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Chapter 1 - Capítulo 1 - Faíscas nos Bastidores

A beleza de Meg Allana era um farol, não uma beleza humana, dessas que se encontra no supermercado ou no bar da esquina. era a beleza cruel de uma deusa esculpida em mármore: intocável, brilhante e fria. e naquela noite em Cannes, os flashes dos Paparazzi não perdoaram - transformavam o cetim vermelho do vestido em um rio de sangue sob o céu estrelado. Cada passo dela no tapete vermelho era ensaiado milimetricamente calculado, mas, por dentro, era como andar sobre cacos de vidro.

- Meg Alana! aqui, olha aqui! - gritavam fotógrafos, suas vozes misturadas num couro ensurdecedor.

 Ela sorria, inclinava a cabeça no ângulo perfeito, ajeitava a bolsa como se segurasse um troféu. mas aquele sorriso não passava de músculo treinado, tão automático quanto respirar. o estômago revirava, mas ninguém notava. ali, todos viam apenas Mega Allana, a estrela.

Um repórter se aproximou, com o microfone em punho, atropelando a segurança com a fome de um Predador.

 Meg, É verdade que você se recusou a trabalhar com a dublê em algumas cenas do novo filme? isso é vaidade, por falta de confiança na equipe?

 A pergunta veio como um tapa, Meg manteve o sorriso, mas os olhos endureceram por trás dos cílios postiços.

- Eu apenas acredito no realismo da cena - respondeu, voz doce, porém afiada como navalha. - mas agradeço a minha equipe por me manter em pé, sempre.

- Ela se virou e seguiu, deixando o repórter engolir poeira. o público aplaudiu, mas dentro dela, o gelo só se espalhava. o vazio que acompanhava desde a adolescência agora parecia uma segunda pele. que quando voltasse para o quarto de hotel enorme demais para uma pessoa só, o único calor seria de um copo de Whisky.

 Enquanto isso, há milhares de quilômetros dali, Jane estava a metros do chão, literalmente.

 Preso ao seu corpo, um arnês de segurança a mantinha suspensa na lateral de um prédio em Los Angeles. O diretor gritava instruções, a equipe corria de um lado para o outro, mas ela só ouvia a batida do próprio coração.

Três, dois, um… ação!

Jane desceu pela corda como se fosse parte dela, as botas tocaram o concreto com firmeza, o corpo absorveu o impacto e , no mesmo instante, ela já estava de pé, sorrindo. Não era o sorriso que busca aplausos, mas aquele íntimo, Quase Secreto, que nasce quando você sabe que dominou o impossível.

- Corta! perfeito! - gritou o diretor.

 Ninguém aplaudiu, ninguém correu para abraçá-la. O perfeito não era para Jane, mas para a produção. nos créditos finais, seria apenas dublê de ação para Meg Alana.

 Jane retirou a arnês e caminhou até o trailer, o corpo doía, os músculos latejavam, e uma cicatriz antiga ardeu na coxa. no espelho, a marca era feia, mas ela olhou com orgulho. era a prova que ela tinha vivido, faltado, arriscado. ninguém precisava ver, aquilo era dela.

 O destino, no entanto, é um roteirista maluco.

 Dias depois, nos Sets de filmagem de a última estrela, Meg Alana e Jane se encontraram pela primeira vez. a equipe se preparava para uma cena arriscada: perseguição de carro, com entrada de heroína no veículo ainda em movimento, o plano era Claro- Jane faria a manobra, Meg gravaria apenas o momento Seguro. Mas Meg estava farta de ser tratada como vidro.

- Eu vou fazer a cena - disse, com firmeza.

O diretor tentou protestar, mas ela foi irredutível, era seu jeito de provar para todos- e para si mesma- que não era apenas o rosto bonito em vestidos caríssimos.

 As câmeras giraram, o carro avançou pela pista molhada, Meg correu, os saltos de cristal soando como batidas de tambor, o vento bagunçava seu cabelo perfeito, e por um instante ela se sentiu Livre.

 Até escorregar.

 O mundo girou, o corpo cedeu, e o reflexo do metal brilhando contra os faróis foi a última coisa que ela viu antes do Choque.

 Mas não houve choque.

 Jana tinha visto cair no mesmo segundo, sem pensar, correu, pulou na frente do carro e, com uma força que não parecia humana, agarrou Meg pela cintura e a puxou. elas rolaram pelo chão, um emaranhado de braços, pernas e respirações ofegantes. o som dos Pneus cantando ficou para trás.

 O coração de Meg martelava contra o peito, ela piscou, atônita, até perceber que estava deitada sobre o corpo quente de alguém. Os olhos castanhos de Jane a encaravam com calma- calma absurda, diante do caos. 

Oi Jane Quem falou primeiro a voz carregada de sarcasmo.

- Achei que o plano era pular no carro, não debaixo dele, Allana.

 Meg piscou, depois riu, uma risada curta, inesperada, que fez a equipe correr até elas como Formigueiro em Pânico.

 Mas naquele instante, só existia o calor do corpo de Jane contra o dela, o toque que parecia firme, protetor, e o olhar que atravessava sua armadura como nenhum Flash jamais conseguiria.

E Meg, pela primeira vez em meses, sentiu uma faísca.

 Não de medo.

 Não de fama, mas de algo muito mais perigoso. 

O set inteiro parecia um formigueiro em polvorosa. Técnicos corriam, o diretor gritava palavrões em francês, e alguém já falava em "processo judicial" e "seguro da atriz principal". Mas Meg não ouvia nada disso.

Seu mundo, naquele instante, era o cheiro de couro e suor que vinha da jaqueta de Jane, ainda colada a ela.

— Levanta devagar, Allana — disse Jane, firme. — Antes que alguém tire foto e amanhã você esteja estampada como "atriz morre esmagada por carro falso".

Meg piscou, ainda sem ar.— Eu… eu estou bem.

Jane arqueou uma sobrancelha.— Bem? Você quase virou adesivo de para-brisa.

Meg riu, sem querer. Uma gargalhada nervosa, mas verdadeira. Era estranho. Normalmente, qualquer comentário atravessado da equipe a deixaria em fúria. Mas vindo de Jane, tinha gosto de liberdade.

No camarim, minutos depois, Meg sentou-se diante do espelho iluminado. O maquiador tentava retocar o batom borrado, mas a mão tremia mais dela do que dele.

— Você precisa descansar — disse o produtor, entrando como uma tempestade. — O estúdio já está furioso, e se essa cena sair do controle, temos prejuízo milionário.

Meg respirou fundo.— Eu disse que queria autenticidade.

— Autenticidade não paga seguro, querida — respondeu ele, antes de sair batendo a porta.

Meg suspirou. O reflexo no espelho mostrava a estrela perfeita, maquiagem intacta, mas ela sentia os joelhos ralados queimando por baixo do vestido de luxo.

E então a porta abriu novamente. Não era o produtor. Nem o maquiador. Era Jane.

Ela entrou como se fosse dona do espaço, ainda com a calça de carga suja de poeira, botas pesadas marcando o chão a cada passo. Em uma das mãos, segurava uma bolsa térmica de gelo.

— Aqui — disse, entregando sem cerimônia. — Coloca no joelho antes que inche.

Meg a encarou, surpresa.— Você entrou assim… sem bater?

Jane deu de ombros.— Se você quase morresse na frente de todo mundo, eu também teria prioridade na fila de visitas.

O comentário fez Meg soltar outra risada curta. Ela pegou a bolsa de gelo e apoiou nos joelhos, o frio latejando.— Você tem sempre uma resposta sarcástica na ponta da língua, não é?

— Só quando a situação pede — rebateu Jane, encostando-se na parede. — E com você, aparentemente, a situação sempre pede.

O silêncio se instalou. Um silêncio estranho, denso, que não era incômodo, mas… expectante.

Meg observou Jane pelo espelho. Diferente dela, Jane não era moldada para os flashes. O cabelo preso num rabo de cavalo bagunçado, a pele marcada por pequenas cicatrizes, os músculos discretos definidos sob a camiseta justa. Ela não precisava de vestidos, câmeras ou aplausos para ser magnética.

Meg desviou o olhar depressa, mas não rápido o bastante. Jane percebeu.

— O que foi? — perguntou, com um meio sorriso.

— Nada. — Meg ajeitou o cabelo. — Só… pensei que você não parecia abalada.

— Eu quase sou atropelada todos os dias, Alana. Faz parte do contrato.

Meg mordeu o lábio, tentando segurar outra risada. Mas havia algo mais ali. Uma sensação esquisita, como se aquele camarim fosse menor, mais apertado, com Jane ocupando todo o ar.

Ela respirou fundo.— Obrigada, Jane. Se não fosse você…

— Se não fosse eu, o filme teria que trocar de protagonista. — Jane piscou. — Não faço milagres, só estava no lugar certo.

A porta bateu de novo. O diretor entrou, vermelho como um tomate.— Meg! O estúdio está ameaçando cancelar a cena. Você tem ideia do problema que causou?

Meg abriu a boca para responder, mas Jane foi mais rápida.— Ela não causou problema nenhum. Quem deixou uma pista molhada sem sinalização foi a sua equipe.

O silêncio foi instantâneo. O diretor arregalou os olhos, mas não encontrou réplica. Bufou e saiu.

Meg, atônita, virou-se para Jane.— Você… me defendeu?

Jane encolheu os ombros, como se não fosse nada.— Não gosto de injustiça. E não gosto de gente gritando com alguém que acabou de quase ser atropelada.

O olhar de Meg se suavizou. Ela não estava acostumada com isso. Ninguém a defendia. Ninguém atravessava a barreira de "estrela" para tratá-la como pessoa.

E por isso, quando Jane fez menção de sair, Meg falou sem pensar:— Fica.

Jane parou, a mão já na maçaneta. Virou o rosto devagar, os olhos castanhos encontrando os dela.— Tem certeza, Alana? Se eu ficar, vou continuar sendo eu mesma.

Meg engoliu em seco, mas manteve o olhar firme.— Talvez seja exatamente isso que eu precise.

Naquela noite, sozinha no quarto de hotel, Meg não conseguiu dormir. A imagem de Jane — firme, calma, sarcástica, mas de algum jeito protetora — não saía da mente.

E o pensamento que ela tivera no set voltou com força:O maior risco que poderia correr não estava diante das câmeras.Mas diante de Jane.

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