Erion sabia disso.

No jogo, Sylphavelle só aparecia no castelo depois de eventos muito específicos: a morte de seu avô, Lorde Ilyas, e o colapso das disputas internas entre as duas casas que reivindicavam sua herança. Mesmo assim, sua aproximação com Erion acontecia apenas após o baile de máscaras um evento cuidadosamente arquitetado por sua família para reposicioná-la no cenário político.

A mulher que ele conhecia nunca se movia sem intenção.

“Houve alguma parte da história que eu ignorei? Uma ramificação oculta? Ou... isso tudo está fora do script?”

Agora, diante da porta dos aposentados reais, marcada com o antigo símbolo solar da linhagem fundadora, Erion hesitou.

Os dedos pairaram próximos à madeira entalhada. A hesitação durou um segundo... mas foi suficiente para deixar o peso do momento se fazer sentir.

— É cedo demais... murmurou para si mesmo.

Uma peça entrou em cena antes da hora. Um nome foi movido sem ordem. Um script rasgado.

Ou talvez... um novo tabuleiro tivesse começado a ser construído.

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Sylphavelle sentia-se deslocada.

Estava sentada junto à janela circular do aposento silencioso, envolta em um manto branco sobre o vestido azul de sua casa. Os cabelos cor de cobre, presos em tranças delicadas, tinham algumas mechas soltas, dançando ao sabor da brisa da manhã que atravessava as cortinas. Do lado de fora, o sol nascia devagar, tingindo as paredes de dourado, mas a luz parecia hesitar ao tocar nela como se o mundo ainda não tivesse certeza de sua presença ali.

O castelo era o mesmo de seus sonhos. Ou de suas memórias.

As escadarias em espiral que levavam a torres esquecidas. As tapeçarias bordadas com cenas das Guerras do Fim Dourado. Os corredores longos e silenciosos, que pareciam mudar de forma sempre que ela desviava o olhar. Tudo estava exatamente como deveria ser… mas, ao mesmo tempo, nada estava no lugar certo.

A sensação de descompasso era constante. Como se o cenário tivesse sido montado antes da hora. Como se as cortinas se abrissem para uma cena que ainda não deveria existir.

Ela olhou para as próprias mãos finas, delicadas, mas firmes. Aquelas mãos não tremiam, mas também não lhe pertenciam de verdade. Por mais que se visse no espelho como Sylphavelle Aurenhart… sabia que não era ela. Não de verdade.

"No jogo, isso só acontece depois do baile..."

A frase ecoava em sua mente como um sussurro persistente.

Sabia da história. Dos caminhos possíveis. Dos finais trágicos e das vitórias ocultas. Lembrava com clareza: Sylphavelle só viria ao castelo após o colapso das disputas internas entre as casas nobres, após a morte de seu avô, Lorde Ilyas, após o baile de máscaras cuidadosamente arquitetado para reposicioná-la no cenário político. E, mesmo assim, sua presença era medida, estratégica.

Mas agora estava ali. Antes de tudo isso.

Sem lembranças de como chegou. Sem aviso formal da Casa Solrienne ou da Aurenhart. Nenhum cavaleiro a acompanhava. Nenhuma carta foi lida. Nenhum nome foi pronunciado em voz alta. O criado que a trouxe até os aposentos disse apenas:

“Sua Graça saberá o momento certo.”

Ela percebeu os olhares dos servos. Os sussurros abafados. A hesitação dos olhos que a evitavam. A ausência de perguntas.

“Aconteceu algo com a Casa Solrienne...? Ou com a Aurenhart? Estou sendo testada...? Ou protegida de algo?”

O pensamento se repetia em ciclos, como um eco preso entre as paredes antigas daquele lugar. Desde que despertou ali no dia anterior tudo parecia... adiantado. Como se uma mão invisível tivesse empurrado sua peça para o tabuleiro antes da jogada correta.

Ela se levantou, caminhou até a mesa baixa de leitura. Sobre ela, repousava uma flor branca em uma jarra de cristal lapidado. Uma Alarien. Sylphavelle sabia o que aquilo significava. Renascimento. Recomeço.

"Mas renascimento, ela também sabia, nunca vinha sem dor."

Por um instante, apenas observou a flor. O reflexo da luz sobre o cristal criava pequenas danças na madeira escura, e Sylphavelle deixou-se perder nelas. Perguntava-se se havia outra como ela, ali dentro. Alguém que também lembrava.

Então, o som de passos no corredor a tirou da contemplação.

Lentos. Firmes. Carregados de propósito.

Ela se virou. Sabia quem era.

O jogo havia começado mesmo que ninguém tivesse anunciado a primeira jogada.

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O som dos passos cessou diante da porta.

Erion permaneceu ali por um momento, em silêncio, com a mão suspensa no ar. Respirou fundo. O ar que enchia seus pulmões parecia mais denso do que o habitual, como se soubesse que aquela conversa carregava implicações que nenhuma espada ou decreto poderia resolver.

Era a sensação de se preparar para uma batalha onde lógica, força ou autoridade não seriam armas eficazes.

Com Sylphavelle, nunca foi diferente. Nem no jogo.

Ela era uma personagem de silêncios carregados de significado, de palavras medidas como lâminas ocultas. Suas escolhas mudavam linhas inteiras de narrativa não com gritos, mas com gestos precisos, movimentos contidos. O tipo de peça que transformava o tabuleiro apenas por estar presente nele.

Erion ergueu a mão.

Três batidas. Firmes.

Do outro lado, a resposta veio suave, como um murmúrio que se deixava carregar pelo vento:

— Pode entrar.

Ele empurrou a porta.

A luz dourada da manhã deslizou para dentro, pintando o chão de mármore com tons quentes e lançando um brilho brando sobre a figura sentada junto à janela. Por um instante, o tempo pareceu hesitar. A imagem diante dele era quase exata da que ele lembrava: os olhos âmbar voltados para a luz, o porte ereto, os traços serenos, como uma pintura viva retirada das memórias mais profundas do jogo.

Mas havia algo... diferente. Um fio invisível de tensão pairava no ar. A atmosfera estava carregada. Como se ambos soubessem, mesmo sem dizer, que aquele encontro não estava previsto para agora.

— Senhorita Sylphavelle. Disse Erion, sua voz controlada, mas não fria. — A que devo a honra de sua presença? Há algo que a Casa Solrienne... ou Aurenhart... deseja deste príncipe?

Sylphavelle virou-se, seus olhos encontrando os dele com uma intensidade que ela própria não compreendia. Inclinou levemente a cabeça, como pedia o protocolo. Sua voz, no entanto, saiu baixa. Frágil.

— Sim... Murmurou, incerta.

Desde que despertou naquele corpo, um dia antes, já estava no Castelo Real. Não se lembrava de como havia chegado ali, nem do que aconteceu antes. Ela não possuía as memórias da verdadeira Sylphavelle apenas conhecia sua história, os caminhos do jogo, os eventos e interações. E, em nenhum deles, ela vinha ao castelo antes do baile.

Não sabia por onde começar. Se nunca havia trocado uma palavra com Erion até aquele momento, e mesmo assim estava ali no coração do castelo, em aposentos reservados a nobres e conselheiros em descanso, então precisava ser cuidadosa. Qualquer passo em falso poderia comprometer mais do que apenas o papel que agora desempenhava.

Um silêncio tenso se formou.

A mente de Erion girava como engrenagens antigas voltando à vida. Detalhes sobre o jogo, escolhas de rota e falas marcantes ecoavam em sua memória. Ele se perguntava se havia deixado algo passar despercebido. Seus olhos se voltaram para Sylphavelle.

Ela parecia deslocada não exatamente assustada, mas confusa, como alguém que acorda em um lugar conhecido e ainda assim estranho assim como ele quando chegou a esse mundo. Erion a observou com atenção, procurando pistas sutis. Aquele olhar, a postura, o modo como ela examinava o ambiente… Nada estava claro.

Erion manteve os olhos nela, estudando cada gesto. O modo como seus dedos repousavam sobre o parapeito, a forma com que evitava encarar diretamente os vitrais... o cuidado com que falava. Não era medo. Era ponderação. Cautela calculada.

Algo em sua postura o lembrou de si mesmo, quando acordara neste mundo. Quando tudo lhe parecia vagamente familiar e absurdamente errado.

Ele cruzou os braços, seu olhar se estreitando.

“Sera... que ela não é uma nativa… ou, ao menos, não é só isso.”

Então, teve uma ideia. Um teste. Um código.

Se ela fosse realmente a Sylphavelle que ele conhecia do jogo ou... uma jogadora, como ele então haveria algo entre eles que os conectaria. Uma lembrança que só aqueles que mergulharam profundamente em "O Trono das Ruínas" reconheceriam.

Erion deu um passo à frente. A voz, desta vez, veio mais baixa. Quase conspiratória.

— Diga-me uma coisa… o que pensa da mecânica de influência política entre as casas nobres do oeste? Especialmente... o impacto da derrota do exército de Valastros na batalha contra o reino vizinho anos atrás ?

Sylphavelle ergueu o olhar num sobressalto.

Por um instante, tudo congelou.

Seus olhos âmbar se estreitaram, focando-o com nova clareza. A pergunta... aquilo não era parte de uma conversa normal. Não ali. Não agora. Era uma chave. Um desafio. Um reconhecimento.

Ela respirou fundo. A resposta veio com precisão cirúrgica, quase automática como se brotasse não da personagem que agora habitava, mas da jogadora em si.

— A queda foi inevitável. O rei isolou os duques, ignorou os sinais... um erro tolo de um governante. Mas, ao mesmo tempo, um gesto deliberado. Ele escolheu não fugir. Preferiu cair com o trono, preservar a honra ainda que ao custo do sangue. Com isso, restou apenas vossa alteza como o último herdeiro Lysvard vivo após o cerco.

Erion sentiu um arrepio percorrer sua espinha. O nome do diário. A localização. Era tudo exato.

Só alguém que tivesse explorado profundamente os eventos ocultos do jogo saberia disso.

Ele deu mais um passo, agora sem esconder o brilho inquisidor no olhar. A próxima pergunta seria definitiva.

— Você ainda guarda... a Rosa da Lâmina?

"A Rosa da Lâmina" era um item simbólico: um presente que Erion podia dar a Sylphavelle em uma das rotas secretas do jogo. Um artefato que só surgia ao cumprir uma sequência quase impossível de escolhas certas. Apenas uma linha do tempo, uma rota secreta, na qual Erion e Sylphavelle deixavam de ser peças de uma tragédia e se tornavam cúmplices. Um final cruel, onde Erion morria protegendo-a... e ela, marcada pela dor, escolhia se tornar vilã não por ambição, mas por amor vingativo, mas mesmo sendo uma rota trágica ainda era uma rota onde eles poderiam ser felizes como parceiros até o fim diante da ruína deste mundo.

Erion se aproximou com calma, mas seus olhos brilharam com astúcia.

Se ela não reagisse, se não compreendesse, então aquela Sylphavelle não era uma jogadora como ele. Talvez fosse uma nativa do mundo. E, nesse caso, ele precisaria de outro método mais lento, mais arriscado para entender sua presença ali... e, se necessário, conquistá-la antes que o destino a tornasse uma das mais poderosas figuras do jogo.

Sylphavelle franziu o cenho, hesitante.

E isso, para Erion, já era uma resposta.

Ele estreitou os olhos, mas, ao invés de pressioná-la, apenas inclinou levemente a cabeça, como quem observa uma peça rara sob a luz certa.

— Então… você também é uma jogadora? Ou leitora?

A pergunta caiu sobre Sylphavelle como uma lâmina invisível. Seu corpo enrijeceu. Por um instante, parecia que o tempo havia sido suspenso dentro daquele aposento. O som suave das cortinas movendo-se com o vento era o único indício de que o mundo ainda seguia em frente.

Ela piscou, engolindo em seco.

— Como...? Murmurou, hesitando, como se temesse revelar mais do que devia.

Erion não respondeu de imediato. Deu alguns passos, afastando-se da luz intensa que vinha da janela, até que seu rosto ficasse parcialmente sombreado. Seus olhos, no entanto, continuavam fixos nela, analíticos, penetrantes.

— Foi a sua resposta à primeira pergunta. Disse ele, por fim. — A queda de Valastros, a morte do rei… tudo aquilo é história conhecida entre os nobres. Circula nos salões e nos arquivos oficiais. Mas o que você disse… sobre o rei ter escolhido permanecer, morrer por seu erro, e proteger sua linhagem mesmo na derrota… isso só aparece em uma linha específica do jogo.

Sylphavelle o encarava, agora ainda mais alerta. Havia algo entre surpresa e fascínio em sua expressão.

— Que linha? Perguntou ela, com a voz mais firme.

Erion continuou:

— A rota secreta do Diário do Capitão Renn. Um documento opcional, quase impossível de encontrar sem seguir uma cadeia exata de decisões. Ele menciona, de forma velada, que o rei teve a chance de fugir. Que aliados o esperavam com um navio ao sul. Mas ele recusou. Recusou porque... não queria ser lembrado como um rei covarde. Esse dado jamais foi revelado em roteiros principais. Nem mesmo os arquivos da corte o contêm. Só quem mergulhou profundamente nesse caminho específico do jogo saberia disso.

Ele pausou, observando a reação dela.

— E você não deveria saber. Não como Sylphavelle Aurehart. Sua personagem não teve acesso a essas informações nem mesmo no final da guerra. Só três casas sabiam disso. A sua não era uma delas.

A jovem estreitou os olhos, compreendendo a gravidade da dedução.

— Então você me testou...?

— A primeira pergunta, sim. Respondeu ele, com um meio sorriso que não chegava aos olhos. — Mas ela servia apenas para levantar a suspeita. Já a segunda…

Erion se aproximou, agora com a expressão mais séria.

— A pergunta sobre a Rosa da Lâmina era um selo. Um código. Um artefato que só existe em uma rota específica, aquela onde Erion e Sylphavelle compartilham uma aliança amarga e... íntima. Essa rota está enterrada entre escolhas improváveis, onde um final trágico é o único resultado possível. Um final onde a vilã se apaixona. E o príncipe… morre por ela.

Sylphavelle sentiu uma pontada no peito. Aquela memória, mesmo fragmentada, estava em sua mente. Ela lembrava. O som do orvalho na noite do pacto. A lâmina envolta em pétalas cor de sangue.

— Quase ninguém escolhia essa rota... murmurou. — Era cruel. Densa. Exigia decisões difíceis… e um senso de moralidade dúbio.

Erion assentiu, lentamente.

— Por isso eu perguntei. Para ter certeza. Se você soubesse o que era, então não haveria mais dúvidas. Não estaria lidando com uma nativa deste mundo. Mas com alguém como eu.

Sylphavelle recostou-se na cadeira, o olhar perdido por um momento. Sentia-se como se estivesse despida diante dele não no sentido físico, mas narrativo. Seus segredos, suas origens, tudo havia sido desvendado por alguém que conhecia os mesmos caminhos tortuosos.

Ela o olhou, agora com algo diferente nos olhos: respeito. Talvez até um laço silencioso.

— E você… há quanto tempo sabia?

Erion respondeu sem hesitar:

— Eu não sabia. Mas... comecei a suspeitar quando li os relatórios da sua chegada. Sem anúncio. Sem mensageiros. Sem carta diplomática. Isso por si só já era incomum. Mas o que realmente me fez desconfiar foi o seu silêncio.

— Meu silêncio?

— Sim. Ele sorriu de lado. — A Sylphavelle que eu conhecia... era uma especialista em usar palavras como armas. Você, por outro lado, estava mais... cuidadosa. Observadora. Como alguém tentando entender o tabuleiro antes de mover a primeira peça.

Sylphavelle desviou o olhar, mas um leve sorriso tocou seus lábios.

— Estava com medo de agir errado. De quebrar o personagem.

— E conseguiu o oposto, afirmou Erion, a poucos passos dela. — Se eu fosse apenas o príncipe que deveria ser, talvez você conseguisse me enganar, já que nunca tínhamos nos encontrado. Mas eu não sou só ele. Eu carrego o conhecimento do jogo... e suas ações me mostraram que você é alguém diferente. É por isso que, desta vez, você não enfrentará tudo sozinha, Sylphavelle.

Ela ergueu o rosto. Por um instante, o sol pintou seu olhar âmbar com um brilho mais quente. Havia ainda muitas dúvidas, riscos e segredos, mas agora havia também uma aliança.

Frágil, talvez. Mas verdadeira.

— Obrigada. Disse ela, num tom que misturava sinceridade e um fio de alívio. — Então… o que fazemos agora?

Erion virou-se, já voltando à escrivaninha.

— Agora? ele pegou a pena e molhou-a na tinta novamente. — Agora, começamos a mover as peças certas. O baile vai acontecer. E será mais do que política… será um campo de testes. Para aliados. Para inimigos. E para nós dois.

Ele olhou por cima do ombro, e completou:

— Bem-vinda ao jogo real, Sylphavelle.

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